Introdução
Devido à crescente preocupação com a utilização de antimicrobianos promotores de crescimento na dieta dos animais, em relação à associação destes com a resistência bacteriana humana e a possível presença de resíduos nos produtos cárneos, alguns países baniram sua utilização, levando à comunidade científica o desafio de busca de aditivos melhoradores de desempenho alternativos. Dentre estes pode-se citar os prebióticos, como os oligossacarídeos oriundos da parece celular de leveduras (mananas e glucanas), que podem agir de forma sinérgica, atuando direta e indiretamente sobre o sistema imune e promovendo meio favorável ao desenvolvimento de bactérias benéficas, as quais geram efeitos positivos sobre a saúde intestinal do hospedeiro (SANTOS et al., 2008). O banimento da utilização de antimicrobianos em dietas de leitões recém-desmamados torna-se especialmente preocupante, uma vez que este período aglomera diversos desafios ao desenvolvimento dos animais, tais como os estresses nutricional, ambiental e social, os quais contribuem para o aparecimento de distúrbios digestivos e taxas de crescimento deprimidas (PLUSKE et al., 2003). Nesta fase, os animais sofrem alterações estruturais e funcionais no trato gastrintestinal, além da dificuldade em manter um adequado pH gástrico, fato que colabora para a proliferação de bactérias patogênicas no trato gastrintestinal, podendo diminuir as capacidades digestiva e absortiva dos nutrientes dietéticos (LALLÈS et al., 2007). Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a morfologia e a microbiologia do intestino delgado de leitões alimentados com dietas contendo mananas e glucanas.
Material e Métodos
Foram utilizados 96 leitões desmamados, machos castrados e fêmeas com 24 dias de idade, os quais foram alojados em baias de alvenaria de 2,55 m2 cada, equipadas com bebedouros tipo chupeta e comedouros semiautomáticos. Os animais foram agrupados em um delineamento em blocos completos casualizados para controlar as diferenças no peso inicial, com 4 tratamentos, 8 repetições e 3 animais por unidade experimental. Os dados foram analisados nas seguintes fases: I- dos 24 aos 38 dias de idade; II – dos 39 aos 53 dias de idade e III – dos 54 aos 68 dias de idade. As pressuposições para a análise de variância foram analisadas utilizando-se o teste de Cramer-von Mises para a normalidade dos erros e as médias foram comparadas pelo método de comparações múltiplas (Tukey) a 5% de probabilidade. As análises foram realizadas pelo procedimento PROC MIXED do SAS modelo 9.2. Os animais, a ração fornecida e as sobras de ração foram pesadas no início e no final de cada fase do experimento, para determinar o ganho diário de peso, em kg/dia; o consumo diário de ração, em kg/dia e a conversão alimentar. As dietas foram formuladas de acordo com as exigências nutricionais descritas por Rostagno et al. (2011) para as fases estudadas, sendo as dietas das fases I e II acrescidas de uma fonte de lactose. As dietas experimentais foram assim compostas: CP: controle positivo (dieta com antimicrobiano – 40ppm de sulfato de colistina - na fase I); CN: controle negativo (dieta isenta de antimicrobiano); N+CA: Controle negativo com adição do Composto A (10% de MOS e 18% de beta-glucano) e N+CB: Controle negativo com adição do Composto B (18% de MOS e 20% de beta-glucano). A inclusão do Composto A foi de 10kg/t e do Composto B 2kg/t. No 14º dia de experimento, um animal por baia foi insensibilizado e abatido, a fim de se coletar o conteúdo do intestino delgado para análise microbiológica (bactérias lácticas e enterobactérias) e amostras do duodeno e jejuno para morfologia intestinal (altura das vilosidades, profundidade das criptas e relação altura das vilosidades:profundidade das criptas). Os animais receberam ração e água à vontade durante todo o período experimental.
