Introdução
Durante as diversas fases de desenvolvimento dos suínos procura-se oferecer condições apropriadas para seu melhor desenvolvimento. Contudo, normalmente não tem sido dada a devida atenção às 24 horas que antecedem o abate, que podem comprometer o bem-estar e a qualidade da carcaça por falhas no manejo pré- bate. As 24 horas antes do abate são muito estressantes para os suínos, com reflexos psicológicos, físicos e metabólicos devido à forte interação animal-homem. Quando os suínos são submetidos a manejo inadequado, têm o seu bem-estar comprometido e suas carcaças podem desenvolver dois defeitos principais, conhecidos como carnes PSE (do inglês pale, soft and exudative: pálida, flácida e exudativa), e DFD (do inglês dark, firm and dry: escura, firme e seca). Essas carnes são freqüentemente rejeitadas pelos consumidores e comerciantes, devido a cor ser pouco atrativa, bem como pela indústria de transformação, devido a problemas na industrialização, com conseqüências econômicas importantes à indústria. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da estação do ano sobre a freqüência de lesões de agressão ou escoriação na pele, que é um indicador de bem-estar dos suínos da granja ao abate.
Material e Métodos
Foram utilizadas 910 fêmeas suínas, oriundas de cruzamentos industriais, com peso vivo médio de 126,70±6,62 kg, peso da carcaça quente de 96,68±9,06 kg e período de alojamento médio de 144 dias para as fases de crescimento e terminação. Esses animais foram criados em 19 granjas em sistema de terminação, sendo avaliadas 9 granjas no verão (março de 2002), e 10 granjas no inverno (agosto de 2003). As granjas em sistema de terminação tinham capacidade média para alojar 550 suínos. Em cada granja avaliada foram escolhidas aleatoriamente 24 baias para a realização do experimento. Os suínos avaliados receberam jejum pré-carregamento de 12 horas nas granjas. No carregamento, não se fez o uso de choque elétrico na condução dos animais. O transporte dos suínos foi realizado em dois modelos de carroceria metálica (simples e dupla), desenvolvidos pela empresa TRIEL -HT. A densidade média durante o transporte dos suínos foi de 0,45 m2/suíno, ou os suínos foram desembarcados com o auxílio 281,19± 18,50 kg de suíno/m2. No frigorífico, de uma plataforma móvel e conduzidos até as baias de descanso coletivas. Durante o período de descanso no frigorífico (3 horas), os suínos tiveram acesso à água, fornecida por bebedouros do tipo chupeta.
A freqüência de lesões de agressão/escoriação na pele foi realizada na meia carcaça esquerda dos suínos, através de avaliação visual, pela contagem do número de lesões no lado esquerdo dos animais. Esta medida foi realizada em três momentos: na granja, um dia antes do carregamento para o frigorífico; no desembarque dos suínos no frigorífico; e na baia de descanso, imediatamente antes do abate. Para realização da análise da variância, as freqüências de lesão foram transformadas para y +1 , sendo que para a análise das FLS-G foii utilizado o modelo estatístico, onde foram incluídos os efeitos da estação do ano (inverno e verão) e da granja dentro da estação do ano; e para a FLS-D e da FLS-A foi utilizado o modelo estatístico, onde foram incluídos os efeitos da estação do ano (inverno e verão), da granja dentro da estação do ano, do modelo de carroceria, posição do animal na carroceria e interação entre modelo de carroceria e posição do animal na carroceria. No modelo de carrocerias dupla, não foram considerados os efeitos de piso (inferior e superior) e do lado (direito e esquerdo), dado que a carroceira simples é de um piso e não há divisão lateral. As análises das porcentagens de suínos com lesão de pele na granja (PSL-G), logo após o desembarque, na baia de descanso (PSL-D) e imediatamente antes do abate (PSL-A), foram realizadas pelo Teste de c2.
