Introdução
No contexto da estabilidade e rentabilidade da produção de suínos, o item alimentação, por ser o fator que mais onera o custo de produção dos animais, tem merecido atenção especial. Assim, qualquer fator que possa comprometer a eficiência de utilização do alimento pelo animal pode refletir negativamente no sucesso do empreendimento. Entre os problemas inerentes à alimentação, destaca-se a presença de micotoxinas. A contaminação das dietas por micotoxinas tem sido considerada responsável pela redução do desempenho dos animais em sistema de produção onde os demais fatores, como manejo e instalações, estejam adequados (Jones, 2005).
O termo micotoxina tem sido utilizado para definir um grupo de metabólitos secundários produzidos por fungos e que induzem uma série de reações tóxicas no organismo. Esses fungos podem se desenvolver nos alimentos no campo ou durante o armazenamento. Vários autores têm associado o baixo desempenho de suínos quando alimentados com dietas contaminadas por micotoxinas (Muller et al., 1999; Agag, 2004a; Rustemeyer et al., 2010).
A ingestão de dietas contaminadas, além de ocasionar redução no crescimento e no desenvolvimento, torna os animais mais susceptíveis às enfermidades (Dersjant-Li et al., 2003). Além disso, as micotoxinas podem prejudicar o valor nutricional dos alimentos, principalmente quanto ao nível de energia (Büzen & Haese, 2006). Em baixas concentrações, as micotoxinas não têm efeito aparente sobre o rebanho (Accensi et al., 2006), mas podem gerar resíduos nos produtos de origem animal (Murphy et al., 2006), evidenciando a importância da inclusão de adsorventes nas dietas.
Por sua vez, os adsorventes têm sido utilizados em dietas para suínos devido às suas propriedades de atuar como sequestrantes de micotoxinas, o que pode influenciar de forma positiva a saúde e o desempenho dos animais. Entre os adsorventes, estão as zeólitas, que são aluminossilicatos hidratados caracterizados pela alta superfície interna e alta capacidade de troca catiônica e que possuem a habilidade de se aderir à toxina e impedir sua absorção pelo trato gastrointestinal tornando-a inerte e não tóxica para os animais (Lindemann et al., 1993). A pesquisa foi realizada com o objetivo de avaliar níveis de zeólita em dietas para suínos e seus efeitos sobre o desempenho, as características de carcaça e os parâmetros sanguíneos e histológicos do parênquima hepático desses animais nas fases de crescimento e terminação.
Material e Métodos
O experimento foi realizado no Galpão Experimental do Setor de Suinocultura da Fazenda Experimental Vale do Piranga da EPAMIG, em Oratórios, Minas Gerais, no período de fevereiro a abril de 2009.
Foram utilizados 84 suínos machos castrados, híbridos comerciais de alto potencial genético para deposição de carne, com 70 dias de idade e peso inicial de 30,34±1,14 kg, distribuídos em delineamento experimental de blocos ao acaso, com sete níveis de adsorvente (0,0-0,0; 1,0-0,5; 1,0-1,0; 2,0-1,0; 2,0-2,0; 3,0-1,5; 3,0-3,0, respectivamente, nas fases de crescimento e terminação), com seis repetições e dois animais por baia, que foi considerada unidade experimental. Na formação dos blocos, levou-se em consideração o peso inicial dos animais.
As dietas experimentais para as fases de crescimento (70 aos 105 dias) e terminação (106 aos 135 dias) foram formuladas à base de milho, sorgo baixo tanino e farelo de soja e suplementadas com minerais, vitaminas e aminoácidos (Tabela 1) para atender às exigências nutricionais dos animais, descritas por Rostagno et al. (2005). As relações aminoacídicas entre a lisina e os demais aminoácidos essenciais foram atendidas de acordo com o padrão de proteína ideal estabelecido por Rostagno et al. (2005). Utilizou-se o sorgo como fonte de contaminação natural por micotoxinas. Os níveis de adsorvente das dietas experimentais foram obtidos por meio da inclusão de zeólita em substituição à areia lavada das dietas sem adsorvente.
As rações e a água foram fornecidas à vontade aos animais durante o período experimental. Os resíduos de ração do chão foram coletados diariamente, pesados semanalmente e somados às sobras do comedouro no final do período experimental.
