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Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno

Publicado: 21 de setembro de 2015
Por: William Marcos Teixeira Costa – Med. Veterinário, Gerente Técnico Suínos - Ceva Saúde Animal.
Introdução
Apesar da reconhecida importancia do sistema imunologico no desempenho dos suinos, frequentemente nao se observa no campo uma preocupacao com o adequado desenvolvimento das estruturas imunologicas e com a capacidade dos animais em responder adequadamente a desafíos sanitarios, atraves do uso de um programa de vacinacao bem ajustado ou de outras tecnicas de melhoria da resistencia dos animais.
Na maioria das granjas a unica acao ligada ao sistema de defesa e a aplicacao de vacinas. Entretanto, a melhoria do status sanitario de qualquer rebanho so ocorrera com a utilizacao de tecnicas que incluem reducao do desafio, fornecimento de condicoes ambientais, sociais e nutricionais que permitam o adequado desenvolvimento do sistema imune, fornecimento de imunidade passiva ate sua completa maturacao e so entao um programa de vacinacao.
No processo de estabelecimento de um programa de vacinacao em uma determinada unidade de producao de suinos – e cada programa vacinal se adequa apenas e tao somente para o rebanho para qual foi idealizado – devese levar em consideracao: ocorrencia de subpopulacoes, a ingestao de colostro e a duracao da imunidade passiva, o desenvolvimento Imunologico do leitao, as caracteristicas epidemiologicas doencas que se pretende controlar bem como as particularidades imunogenicas de seus agentes.
Apos o estabelecimento do programa de vacinacao uma nova fase se inicia com a escolha das vacinas adequadas, o que envolve identificacao das cepas utilizadas na sua producao e a caracteristica dos adjuvantes, fatores estes que interferem, respectivamente, na adequada resposta imune ao agente e na duracao da imunidade. O trabalho e finalizado com o acompanhamento da execucao da vacinacao de forma a garantir que todos os animais sejam imunizados e com a avaliacao dos resultados, atraves de dados zootecnicos e monitorias clinicas e de abatedouro.
Imunologia de Populacoes
Tem-se assumido que em uma populacao afetada por determinado agente, todos ou praticamente todos os animais sao afetados rapidamente e de forma uniforme (PIJOAN & DEE, 2004). Entretanto diferentes microrganismos tem difusao diferente em cada rebanho, devido a caracteristicas proprias (dose infectante, resistencia a condicoes ambientais, etc) e as condicoes de producao, como tamanho da granja (rebanhos menores tendem a ter uma difusao mais uniforme dos agentes), densidade da populacao, tipo de instalacao etc.
O crescimento das granjas e a adocao de sistemas de producao em mais de um sitio tornou irregular a difusao dos diversos patogenos sendo que esta difusao e dependente de subpopulacoes formadas por grupos de suinos mais sensiveis ou mais expostos a este agente.
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 1
Uma questao crucial para o estabelecimento de subpopulacoes susceptiveis em um rebanho e a reposicao de matrizes. Segundo DIAL (2002) as marras sao as mais importantes causas de instabilidade na sanidade do rebanho. Quanto maior a reposicao do plantel reprodutivo, maior o numero de leitoes com baixa imunidade passiva, colonizados previamente ou nao, presentes em cada lote formado na creche.
Em rebanhos com alta reposicao ou em expansao uma parcela consideravel dos leitoes desmamados estara com imunidade passiva deficiente uma vez que primiparas tendem a ter menor teor de Imunoglobulinas no colostro que matrizes adultas (LE TREUT, 2011). Avaliando progenies de primiparas (P1) e matrizes de terceiro (P3), CARNEY et ali (2009) demonstraram que a progenie de P3 apresentou maior nivel de imunoglobulinas que a progenie de P1 em todas as idades testadas (Grafico 1 – Concentracoes de IgG circulantes em leitoes de matrizes P1 e P3 – coleta de soro nos dias 0, 8, 15, 20 29 3e 37 de idade).
