1. Introdução
Na formulação de dietas é fundamental considerar a digestibilidade dos aminoácidos para maximizar a absorção, a síntese de proteínas nos tecidos e, conseqüentemente, a eficiência do ganho. Isto se torna necessário uma vez que as proteínas dos alimentos apresentam diferentes coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos. Vários experimentos mostraram que rações formuladas usando valores de aminoácidos digestíveis, principalmente com o uso de alimentos alternativos ou subprodutos de origem animal, resultam em melhor desempenho dos animais, maiores benefícios econômicos e menor excreção de nitrogênio quando comparadas com dietas calculadas com base em aminoácidos totais.
A formulação de dietas com base de aminoácidos digestíveis requer a utilização de dados consistentes e comparáveis (AMIPIG, 2000). Problemas encontrados neste tipo de formulação têm sido associados às diferenças entre os valores de digestibilidade presentes na literatura, ocasionadas, entre outras, pelo uso de metodologias diferentes.
Para o conhecimento da digestibilidade dos alimentos, o meio mais adequado é a determinação dos nutrientes digestíveis diretamente no animal, com os quais se obtêm valores confiáveis e com boa repetibilidade, em detrimento da digestibilidade "in vitro", que, segundo Low (1982), não pode reproduzir as condições complexas e dinâmicas do intestino "in vivo", onde aminoácidos exógeno e endógeno são misturados, sofrendo os efeitos das interações entre concentração, competição, inibição, microbiota e fatores neurais e humorais.
Neste trabalho serão abordadas as metodologias usadas na determinação de aminoácidos digestíveis e a importância do conhecimento dos valores de aminoácidos digestíveis na nutrição de aves.
2. Conceitos: Disponibilidade e Digestibilidade Aparente, Estandardizada e Verdadeira dos Aminoácidos.
Segundo Sakomura & Rostagno (2007) a disponibilidade dos aminoácidos é definida como a quantidade de aminoácidos absorvidos e utilizados pelo animal. Os ensaios para estimar a disponibilidade de aminoácidos são baseados em ensaios de crescimento e, embora determinem valores mais precisos, uma vez que representa a porção que realmente esta sendo utilizada pelos animais, apresenta limitações quanto ao uso, exigindo ensaios de crescimento com maior duração de tempo e fornecem ainda informações de apenas um aminoácido por ensaio. A falta de um número suficiente de valores de disponibilidade dos aminoácidos essenciais dos alimentos é o principal motivo que torna os valores de aminoácidos digestíveis mais utilizados.
A digestibilidade é determinada pela diferença entre a quantidade de aminoácidos consumida e a excretada. É identificada com base no local em que é realizada a coleta de material, podendo ser pelo método de coleta fecal ou ileal. No entanto, por haver influência (síntese ou destruição de aminoácidos) dos microorganismos presentes no intestino grosso do animal, a melhor opção é estimar a digestibilidade dos aminoácidos na porção terminal do íleo, cujo conteúdo ainda não sofreu interferência da microbiota do intestino grosso.
Assim, a quantidade de aminoácido da ração que desaparece no intestino delgado é denominada de aminoácido digestível aparente. A palavra aparente é usada para enfatizar os aminoácidos dietéticos não digeridos e os aminoácidos de origem endógena que foram secretados dentro do trato gastrointestinal e que não foram reabsorvidos antes do íleo terminal contribuindo para a perda total ileal de aminoácidos (Stein et al., 2007b). Se forem consideradas as perdas endógenas, provenientes das enzimas pancreáticas, mucina, proteína bacteriana e aminoácidos componentes do epitélio celular, o valor de aminoácido digestível estandardizado ou o verdadeiro é estimado.
2.1. Digestibilidade Ileal Estandardizada e Verdadeira.
Por vezes os termos digestibilidade ileal verdadeira (DIV) e estandardizada (DIE) são associados como sendo um só, mas para diferenciá-los é importante o conhecimento sobre os tipos de perdas endógenas.
