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Otimização dos recursos humanos na suinocultura moderna.

Publicado: 18 de agosto de 2015
Por: Dr. Dirceu Zotti - Cooperativa Agroindustrial Lar
Introdução:
O Agronegócio  em geral, enfrenta uma crise com a falta de mão de obra, em virtude do êxodo rural ocorrido nas últimas décadas, bem como  pela preferência das pessoas residirem no meio urbano. Esse processo está forçando as empresas suinícolas a reinventarem-se de forma muito rápida no que tange toda questão dos recursos humanos e o seu programa de gestão dos processos. É neste cenário que gestores deverão entrar em ação, visualizando de forma diferente suas unidades de produção e garantindo que as mesmas façam os ajustes necessários. Essas adequações permitirão que estes projetos continuem ou se tornem ainda mais eficientes, reduzindo custos, retendo seus talentos e dando vida longa a atividade, com resultados financeiros e zootécnicos consistentes.
A Suinocultura não difere em nada de qualquer outra atividade produtiva e portanto, deve ajustar-se constantemente às mudanças que o mercado impõe. Alguns anos atrás tínhamos melhores margens, pois a matéria prima era mais barata, as exigências das legislações ambientais e trabalhistas eram menores, as granjas tinham menor escala, e a mão de obra era abundante e com menor representação no custo total de produção.
Em relação ao fator mão de obra, atualmente nas principais regiões produtoras temos falta de pessoas para preencher as vagas existentes nas granjas e este problema ou oportunidade dependendo da ótica analisada, se deve principalmente ao grande crescimento das indústrias nos últimos anos. Com essa nova realidade temos que repensar a atividade pois as indústrias oferecem algumas vantagens para o trabalhador o que torna difícil competir em igualdade. Dentre elas, a principal vantagem é que nas indústrias, em sua grande maioria, não se trabalha aos finais de semana, enquanto na suinocultura se trabalha todos os dias. Por esse motivo precisamos criar diferenciais para manter este trabalhador conosco otimizando o seu trabalho, gerando menor  rotatividade e consequentemente menores custos a atividade.
As granjas tecnificadas no Brasil, de uma forma geral, trabalham com a referência de um funcionário para cerca de 70 matrizes. Esse número coloca em risco a competitividade da atividade e precisa urgentemente ser revisto, considerando a otimização de todo processo.
Mudando paradigmas
Há cerca de quatro anos em nossas granjas iniciamos um trabalho intenso em conjunto com os gestores e equipes no sentido de buscar alternativas para a falta de mão de obra. Tínhamos grandes dificuldades para contratar novos colaboradores, baixa produtividade das pessoas, e alto custo de mão de obra, em virtude da baixa relação matriz/funcionário e ou leitões desmamados funcionário /ano.
Nossa primeira decisão foi focarmos nos gestores e nas pessoas verdadeiramente engajadas nos processos tornando-as mais eficientes e satisfeitas naquilo que faziam. A gestão da mão de obra somente dará resultados se todos os processos de contratação, definição de cargos, salários, funções, treinamentos e políticas de remuneração forem do conhecimento de todos e fizerem parte das diretrizes da empresa. A equipe não irá incorporar nada de novo assumindo novas responsabilidades, se não estiver totalmente engajada na causa, com líderes de coragem, firmes, convictos e comprometidos com as mudanças. Além disso, devem ser exemplos de ética, confiança, fazendo uma gestão democrática e compartilhada.
Um trabalho desta complexidade deve ser conduzido com muita cautela dando tempo suficiente para as pessoas absorverem as novas diretrizes. Esse processo passa respectivamente pelas seguintes fases:
a) Definir o objetivo e expor de forma clara a nova metodologia de trabalho;
b) Os líderes deverão acreditar e se envolver plenamente no trabalho em questão;
c) Todas as lideranças devem ter pleno entendimento do novo método;
d) Aculturamento das lideranças a nova forma de gerir suas equipes;
e) Por fim a incorporação e implantação da nova metodologia, onde as equipes deverão estar sempre apoiadas pelo gestor direto.
