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Segmento Avícola Internacional

Visão Preliminar do Segmento Avícola Internacional em 2010

Publicado: 18 de outubro de 2010
Por: Osler Desouzart (ODConsulting)
Sobrevivemos a 2009, onde os alarmistas anunciavam mais uma vez o fim do mundo, e os inconsequentes só viam seus interesses. Naturalmente que estamos saindo com a lataria meio amassada, uns quantos arranhões, mas o carro funciona e a viagem continua. Ainda que o crescimento de carnes de aves em 2009 esteja entre os mais discretos dos últimos anos, beirandoa estagnação, é um crescimento num ano em que alguns dos principais produtores mundiais de carnes de aves sofreram reduções em suas produções. Para 2010 anuncia-se com uma retomada, com previsão de um crescimento de 2,5% na produção de carnes de aves. (cf.Gráfico 1).
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Ampliando o espectro da análise para o período que começa em 1985, a América do Sul e a América Central, graças principal e respectivamente ao Brasil e ao México lideram o crescimento da produção avícola entre as principais regiões do mundo, mantendo um ritmo correspondente a mais do dobro do crescimento médio mundial. 
As Américas concentram 43% da produção mundial de carnes de aves e nela se situam o primeiro produtor mundial (Estados Unidos), o quarto (Brasil), o sexto (México) e o décimo (Argentina).
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Segue‐lhe a Ásia, e aí vocês seguramente pensarão que é devido ao Planeta China, o que é justo em números absolutos, mas incorreto do ponto de vista de índice de dinamismo. Entre 1995 e 20075, a produção avícola asiática cresceu 76,6%. Dos 47 países da região, 20 tem um crescimento acima dessa média. A China com seus 49,5% da produção da região é a locomotiva, mas vários países têm apresentado crescimentos significativos na região. Mesmo com esse crescimento, sobretudo entre aqueles de maior população, o nível de consumo per capita de carnes de aves ainda é pouco significativo, o que indica que outros países serão os vetores de uma expansão continuada da produção, consumo e importação de carnes de aves na região que acumulará o grande crescimento demográfico até 2050.
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É interessante observar que a Europa, que historicamente vem perdendo terreno, registra em 2009 um ganho de participação na produção mundial de carnes de frango, mantendo seus 16,8% em 2010.
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Essa progressão se deve principalmente aos países não comunitários (Tabela 3), enquanto a União Européia, apesar do aumento do número de paísesmembros, perde terreno e participação no total da produção européia
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Para efeitos de referência, a Tabela 4 lista a produção de carnes de aves em países selecionados, seja para os dados estimados de 2009 como a previsão para 2010. Prevê‐se que o Brasil responderá com 10,64% da produção mundial, com 10,196 milhões de tm, número bem modesto quando consideramos que já em 2008 teríamos produzido 11,424 milhões de toneladas de carnes de aves10, 11. Guardaremos, entretanto os dados da FAO‐Giews para permitir comparação com outros países. Só há uma coisa pior que dados susceptíveis de serem corrigidos ao longo do tempo: ‐ a ausência de dados e é com profundo pesar e preocupação que registramos que a UBA recentemente interrompeu a publicação de seus dados. Aparentemente, tal decisão foi adotada por pressão de associados que acreditam na máxima que vigorou até os anos 50 – o segredo é a alma do negócio, quando todos os modernos gurus de administração preconizam a informação e transparência como estando no núcleo das atividades de sucesso. Digo aparentemente, pois quando não se tem informação lavra‐se o campo fértil da especulação, do achismo e das teorias esdrúxulas. Na ausência dos fatos e dados, é lícita qualquer coisa que os substituam. Temo que os protecionistas, permanentemente de plantão, infelizes com a produção brasileira de 10,2 milhões de toneladas e infelicíssimos quando souberem que ela é na realidade de 11,4 milhões de toneladas, possam usar tal fato como argumento para sua falta de argumentos.


A grande vítima da crise de 2009 foi na realidade o comércio internacional de carne de aves. Caíram os volumes negociados para menos de 10 milhões de toneladas e os principais exportadores mundiais de carnes de aves sofreram em 2009 com a baixa das cotações internacionais devido à retração dos principais mercados exportadores. O Brasil, principal exportador mundial de carnes de aves, cominou preços menores com um dólar desvalorizado e o real valorizado (sobrevalorizado???). Apesar desse cenário catástrofe, as exportações brasileiras retomaram no final de 2009, o que é de tirar o chapéu à visão de largo prazo dos empresários brasileiros e a confirmação que liderança sustentável não vem da fada madrinha ou do gênio da lâmpada, alguns(mas) encontráveis em Brasília de terça à quinta, mas de estratégias e processos de gestão.
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Os Estados Unidos, co‐líder na exportação de carnes de aves, apresentava até outubro de 2009 uma redução de 4% em seu volume de exportações. A CEE também registrava perdas em suas exportações e a Tailândia prosseguia com seu processo de recuperação. Do ponto de vista dos importadores, consolida‐se a China como a grande importadora de carnes de aves, processo que se acentua a partir de 2006 quando o país sofreu os impactos da redução da produção de carne suína, a mais consumida, devido a episódios sanitários que obrigaram ao sacrifício de matrizes e uma redução considerável na produção. Na Tabela 6 foi separada a China Continental e Hong Kong para uma melhor avaliação. Hong Kong sempre foi grande importador de carnes em geral e parcela significativa dos volumes era re‐exportado para a China Continental.

