Introdução
O consumo diário de ração é influenciado por uma série de fatores, tornando difícil estabelecer um comportamento normal específico do animal. A temperatura do ambiente de criação é um dos fatores que afeta de forma direta principalmente o horário de visita ao comedouro (Quiniou et al., 2000). Contudo, estes estudos têm sido conduzidos muitas vezes isolando o animal da população o que afeta o comportamento “normal” dos animais que em produção são criados em grupos. Recentemente, sistemas integrados (comedouros automáticos) que permitem a coleta de dados em “tempo real” tem sido desenvolvidos (Maselyne et al., 2015). Nesses sistemas é possível monitorar o comportamento alimentar dos animais quando criados em grupos. Um aspecto interessante é que há poucos estudos desenvolvidos em clima tropical avaliando o comportamento alimentar dos suínos ao longo do crescimento e terminação utilizando esses sistemas integrados. Sabe-se que o aumento da temperatura no ambiente diminui o número de visitas no comedouro, porém, o consumo de dieta por minuto não é afetado (Quiniou et al., 2000). Desta forma, foi realizado um estudo utilizando um comedouro automático (AIPF – Automatic and inteligent Precision Fedder), quando em clima tropical, sob o comportamento de consumo de suínos ao longo do dia.
Material e Métodos
Um estudo foi conduzido na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP-FCAV) no laboratório de suinocultura. Foram utilizados 60 animais com peso vivo inicial de 38,98 ± 5,18kg. Os animais foram alocados em um único grupo em um galpão com 70 m² iluminado naturalmente, durante todo o período experimental. A dieta foi formulada para atender a exigência da população conforme preconizado por Rostagno et al. (2011). Foram utilizadas três dietas experimentais de acordo com o período do experimento: Dieta 1 (0 aos 28 dias com SID lisina de 1,09%); Dieta 2 (29 aos 56 dias e SID lisina de 0,80%) e Dieta 3 (57 aos 77 dias com SID lisina de 0,70%), todas apresentaram concentração de energia liquida de 2.500 kcal/kg de ração. Para alimentação dos animais e monitoramento do consumo de ração em tempo real, foi utilizado um comedouro automático AIPF. Cada animal possuía um transponder inserido na orelha direita com um número único, e ao inserir a cabeça no equipamento era registrado o horário de entrada do animal (min), o número de acionamento do comedouro (n), volume de dieta (g) e horário de saída do comedouro (min). A partir dessas informações, para avaliar o comportamento alimentar, foram calculadas as seguintes variáveis: tempo médio de permanência (min), ingestão média por minuto (g/min), número de visitas ao comedouro (n) e quantidade de ração consumida (g/visita). Diariamente os dados foram coletados e uma filtragem era realizada para retirada de acionamento fantasma (NNNNN), no qual o sistema não fornecia ração. As informações fornecidas foram agrupadas conforme o período de entrada da seguinte forma: 0 ás 6 horas (0-6h); 06:01 ás 12 horas (6-12h); 12:01 ás 18 horas (12-18h), e; das 18:01 ás 23:59 horas (18-0h). Os dados foram submetidos análise de normalidade dos erros e em seguida realizada análise de variância utilizando o software Minitab® versão 16.
Resultados e Discussão
A utilização do sistema AIPF permitiu a medição do comportamento alimentar de forma efetiva de uma população de suínos em tempo real. Como o experimento foi conduzido sem controle da temperatura ambiente (clima tropical), as médias de temperatura durante os períodos foram de 25±0,6°C, 26±1,2°C, 29±1,8°C e 27±1,7°C, em 0-6h, 6-12h, 12-18h e 18-0h, respectivamente. Indicando temperaturas elevadas durante o dia e amenas durante a noite (Tabela 1).
Tabela 1 - Comportamento alimentar conforme o horário do dia de suínos nas fases de crescimento e terminação (39 aos 129 kg) em clima tropical.
1 Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (p<0,05).
Foi verificado que os animais de forma geral apresentam um comportamento alimentar característico. No período 0-6h apresentaram maior número de visitas ao comedouro, maior tempo de permanencia no comedouro e maior consumo de ração por visita de ração (P<0,05) em relação aos demais períodos do dia. Situação contrária quando observado nos períodos 6-12h, 12-18h e 18-0h, indicando uma provável interferência do estímulo luminoso. Outro aspecto interessante está relacionado à temperatura, pois a média no período da manhã foi de 26ºC, indicando que os animais procuram ingerir alimento nos horários com temperaturas mais amenas. Esse comportamento é a resposta imediata dos suínos ao estresse por altas temperaturas, que consiste na redução do consumo voluntário e atividade física (Nienaber et al., 1996), mecanismo utilizado pelo organismo para reduzir a produção de calor. Relacionado à ingestão média por minuto, verifica-se que durante o período da tarde (12- 18h) os animais apresentaram média superior em relação aos demais períodos (P<0,05). Como a temperatura ambiente média foi de 29ºC os animais compensaram o fato de visitarem menos o comedouro ingerindo maior volume de ração em um menor tempo possível. O comportamento de consumo dos animais pode auxiliar na tomada de decisão em relação a quantidade e composição nutricional da dieta de acordo com o período do dia. Isso pode permitir um melhor ajuste da dieta para atender a demanda de nutrientes para crescimento. Este estudo indica que suínos em fase de crescimento e terminação apresentam hábito alimentar mais voraz durante o período da manhã. No entanto, análises mais acuradas, verificando o perfil de consumo de animais e composição corporal, podem definir se animais com maiores taxas de deposição de proteína possuem um hábito alimentar específico capaz de modular seu comportamento alimentar. Ferramentas como o comedouro AIF auxiliam para maximizar o potencial dos animais na produção e suínos.
Conclusões
Suínos alojados em grupo em clima tropical tendem a apresentar maior atividade alimentar no período da manhã e que fatores como luminosidade e temperatura são fatores que afetam diretamente o comportamento alimentar.
Agradecimentos
Os autores agradecem (Projeto nº. 2012/03781-0) a Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por financiar este projeto e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por financiar a bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor.
Referências Bibliográficas
1. MASELYNE, J.; SAEYS, W.; VAN NUFFEL, A. Review: Quantifying animal feeding behaviour with a focus on pigs. Physiology & behavior, v. 138, p. 37-51, 2015.
2. NIENABER, J. A. et al. Feeding pattern and swine performance in hot environments. Transactions of the ASAE, v. 39, n. 1, p. 195-202, 1996.
3. QUINIOU, N.; DUBOIS, S.; NOBLET, J. Voluntary feed intake and feeding behaviour of grouphoused growing pigs are affected by ambient temperature and body weight. Livestock Production Science, v. 63, n. 3, p. 245-253, 2000.
4. ROSTAGNO, H. S. et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos - Composição de alimentos e exigências nutricionais. 3. Viçosa, MG: p.252, 2011.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.