Práticas de gerenciamento de micotoxinas em nível de campo vêm sendo adotadas para maximizar a rentabilidade das produções agrícola e animal. O estudo e cultivo de híbridos mais resistentes, fertilização adequada do solo, controle de invasoras, irrigação correta e rotação de culturas apropriada podem auxiliar na diminuição da carga fúngica com potencial micotoxigênico. É impossível eliminar a carga fúngica por completo, principalmente quando as condições climáticas favorecem seu desenvolvimento. Na existência de substrato adequado a sua formação, com disponibilidade de umidade, temperatura e oxigênio, metabólitos fúngicos secundários podem ser produzidos e causar uma série de efeitos deletérios nos animais que os ingerem. Porém, algumas espécies fúngicas são resistentes mesmo em condições mais adversas, podendo produzir micotoxinas nas diversas fases da cadeia produtiva dos grãos.
A susceptibilidade e a magnitude dos efeitos tóxicos variam de acordo com alguns fatores intrínsecos e extrínsecos. Na Figura 1 são exemplificados os principais fatores que podem influenciar negativamente os animais desafiados com micotoxinas.
Figura 1 – Fatores intrínsecos e extrínsecos que afetam o desempenho dos animais de produção quando desafiados com micotoxinas.
Os fatores ilustrados acima contribuem para a formação do Risco Micotoxinas. Este é calculado com base em um algoritmo que considera a contaminação e prevalência micotoxicológica mensurada a partir de um histórico de análises, espécie animal, fase de criação, idade, sanidade, ambiência e fatores nutricionais. Cada uma dessas variáveis e suas associações podem afetar de forma distinta os parâmetros zootécnicos e sanitários dos animais. A quantificação de cada um deles é resultado de investigações com embasamento técnico-científico desenvolvidas a partir de estudos in vivo e modelagem.
Quando um animal é submetido à dieta contaminada por micotoxinas, duas premissas básicas devem ser consideradas: a dose e o tempo de exposição à toxina. Estes determinam se a intoxicação é aguda ou crônica, sendo a primeira decorrente da ingestão de dose moderada a alta em um curto espaço de tempo, e a segunda resultado da ingestão em baixas concentrações, mas por um maior período. A intoxicação crônica é a mais comum, mas de difícil diagnóstico. Os sinais clínicos são discretos, não específicos e passíveis de serem confundidos com outras causas ou agentes; porém, apresenta maior importância pelos impactos econômicos que produz.
Além disso, existem diferenças no mecanismo de biotransformação dos metabólitos, determinando distintas manifestações clínicas e maior ou menor resistência. Por exemplo, os metabólitos de zearalenona se fixam somente aos receptores do trato reprodutivo da fêmea; não afetam a retenção de nitrogênio e não alteram a deposição proteica nos demais órgãos/tecidos e, portanto, não comprometem o ganho de peso. Outra questão relativa ao sexo é que a taxa de utilização de nutrientes é maior em machos do que em fêmeas. Como muitas micotoxinas afetam diretamente a absorção adequada de nutrientes, os machos apresentam uma queda mais acentuada no desempenho.
Os estudos meta-analíticos indicam que animais jovens apresentam maior sensibilidade aos efeitos das micotoxinas. Ao submeter essa população à dieta com aflatoxinas, há reduzida capacidade de detoxificação pelas enzimas hepáticas. Esse processo torna-se mais eficiente com a maturidade.
Outro fator relevante é que em muitos casos não se tem a presença de apenas uma micotoxina, e o efeito sinérgico ou aditivo da coocorrência implica em perdas mais substanciais, especialmente as econômicas. Pesquisas evidenciam que animais desafiados com uma toxina exibem queda no desempenho de até 17%; quando existe uma associação de micotoxinas, esta queda pode chegar a 45%.
Os efeitos sinérgicos também podem ser observados quando da associação entre micotoxinas e agentes infecciosos, tais como vírus ou bactérias. Isso ocorre devido a alterações na resposta de células mediadoras do sistema imune do hospedeiro. Estudos com suínos mostram que a combinação entre micotoxinas, agentes infecciosos e má higiene reduz o ganho de peso em até 8%. Quando estratificado por fase, esse número pode alcançar 16%. Condições impróprias das instalações, como alta concentração de amônia, má qualidade da água ou alta densidade causam uma sobrecarga metabólica, a qual implica na redução da produtividade. As micotoxicoses em geral interferem também no metabolismo de vários nutrientes, entre eles as proteínas, aminoácidos e vitaminas. Há trabalhos demonstrando que os requerimentos proteicos, especialmente de aminoácidos, aumentam quando o animal é desafiado por micotoxinas.
O Risco Micotoxinas é calculado com base nos fatores mencionados acima. A Figura 2 demonstra a aplicação real do risco para fumonisinas (B1 + B2) em uma Empresa produtora de suínos nas diversas fases de produção ao longo de 49 semanas. A Figura apresenta duas linhas: uma representa os resultados do risco calculado utilizando a Cromatografia Líquida Acoplada a Espectrometria de Massas (LC-MS/MS), e a outra os resultados obtidos por meio do NIR. É possível perceber que a metodologia de referência e a ultrarrápida apresentam o mesmo comportamento. Comprova-se, assim, a aplicabilidade do uso do NIR como uma ferramenta de gerenciamento com diversas vantagens, especialmente a interpretação do Risco Micotoxinas em tempo real.
Figura 2 – Comparação do Risco Micotoxinas entre a metodologia de referência, Cromatografia Líquida Acoplada a Espectrometria de Massas (LC–MS/MS), e NIR.
Em síntese, a avaliação do Risco Micotoxinas deve ser dinâmica e interpretada de acordo com o histórico de contaminação. A tomada de decisão não é realizada mediante uma única análise; deve, sim, ser baseada em um histórico de avaliações. Apesar da fórmula do Risco Micotoxinas incluir vários parâmetros complexos, o objetivo final é a tomada de decisão. De um modo muito simples e de fácil visualização, indica-se o momento de agir para que seja possível minimizar o impacto no sistema produtivo.
Conclusão
Diferentemente de qualquer outro sistema, o presente cálculo do Risco Micotoxinas incorpora múltiplas meta-análises e 30 anos de experiência de equipe multidisciplinar, métodos analíticos baseados em tecnologias oficiais, experiência de campo e avaliações in vivo, bem como o teste de mais de 500 Aditivos Antimicotoxinas. É um sistema que não se restringe somente a análises; há interpretação de informações por uma equipe especializada em soluções micotoxicológicas definitivas, e que agora inova com a incorporação da ferramenta NIR. Após anos de desenvolvimento, em 2016 a tecnologia NIR despontou madura para o gerenciamento do Risco Micotoxinas. Proporciona um sistema transparente, automatizado e econômico, representando um novo patamar operacional na mitigação desse recorrente problema na economia da produção animal.