A perda endógena total pode ser dividida em dois componentes principais: perda basal e perda específica (Figura 1) (Mosenthin et al., 2000; Jansman et al., 2002). As perdas endógenas basais (também chamada de não específica ou perdas independente da dieta) representam a quantidade mínima de aminoácidos inevitavelmente perdida pelo animal. Estas perdas estão relacionadas ao fluxo físico de matéria seca do alimento pela área digestiva ou do estado metabólico do animal, e neste caso, não é influenciada pela composição da dieta. Já a perda endógena especifica também chamada de recuperação extra da perda endógena é relacionada à composição do alimento ou da dieta (por exemplo, presença de fatores tais como lectinas, inibidores de tripsina e taninos) e podem contribuir com mais de 50% da perda endógena total de aminoácidos (Souffrant, 1991; Moughan, 2003).
Segundo Stein et al. (2007a) se os valores de digestibilidade ileal aparente (DIA) dos aminoácidos forem corrigidos pela perda endógena ileal total (basal + específica) são obtidos os valores de digestibilidade ileal verdadeiros. Entretanto quando se utiliza a dieta isenta de proteína (DIP) ou aminoácidos cristalinos são estimadas somente as perdas endógenas basais e neste caso a determinação seria de valores de digestibilidade estandardizados. Isto se torna uma questão semântica porque é praticamente impossível a determinação da digestibilidade verdadeira dos aminoácidos dos alimentos, já que teriam que ser preparadas DIP específicas (contendo os fatores antinutricionais, etc) para cada alimento. Na realidade todos os valores publicados são de digestibilidade estandardizadas. Nas tabelas de composição da França os autores (Sauvant et al., 2004) recomendam que para evitar confusão com o conceito de digestibilidade “real” é preferível usar o termo de “digestibilidade estandardizada”, entretanto os valores de aminoácidos digestíveis dos alimentos para aves é usada a palavra verdadeiro (true).
A falta de aditividade dos valores de digestibilidade ileal aparente (DIA) em formulações de dietas pode ser superada com a correção da perda endógena basal obtendo-se a digestibilidade ileal estandardizada (DIE) ou comumente chamada nas Américas de digestibilidade ileal verdadeira (DIV).
DIE/DIV (%) = [(AA ingerido – (AA digesta – perda end basal)/AA ingerido] x 100
A determinação da perda endógena basal geralmente é feita através do uso de DIP e é expressa em grama por quilograma de matéria seca ingerida (Sakomura & Rostagno, 2007; Stein et al., 2007b). Contudo, com base em valores médios de perda endógena é possível a transformação de valores de digestibilidade aparente para estandardizada (AMIPIG, 2000). Esse procedimento é utilizado com aves e suínos na Europa, por existir uma grande quantidade de valores dos alimentos expressos como digestibilidade aparente (Adedokun et al., 2007 e 2008) e pode ser calculada segundo a equação:
DIE/DIV (%) = DIA + (Perda endógena basal x 10 / %AA da dieta)
3. Determinação da Excreção Endógena.
3.1. Aves em Jejum.
Para estimar as perdas endógenas e metabólicas podem ser usados animais em jejum. Esta metodologia é criticada por não levar em consideração a matéria seca ingerida, considerada como a maior determinante para as perdas endógenas (Butts et al., 1993). Segundo Parsons et al. (1982) a excreção de aminoácidos de galos em jejum é menor que a das aves alimentadas e isto pode levar a erros nos valores de digestibilidade, principalmente quando o alimento possui baixa concentração de aminoácidos.
3.2. Dieta Isenta de Proteína (DIP.)
Papadopoulos (1985) relata que o método da DIP baseia-se no princípio de que a quantidade de aminoácidos excretados está relacionada à quantidade de matéria seca consumida e não são influenciados pela presença de proteína do alimento. No entanto, Parsons et al. (1983) afirmam que a composição da DIP afeta a excreção de aminoácidos pelas aves.
