Introdução
Sabe-se que a exigência nutricional de lisina digestível (LD) é definida pela capacidade de crescimento corporal, delimitada pelo genótipo, e a interação desta com diversos fatores, com destaque para a fase de crescimento do animal e as características ambientais e sanitárias do sistema de produção (Taylor et al. 2012). A avaliação dos níveis de LD, dentro de cada fase de crescimento corporal, pode superestimar a exigência de LD pelos suínos, já que os animais poderiam, ao longo de diversas fases de crescimento, apresentar mecanismos fisiológicos adaptativos que possibilitariam uma maior eficiência no aproveitamento dos nutrientes fornecidos nas rações. Logo, a utilização de planos de nutrição é uma ferramenta importante para ajustar os níveis de LD, em cada fase de produção, à exigência nutricional do animal, permitindo assim uma adequação sequencial e interdependente que não acarretaria em alterações sobre o desempenho e a deposição de proteína e de gordura na carcaça.
Material e Métodos
Foram utilizados 192 leitões, machos castrados e fêmeas, híbridos comerciais, com alto potencial genético para a deposição de carne na carcaça. Os leitões foram desmamados aos 28 dias de idade e distribuídos em gaiolas seguindo-se um delineamento experimental de blocos ao acaso, composto por quatro tratamentos (níveis sequenciais de lisina digestível), 16 repetições e três animais por unidade experimental. Os tratamentos, que corresponderam a diferentes planos de nutrição, foram constituídos em cada fase por uma ração basal e outras três rações obtidas pela suplementação daquela com L-lisina HCl 78 % em substituição ao amido, resultando em planos nutricionais com níveis de lisina digestível de: 1,05–0,95–0,85% (PN1); 1,15–1,05–0,95 % (PN2); 1,25–1,15–1,05 % (PN3) e 1,35–1,25–1,15 % (PN4) para as fases dos 28 aos 35, dos 35 aos 49 e dos 49 aos 63 dias de idade respectivamente. As rações experimentais foram formuladas para atender as exigências nutricionais de leitões com alto potencial genético e de desempenho superior, dos 7 aos 30 kg de peso corporal, de acordo com as recomendações contidas em Rostagno et al. (2011) para todos os nutrientes, exceto para a lisina digestível. As pesagens dos animais foram realizadas aos 35, 49 e 63 dias de idade. Ao final do período experimental, os animais foram submetidos a um jejum alimentar de 24 horas e, em seguida, pesados. O animal que apresentou o peso final mais próximo daquele mensurado de sua unidade experimental foi selecionado para o abate. As análises bromatológicas de proteína e de extrato etéreo das amostras de carcaça foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da UFV, de acordo com metodologia descrita por Silva & Queiroz, (2002). As deposições de proteína e gordura na carcaça foram feitas por criterios comparativos entre as carcaças dos animais-testemunho e daqueles abatidos ao final do experimento, de acordo com a metodologia proposta por Donzele et al. (1992). Os dados de desempenho dos 28 aos 49 dias, dos 28 aos 63-d e de deposição de proteína e gordura na carcaça foram submetidos a uma análise de variância ao nível de 5 % de significância utilizando-se o procedimento GLM (PROC GLM) do programa SAS (SAS Inst. Inc., Cary, NC). Eventuais diferenças entre os tratamentos foram avaliadas pelo teste de Tukey. Ainda no período de 28 aos 35 dias, os dados de desempenho foram avaliados utilizando-se o modelo de análise de regressão linear (PROC REG).