Grafico 1
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 2Carney et ali (2009)
Alem da menor concentracao de imunoglobulinas circulantes, leitoes de primiparas tendem a ser nao colonizados na maternidade por importantes agentes o que leva a surtos graves precoces na creche – sindrome de expansao que se caracteriza por aparecimento de surtos de doencas respiratorias e/ou entericas aproximadamente nove meses apos a introducao de grande numero de marras.
Nos ultimos anos o manejo de femeas jovens tem recebido especial atencao quando se pretende otimizar o controle do Mycoplasma hyopneumoniae. Segundo MAES (2009) as matrizes adultas representam uma fonte de infeccao, porem e a transmissao deste agente pelas primiparas que eleva a chance de infeccoes precoces e graves. Numa granja tipica existem duas rotas da manutencao do M. hyopneumoniae, as marras susceptiveis introduzidas num rebanho positivo, que se infectam durante a gestacao ou a introducao de femeas recentemente contaminadas antes da chegada a granja (final do periodo de producao) e que ainda nao fizeram a “limpeza” do organismo antes do parto (LOWE, 2012). Portanto, um Programa de reducao da transmissao do M. hyopneumoniae deve ser implementado, o que consiste em expor as marras ao agente antes da introducao na granja e retardar esta introducao no rebanho ate que a transmissao tenha terminado (CLAVIJO et ali, 2014).
Uma questao pouco explorada na avaliacao sanitaria de um rebanho e a estrutura do plantel (distribuicao de paricao das femeas). Comumente esta distribuicao e utilizada apenas para analise de indices reprodutivos e ligados a natimortalidade e mumificacao de fetos. Entretanto quatro possiveis cenarios tem grande influencia na prevalencia e gravidade de doencas respiratorias e entericas.
No primeiro cenario, numa granja recem-povoada, o elevado numero de matrizes jovens, porem com baixo desafio sanitario permite certa estabilidade no status sanitario. Surtos de doenca aguda grave podem ocorrer na creche e recria, causados por agentes presentes na fonte genetica. Considera-se importante o contato dos veterinarios do fornecedor e cliente para definir um programa de medicacao e/ou vacinacao contra os agentes presentes no plantel de origem. Se a primeira fase se seguir um periodo de reposicao de plantel insuficiente a maior parte do rebanho sera composta de matrizes de alta produtividade (3 a 6o parto). Neste caso o desempenho zootecnico da granja sera otimo e a imunidade passiva tende a ser elevada, gerando um quadro de estabilidade sanitaria (cenario 2). Havendo prolongamento da reposicao de plantel insuficiente teremos um cenario com grande numero de matrizes velhas o que pode levar a dificuldades sanitarias devido ao nascimento e desmame de leitoes de baixo peso (subpopulacao mais susceptiveis a doencas).
Frequentemente apos o envelhecimento os produtores tendem a elevar a taxa de reposicao para recompor o plantel. Esta pratica gera um acumulo de femeas muito jovens e muito velhas. Alem dos efeitos reconhecidos no desempenho reprodutivo, queda de leitoes nascidos vivos, reducao da taxa de partos, etc., esta estrutura de rebanho reprodutivo e desastrosa do ponto de vista sanitario por colocar em contato grande numero de leitoes nao colonizados e com baixa imunidade passiva com outros em situacao inversa. Apos a formacao dos lotes na creche a transmissao horizontal e intensa com aparecimento de surtos graves de doencas respiratorias e/ou entericas neste setor e no inicio de recria.
Portanto, uma reposicao de plantel regular e planejada deve fazer parte do programa de controle de doencas.