Segundo AMIPIG (2000), o uso de uma dieta isenta de proteína é criticada com base no fato de que ela poderia subestimar as perdas endógenas basais. Esta controvérsia é baseada na observação de que a alimentação de peptídeos estimula as perdas endógenas. Entretanto, isso é o resultado da confusão de perdas endógenas basais com especificas, a primeira sendo determinada pelas características do animal e a ultima, pelas características da fonte de proteína.
Apesar das críticas a metodologia recomendada e mais utilizada para estimar a excreção endógena com aves e suínos é com a DIP (AMIPIG, 2000; Sakomura & Rostagno, 2007).
3.3. Caseína Hidrolisada Enzimaticam.
Este produto contém aminoácidos e peptídeos, medenteindo o fluxo dos aminoácidos no íleo terminal em condição fisiologicamente normal, simulando a digestão de uma dieta normal, e não subestimando o nível de excreção de aminoácidos endógenos, como com o uso da DIP (Rutherfurd & Moughan, 1998; Rostagno et al., 1999). São necessários, entretanto, procedimentos complexos de laboratório para eliminar a influência de peptídeos remanescentes na digesta para o cálculo da digestibilidade (Sakomura & Rostagno, 2007).
Segundo Sakomura & Rostagno (2007) outra crítica a esta metodologia seria que, especificamente para pintos de corte, a caseína possui níveis altos de lisina e baixos de arginina, o que provoca antagonismo e redução significativa do consumo de ração.
3.4. Aminoácidos Cristalinos
Brito (2007) propôs o uso de aminoácidos cristalinos adicionados a uma dieta livre de proteína como alternativa à utilização da DIP ou da dieta com caseína hidrolisada enzimaticamente. Esta metodologia parte do princípio de que os aminoácidos cristalinos são praticamente 100% absorvidos (Rostagno et al., 2005), o que facilita o processamento laboratorial das amostras de digesta (Sakomura & Rostagno, 2007).
4. Metodologias para Estimar o Conteúdo de Aminoácidos Digestíveis dos Alimentos
A digestibilidade dos aminoácidos para aves geralmente é realizada com pintos de corte ou galos inteiros ou cecectomizados e estimada pelas metodologias: coleta de excreta, coleta de digesta ileal ou alimentação forçada.
4.1. Coleta de Excreta.
A coleta das excretas, de forma geral, é simples e rotineira, mas deve-se ter cuidado com a contaminação por penas e alimento e com a fermentação das excretas. Este método é comumente utilizado para determinar a energia metabolizável, mas é pouco utilizado para determinar a digestibilidade dos aminoácidos uma vez que a validade dos resultados gerados é questionada em função do efeito dos microorganismos presentes no intestino grosso sobre a excreção dos aminoácidos.
Segundo Papadopoulos (1985), a mistura da urina às fezes, é outro fato que influi na digestibilidade dos aminoácidos. Porém a quantidade excretada na urina é pequena, e sua influência na digestibilidade dos aminoácidos pode ser considerada desprezível.
O fornecimento de ração é à vontade para as aves, com o alimento teste substituindo 30 a 40% de uma ração basal, determinando-se a digestibilidade dos aminoácidos por intermédio da diferença do ingerido e excretado. Bragg et al. (1969) sugeriram o uso de marcador fecal (óxido férrico) para identificar o início e o término do período de coleta. Outra opção é o uso de indicadores, utilizando substâncias que não sejam absorvidas e de análise fácil; os mais utilizados são a cinza ácida insolúvel (CAI), o óxido crômico e o oxido de titânio. A digestibilidade dos aminoácidos é calculada por meio de um fator de indigestibilidade, mediante a relação do conteúdo do indicador na ração e na excreta/digesta.
Rostagno & Featherston (1977) determinaram a digestibilidade de aminoácidos do farelo de soja e do gergelim, com pintos de corte, empregando dois métodos: o óxido crômico como indicador fecal e a técnica de coleta total. Segundo os autores o método do óxido crômico foi o mais adequado para determinar a digestibilidade dos aminoácidos, obtendo-se valores de digestibilidade 10% inferiores ao da coleta total.