Resultados e Discussão
As dietas experimentais não influenciaram (P>0,05) a contagem de bactérias lácticas e enterobactérias. Vale ressaltar que a população de bactérias dentro deste grupos é muito ampla, sendo importante estudos futuros com espécies específicas, para observações mais precisas de efeitos benéficos.
Os animais dos tratamentos CP, N+CA e N+CB apresentaram as melhores altura de vilosidades no duodeno e jejuno, profundidade de cripta no duodeno e AV:CP no jejuno (P<0,05). Já os leitões que consumiram a dieta sem aditivo (CN) apresentaram as piores profundidades de cripta no jejuno e AV:CP no duodeno, e os animais dos tratamentos N+CA e N+CB apresentaram os melhores resultados para estas variáveis (P<0,05).
Os resultados benéficos observados com a inclusão de mananas eglucanas na dieta para a relação altura de vilos: profundidade de criptas pode ser explicado pelas diversas formas de ação destes aditivos no organismo do hospedeiro. De forma direta, estes oligossacarídeos fornecem a possibilidade de sítios de ligação alternativos para bactérias gram-negativas patogênicas, bloqueando a fixação bacteriana ao epitélio intestinal, além de ligar-se a receptores de inúmeras células de defesa do intestino, que ativam as defesas imunológicas, tais como a fagocitose (MURPHY et al., 2007). Já de forma indireta, podem estimular seletivamente o crescimento e atividade de uma ou mais bactérias benéficas no intestino, as quais competem com as patógenas, reduzindo sua população, afetando positivamente a saúde do hospedeiro (SILVA E NÖRNBERG, 2003). Tais efeitos benéficos resultam em maior quantidade de tecido absortivo, levando à uma possível melhora na digestibilidade e absorção dos nutrientes, e consequente melhora no desempenho.
Tabela 1 – Microbiologia (bactérias lácticas e enterobactérias), altura de vilosidades (AV), profundidade de criptas (PC) e relação altura de vilosidades:profundidade de criptas (AV:PC) do duodeno e jejuno, aos 38 dias de idade dos animais.
Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si pelo Teste de Tukey (P>0,05).
Conclusões
A inclusão de mananas e glucanas em dietas para leitões recém-desmamados é capaz de melhorar a relação altura de vilosidades:profundidade de criptas, levando possivelmente à uma maior capacidade absortiva dos nutrientes da dieta.
Referências Bibliográficas
1. LALLÈS, J. P.; BOSI, P.; SMIDT, H.; STOKES, C. R. Weaning a challenge to gut physiologists. Livestock Production Science, v. 108, p. 82–93, 2007.
2. MURPHY, E.A; DAVIS, J.M.; BROWN, A.S.; CARMICHAEL, M.D.; GHAFFAR A.; MAYER, E.P. Oat β-glucan effects on neutrophil respiratory burst activity following exercise. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 39, p.639-644, 2007.
3. PLUSKE, J. R.; LE DIVIDICH, J.; VERSTEGEN, M. W. A. Weaning the pig: Concepts and consequences. Wageningen Academic Publishers, 2003, 432 p.
4. ROSTAGNO, H. S.; ALBINO, L. F. T.; DONZELE, J. L.; GOMES, P. C.; OLIVEIRA, R. F.; LOPES, D. C.; FERREIRA, A. S.; BARRETO, S. L. T. EUCLIDES, R. F. Tabelas brasileiras para aves e suínos – Composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa: Imprensa Universitária/UFV, 2011, 252 p.
5. SANTOS, T. N. S.; CASTRO, V.; SOARES, A, L. et al. Prebióticos, probióticos e simbióticos na nutrição dos animais. Revisão. Revista Eletrônica Nutritime, v.5, n. 3, p.573- 576. 2008.
6. SILVA, L. P.; NÖRNBERG, J. L. Prebióticos na nutrição de não-ruminantes. Ciência Rural, v.33, n.4, p. 55-65, 2003.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.