A melhora na qualidade das rações, material genético, sanidade e manejo têm viabilizado a manutenção dos animais na granja até alcançar maior peso ao abate. A conseqüência direta disto é maior oferta de carne com o mesmo número de animais produzidos e mais qualidade na carne destinada ao consumidor e para o processamento industrial.
A indústria utiliza o termo "suíno pesado" para animais abatidos com pesos entre 100 a 130 kg. Com a nova linhagem da Embrapa, por exemplo, o abate de suínos com 115 kg de peso vivo representa cerca de 25% a mais de carne na carcaça em comparação com o abate de suínos com 90 kg.
No Brasil, o peso médio das carcaças de suínos tem apresentado crescimento constante. Entre os anos 1995 e 2000 esse crescimento foi de 8,07%, continuando a crescer nos anos seguintes, já que em 2007 o peso ultrapassa os 83 quilos, como apresentado na Tabela 1. Podemos observar também que o percentual de carne magra na carcaça dos animais acompanhou o seu aumento de peso.
Muitos frigoríficos estimulam a produção de carcaças de qualidade pelo sistema de tipificação de carcaças, bonificando ou penalizando o produtor de acordo com o peso e a percentagem de carne magra na carcaça. Com isto, a tipificação de carcaça transfere da indústria para o produtor grande parte da responsabilidade pela sua qualidade e o diferencial de preço que o produtor recebe pela carcaça em função de sua qualidade é mais um fator importante que deve ser analisado quando ele precisa decidir sobre o peso de venda dos seus animais.
Tabela 1- Evolução do peso médio das carcaças e da percentagem de carne magra dos suínos no Brasil.
Vantagens do abate de suínos pesados
Para o suinocultor, há uma maior produção de quilograma de carne por matriz/ano, como exemplificado na Tabela 2. Além da diluição de alguns custos de produção.
Tabela 2- Comparação entre 2 granjas com mesmos índices de produção e com pesos de abate diferentes.
Por outro lado,os maiores beneficiados em se trabalhar com animais mais pesados são os frigoríficos, já que obtém maior quantidade de carne por hora trabalhada, dilui os custos fixos da empresa e proporciona maior valor agregado aos cortes nobres (pernil, lombo, paleta).
Limitações do abate de suínos pesados
Para a adoção de um peso superior ao abate convencional (90 a 100 kg), o suinocultor deve levar alguns pontos em consideração.
- Adequar às instalações disponíveis, permitindo uma lotação e densidade correta.
- O controle sanitário deve ser modificado baseado na nova idade de abate, já que a imunidade desenvolvida via vacinas vai diminuindo com a idade.
- O manejo deve proporcionar um mínimo de estresse possível, principalmente na fase pré-abate.
- Atentar-se para a conversão alimentar, pois após os 150 dias de idade, os suínos podem apresentam uma piora nesta característica.
- Ao utilizar animais de baixo ou médio potencial genético para deposição de carne magra na carcaça, a quantidade de gordura tende a aumentar com o peso dos animais, já que seu consumo de energia excede à exigência para produção de carne magra. Assim, estratégias que promovam redução da deposição de gordura pelo suíno são importantes.
Existem algumas restrições por parte dos frigoríficos quanto à compra de animais pesados, atribuindo-se que a qualidade da carcaça piora com o aumento de peso e avanço da idade, porém quando os animais recebem uma alimentação adequada isso não ocorre, como demonstrado na Tabela 1. Outra limitação deve-se à venda de peças inteiras, que é pouco abrangente e bastante regionalizada, isto porque a maioria dos consumidores deseja praticidade na cozinha, preferindo comprar cortes ao invés de peças inteiras.