Programas de Vacinacao
No estabelecimento de um programa de vacinacao deve levar em consideracao diversos fatores como, dano economico (custo/Efetividade de Medicacao x Vacinacao), duracao de imunidade passiva, Janela imunologica, capacidade de resposta dos animais (maturidade do sistema imune), periodo (faixa etaria) de ocorrencia da doenca, extensao da imunidade desejada (adjuvante), tipo de exploracao (ciclo completo, Multiplos sitios), tipos de rebanho (reproducao, comercial). A despeito da complexa combinacao de multiplos agentes patogenicos combinados numa determinada granja ou mesmo regiao e possivel na atual situacao da sanitaria da suinocultura brasileira estabelecer programas vacinais basicos a partir dos quais variacoes podem ser realizadas de forma a atender situacoes especificas. De uma forma geral consideram-se de uso universal as vacinas contra o Circovirus Tipo 2 e o Mycoplasma hyopneumoniae, esta ultima nao sendo utilizada em rebanho de multiplicacao genetica livres do patogeno. A este programa basico sao acrescidas vacinas especificas contra agentes primarios ou secundarios mediante diagnostico etiologico e avaliacao clinica e de danos – Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis, Pasteurella multocida A e D, Bordetella Bronchiseptica, Pasteurella multocida APP Like, Streptococcus suis, etc. Recentemente no Brasil se iniciou em algumas regioes e granjas a vacinacao contra o virus da Influenza.
Circovirus Tipo 2
A primeira vacina contra PCV2 foi lancada em 2004 e a partir desta data seu uso se tornou universal com a maioria dos suinos no mundo sendo vacinados contra este agente. De uma forma geral os pesquisadores concordam que as atuais vacinas contra PCV2 sao eficazes em controlar as diversas expressoes do complexo PCVAD (PCV2 Associated Diseases – Doencas Associadas ao PCV2). Entretanto, diversos trabalhos tem sido publicados tentando elucidar importantes questoes relacionadas ao “timing” de vacinacao, a necessidade de vacinar ou nao o plantel reprodutivo e influencia da imunidade passiva na resposta vacinal de leitoes, alem da efetividade das vacinas atuais frente a variedade de amostras circulantes no campo.
Tabela 1 – Dados Imunologicos do Circovirus Tipo 2
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 3
Segundo DOVORAK et ali (2010) As matrizes sao constantemente expostas ao PCV2 e os leitoes sao infectados no utero, durante e apos o parto atraves do ambiente. As femeas reprodutoras apresentam elevada resposta imune, mas nao ha certeza de que os anticorpos colostrais produzidos sao capazes de prevenir a infeccao por PCV2 nos leitoes durante a maternidade e creche. Portanto e de suma importancia o estabelecimento de imunidade ativa de forma agil atraves de uma vacinacao precoce o que so pode ser realizada caso a nao haja interferencia de anticorpos colostrais. Segundo OPRIESSNIG et ali (2010) e HARRIS (2009) as vacinas foram capazes de induzir imunidade (anticorpos neutralizantes) mesmo na presenca de anticorpos maternais.
Entretanto, mais recentemente OH et ali (2014) utilizando 3 das marcas de vacina contra PCV2 observaram correlacao negativa entre a imunidade maternal em animais filhos de matrizes vacinadas quando os leitoes sao vacinados com 21 dias de idade em termos de anticorpos neutralizantes. Nao houve correlacao negativa entre a imunidade maternal em animais filhos de matrizes vacinadas quando os leitoes sao vacinados com 49 dias de idade em termos anticorpos neutralizantes e tambem nao ocorreu correlacao negativa entre a imunidade maternal em animais filhos de matrizes vacinadas quando os leitoes sao vacinados com 21 e 49 dias de idade em termos de IFN-γ (imunidade celular). Portanto, recomenda-se retardar a vacinacao de leitoes quando se utiliza a vacinacao de matrizes no terco final de gestacao. Em filos de femeas nao vacinadas a imunizacao precoce apresenta resultados satisfatorios.
Uma questao bastante discutida em relacao a vacinacao contra PCV2 e se ha diferenca de desempenho entre vacinas de uma ou duas doses. DIAZ (2010) avaliando 5 estudos comparativos entre estes dois regimes de imunizacao nao encontrou diferencas significativas nos resultados, como demonstra a Tabela 2.
Tabela 2 - Comparativo de Viremia e Ganho de Peso Obtido com Vacina de Uma Dose e uma Vacina de Duas Doses contra PCV2 em 5 Diferentes Estudos nos Estados Unidos
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 4* % de suinos > 4 logs no pico de viremia DIAZ (2010)
Para uma vacina ser eficaz e necessario que a amostra que a compoem estimule uma resposta compativel com a cepa de campo que desafia os individuos. No caso do Circovirus Tipo 2 houve uma mutacao do PCV2a para PCV2b que aparentemente se tornou mais patogenico (BURCH, 2009). Quando o PCV2b entrou na America do Norte se estendeu rapidamente pelas regioes produtoras devastando a industria suina com uma mortalidade e morbidade elevadas (OPRIESSNIG, 2013). Na FIGURA 1 temos a distribuicao dos principais genotipos do PCV2.
