Introdução
A alta concentração de nitrogênio (N) nos dejetos tem sido uma preocupação ambiental. O volume anual de N ingerido pelos suínos é de aproximadamente 36 mil toneladas, sendo que deste volume, cerca de 41% retorna ao meio ambiente (LOVATTO et al., 2010). Uma estratégia para reduzir a excreção de N é diminuir o teor de proteína bruta das rações, suplementando-as com aminoácidos sintéticos. Estudos mostram que a redução do teor proteico, prejudica a qualidade final da carcaça dos animais, com aumento na deposição de gordura, indesejável para a agroindústria e consumidor final (OLIVEIRA et al., 2006; MADRID et al., 2013). Contudo, resultado contrário foi verificado por Kerr et al., (2003) que não observaram diferenças no crescimento, eficiência alimentar e características de carcaça, com a redução do teor proteico das dietas. O provável aumento de gordura na carcaça pode estar relacionado à maior disponibilidade de energia da dieta, como resultado da redução do gasto energético com a degradação do excesso de aminoácidos. Desta forma, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito da redução do teor proteico sobre a composição corporal de suínos em fase de crescimento e terminação.
Materiais e Métodos
Foi desenvolvido um estudo no Laboratório de Suinocultura da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – FCAV/UNESP, Jaboticabal-SP, utilizando-se 60 suínos, machos, castrados, de alto potencial genético e com peso vivo inicial de 38,98 ± 5,18 kg. Os animais foram alocados em um delineamento inteiramente casualizado, com 2 tratamentos e 30 repetições por tratamento. O período experimental foi dividido em duas fases: fase I (0 aos 28 dias) e fase II (29 aos 56 dias) e período total (0 aos 56 dias). Os tratamentos foram: teor normal de proteína bruta (PBN); teor normal de proteína bruta reduzido em 4 pontos percentuais e suplementação de aminoácidos sintéticos (PB+AA). As dietas experimentais, formuladas a fim de atender as exigências preconizadas pelo NRC (2012) para cada fase, foram constituídas à base de milho e farelo de soja e suplementadas com aminoácidos sintéticos. Para o manejo alimentar foi utilizado um comedouro automático (AIPF - Automatic and Intelligent Precision Feeder) que identifica o animal a cada acesso ao cocho, possibilitando registrar o consumo individual diário. A ração e a água foram fornecidos à vontade. Nos dias 0, 28 e 56 do período experimental os animais foram submetidos às análises de composição corporal utilizando um equipamento de duplo raio X (DXA – GE Lunar Prodigv Advance, Madison, EUA). Para isso, os animais foram sedados através de aplicação intramuscular de um tranquilizante. Ao final foram obtidos os valores de composição em tecido magro (kg) e tecido gordo (kg). Os dados de composição corporal foram submetidos a análise de normalidade dos erros (Shapiro-wilks) e à análise de variância ao nível de 5% de probabilidade, utilizando o pacote estatístico do SAS versão 9.3.
Resultados e Discussão
O desempenho dos animais foi normal no decorrer do experimento, com 2,60±0,26 kg/dia de consumo médio diário de ração e 1,15±0,09 kg/dia de ganho médio diário de peso, durante o período total (0 a 56 dias). Apesar de alguns estudos demonstrarem que a redução do teor proteico resulta em piora (BALL et al., 2013) ou mesmo ausência de efeitos (POWELL et al., 2011) no desempenho, o presente trabalho mostrou que os animais do tratamento PB+AA apresentaram aumento (P<0,05) de 7,74% na deposição diária de tecido magro em relação ao tratamento PBN, além de uma tendência de aumento no ganho de peso (P=0,11) durante a fase 1 (Tabela 1).
Tabela 1 – Composição corporal de suínos submetidos a um nível normal (PBN) e reduzido de proteína bruta, com suplementação e aminoácidos sintéticos (PB + AA) durante as fases de crescimento e terminação.
1-Médias seguidas de letras diferentes em uma mesma coluna diferem estatisticamente entre si (p<0,05).
Uma das razões para o aumento na deposição de tecido magro na primeira fase é que a redução do teor proteico com suplementação de aminoácidos sintéticos, resulta em menor gasto de energia para excreção de N em excesso no organismo (KERR et al., 2003), podendo ser utilizada para deposição de tecido magro. Outro aspecto importante é que os animais, nesta fase de crescimento, encontram-se em crescente aumento na deposição de proteína (BERTECHINI, 2012), o que indica também elevado gasto energético para a síntese proteica. Isso poderia explicar o fato de não ter sido observado aumento na deposição de tecido gordo, já que, em situação de metabolismo acentuado, não haveria excedente de energia para ser convertido em gordura no organismo. No período total não foi verificado efeito dos tratamentos sobre a deposição diária de tecido magro e gordo, indicando que a qualidade do produto final não é comprometida pela redução do teor proteico das dietas em quatro pontos percentuais, desde que haja suplementação com aminoácidos sintéticos para o atendimento das exigências em aminoácidos dos animais.
Conclusão
A redução do teor proteico das dietas em 4 pontos percentuais com suplementação de aminoácidos sintéticos não altera a deposição de massa magra e gorda de suínos em crescimento e terminação, tornando-se uma alternativa para um sistema de produção mais sustentável, com menor excreção de N, sem comprometer a qualidade da carcaça dos animais.
Agradecimentos
Os autores agradecem (Projeto n° 2012/03781-0) à Fundação de Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) por financiar este projeto e ao Cnpq por financiar as bolsas de estudos.
Referências Bibliográficas
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7. POWELL, S.; BIDNER, T.D.; PAYNE, R.L.; SOUTHERN, L.L. Growth performance of 20- to 50- kilogram pigs fed low-crude-protein diets supplemented with histidine, cystine, glycine, glutamic acid, or arginine. Jounal of Animal Science, v.89, n.11, p.3643-3650, 2011.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.