INTRODUÇÃO
Na produção intensiva de suínos, os grãos de cereais são processados antes do consumo por: moagem martelo e rolamento, peletização, expansão e extrusão, esses dois últimos em menor proporção. Esses processos são utilizados a fim de quebrar as barreiras físicas apresentadas pela parede celular, e por sua vez, pode aumentar a acessibilidade das enzimas digestivas nos seus substratos os grãos e, assim, melhorar a digestibilidade e a utilização de nutrientes pelos animais (BHATTY, 1998; NIELSEN & INGVARTSEN , 2000).
No entanto, o processamento dos alimentos e/ou rações onera ainda mais o custodos alimentos para animais (NOLAN et al., 2010). Há muitas estratégias possíveis para melhorar as técnicas de processamento dos alimentos, no entanto, o custo de cada estratégia deve ser cuidadosamente ponderado em relação às melhorias no desempenho alcançado e os efeitos negativos no animal, como a ulceração (BEHNKE , 1996).
A peletização é o método de processamento térmico mais comum na produção animal. O principal objetivo da peletização é aglomerar as pequenas partículas de alimento através do uso da pressão mecânica, com umidade e calor.
A qualidade da ração peletizada pode influenciar o desempenho zootécnico e o rendimento de carcaça de suínos. Sendo que alguns fatores como: tamanho do pellet e o tamanho de partículas (DGM) das matérias-primas podem afetar os parâmetros físicos das rações.
Nesse sentido, objetivou-se revisar na literatura científica os efeitos que influenciam a qualidade do pellet nas rações de suínos visando melhores resultados zootécnicos.
QUALIDADE FÍSCA DA RAÇÃO PELETIZADA
A qualidade física do pellet é definida como a capacidade de resistir à fragmentação e abrasão durante o manuseamento mecânico e pneumático (ensacamento,armazenamento e transporte), sem romper-se e atingir alimentadores sem gerar uma elevada proporção de finos (AMERAH et al., 2007).
O atrito dos pellets pode ocorrer através de dois fenômenos, ou seja, a fragmentação e a abrasão. A fragmentação envolve a fratura dos pellets em partículas menores e na área da fratura, enquanto a abrasão envolve a fratura nas arestas ou na superfície das partículas (THOMAS & VAN DER POEL, 1996). A qualidade física dos pellets pode ser avaliada usando a durabilidade e os parâmetros de dureza dos pellets.
Os pellets são expostos à abrasão a partir do momento em que são fabricados com o momento em que são ingeridos pelos suínos. O ensaio de durabilidade do pellet determina à proporção de pellets intactos remanescentes fabricados que são propensas as tensões e ao atrito devido à agitação mecânica ou pneumática (THOMAS & VAN DER POEL, 1996). A durabilidade significa que pellets são mais prováveis de permanecerem intactos até o momento da alimentação.
Assim, para a determinação da qualidade do pellet, a indústria de ração geralmente adotou o "tumbling box" método proposto por Young (1970) e publicado como um procedimento oficial ASAE (ASAE, 1987). Reimer (1992) sugeriu que muitos fatores afetam a qualidade do pellet, com os maiores contribuintes sendo a formulação da dieta, o tamanho de partícula e o condicionamento (Figura 1).
FIGURA 1 – Fatores que afetam a qualidade do pellet
EFEITO DO TAMANHO DE PARTÍCULA PARA FABRICAÇÃO DO PELLET
O processo de moagem é uma etapa essencial na fabricação de ração e uma forma eficiente de melhorar a digestibilidade do alimento para suínos. A redução do tamanho de partícula tem como finalidade melhorar o valor de utilização dos nutrientes da ração.
O tamanho da partícula tem influência direta na qualidade do pellet e no rendimento de produção da ração. Sendo que o tamanho muito grosso da partícula ou muito fino tem desvantagens e não pode alcançar o melhor status de produção.