Resultados e Discussão
Para todas as variáveis estudadas verificou- se efeito significativo (P<0,01) de melhorar as estimativas da variância residual, já que diferentes granjas podem apresentar diferentes manejos e instalações. Estes podem influenciar significativamente as variáveis medidas.
Fig. 1. Porcentagem de suínos com lesões na pele na granja, no desembarque e na baia de descanso do frigorífico em função da estação do ano. Valores seguidos de letras distintas, em cada local de avaliação, diferem entre si (P<0,05) pelo teste de x².
Efeito da Estação do Ano sobre a Freqüência de Lesões de Agressão ou Escoriação na Pele dos Suínos, da Granja ao Abate | 3
Verificou-se, também, efeito significativo da estação do ano sobre a freqüência de lesões dos suínos na granja (P=0,0389), no desembarque (P=0,0004) e na baia de descanso (P=0,0024). Outrossim, neste caso os suínos abatidos no inverno apresentaram maior freqüência de lesões na pele em relação àqueles abatidos no verão (Tabela 1).
Tabela 1. Médias ajustadas e desvios-padrão da freqüência de lesões por suíno na granja, no desembarque em baia de descanso do frigorífico em função da estação do ano
O modelo de carroceria não influenciou significativamente a porcentagem e a freqüência de suínos de lesão na baia de descanso (P=0,1801 e P=0,0985), respectivamente. Todavia influenciou significativamente a porcentagem e a freqüência de lesões na baia de descanso (P=0,0392 e P=0,0038), respectivamente. Houve maior porcentagem de suínos com lesões na pele na carroceria simples, onde também foi detectada a maior freqüência de lesões por suíno em relação aos transportados em carroceria dupla (Tabelas 2 e 3). Os valores maiores de PSL-D e FLS-D na carroceria simples podem ser explicados pela maior possibilidade dos animais montarem uns sobre os outros, provocando lesões na pele, o que dificilmente ocorre no modelo de carroceria dupla, pois a altura entre os pisos é de apenas 0,90 m.
Tabela 2. Porcentagem de suínos com lesões na pele no desembarque e na baia de descanso do frigorífico antes do abate em função do modelo de carroceria
Tabela 3. Médias ajustadas e desvios-padrão da freqüência de lesões na pele por suíno no desembarque e na baia de descanso do frigorífico antes do abate, em função do modelo de carroceria
A posição do animal dentro da carroceria do caminhão não influenciou significativamente a freqüência de lesões no desembarque e na baia de descanso (P=0,2580 e P=0,2703, respectivamente), conforme apresentado na Tabela 4. A freqüência das lesões na pele por suíno no período do manejo pré-abate pode ser influenciada por diversas fontes de variação, tais como: tipo de embarcador (grau de inclinação); modelo de carroceria; mão-de-obra (treinada ou não) na granja, no transporte e no frigorífico; condições das estradas; período e manejo dos animais durante o descanso no frigorífico; mistura de lotes no embarque ou desembarque; entre outros. A mistura de lotes promove quebra na hierarquia social do grupo, fato que gera maior agressividade entre os animais durante o transporte e sua permanência na baia de descanso no frigorífico, resultando em lesões, hematomas e ferimentos, que comprometem as carcaças, inclusive levando a problemas de carne PSE ou DFD.
4| Efeito da Estação do Ano sobre a Freqüência de Lesões de Agressão ou Escoriação na Pele dos Suínos, da Granja ao Abate
Tabela 4. Médias ajustadas e desvios-padrão da freqüência de lesões na pele por suíno no desembarque e na baia de descanso do frigorífico, em função da posição do box dentro da carroceria
Conclusões e Recomendações
Suínos abatidos no inverno apresentam uma maior freqüência de lesões em relação aos abatidos no verão. O uso de carrocerias simples contribui para o incremento de lesões na pele dos suínos. Portanto recomenda-se o uso de carroceria dupla no transporte dos suínos da granja ao frigorífico com o objetivo de proporcionar uma redução na incidência de lesões de pele durante essa etapa da produção.