Introdução
Nas fases de crescimento e terminação os gastos com a alimentação são expressivos, levando regularmente à tentativas de adoção de procedimentos de manejo e nutricionais que, dentro das condições permitidas e esquiveis nas granjas e nas empresas, vem minimizar estes custos. Destacam-se, entre outros, a restrição alimentar, o ganho compensatório e o uso de ractopamina. Os manejos alimentares que buscam o ganho compensatório em suínos mostram-se comumente efetivos, com melhora nos índices econômicos (HANSEN, THERKILDSEN; BYRNE, 2006; PURSLOW et al., 2012). Também a ractopamina tem comprovadamente marcantes resultados no desempenho, nas características de carcaça e na economia do sistema, sendo amplamente utilizada. A amplitude de sua resposta está em função da dose empregada (STHALY, 1990), do suporte de substrato (WEBSTER et al., 2002; SCHINCKEL et al., 2003), e dos aportes nutricionais, principalmente proteína bruta e aminoácidos (WILLIANS et al., 1994). Marinho et al., (2007) tratam que uma suplementação extra deste nutrientes melhora a eficiência da droga na deposição de tecido magro e na lipólise. Todavia, não há uma definição do melhor nível destes nutrientes, embora haja uma conduta generalizada prática de uso de níveis superiores destes nas rações finais da fase de engorda. Reconhecido o efeito do consumo compensatório após períodos de restrição alimentar e do comportamento da ractopamina, objetivou-se neste trabalho potencializar os índices de desempenho e carcaça pelo uso simultâneo destes recursos, sendo hipotetizado que sob um consumo superior de ração, decorrente do consumo compensatório, a ractopamina (RAC) presente na ração encontraria um nível maior de substratos para incrementar sua ação.
Material e Métodos
Foram utilizados 40 suínos comerciais (PIC X Danbred), 20 machos castrados e 20 fêmeas, com 110 dias de idade média e 66,137 ± 6,13 kg de peso vivo, alojados individualmente. Os animais foram distribuídos em blocos ao acaso, num arranjo fatorial 2x2 (2 manejos alimentares, à vontade ou restrito, e com ou sem RAC), totalizando dez repetições por tratamento, sendo o animal a unidade experimental. Os tratamentos corresponderam a T1- controle, dieta sem RAC e fornecida à vontade, durante todo o período experimental (42 dias); T2 - controle + RAC (dieta controle fornecida a vontade durante toda fase experimental e suplementada com 10ppm de RAC durante os 21 dias préabate); T3- dieta fornecida em restrição de 20% em relação ao grupo controle (T1), nos primeiros 21dias e ração sem RAC nos 21 dias pré-abate; T4 - dieta fornecida em restrição de 20% em relação ao grupo controle (T1) e ração com 10ppm de ractopamina 21dias pré-abate. Para avaliação de desempenho os animais foram pesados no início do experimento e a cada 21 dias, totalizando 3 pesagens. Após o período de restrição, os animais receberam ração ad libitum até o momento do abate. O abate foi realizado aos 152 dias de idade. Foram avaliados o peso da carcaça quente, peso da carcaça fria, rendimento de carcaça, comprimento de carcaça, espessura de toucinho, profundidade do músculo L. dorsi e área de olho de lombo (BRIDI e SILVA, 2009). O rendimento e a quantidade de carne na carcaça foram estimados segundo Guidoni (2000). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey.
Resultados e Discussão
Os resultados de desempenho estão demonstrados na Tabela 1.
Tabela 1- Peso inicial (PI), consumo diário de ração (CDR), ganho diário de peso (GDP), conversão alimentar (CA) e peso final (PF) de suínos submetidos aos programas de alimentação com e sem restrição e à inclusão ou não de ractopamina (valores expressos em kg).
*P representa o valor para cada fator;
amédias seguidas de letras indicam diferença pelo teste de Dunnet a 5%.
Na primeira fase houve efeito do fator restrição para o consumo diário de ração (CDR) e para o ganho de peso (GDP). Ao se comparar as médias com o grupo controle (sem restrição e sem RAC) ficam evidentes as diferenças para os grupos que submetidos à restrição. Na segunda fase (21 dias antes do abate) houve efeito para os fatores com vantagens para as mesmas variáveis para o fator RAC; e para a conversão alimentar (CA) para o fator restrição. Considerando os resultados por grupo, o efeito da RAC sobrepôs o efeito da restrição para a variável GDP, sendo ainda mais efetivo para aquele grupo que após ser submetido à restrição recebeu a droga, sinalizando uma potencialização dos efeitos. Considerando as médias somente, houve diferença para a CA, sendo esta melhor para o grupo que recebeu a restrição e depois foi submetido à ração com RAC, identificando-se com as afirmações de Hansen et al. (2006) e Purslow et al.(2012), quanto ao manejo de restrição, e a Marinho et al. (2007), que descreveram que um maior aporte de nutrientes aumenta os efeitos da RAC, neste caso determinada pelo maior consumo decorrente do manejo de alimentação pós-restrição O mesmo quadro foi verificado todo o período experimental, o que corrobora com a sinergia dos manejos para os parâmetros GDP e CA. Nesta etapa também houve efeito do fator RAC. Na Tabela 2 observam-se os resultados de carcaça, com efeito somente para o fator RAC para as variáveis peso da carcaça quente (PCQ) e resfriada (PCR), área de olho de lombo e profundidade do músculo L. dorsi (PM). Considerando a comparação das médias dos grupos com relação ao grupo controle (sem restrição e sem RAC), as diferenças (P<0,05) estão presentes a favor das variáveis PCQ, PCR e PM, sendo os grupos tratados com RAC melhores. Em geral os resultados convalidam os melhores efeitos obtidos no desempenho.
Tabela 2 - Valores médios de características quantitativas de carcaça de suínos submetidos ao ganho compensatório tratados ou não com ractopamina durante 42 dias experimentais.
*P representa o valor para cada fator;
amédias seguidas de letras indicam diferença pelo teste de Dunnet a 5%.
Conclusão
O uso da ractopamina após um período de restrição alimentar quantitativa, visando ganho compensatório, potencializa o ganho de peso e especialmente a conversão alimentar, com reflexos positivos nas características de carcaça.
Referências Bibliográficas
1. BRIDI, A. M.; SILVA, C. A. Avaliação da carcaça e da carne suína. 2. Ed. Londrina: Ph Editora, 2009. 120 p.
2. GUIDONI, A.L. Melhoria de processos para tipificação e valorização de carcaças suínas no Brasil. In: CONFERENCIA INTERNACIONAL VIRTUAL SOBRE A QUALIDADE DE CARNE SUÍNA, 2000, Concórdia. Anais... Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, 2000, p.221-234.
3. HANSEN, S.; THERKILDSEN,M.; BYRNE, D.V. Effects of a compensatory growth strategy on sensory and physical properties of meat from young bulls. Meat Science, v.74, p.628-643, 2006.
4. MARINHO, P.C.; FONTES, D.O.; SILVA, F.C.O.; SILVA, M.A.; PEREIRA, F.A.;AROUCA, C.L.C. Efeito da ractopamina e de métodos de formulação de dietas sobre o desempenho e as características de carcaça de suínos machos castrados em terminação.Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n.4, p. 1061-1068, 2007.
5. PURSLOW, P.P.; ARCHILE-CONTRERAS, A.C.; CHA, M.C. Manipulating meat tenderness by increasing the turnover of intramuscular connective tissue. Journal of Animal Science, v.90, p.950-959, 2012.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.