Assim, tem sido sugerido que a redução do tamanho da partícula aumenta oefeito das forças de Van der Waals, sendo que as partículas se aderem mais facilmente nas partículas aglutinantes da dieta. No entanto, as forças eletrostáticas que ocorrem entre as partículas são desprezíveis, devido às forças de repulsão entre os materiais (RUMPF, 1958). Nesse sentido, pode-se inferir que a redução da partícula é de extrema importância para formação de pellets de qualidade.
Os dados publicados sobre o efeito do tamanho de partícula sobre a qualidade do pellet de alimentação são contraditórios (REECE et al., 1986; ANGULO et al., 1996; THOMAS et al., 1998; SVIHUS et al., 2004 e AMERAH et al., 2007). Reece et al. (1986) observaram que as partículas de milho com tamanho de forma grosseira produzia pellets mais duráveis do que os feitos a partir de partículas finas.
Em contraste, Angulo et al. (1996) demonstraram que o aumento do tamanho da partícula de 300 para 600 µm diminui acentuadamente a durabilidade dos pellets. Sugeriram também que o tamanho de partícula é mais importante do que a adição de aglutinante na determinação pellet durabilidade. Wondra et al. (1995b) demonstraram que a redução do tamanho de partícula da dieta melhora a durabilidade do pellet.
Stevens (1987) relatou que não houve diferença na durabilidade de pellets feitos a partir de diferentes tamanhos de partículas de milho, mas que as partículas grosseiras resultaram em menor durabilidade quando o trigo foi usado na fórmula. Thomas et al. (1998) postularam que as partículas grosseiras resultam em pontos fracos, o que facilita a quebra do pellet e, portanto, diminuindo a qualidade do pellet. Svihus et al. (2004) observaram que redução na durabilidade do pellet, com dieta à base de trigo feito de partículas grosseiras em comparação com aqueles de partículas finas. Esses autores sugeriram que o teor de amido gelatinizado é menor em pellets feitos com partículas grosseiras de trigo.
Amerah et al. (2007) observaram que não há diferença entre a dureza dos pellets feitos com dietas com diâmetro médio (3 mm de tamanho da tela) e o moído grosso (7 mm de tamanho de tela) de trigo. Zimonja et al. (2008) relataram que a adição de casca de aveia finamente melhorou a durabilidade do pellet, esse efeito não foi observado para a casca de aveia grossa. Há evidências de que as partículas grosseiras podem comprometer a qualidade do pellet, embora não haja uma certeza dessa pressuposição (AMERAH et al., 2007b).
Baudon & Hancock (2003) avaliaram os efeitos do tamanho de partícula nas dietas peletizadas no desempenho da porca e da sua leitegada. A pesquisa ocorreu no período de 21 dias de lactação, as fêmeas receberam uma dieta à base de milho e farelo de soja com o milho moído com diferentes tamanhos de partícula de (500 a 600 µm) nasformas farelada ou peletizada (diâmetro do pellet de 3/16 polegadas). Os tratamentos não influenciaram o consumo voluntário de ração ou a perda de peso corporal. Além disso, os leitões desmamados por leitegada, a sobrevivência dos leitões, o ganho de peso da leitegada e os dias para o estro não foram afetados pelos tratamentos, não houve diferença significativa entre os tratamentos. No entanto, as porcas alimentadas com ração peletizada perderam menos gordura subcutânea.
Wondra et al. (1995a) trabalharam com diferentes tamanhos de partícula de milho (1.000, 800, 600 ou 400 µm) para suínos em crescimento. As dietas foram fornecidas na forma farelada ou peletizada. A peletização melhorou em 5% o ganho de peso e em 7% a eficiência alimentar dos animais. Além disso, a redução do tamanho das partículas do milho de 1000 para 400 µm aumentou em 8% na eficiência alimentar e melhorou a digestibilidade. Esses autores demonstraram que quando o tamanho de partícula foi reduzido, a energia necessária para moagem do milho para 400 µm era necessário três vezes mais energia elétrica do que para moer com o tamanho de 1000 µm.
