1. Introdução
No ano de 2024, no Brasil, observou-se que em todos os meses houveram altas temperaturas marcadas por fortes ondas de calor em praticamente todos os estados. O calor por vários dias consecutivos e uma baixa umidade relativa do ar potencializou a chance de queimadas comprometendo a qualidade do ar.
As condições de altas temperaturas preocupam agricultores e pecuaristas. Na suinocultura não poderia ser diferente, visto as peculiaridades da espécie. Para os suínos, por não possuírem glândulas sudoríparas desenvolvidas, a capacidade de suar é comprometida e com isso sofrem bastante com o calor em ambientes que não possuem algum tipo de climatização.
Para a implementação de ambientes climatizados, os produtores precisam realizar um investimento financeiro que de início parece alto, porém há comprovações da melhoria de desempenho tendo em vista o atendimento de condições de bem-estar animal.
A zona de termoneutralidade também conhecida como zona de conforto térmico é delimitada por um intervalo de temperatura ambiente. Abaixo da temperatura inferior o suíno tem que aumentar a sua produção de calor e reduzir a dissipação de calor para o ambiente, então está sob estresse de frio (Figura 1) e o inverso ocorre quando está acima da temperatura superior, ou seja, tem que reduzir a produção de calor e aumentar a perda de calor para o ambiente, portanto, está submetido ao estresse por calor.
Figura 1. Zona termoneutra ou de conforto térmico da matriz suína.
A espécie suína é caracterizada por serem animais homeotérmicos, ou seja, são aqueles que necessitam estar em uma zona de conforto térmico para expressar bom desempenho. A depender da idade, peso e status reprodutivo do animal as exigências se modificam (Tabela 1).
Tabela 1. Zonas de conforto térmico para os suínos em diversas fases de produção.
No caso das fêmeas suínas em lactação a zona de conforto varia entre 16 a 18 ºC, sendo fortemente afetada pelo aumento da temperatura corporal devido à necessidade de produção de leite. Somado a isso, temos o desenvolvimento de genéticas voltadas para baixo consumo de ração e alta deposição de carne magra, o que em condições não climatizadas do galpão maternidade, potencializam o catabolismo lactacional das fêmeas.
2. Particularidades da espécie suína
A espécie suína possui quatro mecanismos de troca de calor com o ambiente, sendo elas: evaporação, condução, convecção e radiação (figura 2). A evaporação se dá quando a água corporal na forma líquida se transforma em vapor, podendo ser pela pele ou respiração. A condução é quando o suíno troca calor em contato com uma superfície – por exemplo, solo e água. A convecção acontece pela movimentação de corrente de ar na superfície da pele. Por fim, a radiação é a troca de calor (perda ou ganho) através de ondas eletromagnéticas, quando o suíno emite calor para uma superfície fria, ou recebe de uma superfície quente (Figura 2).
Figura 2. Mecanismos de troca de calor em suínos.
A fêmea durante a fase de lactação demanda bastante energia para produzir leite, o que pode gerar um aumento da temperatura corporal. Por isso, em regiões de altas temperaturas e ambientes de maternidade sem climatização, estas matrizes podem reduzir o consumo de ração, comprometendo o desempenho dos leitões até o desmame e seu ciclo reprodutivo subsequente.
O estresse térmico durante o pré-parto e parto tem influência direta no desempenho produtivo das porcas. Zhao e colaboradores em 2022 avaliaram grupos submetidos ao estresse por calor com grupo em conforto térmico, e notaram que não há diferença em relação ao tempo gestacional, mas há maior probabilidade de ruptura no cordão umbilical, aumentando o número de natimortos e também maior chance destas fêmeas apresentarem retenção de placenta no pós-parto.
Além disso, esses pesquisadores investigaram os efeitos do estresse por calor no final da gestação e o impacto sobre a fisiologia do parto e sobrevivência dos leitões. Para isso, o estudo foi realizado com leitoas gestantes que foram divididas em dois grupos. O primeiro grupo sob conforto térmico (20 ⁰C), enquanto o outro submetido a condição de estresse térmico (28-30 ⁰C) com 5 dias que antecederam o parto.
Os autores também verificaram que as fêmeas submetidas ao calor tiveram 15 vezes mais chance de parirem leitões natimortos em relação ao grupo sob conforto térmico, e a temperatura elevada explicou em 93% a taxa de natimortalidade. Estes resultados foram explicados pela redução do suprimento de oxigênio no cordão umbilical. Além disso, aumentou o tempo de expulsão da placenta ao final do parto que pode gerar prejuízos para o ciclo seguinte.
Portanto, é essencial recorrer às medidas para mitigar o impacto do estresse térmico em fêmeas suínas. A estratégia pode ser feita pela reestruturação da instalação com climatização dos galpões, estratégias nutricionais, entre outros. De maneira que propicie à essa espécie condições ambientais condizentes com as suas exigências para uma produção sustentável e atendendo as premissas do bem-estar animal.
ARTIGO INÉDITO PARA ENGORMIX.