Tais re‐exportações eram conduzidas sob a forma de comércio de formigas e constituiu uma fascinante experiência para aqueles que tiverem o privilégio de testemunhá‐lo. Hoje a China Continental importa diretamente de diferentes fontes, sem que haja cessado o tradicional comércio de formigas. Defendo a tese de que a China inevitavelmente continuará como compradora de alimentos no futuro, principalmente de carnes, produtos que requerem grande quantidade de água em sua produção. A China carece de terras aráveis e de água para satisfazer a migração da dieta de sua população para maior ingestão de proteínas animais. O país acumula reservas consideráveis que poderão ser investidas na compra de terras aráveis em países com disponibilidade de água. Buscarão fazê‐lo principalmente na costa oriental africana pela facilidade logística, mas dificilmente ignorarão empresas situadas em países de tradição exportadora de alimentos, onde a compra de 1/5 do capital é suficiente para garantir que a China figure sempre nas estratégias de exportação da empresa. Esse processo deverá alcançar o Brasil, sobretudo agora que aqui se formam empresas globais no segmento protéico animal.
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Acredito que há razões para otimismo em relação ao comércio internacional de carnes de aves em 2010. O processo de recuperação de preços observado no segundo semestre de 2009 deve se manter em 2010, sem que possamos esperar a repetição das cotações recordes de 2007 e parte de 2008. Os volumes comercializados voltarão a crescer, mas lembrando sempre que os anos mágicos se acabaram. O crescimento se situará entre 1,8% e 2,0% devido principalmente a uma demanda ainda não de todo recuperada principalmente entre países desenvolvidos.
O protecionismo seguirá exacerbado pelos impactos da crise na demanda e produção de alguns dos principais importadores. As quotas russas seguirão ao sabor da política daquele país de estimular sua produção doméstica. Ucrânia será severa em suas posturas protecionistas e Estados Unidos e Brasil terão aí uma questão comum a equacionar. Japão deverá se adaptar à queda de sua demanda. A própria China poderá flexibilizar menos o acesso a seu mercado devido à recuperação da produção doméstica de carne suína, mas mantenho a afirmação otimista que fiz em relação ao Planeta China. E a CEE seguirá sua maratona protecionista, devido a alguma razão perfeitamente explicável, mas raramente justificável. Sou otimista em relação à continuidade das exportações brasileiras. Estados Unidos deverão vender menores volumes a melhores preços e aproveitar a recuperação do mercado mexicano.

Tailândia e Argentina seguirão expandindo suas exportações. Para uma visão preliminar creio termos o suficiente. Sei que alguns leitores gostariam de uma abordagem sobre a BRF, a agressiva expansão da Marfrig e uma discussão sobre se a JBS deverá complementar sua expansão no segmento de carnes de aves adquirindo alguma empresa no Brasil, mas essas questões ficarão para um artigo futuro. Como toda a crise, a de 2008/2009 ainda trará conseqüências, pois algumas empresas saem dela mais ressentidas que outras. Como o processo de concentração da indústria está longe de estar acabado, 2010 deverá aportar novas aquisições. Em breve, 2010 será um ano de retomada dos negócios, sem mágicas, mas sem anúncios de catástrofes, até porque o fim do mundo está agora adiado para 2012.
 
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Osler Desouzart
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Marcelo de Souza Lima
25 de octubre de 2010
Prezado Osler, muito bom artigo, mostrando realmente que informação é uma ferramenta importantíssima para definição estratégica do negócio. Como aqui o negócio é fazer crescer o frango, sempre digo nos meus cursos de qualificação em frangos de corte, que produzir frangos é uma arte e que não tem erro, por isso, devem ser profissionais o suficiente para equilibrar custo benefício. Como hoje o mercado e altamente seletivo, eles, produtores devem se adequar as necessidades mercadológicas para continuarem a ocupar lugar de destaque, como mostra vasta explanação gráfica de dados no seu artigo. Muito bom.
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