Figura1 – Principais genotipos de Circovirus Tipo 2
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 5
Como as vacinas atuais sao baseadas em PCV2a questiona-se com certa frequencia sua efetividade em controlar eventos graves por PCV2b. Segundo OPRIESSNIG (2013) Estudos preliminares indicam que ha suficiente protecao cruzada entre PCV2a e PCV2b e BURCH (2009) considera plausivel esperar do PCV2 um comportamento similar ao Parvovirus (DNA virus nao envelopado) para o qual as vacinas tem sido eficientes por mais de 25 anos.
Considerando a efetividade das atuais vacinas contra PCV2 diversos autores tem creditado a ocorrencia de quadros clinicos graves a falhas no processo de vacinacao.
- Possiveis falhas vacinais na vacinacao contra PCV2 (adaptado de OPRIESSNIG, 2010)
  • Falhas na aplicacao da vacina.
  • Dose inadequada.
  • Presenca de outras doencas no momento da vacinacao.
  • Vacinacao de animais muito jovens.
  • Vacinacao muito proxima ou durante a infeccao por PCV2.
  • Protecao de leitoes apenas com anticorpos colostrais.
Mycoplasma hyopneumoniae
Programas de vacinacao contra Mycoplasma hyopneumoniae sao extremamente diferentes, no timing, no numero de doses e na utilizacao ou nao de vacinas em matrizes gestantes visando a reducao da transmissao do agente para a leitegada.
As recomendacoes de “timing” de vacinacao variam de uma a varias semanas de idade dependendo do status da infeccao, do tipo de rebanho de questoes ou financeiras e da preferencia do produtor (STRAIT, 2010). Segundo este autor a vacinacao deve ocorrer antes da infeccao aguda, aliada a otimizacao de praticas de manejo que minimizem os efeitos do M. hyopneumoniae. GREINER et ali (2010) testaram tres programas de vacinacao – uma dose aos tres dias de idade; duas doses, aos 3 dias e um dia antes do desmame e duas doses, no desmame e 3 semanas apos – em uma granja com desafio elevado para este agente e todos os regimes de vacinacao se mostraram protetivos. Tendo com base trabalhos cientificos como este se pode considerar que a escolha do programa vacinal pode e deve variar de acordó com a necessidade de cada rebanho com especial atencao na dinamica da infeccao em cada um deles, atraves de observacoes clinicas e utilizacao de perfis sorologicos.
A despeito do relato anterior a recomendacao da vacinacao contra M. hyopneumoniae extremamente precoce (3 a 7 dias de idade) e motivo de polemica uma vez que o estabelecimento da imunidade para este agente e complexa envolvendo diversos mecanismos celulares e humorais que podem nao estar completamente desenvolvidos no leitao neonato (TABELA 3). Por este motivo alguns pesquisadores recomendam a vacinacao a partir da terceira ou quarta semana de vida.
Tabela 3 – Desenvolvimento do Sistema Imune do Suino Neonato
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 6Biencha (2001), citado por Salazar et ali (2014)
Outro ponto em que ainda nao se tem consenso e a interferencia da imunidade passiva na efetividade das vacinas contra M. hyopneumoniae. Segundo STRAIT (2010) o impacto da imunidade passiva nao esta totalmente resolvido na literatura. Ha algumas contradicoes, mas aparentemente respostas imunes eficazes podem ser obtidas em leitoes na presenca de imunidade humoral e celular maternalmente-derivado. Entretanto, ressalta o autor, niveis muito elevados de anticorpos maternos podem ser inibitorios sob algumas condicoes. MARTELLI et ali (2006) nao encontraram diferencas na resposta imune de leitoes vacinados aos 7 dias de idade, filhos de matrizes vacinadas 14 dias antes do parto ou nao vacinadas.
