Introdução
Rações produzidas a partir de grãos contaminados por micotoxinas podem provocar sérios problemas na produção animal. Os alimentos podem estar contaminados com um único tipo de micotoxina (isolada) ou com mais de uma substância (associações) ao mesmo tempo, podendo levar a um efeito sinérgico, aditivo ou antagônico entre elas (GRENIER & OSWALD, 2001). As micotoxicoses se apresentam como um entrave sanitário na suinocultura, e seu maior problema é atribuído aos malefícios causados nos diversos órgãos e sistemas dos animais, que acarretam na diminuição do ganho de peso dos animais (MALLMANN et al., 2007). Entretanto, alguns estudos sugerem que dietas produzidas com grãos contaminados podem ser preteridas pelos animais, acarretando em uma alteração do consumo de ração, o que também afeta diretamente o desempenho produtivo (AKANDE et al., 2006). Considerando essa premissa, parte da redução no ganho de peso pode ser causada pela redução no consumo de ração desses animais. Neste trabalho, objetivou-se estudar, por meio de meta-análise, a relação entre a redução no ganho de peso e a redução no consume de ração de suínos desafiados por micotoxinas em contaminações isoladas ou por associações.
Material e Métodos
Foram selecionadas publicações indexadas e que apresentavam resultados de desempenho de experimentos com suínos de alto desempenho desafiados por micotoxinas nas dietas. Foram realizadas análise de correlação entre as variáveis, para identificar os fatores relacionados. Os dados foram relativizados de acordo com os tratamentos controle. Equações foram geradas para estimar a relação entre a redução no ganho de peso (ΔGP) e a redução no consumo de ração (ΔCR) dos animais. Os interceptos das equações geradas foram associados empiricamente com as exigencies de mantença dos animais, enquanto que a inclinação (coeficiente angular) foi interpretada como indicativo das alterações associadas com ΔCR e, portanto, com a eficiência alimentar (EA). A partição entre os dois efeitos foi realizada considerando a ΔGP corrigida, utilizando as equações obtidas e a ΔCR média observada na base de dados. As análises foram realizadas no programa estatístico Minitab (MINITAB for Windows, version 16). A base de dados foi composta por 85 estudos (moda: 2002) que totalizaram 13.196 suínos. A idade média inicial dos animais foi de 44 dias (21-160) e a final de 68 (27-224) dias. Um total de 1.011 tratamentos foram considerados nas análises, dos quais 35% foram classificados como controle. Dos tratamentos com dietas contendo micotoxinas (aflatoxinas, deoxinivalenol, zearalenona e fumonisinas), 86% utilizaram desafios isolados e 14% desafios em associação.
Resultados e Discussão
A correlação entre ΔGP e ΔCR foi 0,666 (p<0,05) em desafios por micotoxinas isoladas e 0,926 (p<0,05) em desafios por associação. A relação entre a ΔGP e a ΔCR foi quadrática (Figura 1). Os interceptos das equações diferiram de zero e foram negativos em ambos os desafios. De acordo com as equações geradas e quando a ΔCR é nula, os suínos alimentados com dietas contendo micotoxinas apresentaram ΔGP de -6,089% em intoxicações isoladas e de -6,559% em intoxicações por associações. Esta redução pode indicar um aumento nas exigências de mantença nos animais desafiados, tal como descrito anteriormente por PASTORELLI et al. (2012). Como os interceptos foram numericamente semelhantes nas equações para micotoxinas isoladas ou em associação, é possível inferir que a magnitude deste efeito nas exigências de mantença dos animais é pouco influenciada pela forma de apresentação das micotoxinas nos desafios.
Figura 1 - Relação entre a variação no ganho de peso (ΔG) e variação no consumo de ração (ΔFI), obtidos por meta-análise, em suínos alimentados com dietas contendo micotoxinas em desafio isolado (valores observados representados por círculos vazados [?] e equação [y = –6,089 + 0,6015x – 0,0093x2; R2 = 0,65] representada pela linha pontilhada [ ]) ou em associações (valores observados representados por círculos preenchidos [?] e equação [y = –6,559 + 0,8438x – 0,0057x2; R2 = 0,87] representada pela linha contínua [ ]).
A Figura 2 apresenta a partição dos efeitos na ΔGP corrigida para a ΔCR média. Os fatores associados com a ΔCR foram considerados neste estudo como responsáveis pela alteração na EA dos animais. Em ambos os desafios, a maior parte da ΔGP (58% em desafios isolados e 84% por associações) pode ser relacionada com as alterações na EA dos animais. Os mecanismos de ação relacionados com a queda no CR dos suínos desafiados por micotoxinas variaram com o tipo de substância tóxica (ou de associação) presente nas dietas, mas as características da base de dados não permitiram análises específicas para cada micotoxina ou associação.
Figura 2 - Partição da variação no ganho de peso (ΔGP, corrigida) entre redução associada com alterações na eficiência alimentar ou com exigências de mantença em suínos alimentados com dietas contendo micotoxinas em desafio isolado ou em associações.
Algumas teorias de seleção de alimentos sugerem que os animais podem associar a ingestão de material contaminado com as consequentes sensações de desconforto (HEDMAN et al., 1997), justificando a ação de algumas toxinas alimentares como fatores limitantes no CR. Contudo, cada micotoxina apresenta uma maneira diversa pela qual pode interferir no CR e estes mecanismos específicos de ação não são completamente conhecidos para algumas substâncias e sobretudo para as associações.
Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo evidenciam a importância da compreensão dos mecanismos pelos quais as micotoxinas interferem no comportamento alimentar dos animais.
Referências Bibliográficas
1. AKANDE, K. E. et al. Nutritional and health implications of mycotoxins in animal feeds: a review. Pakistan Journal of Nutrition, v. 5, n. 5, p. 398-403, 2006.
2. GRENIER, B.; OSWALD, I. Mycotoxin co-contamination of food and feed: meta-analysis of publications describing toxicological interactions. World Mycotoxin Journal, v. 4, n. 3, p. 285-313, 2011.
3. HEDMAN, R. et al. Influence of dietary nivalenol exposure on gross pathology and selected immunological parameters in young pigs. Natural Toxins, v. 5, n. 6, p. 238-246, 1997.
4. MALLMANN, C. A.; SANTURIO, J. M.; WENTZ, I. Aflatoxins-clinic and toxicologic features in swine. Ciência Rural, v. 24, n. 3, p. 635-643, 1994.
5. PASTORELLI, H. et al. Meta-analysis of feed intake and growth responses of growing pigs after a sanitary challenge. Animal., v. 6, n. 6, p. 952-961, 2012.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.