Introdução
A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma cultura tropical, amplamente cultivada em todo território brasileiro. Na alimentação de suínos ela pode ser usada na forma de farinha integral, farelo de raspas, ou ainda, como feno da parte aérea, sendo este último composto por haste principal, folhas e galhos em proporções variáveis, no entanto as pesquisas são mais voltadas à utilização do terço superior que associa produtividade e qualidade nutricional (MACHADO, 2010). Trata-se de um ingrediente rico em polissacarídeos não amiláceos, que são os principais constituintes da parede celular, sendo caracterizados como polímeros de açúcares, que não podem ser digeridos pelos animais monogástricos, devido à natureza de suas ligações, e por ser resistente à hidrólise no trato digestivo (ROSA & UTTPATEL, 2007). Diante disso, a utilização de enzimas exógenas que degrada os polissacarídeos não amiláceos é justificada nas rações de não ruminantes, pela interferência desses polissacarídeos nos processos digestivos e no aproveitamento dos nutrientes pelos animais, uma vez que sua ação aumenta a disponibilidade de polissacarídeos de reserva, gorduras e proteínas, protegidos da atividade digestória, pelos polissacarídeos da parede celular (CAMPESTRINI et al., 2005).
Enzimas como a xilanase, β-glucanase e celulase, são exemplos de enzimas com eficácia comprovada. Diante do exposto, o objetivo da pesquisa foi avaliar a inclusão de 12% do feno da parte aérea da mandioca com e sem adição de um complexo enzimático em rações para suínos nas fases de crescimento e terminação sobre parâmetros séricos de triglicerídeos e ureia e desempenho dos animais.
Material e Métodos
Foram utilizados 32 suínos machos castrados de linhagem comercial e peso inicial de 22±0,630 kg, distribuídos em um delineamento em blocos ao acaso, com quatro tratamentos sendo uma ração controle e as demais contendo 12% do feno da parte aérea da mandioca, uma sem redução da matriz energética e as outras duas com redução de 100 kcal de EM/kg com e sem suplementação de enzimas exógenas. Cada tratamento com oito repetições e um animal por unidade experimental. O monitoramento das variáveis climáticas foi realizado por meio de seis datalogger?s distribuídos no interior do galpão, a 60 cm do piso, nos quais a temperatura e umidade relativa do ar foram registradas durante todo o período experimental em intervalos de 10 minutos. As rações experimentais foram formuladas de acordo ROSTAGNO et al. (2011) segundo as exigencias nutricionais de cada fase: crescimento I (68 a 91 dias de idade), crescimento II (92 a 112 dias de idade) e terminação (113 a 140 dias de idade). Nas formulações foi utilizado o valor de 1.142 kcal/kg de energia metabolizável, obtida em experimento anterior. Foram coletados nas fases de crescimento I, II e terminação, 4 ml de sangue de cada animal, obtido por meio da pulsão na veia jugular, o sangue foi então centrifugado a uma velocidade de 3000rpm durante 10 minutos, imediatamente após a coleta para obtenção do plasma sanguíneo, onde este foi retirado com auxilio de pipeta automática e acondicionado em tubos do tipo eppendorf, identificados e armazenados para análises posteriores de triglicerídeos e ureia realizadas através de um kit analítico. Para a mensuração das variáveis de desempenho, foi realizada a pesagem dos animais e suas respectivas rações no início e fim de cada fase, bem como, das rações desperdiçadas, que foram recolhidas e quantificadas para correção do consumo. Os dados de ganho de peso médio diário e consumo de ração médio diário foram obtidos pelas diferenças de pesagens, sendo a conversão alimentar calculada a partir destas informações. Os dados foram analisados, utilizando o procedimento GLM do programa estatístico SAS (2001) e as médias comparadas pelo teste Tukey (P<0,05).
Resultados e Discussão
As médias de temperatura e umidade relativa do ar no interior do galpão experimental foram 28,91ºC e 63%, respectivamente. No tocante aos níveis de triglicerídeos (Tabela 1) não foram observadas diferenças significativas nas fases de crescimento I e II. Porém, observa-se aumento na concentração de triglicerídeo sérico na fase de terminação para os animais que receberam a ração contendo feno da parte aérea da mandioca sem redução da matriz energética. Esse resultado pode ter ocorrido devido à maior inclusão de óleo nesse tratamento.
Em relação aos níveis de ureia, nas fases estudadas, foram observadas maiores concentrações de ureia para os animais alimentados com a ração controle. Mesmo que as rações tenham sido formuladas para serem isoprotéicas, podem ocorrer diferenças nesse parâmetro.
Tabela 1 - Triglicerídeos e ureia no sangue de suínos nas fases de crescimento I, II e terminação, alimentados com rações contendo feno da parte aérea da mandioca com e sem adição de complexo enzimático
Cont. = Controle; SER = Sem redução energética; RE= Redução de 100kcal/kg da EM; RE+Cenz. = Redução de 100kcal da EM + Complexo enzimático; CV=Coeficiente de variação; médias seguidas por letras minúsculas na linha diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. P = Probabilidade pelo teste Tukey (p< 0,05).
Os resultados do desempenho obtido pelos suínos alimentados com feno da parte aérea da mandioca com e sem suplementação enzimática são apresentados na (Tabela 2). De acordo com a análise estatística não houve efeito significativo dos tratamentos para essas variáveis de desempenho analisadas.
Tabela 2 - Desempenho de suínos nas fases de crescimento I, II e terminação alimentados com rações contendo feno da parte aérea da mandioca com e sem adição de complexo enzimático
Cont. = Controle; SER = Sem redução energética; RE= Redução de 100kcal/kg da EM; RE+Cenz. = Redução de 100 kcal da EM + Complexo enzimático; CV= Coeficiente de variação; P= Probabilidade (p<0,05) pelo teste de Tukey.
Alguns autores relatam que o efeito da adição de enzimas exógenas em rações para suínos são mais evidenciados em animais jovens, devido à inabilidade do trato gastrointestinal, ainda imaturo, de digerir a fração fibrosa do alimento, porém, à medida que o animal cresce esse efeito vai tornando-se menos evidenciado devido ao aumento da eficiência de digerir componentes fibrosos.
Conclusões
A inclusão de 12% do feno da parte aérea da mandioca, com redução da matrizenergética em 100 kcal de EM/kg, sem adição de enzimas exógenas, pode ser utilizado em rações para suínos nas fases de crescimento e terminação.
Referências Bibliográficas
1. CAMPESTRINI, E.; SILVA, V.T.M.; APPELT, M.D. Utilização de enzimas na alimentação animal. Revista Eletrônica Nutritime, v.2, n°6, p.259-272, novembro/dezembro 2005.
2. MACHADO, L.C. Avaliação da parte aérea de cultivares de mandioca, desempenho e digestibilidade em dietas simplificadas e semisimplificadas com ou sem suplementação enzimática para coelhos em crescimento. Tese de doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais. 140 p. 2010.
3. ROSA A. P. R. UTTPATEL R. Uso de enzimas nas dietas para frangos de corte. SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA VIII. Chapecó. Anais... p.102-115. 2007.
4. ROSTAGNO, H.S., ALBINO, L.F.T., DONZELE, J.L., GOMES, P.C., OLIVEIRA, R.F., LOPES, D.C., FERREIRA, A.S., BARRETO, L.S.T., EUCLIDES, R.F. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa. 2011.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.