Healy et al . (1994) também relataram aumento dos requisitos com energia para reduzir o tamanho das partículas dos grãos de cereais. No entanto, a durabilidade do pellet aumentou cerca de 8,7 % (78,8 vs. 86,4) quando o tamanho de partícula do milho foi reduzida de 1000 a 400 µm.
McEIlhiney (1985) indica que o custo da moagem de grãos de cereais está inversamente relacionado com a finura da moagem. Esses autores encontraram que o custo da energia na moagem de ingredientes para suínos num moinho de martelos com uma tela de 3 mm gasta cerca de 16,52 kw-h/Tn, enquanto o custo de moagem com uma tela de 5 mm foi de apenas 14,86 kw-h/Tn, o que representou uma economia de 11,17%.Segundo Angulo et al. (1996), a produção de pellets por unidade de tempo, tendem a aumentar com o tamanho de partícula maior.
Segundo Miller (2012) quando o tamanho da partícula da dieta foi fina, a eficiência alimentar também foi melhor do que quando o tamanho da partícula era grosso. Além disso, o efeito da peletização e da moagem fina pode economicamente gerar grandes custos com alimentação, que seria necessário compensar as diferenças pela eficiência de utilização na alimentação animal.
Como esperado, se gasta mais energia e é, portanto, mais oneroso produzir um pellet finamente moído, em comparação com uma dieta farelada grosseira, além do gasto com equipamento adicional necessário. Segundo Biagi (1998) peletizar custa dinheiro, produzir melhores pellets custam um pouco mais. Mas a vantagem pode estar na conveniência do transporte (manuseio) da ração sem haver desmistura e pelo provável aumento na eficiência do uso da ração pelos animais, em parte devido ao aquecimento que torna os amidos mais digestíveis e reduz a presença de agentes patogênicos. Em resumo existem vantagens e desvantagens na peletização que devem ser consideradas para tomada de decisão.
EFEITO DO TAMANHO DO PELLET
O efeito do uso de diferentes diâmetros de pellet de ração tem sido pouco estudado e as recomendações são variadas conforme a fase de crescimento do animal e as matérias-primas utilizadas na composição da dieta.
Luce et al. (1973) avaliando o diâmetro (4,8; 6,4 e 9,5 mm) dos pellets em função do desempenho de suínos em crescimento, relataram que o tamanho do pellet não teve efeito sobre o desempenho dos suínos alimentados com dietas à base de sorgo, no entanto, os animais que consumiram pellets com 4,8 mm apresentaram maior ganho de peso do que aqueles alimentados com pellets com 9,5 mm, em valores absolutos.
Os poucos dados que abordaram a questão do tamanho do pellet para suínos em crescimento e terminação estão resumidos na Tabela 1.
Harris et al. (1979) sugeriram que suínos em terminação alimentados com pellets com 4,8 mm foram mais eficientes do que os suínos alimentados com 6,4 mm. No entanto, Tribble et al. (1979) indicaram não haver diferenças no ganho de peso ou na eficiência entre os suínos em terminação alimentados com pellets que variaram em diâmetro de 4,8 a 12,7 mm.
Por isso, não há consenso sobre os efeitos reais sobre o desempenho dos suínos na fase de crescimento e terminação. Além disso, ainda existe a crença de que os suínos preferem consumir os pequenos pellets aos grandes.
Para abordar a questão do tamanho ideal de pellet para suínos, Traylor et al. (1996), realizaram experiências para determinar os efeitos do tamanho dos pellets (2, 4, 8 e 12 mm) sobre o desempenho e mensuração de carcaças de suínos em terminação (Tabela2).
Os autores observaram que o ganho de peso dos animais aumentou de forma linear à medida que se aumentou o tamanho do pellet na dieta. O consumo voluntário teve a mesma resposta linear que o ganho de peso dos animais. Nos parâmetros de mensuração de carcaça não foi detectada diferença significativa.
