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O uso de beta-glucanos na suinocultura: uma alternativa natural para o fortalecimento do sistema de defesa dos animais

Publicado: 2 de maio de 2022
Por: Verônica Lisboa
Os aditivos imunomoduladores têm sido utilizados na suinocultura com o objetivo de melhorar a saúde animal e reduzir os efeitos negativos associados a enfermidades causadas por patógenos virais e/ou bacterianos.
Quando comparado ao suíno adulto, o neonato é considerado imunodeficiente (sistema de defesa frágil), o que pode ser observado, de acordo com os dados expostos na Tabela 1.
O uso de beta-glucanos na suinocultura: uma alternativa natural para o fortalecimento do sistema de defesa dos animais - Image 1
A fase de desmame e dias subsequentes, correspondem ao momento no qual o sistema imune do leitão ainda está imaturo e seus anticorpos circulantes atingem os menores níveis. Nesse período, ocorre o chamado “gap ou falha de imunidade”, o leitão fica mais suscetível a problemas intestinais, como diarreias, porque seu sistema imune específico não se desenvolveu por completo. Desta forma, o manejo nutricional, sanitário e dos animais influenciará diretamente na saúde, bem-estar e desempenho do lote.
As bactérias, e em particular a Escherichia coli (E. coli), são os mais importantes causadores de diarreias após o desmame.
A E.coli é habitante normal do intestino, mas havendo uma quebra de resistência do organismo do leitão, ela pode causar a colibacilose, que pode ter serias consequências. Observa-se alta mortalidade, quando a infeção se instala durante os primeiros dias de vida do animal. Existe um número muito grande de variedades de E.coli, muitas delas produtoras de toxinas, promovendo significativo desequilíbrio no sistema de defesa dos animais.
Uma vez ativado, o sistema imunológico requer uma quantidade substancial de energia para que o corpo se defenda com sucesso contra invasores, o que inclui a ativação das células de defesa, produção de anticorpos, interleucinas e proteínas de fase aguda (PFA). As estimativas sugerem que essa demanda de energia pode ser aumentada em até 10 a 30%, com algumas estimativas ainda mais altas em 55% em relação à energia metabolizável exigida pelo corpo para ativar o sistema imunológico. Essa necessidade energética é apoiada por estudos que relataram que o sistema imunológico de bovinos e suínos usa aproximadamente 1,0kg de glicose em um período de 12 horas quando ativado.
Deste modo, manter o sistema de defesa dos animais em equilíbrio é fundamental na manutenção do bom desempenho do rebanho.
Além de afetar a saúde e bem-estar dos animais, o impacto econômico desta enfermidade é considerável, devido a mortes de leitões e gastos com medicamentos.
 Em geral, esses cenários tendem a aumentar o uso de antibióticos na produção animal, o que aumenta o risco de resíduos nos produtos e o desenvolvimento de patógenos resistentes, além disso, o   uso   indiscriminado, aliado   a   subdosagens, classes   erradas e destino inadequado de resíduos representam problema não só para produtores e trabalhadores da área, mas para a saúde pública e ambiental.
Em 2020, o Brasil teve uma receita superior à de 2019 com o aumento das exportações de carne suína. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que houve um aumento de 37% em relação ao ano anterior, passando de 1 milhão de toneladas.
Assim, com o aumento da demanda e novas exigências dos consumidores e dos mercados estrangeiros, a necessidade do uso de ferramentas alternativas aos antibióticos promotores de crescimento, que preservem o bom desempenho dos animais de produção, ganham cada vez mais espaço nas áreas de nutrição e sanidade animal.
Pesquisas realizadas com 1,3/1,6 β-glucanos (BG’s) indicam seu potencial na substituição ou diminuição do uso de antibióticos, bem como seu impacto positivo no sistema de defesa dos animais.
Os BG’s pertencem a um grupo de compostos fisiologicamente ativos chamados modificadores da resposta biológica, devido à sua capacidade de modular o sistema de defesa dos animais. A variabilidade em sua estrutura se deve a diferenças na fonte e métodos de extração e/ou purificação. Estudos demonstram que apenas 1,3/1,6 β-glucanos altamente purificados com alto grau de ramificação ao longo da cadeia principal são capazes de exercer atividade imunomoduladora, como os BG’s oriundos da parede celular da levedura Saccharomyces cerevisiae.
Em recente pesquisa (2022) realizada no Instituto SAMITEC – Soluções Analíticas Microbiológicas e Tecnológicas, Rio Grande do Sul/Brasil, foram avaliados os efeitos da inclusão de um imunomodulador natural, composto a base de 1,3/1,6 β-glucanos purificados e concentrados a 60% sobre parâmetros de desempenho e imunidade de leitões desafiados com E. coli.
Durante 42 dias experimentais, foram avaliados 16 leitões, com idade inicial de 24 dias e peso médio inicial de 6,41 kg, os quais foram divididos em dois grupos: 1) Ração basal, sem imunomodulador e, T2) Ração basal, com imunomodulador (450g/ton).
No 8º dia experimental, todos os animais foram desafiados, via gavagem oral, com 1,5 mL de E. coli, na concentração de 1x108 UFC. Amostras de sangue foram coletadas, de cada leitão, no 7º dia pós-infecção, para análise do marcador de inflamação Proteína C-reativa (proteína de fase aguda, bastante pronunciada em situações de infecção).
Os parâmetros de desempenho produtivo avaliados foram: peso vivo e conversão alimentar.
Resultados:
O uso de beta-glucanos na suinocultura: uma alternativa natural para o fortalecimento do sistema de defesa dos animais - Image 2
O uso de beta-glucanos na suinocultura: uma alternativa natural para o fortalecimento do sistema de defesa dos animais - Image 3
Figura 2. Média da conversão alimentar de leitões desafiados com E. coli, com e sem a inclusão do imunomodulador na dieta. Letras distintas diferem significativamente pelo teste de Tukey (p=0,0043).
Os resultados de peso vivo e conversão alimentar podem ser observados nos gráficos 1 e 2, respectivamente: 
Os resultados de produção de Proteína C-reativa (PCR) podem ser observados na figura 3.
O uso de beta-glucanos na suinocultura: uma alternativa natural para o fortalecimento do sistema de defesa dos animais - Image 4
Figura 3. Média da produção de Proteína C- reativa em leitões desafiados com E. coli, com e sem a inclusão do imunomodulador em suas dietas. Letras distintas diferem significativamente pelo teste de Kruskal-Wallis (p = 0,0012).
O grupo de animais que recebeu o imunomodulador na dieta apresentou melhor desempenho produtivo, representado pelo maior peso vivo e melhor conversão alimentar, mesmo sob desafio com E. coli. Tal resultado, extremamente impactante, pode ser atribuído a diminuição da inflamação causada pela bactéria patogênica, de acordo com o demonstrado pela menor produção da PCR.
Devido à eficiente ação do imunomodulador, o sistema de defesa destes animais estava mais bem preparado para responder ao desafio e exigiu menor energia para a sua ativação e manutenção, fazendo com que o seu desempenho não fosse prejudicado, mesmo sob condições desafiadoras, tais quais as encontradas em produções comerciais.  Desta forma, 1,3/1,6 β-glucano concentrado e purificado pode representar uma potencial alternativa para a redução do uso de antibióticos.
Autores:
Verônica Lisboa Santos
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