Estratégias adotadas no abate de suínos pesados
Genética: um dos fatores que interferem na capacidade de produção de carne é o número de fibras musculares, característica esta definida ao nascimento, na qual a genética tem grande participação. A introdução de raças e linhagens de alta capacidade de produção de carne no mercado brasileiro tem permitido que altas taxas de ganho de carne magra sejam observadas em animais com pesos elevados, além da redução na deposição de gordura. Como podemos observar no gráfico 1, o crescimento em carne aumenta com o aumento do consumo de energia até atingir um máximo (plateau), representado pelo potencial de deposição de carne de cada genótipo. A partir daí, toda a energia que exceder ao potencial máximo de crescimento em carne será utilizada para deposição de gordura. Dessa forma, fica caracterizada a importância de se conhecer o verdadeiro potencial genético do animal, adequando a nutrição para que esse potencial possa ser explorado economicamente em sua totalidade.
Estudos realizados por Pereira et. al (2007) com suínos de alto potencial genético para deposição de carne magra na carcaça, revelaram que os animais abatidos com 125 kg apresentaram maior rendimento de carne quando comparados aos abates com 95 kg, sem afetar negativamente o desempenho e a qualidade da carne, promovendo uma carcaça com média de 55,7% de carne magra.
Gráfico 1 - Comportamento da deposição de carne e gordura em genótipos com alto e baixo/médio potencial de deposição de carne.
Ração: as rações devem conter teores de aminoácidos essenciais em quantidades adequadas como forma de maximizar a utilização da energia, reduzindo consequetemente a deposição de gordura. Todavia, suínos com alta taxa de ganho protéico, exigem um maior consumo de aminoácidos para que possam expressar todo seu potencial de ganho. Deste modo, é necessário diminuir o consumo de energia e adequar o consumo de aminoácidos na fase de terminação para se obter carcaças de melhor qualidade. Para isto, usar o conceito de proteína ideal é a melhor opção, por impedir excesso ou desbalanceamento de aminoácidos, melhorando a eficiência de utilização e diminuindo a necessidade metabólica de conversão desses nutrientes em gordura, que são depositadas na carcaça.
Restrição Alimentar: o manejo de restrição alimentar está relacionado a melhor conversão alimentar e qualidade da carcaça, além da redução da quantidade de efluente/kg de suíno. A severidade da restrição alimentar a ser imposta, basicamente é uma opção da genética e do sexo dos animais. Isto porque animais geneticamente melhorados e fêmeas tendem a consumir menos ração, o que diminui a importância da restrição para esses animais.
A restrição alimentar pode ser quantitativa, na qual ocorre uma redução na quantidade de ração fornecida aos animais. Em geral, uma restrição de 10% do consumo à vontade é considerada média, podendo ou não ser o suficiente para que apareçam os efeitos na eficiência alimentar e nas características de carcaça, como abordado acima. Outra forma de restrição alimentar é a qualitativa, na qual são incluídos ingredientes de menor valor calórico (alto teor de fibras) às rações dos suínos, como a casca de arroz.
Aditivos: podem ser adicionados às rações dos animais com finalidade de modular o seu crescimento com aumento na taxa de ganho de peso, diminuição no consumo de alimentos, aumento da musculatura esquelética e decréscimo na deposição de gordura corporal. A ação prioritária desses compostos é sobre os adipócitos, diminuindo a deposição de gordura por estímulo da lipólise e inibindo a sensibilidade dos adipócitos à insulina, isto é, diminuindo a lipogênese. Nos músculos esqueléticos, eles exercem seus efeitos aumentando a deposição protéica, por estimular a síntese (prioritário) e inibir a degradação protéica.
A ractopamina é um aditivo beta-adrenérgico mais usado atualmente como repartidor de energia em dietas de suínos na fase de terminação, a qual deve ser usada nas rações nas últimas quatro semanas da terminação, na dosagem de 5 a 20 ppm, devendo esta ração conter no mínimo 16% de proteína bruta e assegurar um consumo de lisina de 28 a 30g /animal/dia.
Considerações Finais
O consumidor atual exige um produto que tenha alta qualidade e o objetivo de todo suinocultor moderno é reduzir a gordura e aumentar a quantidade de carne magra associados a uma produção eficiente (maior ganho de peso e redução da conversão alimentar). Para isso, a comercialização de animais pesados é uma tendência mundial que permite uma maior lucratividade em todo o setor com a obtenção de carne de qualidade.
A literatura consultada encontra-se disponíveis com os autores.