Introdução
Durante o pré-abate os suínos são submetidos a diferentes agentes estressantes tais como: movimentação, psicológico, térmico, mecânico, hídrico e digestivo; que podem influenciar a qualidade da carne, o bem-estar animal e o seu comportamento.
Os homens pré-históricos já estudavam o comportamento dos animais à sua volta, seja para sua alimentação defesa, domesticação ou apenas para conhecê-los. Quando forçamos um animal a viver em condições ambientais diferentes do seu habitat, há risco de que ele não possa expressar seu comportamento natural. Neste caso, é de se esperar que as condições de bem-estar fiquem prejudicadas.
O uso do choque elétrico no manejo dos suínos, por exemplo, causa mudanças comportamentais e fisiológicas nos animais, como o aumento da temperatura corporal e da freqüência cardíaca, alterando a qualidade da carne.
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito de certas práticas do manejo pré-abate, como o tempo de jejum dos suínos na granja, mistura de lotes e modelo de carroceria sobre o comportamento dos suínos na baia de descanso no frigorífico.
Material e Métodos
Foram realizados três experimentos:
1) Tempo de jejum na granja: os suínos foram submetidos a jejum de 9, 12, 15 ou 18 horas;
2) Mistura de lotes: os suínos foram misturados na granja e no frigorífico, somente na granja, somente no frigorífico ou não foram misturados;
3) Os suínos foram transportados em três modelos de carrocerias: Simples de madeira ou simples e dupla metálicas modelos TRIEL-HT.
Na condução dos experimentos foram utilizadas 939 fêmeas oriundas de cruzamentos industriais com peso vivo médio de 131,21±11,50 kg e período de alojamento médio de 144 dias, para as fases de crescimento e terminação.
As granjas tinham capacidade média de alojar 550 suínos. Em cada um dos experimentos avaliados foram escolhidas aleatoriamente 4 baias/tratamento totalizando 16 baias/granja por experimento.
Os suínos eram alojados em baias coletivas, com capacidade média de 10 animais/baia, com bebedouro do tipo concha (ecológico) e comedouro linear posicionado paralelamente ao corredor.
No desembarque dos suínos no frigorífico utilizou-se uma rampa móvel e o deslocamento para embarque e desembarque foi realizado com o auxílio de uma tábua de manejo.
Durante o período de descanso no frigorífico, os suínos foram mantidos em baias coletivas (0,9 m2/ suínos) com paredes laterais de alvenaria medindo 4,9 m de comprimento, 1,8 m de largura e 1,20 m de altura (8,82 m2), e portões com estrutura de ferro vazado. Nesse período os animais tiveram acesso à água, fornecida por bebedouros do tipo chupeta.
O comportamento dos suínos durante o período de descanso no frigorífico foi registrado considerando-se as seguintes categorias: deitado, em pé, sentado, caminhando, brigando, fugindo, bebendo água e montando um sobre o outro. Os registros das observações foram realizados com o auxílio do método scam, de forma direta, e através do método de contagem em quatro momentos: quinze minutos do desembarque e mais três observações a cada trinta minutos. Para a análise dos dados foi calculada a porcentagem média de animais em pé (PSPE), deitados (PSDEI) e em outras atividades (PSUA), ou seja, sentado, caminhando, brigando, fugindo, bebendo água e montando um sobre o outro. Na análise de variância utilizou-se para cada experimento o modelo matemático com os efeitos de bloco (inverno e verão), do manejo pré-abate e da interação entre bloco e manejo pré-abate.
Resultados e Discussão
Os dados referentes ao comportamento dos suínos do experimento 01 estão representados na Figura 1. O tempo de jejum dos suínos na granja antes do carregamento não influenciou significativamente a PSDEI (P=0,81), PSPE (P=0,09) e a PSUA (P=0,16).
Independente do tempo de jejum que os suínos foram submetidos na granja, 60,5% permaneceram deitados na baia de descanso do frigorífico, 30,0% permaneceram em pé e apenas 9,5% dos suínos exerceram outras atividades: sentados (4,42%), caminhando na baia (4,30%) e brigando (0,78%). Não foram observados suínos exercendo as atividades de montar um sobre o outro, bebendo água e fugindo.
A mistura de lotes dos suínos não influenciou significativamente a PSDEI (P=0,14), PSPE (P=0,13) e a PSUA (P=0,16), (figura 2). Nesse estudo observou-se que 64,64% dos suínos permaneceram deitados e 31,51% ficaram em pé. Somente 3,84% dos suínos exerciam outras atividades, dos quais 3,64% ficavam sentados e 0,19% ficavam caminhando. Durante esta avaliação não foram observados suínos realizando as seguintes atividades: brigando, fugindo, bebendo água e montando um sobre o outro.
O modelo de carroceria do caminhão não influenciou Significativamente a PSDEI (P=0,58), PSPE (P=0,18) e a PSUA (P=0,52) (figura 3). Independente do modelo de carrocerria utilizada no transporte dos suínos da granja ao frigorífico, verificou-se que 67,44% dos suínos permaneceram deitados, 24,85% permaneceram em pé e somente 7,69% dos suínos exerceram outras atividades. Desses últimos 4,14% estavam sentados, 2,52% caminhando, 0,69% brigando, 0,14% fugindo, e 0,20% bebendo água.
Considerando o comportamento dos suínos envolvidos nos três estudos, durante o período de descanso no frigorífico, observou-se que 64,80% permaneceram deitados, 28,73% ficaram em pé e 6,47% ficaram exercendo outras atividades. Desses últimos 3,99% ficavam sentados, 1,92% caminhando, 0,41% brigando, 0,054% fugindo, 0,05% bebendo água e somente 0,07% montando um sobre outro.
Conclusões
O tempo de jejum na granja, a mistura de lotes e os modelos de carrocerias estudadas não influenciou o comportamento dos suínos nas baias de descanso no frigorífico. A baixa ocorrência de suínos bebendo (0,05%), pode ter sido em função dos diferentes bebedouros utilizados na granja (concha) e no frigorífico (chupeta).