Quando são utilizados pintos de corte nesta metodologia, deve-se considerar a idade da ave, pois o trânsito digestivo e o tamanho dos cecos variam com a idade, afetando o coeficiente de digestibilidade dos aminoácidos (Lemme et al., 2004). Segundo Rostagno et al. (1999) aves com aproximadamente 16 dias de idade podem proporcionar resultados satisfatórios nos valores de digestibilidade dos aminoácidos.
4.2. Coleta da Digesta Ileal.
Para esta metodologia também são utilizadas aves em crescimento, que são abatidas para então ser realizada a coleta da digesta no íleo terminal. Esta técnica se baseia no fato de que os aminoácidos são absorvidos no intestino delgado e as proteínas residuais, os peptídeos e aminoácidos não-digeridos são desdobrados por microrganismos no intestino grosso, absorvidos como amônia, aminas ou amidas, mas não são utilizados na síntese protéica.
Neste método são utilizadas pelo menos duas dietas, uma contendo o alimento e outra isenta de aminoácidos (DIP) ou com aminoácidos cristalinos. O indicador de indigestibilidade (óxido de cromo, óxido de titânio ou cinza ácido insolúvel) é adicionado nas dietas experimentais (Brito, 2007). Determinando o conteúdo de aminoácidos e de indicador da digesta e da ração é possível calcular o coeficiente de digestibilidade ileal verdadeiro (CDIv), segundo as fórmulas (Sakomura & Rostagno, 2007):
Fator de Indigestibilidade 1 (FI1) = indicador dieta / indicador digesta
Fator de Indigestibilidade 2 (FI2) = indicador dieta DIP / indicador digesta DIP
CDIv = [(AA dieta – (AA digesta x FI1) – (AA endógeno x FI2)/ AA dieta] x 100
Segundo Sakomura & Rostagno (2007), embora este método seja mais preciso que o da coleta de excretas, apresenta a desvantagem de ser mais trabalhoso e exigir maior número de aves por unidade experimental, para a obtenção de uma quantidade de amostra suficiente para as análises laboratoriais.
Angkanaporn et al. (1997) relatam que a digestibilidade dos aminoácidos, estimados pela técnica de coleta de excretas, têm vantagens em relação à coleta da digesta ileal, pela sua simplicidade e por não precisar sacrificar as aves. Outra técnica sugerida para evitar o sacrifício das aves, foi a da cânula na porção final do íleo, considerada inviável, pois não é prática, pela rejeição à cânula, pelo livre fluxo dentro da cânula e pela necessidade de um marcador próprio.
4.3. Metodologia da Alimentação Forçada.
Uma adaptação da metodologia de determinação dos valores de energia metabolizável verdadeira descrita por Sibbald (1976) foi proposta para determinar os valores dos aminoácidos digestíveis verdadeiros (Sibbald, 1979). Sibbald foi o primeiro pesquisador a preconizar o uso de aminoácidos digestíveis verdadeiros. A metodologia elimina o problema de ingestão do alimento, pois a alimentação é forçada (introdução no papo); entretanto, as principais críticas a esta metodologia são quanto à quantidade de alimento fornecido e ao período de duração da coleta.
Nesta metodologia os galos são alojados em gaiolas individuais e, durante um período de adaptação de cinco dias recebem alimentação em dois turnos de uma hora cada, sendo um pela manhã e o outro à tarde, com o objetivo de dilatar o papo. Posteriormente, são submetidos a um período de jejum de 48 horas, para esvaziar o trato digestivo. Após o jejum, os galos são forçados a consumirem 30 g do alimento teste, por meio de um funil, via esôfago até o papo e a excreta coletada por 48 horas. Simultaneamente outros galos permanecem em jejum por mais 48 horas para a coleta das excretas de origem endógenas e metabólicas.