Resultados e Discussão
Os resultados de desempenho e de deposição na carcaça encontram-se descritos na Tabela 1. Não foi observado efeito (P > 0,05) dos tratamentos sobre o consumo de ração diário (CRD) durante os períodos experimentais avaliados. O consumo de lisina diário (CLD) aumentou (P < 0,05) de forma linear entre os níveis de lisina dos 28 aos 35 dias, segundo a equação I: Y = 4,427 – 1,485 (R² = 0,92). Como o CRD não diferiu entre os tratamentos, as variações observadas no CLD estão diretamente relacionadas ao nível deste aminoácido nas rações experimentais. O ganho de peso médio diário (GPD), no período de 28 aos 35 dias, foi influenciado (P < 0,05) de forma linear pelos níveis de LD nas rações, segundo à equação II: Y = 0,219x + 0,001 (R² = 0,82). Também foi notado que os planos nutricionais influenciaram (P < 0,05) o GPD dos animais no período de 28 aos 63 dias de idade. Os leitões alimentados com o plano nutricional 1 (PN1) apresentaram menor GPD, em comparação com animais alimentados com o plano nutricional 4 (PN4). Do mesmo modo, foi observado efeito significativo (P < 0,05) dos planos nutricionais sobre o peso médio final (PMF) dos leitões no período de 28 aos 63 dias. O menor PMF dos animais alimentados pelo PN1, em relação aos animais do PN4, é devido a uma menor taxa de crescimento corporal, conforme relatado anteriormente. No período de 28 aos 35 dias, a conversão alimentar (CA) foi influenciada (P < 0,05) pelo nível de LD da ração, de acordo com a equação III: Y = -0,705x + 2,079 (R² = 0,94). Todavia o nível de 1,35 % de LD apresentou um valor de CA bem próximo ao observado para o nível de 1,25% de LD. Este fato, somado ao resultado de GPD, indica que o nível de 1,25 % de LD é o recomendado para leitões dos 28 aos 35 dias de idade. Ainda, no período de 28 aos 63 dias de idade, os leitões submetidos ao PN4, correspondente à sequência de níveis de lisina digestível de 1,35-1,25-1,15 %, apresentaram (P < 0,05) um menor valor de CA em relação aos animais que receberam os níveis sequenciais de lisina correspondentes ao PN1. Os leitões alimentados com os planos nutricionais 2 e 3 (PN2 e PN3) apresentaram valores intermediários de CA, que não diferiram dos demais. Foi observado efeito (P < 0,05) dos planos de nutrição avaliados sobre a deposição de gordura (DepG) na carcaça dos animais. Condizente com este resultado, Taylor et al. (2012) afirmaram que suínos alimentados com rações contendo níveis subótimos de LD apresentaram maior proporção de gordura na carcaça. Por outro lado, o maior valor de DepG dos leitões do PN4, em relação ao PN3, possivelmente deriva do fato do excedente aminoacídico ser convertido em tecido adiposo.
Tabela 1 - Efeitos dos níveis de lisina digestível e dos planos de nutrição no desempenho de leitões no período pós-desmame
*Planos Nutricionais: PN1: (1,05;0,95;0,85); PN2: (1,15;1,05;0,95); PN3: (1,25;1,15;1,05); PN4: (1,35;1,25;1,15).
¹Efeito linear (P < 0,05).
abcd Médias seguidas por letras distintas são diferentes pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Conclusões
Conclui-se que o nível de 1,25 % de lisina digestível, correspondente a um consumo de lisina médio diário de 4,27 g, possibilita o melhor resultado de desempenho para leitões dos 28 aos 35 dias de idade. Conclui-se também que o plano de nutrição 2, correspondente a 1,15; 1,05 e 0,95 % de lisina digestível, possibilita melhores resultados de desempenho e de deposição de proteína na carcaça de suínos com alto potencial genético dos 28 aos 63 dias de idade.
Referências Bibliográficas
1. DONZELE, J.L., COSTA, P.M.A., ROSTAGNO, H.S. et al. Efeitos dos níveis de lisina na composição da carcaça de suínos de 5 a 15 kg. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.21, p.1091-1099, 1992.
2. ROSTAGNO, H.S. et al. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigencias nutricionais.3ª ed. Viçosa, MG: UFV, DZO, 2011, 252 p.
3. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análises de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV, 2002. 235p.
4. TAYLOR, A.E; TOPLIS, P; WELLOCK, I.J. et al. The effects of genotype and dietary lysine concentration on the production of weaner pigs. Livestock Science, v.149, p.180-184, 2012.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.