O Gestor deverá ser o propulsor de toda mudança e estar sempre presente em toda nova tomada de decisão, para evitar desvios e perdas de resultados por atitudes precipitadas ou impensadas.
Diretrizes que norteiam a condução eficaz deste trabalho:
Gestão de pessoas:
Criar clima favorável às mudanças (ler o ambiente), deixando claro as vantagens e necessidades;
  • Engajamento total das lideranças baseado na confiança mútua e no conhecimento;
  • Capacitação constante da equipe: as pessoas devem saber exatamente onde, como e por que contribuir;
  • Focar as pessoas chave no processo - propagadoras de ideias;
  • Intolerância ao absenteísmo: essa questão deverá ficar clara na contratação;
  • Foco na integração e intercâmbios entre equipes: colaboração entre os membros e conhecimento de novos métodos;
  • Definição adequada das funções de todos os envolvidos no processo: deve ser de acordo com as habilidades de cada um;
  • Comunicação fluente entre todos: gestor deve estar focado diariamente nisso;
  • Desenvolver cultura de alto desempenho: acreditar em si mesmo e no propósito das lideranças;
  • Disponibilidade dos dados: todos devem ser conhecedores do que acontece em seu setor para ter habilidades e responsabilidades necessárias na tomada de decisão em tempo hábil;
  • Dar oportunidades as pessoas e ser justo: sempre baseado em fatos e dados;
  • Ter um plano estratégico com metas plenamente alinhadas com o conhecimento da equipe: que deve ser conduzido de forma sequencial e disciplinado, com reuniões semanais, mensais e revisões de acordo com as necessidades;
  • Protocolos simplificados: a equipe deve participar na elaboração facilitando o entendimento;
  • Evitar excesso de zelo no trabalho: concentrar-se no que é realmente importante e trás retorno financeiro;
  • Fazer retroalimentação constantemente, verbal e formal (feedback);
  • Eliminar os aventureiros das equipes através do gerenciamento dos perfis;
  • Desenvolver disciplina na equipe através de um método padrão com foco nos objetivos de produção;
  • Conquistar e manter respeito pelas pessoas: incondicional e independente da situação;
  • Revisão de todos os processos e métodos usados de acordo com a evolução das habilidades na execução das tarefas: procurar sempre o ponto de equilíbrio entre produtividade e a otimização dos recursos e processos;
  • Romper paradigmas e aceitar o novo (desde que se tenha conhecimento de causa): nem tudo que era eficaz até ontem será para sempre;  
  • Não demitir para reduzir quadro, apenas não recontratar os que forem saindo, evitando a geração de clima hostil;
  • Ninguém deve trabalhar mais do que antes, apenas focando o essencial;  
Instalações, equipamentos, ambientes.
É importante realizar alguns ajustes primordiais como os relacionados abaixo:
  • Automatização de todo processo de alimentação;
  • Climatização dos setores de maternidade e gestação (tendência a se estender para a creche e terminação);
  • Construir salas de maternidade maiores e abertas que possibilitem maior visão e controle; fazer desmama semanal em sala única.
  • Corredores centrais e laterais para facilitar o fluxo dos animais;
  • Portões fixos nos corredores ;
  • Pisos totalmente vazados;
  • Pontos de água suficientes para atender todos os processos;
  • Garantir declividade adequada dos pisos;
  • Cortinados com controle automático;
  • Instalações mais compactas.
Paradigmas superados sem perda de produtividade com a nova metodologia de trabalho:
  •  Focar nas prioridades exemplo: atendimento ao parto, ao recém-nascido, e inseminações.