Conhecendo-se as quantidades de aminoácidos ingeridos e excretados, bem como a fração endógena obtida com galos em jejum, são determinados os coeficientes de digestibilidade verdadeira (CDv) dos aminoácidos, segundo as fórmulas (Sakomura & Rostagno, 2007):
CDv = [AA ingerido – (AA excretado – AA endógeno) / AA ingerido] x 100
Na técnica da alimentação forçada, são usados tanto galos inteiros como cecectomizados. Segundo Parsons (1991) os animais cecectomizados minimizam o confundimento da ação dos microrganismos do intestino grosso, na excreção dos aminoácidos. McNab (1994) cita que o uso da técnica com galos cecectomizados é mais representativa, quando se determina a digestibilidade de aminoácidos, de alimentos, com baixa digestibilidade.
O método da alimentação forçada foi testado por Engster et al. (1985) para determinar a repetibilidade e a aditividade dos valores de aminoácidos digestíveis verdadeiros na formulação de rações. Cinco alimentos e duas rações foram avaliados em várias instituições. Os autores concluíram que os valores de digestibilidade apresentaram boa repetibilidade e aditividade. Parsons (1985) concluiu que o valor de aminoácido digestível derivado de galos cecectomizados, é semelhante ao de aminoácido disponível obtido no ensaio de crescimento.
5. Fatores que Influenciam a Digestibilidade dos Aminoácidos
Muitos são os fatores que afetam a composição dos alimentos e a digestibilidade da proteína e dos aminoácidos dos alimentos, como as características ligadas a planta, não só a genética e o processamento, mas também as características do solo e do clima da região onde foi feito o plantio, as características ligadas ao animal como peso, sexo, idade, status fisiológico e genótipo, e os procedimentos experimentais como metodologia empregada na determinação da digestibilidade e do nível de consumo (Noblet & Le Goff, 2001). Assim, existem tabelas de composição dos alimentos com valores diferentes de digestibilidade para o mesmo alimento, sendo importante que os nutricionistas utilizem valores de aminoácidos digestíveis e de exigências das mesmas fontes ou tabelas nas formulações das rações dos animais. Na Tabela 1 são apresentados os coeficientes de digestibilidade de alguns aminoácidos para aves, de diferentes tabelas de composição de alimentos.
5.1. Metodologia Utilizada
A digestibilidade de lisina de alguns alimentos foi avaliada por Johns et al. (1987) utilizando galos inteiros e cecectomizados, e verificaram que a remoção do ceco resultava em aumento na excreção da lisina. O que poderia ser explicado pelo efeito da cecectomia na regulação da taxa de passagem e/ou absorção pelo intestino.
A quantidade de alimento fornecido também é um fator que influencia a digestibilidade. Borges et al. (2005) avaliaram os coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos utilizando a técnica da alimentação forçada com dois diferentes níveis de consumo (25 e 50 gramas) e concluíram que os coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos foram afetados pela quantidade de alimento ingerido, e que nos níveis de consumo menores os valores de digestibilidade aparente foram significativamente menores. A ingestão de pequena quantidade de alimento poderia induzir um catabolismo corporal, no sentido de suprir as necessidades energéticas. Esse catabolismo levaria a um aumento da porção de aminoácidos endógenos das aves, resultando em valores subestimados dos aminoácidos digestíveis dos alimentos.
Estudando o efeito de diferentes concentrações de proteína da ração, na digestibilidade dos aminoácidos, Angkanaporn et al. (1997) verificaram grande influência nos valores dos aminoácidos digestíveis, e concluíram que a diferença no conteúdo de proteína da ração nos ensaios realizados pode explicar a variação encontrada nos valores de aminoácidos digestíveis dos alimentos (Tabela 2).
O tempo de permanência das excretas nas bandejas coletoras também pode influenciar os valores de aminoácidos digestíveis dos alimentos. Rostagno & Featherston (1977) observaram que o intervalo de coleta de 12 horas não alterava o conteúdo de aminoácidos nas excretas, porém o tempo de 24 e de 48 horas, aumentou a quantidade de alguns aminoácidos como lisina e treonina, devido à fermentação das excretas.