O numero de doses tambem tem sido motivo de reflexao quando se trata de vacinas contra M. hyopneumoniae. Entretanto, as vacinas de uma dose vem apresentando bons resultados mesmo em condicoes de elevado desafio, situacao em que no passado recente tradicionalmente se recomendava produtos de duas doses. ANKE et ali (2012) demonstraram que manejo e condicoes ambientais, e nao o numero de doses de vacina, foram determinantes para o definicao do resultado de um programa de controle do Mhyo. Neste estudo suinos provenientes de um sistema de multiplos sitios (com alto desafio - Virus da Influenza, PRRS, PCV2 e Haemophilus parasuis) receberam vacinas de uma e duas doses e foram distribuidos em duas instalacoes de terminacao diferentes. Em ambas as terminacoes os escores de lesao pulmonar foram similares para os dois produtos, mas houve diferencia significativa nas lesoes entre as duas instalacoes (Tabela 4).
Tabela 4 – Escore Pulmonar de Acordo Com o Numero de Doses de Vacina Contra Mycoplasma hyopneumoniae e com as Instalacoes de Alojamento.
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 7Amostras de pulmao com lesoes tipicas de Pneumonia Enzootica (macroscopicas e microscopicas) e identificadas por PCR e Imunohistoquimica. ANKE et ali (2012)
A vacinacao de matrizes durante a gestacao tem sido indicada como uma forma de reduzir a pressao de infeccao nestes animais e consequentemente a transmissao do Mhyo para sua leitegada. Entretanto diversos pesquisadores tem demonstrado que a imunizacao contra M. hyopneumoniae com vacinas comerciais apesar de reduzir significativamente os sintomas clinicos e as lesoes pulmonares, nao reduz significativamente a transmissao do agente (MEYNS, 2006; MAES, 2009). ERTL et ali (2014) nao encontraram diferenca na transmissao do Myho para progenie de primíparas vacinadas (3 semanas antes do parto) e nao vacinadas (Tabela 5).
Tabela 5 – Resultados de PCR Real-time de Leitegadas a Desmama – Leitegadas positivas para Mycoplasma hyopneumoniae
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 8ERTL et ali (2014)
  • Swabs nasais de tonsila – desmama.
  • Uma leitegada foi considerada positiva quando pelo menos um dos pools foi positivo.
  • Todos os swabs foram testados usando PCR real-time (VetMax™)
A grande maioria das vacinas contra M. hyopneumoniae sao bacterinas baseadas na amostra “J”, isolada no Reino Unido em 1965. Atualmente ha questionamentos sobre a similaridade desta amostra com as circulantes em rebanhos em todo o mundo e o desempenho variavel com a imunizacao pode ocorrer devido a diferencas antigenicas entre amostras circulando no campo e a que compoem a vacina (SIMONATO et ali, 2013).
A diferenca de intensidade da pneumonia clinica por M. hyopneumoniae e funcao de fatores amplamente descritos (ambientais e de manejo), mas tambem das cepas envolvidas no quadro. Esta variabilidade quanto a incidencia e gravidade de lesoes no campo levou a investigacao sobre a diversidade de cepas de Mhyo. Hoje em dia se sabe que:
- No nivel Individual
  • Um mesmo animal pode estar coinfectado simultaneamente por varias cepas de M. hyopneumoniae (NATHUS et ali, 2011; VRANCKX et ali, 2011; CHERLEBOIS et ali, 2014).
  • A infeccao por cepas distintas pode levar a lesoes mais graves (VILLAREAL et ali 2009; VRANCKX et ali, 2011).
  • A infeccao previa por M. hyopneumoniae nao impede uma colonizacao posterior com uma variante clonal da cepa ou com outra cepa de baixa virulencia ((VILLAREAL et ali 2009; VRANCKX et ali, 2011).
- No nivel de granja
  • Pode haver mais de uma cepa circulando, entretanto um surto de Pneumonia Enzootica e produzido por uma única cepa (NATHUS et ali, 2011).