  • Evitar o uso de papinha para leitões: atuar sempre na causa e não no efeito;
  • Otimizar o número de inseminações por fêmea: 1,9 a 2,1 doses são suficientes;
  • Inseminar apenas uma vez ao dia;
  • Cessar corte de dentes e amarração de umbigo;
  • Não transferir fêmeas em gestação;
  • Usar somente um tipo de ração na gestação;
  • Eliminar a tarefa de fazer as fêmeas gestantes “levantarem”;
  • Pesar leitegadas coletivamente ao nascimento e desmama por amostragem;
  • Não lavar porcas prenhas ao transferir para a maternidade;
  • Realizar apenas um diagnóstico de cio diário até os 50 dias de gestação;
  • Realizar apenas duas alimentações diárias para as fêmeas na fase de maternidade ou alimentação a vontade automatizada;
  • Aplicação de vacinas na região da “picanha da porca” (músculo Glúteo bíceps);
  • Iniciar verificação de cio em marrãs a partir de 200 dias de vida e apenas uma vez ao dia;
  • Fazer a pesagem de marrãs juntamente com a colocação de brincos por amostragem; (aos 150 dias e ao flushing).
  • Organizar horários mais flexíveis nos finais de semana: satisfação das pessoas;
  • Ajuste da remuneração de toda equipe que permaneceu após estas mudanças;
Observações:
Essas recomendações de manejo estão em uso em nossas unidades de produção a cerca de quatro anos e até o presente momento não tivemos nenhum problema sanitário ou reprodutivo. Na questão desempenho apenas a mortalidade na maternidade teve uma leve piora, que se justifica pelos custos reduzidos com mão de obra naquele setor.
Há ainda vários ajustes a serem feitos ou perguntas a serem respondidas, no intuito de romper novos paradigmas e continuarmos a otimização de todo processo.
Alguns temas que estamos avaliando com nossas equipes:
  • Atendimento ao parto 24 horas, é realmente necessário?
  • Indução de partos: otimização de pessoas, custo x benefício?
  • Manejo em bandas: contribui para redução de pessoas?
  • Perfil das pessoas: generalistas ou especialistas?
  • Uso de Top dress alimentar em primíparas lactantes: pode ser eliminado? E a síndrome do segundo parto?
  • Arraçoar leitões na maternidade: vale a pena?
  • Como atrair e trabalhar com jovens que estão constantemente conectados a internet?
Considerações finais sobre essa nova metodologia de trabalho:
Com o presente trabalho conseguimos reduzir nosso quadro de funcionários na produção em torno 50%. Nossos indicadores eram de 1 pessoa para 85 matrizes e atualmente na mesma unidade esta proporção é de 1 pessoa para 170 fêmeas. Se excluirmos desta conta os funcionários de creche e pessoas não envolvidas diretamente na produção (escritório, manutenção, refeitório, transporte) a relação é de - 1 funcionário para 280 matrizes.
Acreditamos plenamente neste trabalho, porém cada caso é um caso e isso dependerá também do tamanho das granjas e do nível de tecnologia empregada nos projetos, temos ciência que deveremos manter as pessoas adequadamente remuneradas, engajadas, capacitadas e satisfeitas.  Sabemos que este trabalho é um grande desafio a ser encarado pelos gestores da nossa atividade, mas estamos convictos da capacidade das pessoas em fazê-lo e da necessidade das empresas que isso seja realizado, para otimizar os custos de produção e melhorar cada vez mais a competitividade no mercado nacional e internacional.
Quando queremos produzir mais e melhor precisamos ampliar nosso conhecimento, aprimorar nossos processos e desenvolver atitudes mais eficazes.
Pessoas melhores resultam em profissionais melhores e mais produtivos. Neste cenário não haverá perdedor. Todos terão ganhos e sem dúvida o resultado maior será o sucesso contínuo desta dinâmica atividade que é a Suinocultura Brasileira.
***O Trabalho foi originalmente apresentado durante o VIII Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, entre os dias 11 e 13 de agosto, de 2015, em Chapecó, SC.
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Autores:
Dirceu Zotti
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