Outro fator estudado por Zuprizal et al. (1993) é a diminuição da digestibilidade dos aminoácidos em função de altas temperaturas, podendo estar contribuindo para um menor desempenho. Os autores utilizaram frangos de corte de 4 a 6 semanas de idade, para determinar a digestibilidade da proteína e dos aminoácidos do farelo de soja e de colza em duas temperaturas 32 e 21°C. A digestibilidade da proteína do farelo de colza e de soja diminuíram em média 12 e 5 % respectivamente, com o aumento da temperatura ambiente, e a piora na digestibilidade dos aminoácidos do farelo de colza, foi mais acentuada para as fêmeas, parecendo ser mais sensíveis ao calor
Borges et al. (2003) compararam quatro metodologias de determinação dos coeficientes de digestibilidade dos aminoácidos. Os dois primeiros tratamentos foram baseados na metodologia tradicional de consumo a vontade, diferindo apenas quanto à idade das aves (13 e 39 dias, respectivamente). Nos outros tratamentos utilizou-se o método da alimentação forçada com aves cecectomizadas. O método tradicional apresentou maiores valores de coeficiente de digestibilidade aparente (CDA), quando comparado ao método de alimentação forçada. Os alimentos altos em fibra apresentaram os menores valores de CDA e CDV nos tratamentos com metodologia tradicional e nos de alimentação forçada, confirmando a interferência da fibra sobre a digestibilidade dos aminoácidos. Quanto aos valores de CDV, as diferenças foram menores quando se compararam os tratamentos pelo método tradicional e de alimentação forçada, entretanto, as aves cecectomizadas apresentaram menor CDA, devido à maior perda metabólica e endógena.
5.2. Idade ou Peso
Alguns autores relatam que a digestibilidade da proteína e dos aminoácidos aumenta com a idade (Wallis & Balnave, 1984; Ten Doeschate et al., 1993). Noy & Sklan (1995) observaram aumento na digestibilidade ileal do nitrogênio de 78% aos quatro dias para aproximadamente 90% aos 21 dias de vida de frangos de corte alimentados com rações a base de milho e de farelo de soja. Concluíram que a atividade proteolítica no intestino pode não ser suficiente após a eclosão para a máxima hidrolise das proteínas exógenas e endógenas.
Segundo Noblet et al. (1994) os coeficientes de digestibilidade total dos nutrientes são melhorados com o aumento do peso, sendo este efeito maior quando se compara porcas adultas e animais na fase de crescimento. No entanto, o grau de efeito do peso depende das características químicas da ração, com grandes diferenças sendo observadas quando o conteúdo de fibra aumenta.
Idêntico ao que acontece com os valores de energia, a digestibilidade dos diversos nutrientes também melhora com a evolução da idade das aves. Batal & Parsons (2002) demonstraram como a idade das aves interfere nos valores de energia metabolizável e na digestibilidade aparente dos nutrientes da ração a base de milho, farelo de soja e óleo. Foi observado que os valores de EM aumentam até o 14º dia e a digestibilidade da lisina até o 10º dia, a partir dos quais se mantém relativamente constante, dentro do período avaliado (Tabela 3). Estes autores ainda avaliaram o efeito da idade das aves sobre os valores de EM e digestibilidade aparente dos aminoácidos (lisina e treonina) em 3 diferentes dietas, observando que a idade tem um efeito positivo sobre os valores de EM e digestibilidade aparente dos aminoácidos.
Outros autores relatam que a digestibilidade da proteína e dos aminoácidos diminui com a idade (Haakansson & Eriksson, 1974; Fonolla et al., 1981). Também Zuprizal et al. (1992) concluíram que a digestibilidade decresce com o avanço da idade, pois observaram que a digestibilidade do farelo de soja na terceira semana de vida foi de 88% e na sexta semana 84%. Cabe ressaltar que o nível de atividade do espectro de enzimas usadas para atacar o material alimentar não é estático, a atividade de muitas delas aumenta ou diminui em resposta à alteração na concentração do substrato disponível.