  • Os fatores de risco para introducao de novas variantes de Mycoplasma hyopneumoniae sao a utilizacao de producao tradicional (fluxo continuo) e proximidade das granjas (NATHUS et ali, 2011; CHERLEBOIS et ali, 2014).
- No nivel territorial
  • Ha variedade entre cepas circulando entre paises, zonas geograficas e mesmo em granjas em um mesmo pais. A diversidade genetica observada em amostras de Mhyo foi posteriormente relacionada com diferencas de patogenicidade e imunogenicidade (GARCIA-MORANTE et ali, 2015). Amostras de alta patogenicidade apresentam multiplicacao mais rapida nos pulmoes, doenca clinica mais grave, reacao inflamatoria celular mais intensa (niveis mais altos de IL-1 e TNF-α e maior numero de neutrofilos e de infiltrado peribroquiolar) e maiores lesoes pulmonares e reacao (MEYNS et ali, 2007; MAES, 2009) Tabela 6.
Tabela 6 - Diferencas de Virulencia Entre Amostras de M. hyopneumoniae
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 9Eutanasia apos 4 semanas pos-infeccao. VICCA (2003) citado por MAES (2009)
Uma questao importante e se a amostra “J”, mundialmente reconhecida como representativa para a especie, atualmente considerada como nao patogenica, e utilizada em muitas vacinas comerciais e capaz de producir resposta imunologica adequada frente a cepas de alta patogenicidade. Nao ha conclusao a este respeito, entretanto trabalhos cientificos tem demonstrado que nao ha protecao consistente para uma cepa de M. hyopneumoniae de alta patogenicidade quando um animal e desafiado por uma amostra de baixa patogenicidade. Segundo VILLARREAL et ali (2009) a infeccao com amostra de baixa patogenicidade de M. hyopneumoniae nao protege contra infeccao por outra amostra de alta patogenicidade. Aparentemente uma infeccao previa com amostra de baixa virulencia pode elevar a severidade de uma posterior infeccao com amostra de alta virulencia (baseado em parametros clinicos, macroscopicos e histopatologicos).
Como ha diferenca antigenica entre as varias cepas e as amostras mais virulentas sao tambem mais imunogenicas (GARCIA-MORANTE et ali (2015), a utilizacao de cepas de alta virulencia em vacinas contra M. hyopneumoniae pode resultar em melhores resultados no controle da Pneumonia Enzootica.
Influenza
Em muitos outros paises a Influenza ja faz parte de um programa regular de vacinacao de matrizes e/ou leitoes. Nestes paises estao disponiveis vacinas comerciais e autogenas, muitas vezes polivalentes (H1N1, H3N2, H1N2), e os programas propostos sao os mais diversos. No Brasil temos disponivel apenas uma vacina comercial monovalente composta por uma amostra pandemica do virus H1N1, com recomendacao de uso em leitoes.
GRAMER (2012) afirma que a eficacia da vacina e determinada pela identificacao genetica e antigenica entre as amostras da vacina e a do desafio de campo. Outros fatores ligados a eficacia da vacina sao: a dose de antigenos, o adjuvante utilizado, o “timing” de vacinacao, a presenca de anticorpos maternais e coinfeccoes.
Duas estrategias sao normalmente utilizadas, a vacinacao de plantel reprodutivo visando a protecao ate a creche (estrategia mais comum) – queda de anticorpos colostrais entre 30 dias de idade ate varias semanas; Vacinacao de animais na saida da creche - Usado em granjas com perdas na recria e terminacao. Em pesquisa realizada em 2010, BEAUDOIN et ali mostraram que no estado de Minnesota (USA) 71% dos rebanhos utilizam vacinacao de matrizes e apenas 7,9% deles utilizam programas que incluem imunizacao de leitoes no inicio da fase de crescimento.