Traylor et al. (1996) também conduziram um experimento com leitões desmamados, para avaliar o efeito do diâmetro do pellet (2, 4, 8 e 12 mm) sobre o desempenho (Tabela 3).
Os autores não observaram efeito do tamanho de pellet sobre o desempenho dos animais no período (0 a 5 dias pós-desmame). No entanto, eles verificaram melhora linear da eficiência alimentar à medida que se diminuiu o tamanho do pellet na dietados animais.
Aumaitre & Salmon Legagneur (1961) trabalhando com diferentes diâmetros de pellets para leitões desmamados, verificaram que os leitões consumiram mais ração quando ingeriram pellets com o diâmetro de 2,5 mm do que 5 ou 7,5 mm.
Por outro lado, Edge et al. (2005) avaliaram o diâmetro dos pellets em funçãodo comportamento de leitões desmamados, observaram que os suínos alimentados com pellets de 5,0 milímetros de diâmetro (maiores) ficaram mais tempo no cocho do que os que consumiram pellets inferiores, podendo inferir que o consumo poderia ser estimulado. Sugeriram que o diâmetro do pellet não é um grande contribuinte para a baixa ingestão de alimentos observadas nos leitões pós-desmamados como são apresentados numa situação comercial (com escolha de alimentação). Sendo que, o tamanho do diâmetro do pellet não influenciou nos parâmetros de desempenho de leitões pré/pós desmamados (Tabelas 4 e 5).
Lavorel et al. (1982) conduziram um experimento em creche para avaliar o diâmetro dos pellets (2,5; 3 e 5 mm) sobre o desempenho de leitões. Os autores relataram que os animais desmamados alimentados com os pellets com 2,5 mm apresentaram maior taxa de crescimento do que os suínos alimentados com pellets de 5 mm durante as duas primeiras semanas (0 a 14 dias) pós-desmame. No entanto, após duas semanas (14 a 28 dias), não houve diferenças no desempenho entre os suínos alimentados com diferentes tamanhos de pellets.
Segundo Traylor et al. (1996) o diâmetro do pellet em torno de 4 a 5 milímetros parece ser adequado tanto para os suínos na fase de creche quanto para terminação. Esses resultados sugerem que há uma economia significativa de tempo e dinheiro com o usode um diâmetro único que pode preparar dietas para suínos do desmame a terminação.
Corroborando com esse relato, Edge et al. (2005) sugeriram que o diâmetro do pellet que é frequentemente citado pela literatura utilizada pelos fabricantes de alimentos (rações) para vender seu produto, com a preposição de que o menor diâmetro dos pellets melhora a ingestão de ração em leitões, fato não observado no estudo realizado por esses autores.
TABELA 4 – O efeito combinado do diâmetro do pellet no desempenho dos leitõespré/ pós desmame
Embora o tamanho do pellet não influencie na preferência ou desempenho, os tamanhos típicos dos pellets são de 3 a 5 mm de diâmetro para suínos na fase inicial de crescimento e de 5 a 10 mm de diâmetro para suínos em crescimento e terminação (AMORNTHE WAPHAT et al., 1999). Segundo Miller (2012) os tamanhos típicos dos pellets são de: 1/8 a 3/16 polegadas de diâmetro para suínos na fase inicial de crescimento e de 3/16 a 3/8 polegadas de diâmetro para crescimento e terminação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a redução do tamanho de partícula da dieta melhora a durabilidade do pellet, melhorando a eficiência alimentar dos suínos. No entanto, o tamanho do pellet não existe um consenso sobre os efeitos reais sobre o desempenho dos suínos na fase de crescimento e terminação.
Esse artigo foi originalmente publicado em Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.19, n.3, p.9074-9081, maio/jun, 2022. ISSN: 1983-9006 | http://nutritime.com.br/wp-content/uploads/2022/05/Artigo-556.pdf. Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.