6. Rações Formuladas com Valores de Aminoácidos Digestíveis.
Nas formulações práticas o uso do conceito de aminoácidos digestíveis em substituição aos de aminoácidos totais, tem sido um grande avanço. A formulação de rações, com base em aminoácidos digestíveis, tem proporcionado às aves melhora no desempenho quando comparado a aves alimentadas com rações formuladas em aminoácidos totais (Brito, 2007).
A inclusão de alimentos alternativos em rações, substituindo os alimentos tradicionais, pode resultar em rações deficientes, em conseqüência das diferenças na digestibilidade dos aminoácidos. Fernandez et al. (1995) avaliaram a formulação de dietas com vários níveis de farelo de algodão, com base em aminoácido total e digestível, no desempenho de pintos de corte de 8 a 22 dias de idade. Os resultados mostram, que dietas contendo farelo de algodão e milho, formuladas à base de aminoácidos digestíveis são superiores as formuladas com aminoácidos totais.
A digestibilidade dos aminoácidos das farinhas de origem animal, também apresentam grandes variações, principalmente devido as condições de processamento. Wang & Parsons (1998) fizeram um estudo para avaliar a formulação de ração utilizando farinha de carne e ossos (nível de inclusão 10 e 20%) com base em aminoácido total, digestível e disponível. Os autores concluíram que as rações formuladas com base em aminoácidos digestíveis são semelhantes às formuladas com aminoácidos disponíveis, e superiores as formuladas com base em aminoácidos totais.
Albino et al. (1992) verificaram que é viável economicamente, a alimentação de frangos de corte de rações formuladas com base em aminoácidos digestíveis; e Rostagno et al. (1995) demonstraram que aves alimentadas com rações complexas, formuladas com base em aminoácido digestível, proporcionam melhor conversão alimentar, maior ganho de peso e benefício econômico quando comparadas com as aves alimentadas rações calculadas usando aminoácido totais (Tabela 4).
Miorka et al. (2004), avaliando o desempenho de frangos de corte de 21 a 42 dias de idade, submetidos às dietas com 2900 ou 3200 kcal/kg de EM e formuladas com base em aminoácidos totais ou aminoácidos digestíveis, observaram que as aves alimentadas com maior nível energético e com base em aminoácidos digestíveis tiveram maior ganho de peso e melhor conversão alimentar que as aves alimentadas com maior nível energético e com base em aminoácidos totais.
Brito (2007) avaliou o desempenho de frangos de corte alimentados com dietas formuladas com base em aminoácidos totais e verdadeiros e concluiu que o uso de formulações com base em aminoácidos digestíveis proporcionou às aves melhores desempenhos e rendimentos de carcaça que o uso de aminoácidos totais e ainda permitiu a maior inclusão de farelo de algodão sem a redução destas variáveis.
7. Considerações Finais.
O uso da Dieta Isenta de Proteína é a mais utilizada para estimar os aminoácidos endógenos, contudo métodos devem ser pesquisados e aperfeiçoados para melhorar a estimativa da perda endógena total (perda basal e perda específica) dos animais.
Chamar de digestibilidade ileal estandardizada ou verdadeira aos valores de aminoácidos digestíveis dos alimentos é uma questão semântica.
O método de alimentação forçada, com galos cecectomizados está sendo relegado a pesquisas específicas.
Na atualidade o método que utiliza o conteúdo ileal de frangos de corte, parece ser o mais recomendado para determinar a digestibilidade ileal estandardizada/verdadeira dos aminoácidos dos alimentos.
A disponibilidade de valores de aminoácidos digestíveis verdadeiros/ estandardizados dos alimentos e de exigências permite formular rações mais econômicas, que resultam em ótimo desempenho das aves.
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