Com relacao a vacinacao do rebanho reprodutivo existem duas possibilidades a imunizacao de cada um dos lotes de matrizes 4 semanas antes do parto ou a vacinacao massal de todo o plantel em periodos estrategicos. MOHR et ali (2012) realizaram um programa de vacinacao massal em um unidade de 1.200 matrizes com elevado desafio de doenca respiratoria obtendo significativa queda de prevalencia de liberacao do virus por matrizes, leitoes lactentes e recem-desmamados – em 5 semanas apos a vacinacao massal. Provavelmente os leitoes receberam elevadas concentracoes de anticorpos contra o SIV (via colostro) o que pode ter reduzido a transmissao do virus. Segundo estes autores Leitoes lactentes sao uma importante populacao para manter a circulacao do virus no plantel uma vez que sem adequada imunidade passiva eles aumentam a liberacao do virus com a elevacao da idade. Leitoes lactentes infectados – desmame (transferencia de unidade) –transmissao horizontal do virus. Estes autores salientaram que a grande similaridade genetica entre a amostra H1N2 isolada na granja e a cepa presente na vacina (98,8%) foi fator determinante para o sucesso da estrategia.
SCHULZ-DALQUIST (2012) considera que a vacinacao das matrizes pre-parto tem como beneficio uma maior transferencia de imunidade passiva. Segundo este pesquisador as marras sao um ponto chave para o controle. Elas necessitam estar completamente imunizadas com o produto mais atualizado, antes da entrada no plantel reprodutivo.
Doencas Bacterianas Primarias ou Secundarias – Respiratorias e/ou Sistemicas
(Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis, Pasteurella multocida A e D, Bordetella Bronchiseptica, Pasteurella multocida APP Like, Streptococcus suis, etc).
Como dito anteriormente a decisao de se utilizar a vacinacao como forma de controle as diversas apresentacoes destas bacterias e funcao de um diagnostico etiologico bem fundamentado e da avaliacao dos danos economicos observados.
De uma forma geral as vacinas para controle destes agentes sao bacterinas comerciais ou autogenas e o sua utilizacao tem se mostrado economicamente favoraveis especialmente se comparados com os custos de medicacao antimicrobiana.
No caso especifico do Actinobacillus pleuropneumoniae (APP) aantibioticoterapia e suficiente para reduzir significativamente os síntomas clinicos (Pleuropneumonia com dispneia grave, febre e elevada mortalidade), mas nao e capaz de eliminar a bacteria do rebanho. Apos a medicacao o APP pode persistir em pulmoes cronicamente afetados persistindo lesoes de pleurite e pleurisia ao abate (CHIERS, 2003). Segundo BRUNIER et ali (2012) apenas a vacinacao e capaz de reduzir significativamente as perdas ao abate causadas pelo APP. Estes autores compararam os resultados obtidos em vistorias de frigorificos entre animais que receberam medicacao com Tilmicosina (200 ppm por 3 semanas) e outros que foram vacinados contra a Pleuropneumonia – Tabela 7.
Tabela 7 – Escore de Pulmoes (Pleurisias) em Suinos portadores de Actinobacillus pleuropneumoniae Vacinados e Medicados.  
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 10BRUNIER et ali (2012)
Ao contrario do que ocorre com agentes como o Mhyo, parece ser consenso entre os pesquisadores a existencia de interferencia da imunidade maternal na imunizacao ativa contra as doencas bacterianas importantes em suinos. Portanto, para o estabelecimento de programas vacinais para os agentes acima e de suma importancia o conhecimento da imunidade passiva de cada um deles. O uso de vacinas dentro do periodo de elevada imunidade passiva provoca sua inutilizacao e a queda mais rapida da imunidade passiva levando ao aparecimento de surtos precoces e graves da doenca que se pretende controlar (COSTA, 2007). O ideal e que a primeira dose seja aplicada ao final do periodo coberto pela imunidade passiva e a segunda dose no minimo 15 dias antes da expressao clinica da doenca ou da soroconversao avaliada via soroperfil. Na TABELA 8 temos a duracao da imunidade passiva para os agentes bacterianos importantes em suinocultura.
Tabela 8 – Duracao de Imunidade Passiva de Diversos Agentes
Vacinação e Imunidade de Rebanho Suíno - Image 11Adaptado de MUIRHEAD & ALEXANDER (2001) e CARR (2013)
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***O trabalho foi originalmente apresentado durante o VIII Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, entre os dias 11 e 13 de agosto, em Chapecó, Santa Catarina BR.
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Autores:
William Costa
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