Os animais foram alojados em galpão de alvenaria com piso de concreto, coberto com telhas de amianto. As baias continham comedouros semiautomáticos, bebedouros tipo chupeta e dispunham de área de 1,87 m2/animal. Durante o período experimental, foram registradas diariamente as temperaturas de máxima e mínima, por meio de um termômetro instalado no centro do galpão.
Foram realizadas pesagens dos animais no início e ao final do período experimental para determinações do consumo diário de ração, do ganho diário de peso e da conversão alimentar. Paralelamente, foram coletadas amostras de sangue no início e ao final do período experimental, mediante venipunção no sinus orbital, utilizando-se agulhas hipodérmicas 40 × 16 e frascos vacutainer. Após a coleta de sangue, os frascos foram encaminhados imediatamente ao laboratório clínico. Para obtenção de soro sanguíneo, foram colhidos 10 mL de sangue de cada animal, em frascos a vácuo sem anticoagulante.
Após a coleta, as amostras foram mantidas em repouso à temperatura ambiente (16,6 a 29,6 °C) até a retração do coágulo e posterior centrifugação a 700 G (10.000 rpm) por 10 minutos, sendo o soro sanguíneo retirado por pipetagem para a dosagem de gamaglutamiltransferase, aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase, fosfatase alcalina, proteína total, albumina, creatinina e ureia. O plasma foi obtido de amostras de 5 mL de sangue colhidas em frascos siliconizados contendo fluoreto de sódio, as quais foram centrifugadas em velocidade e tempo semelhantes às utilizadas para o soro, imediatamente após a coleta, para mensuração da glicose. As mensurações sanguíneas foram realizadas por meio de equipamento eletrônico utilizando-se reagentes comerciais.
Ao final do período experimental, todos os animais foram mantidos em jejum alimentar por aproximadamente 15 horas, foram pesados e embarcados em caminhão e transportados para o frigorífico Vale do Piranga, localizado no município de Ponte Nova, Minas Gerais. No frigorífico, os suínos foram alojados em baias coletivas de espera com acesso à vontade a água. Por ocasião do abate, os animais foram insensibilizados por eletronarcose e, posteriormente, sangrados, escaldados e eviscerados.
Na linha de abate, as carcaças foram avaliadas individualmente com auxílio de pistola tipificadora Stork-SFK, utilizando-se o sistema informatizado "Fat-o-Meater Fom". A pistola foi introduzida na altura da 3a vértebra dorsal, transpassando o toucinho e o músculo longissimus dorsi, conforme metodologia adotada pelo frigorífico. Foram obtidos os dados de peso da carcaça quente, espessura de toucinho, profundidade de lombo, porcentagem e quantidade de carne magra na carcaça. Além disso, foi determinado o rendimento de carcaça pela relação entre o peso da carcaça quente e o peso dos animais em jejum.
As análises histolopatológicas do parênquima hepático foram realizadas no setor de Histopatologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Foram colhidos fragmentos dos diversos lobos hepáticos de 1 cm de diâmetro, que foram fixados em formol 10% neutro tamponado pH 7,2 por 24 horas; em seguida, as amostras foram desidratadas em soluções alcoólicas crescentes 70, 80, 90, 100% I e II e, logo após, foram diafanizadas em xilol e incluídas em parafina. As amostras foram, então, cortadas em micrótomo calibrado para cortes de 5 micras, coradas pela técnica rotineira de hematoxilina-eosina e analisadas em microscópio de luz quanto aos seguintes parâmetros histopatológicos: tumefação/congestão, necrose, esteatose microvesicular, proliferação de ductos biliares, infiltrado inflamatório e fibrose.
A pata anterior direita de cada animal abatido foi coletada e colocada em recipiente de alumínio contendo água e fervida por 25 minutos para amolecimento da pele e da carne e retirada do terceiro osso metacarpiano. Os metacarpos foram mantidos em freezer (-12 ºC) e, depois, colocados em estufa ventilada a 65 ºC por um período de 72 horas, submetidos à prensagem mecânica e desengordurados em extrator Soxhlet por 4 horas. Posteriormente, os ossos foram levados à estufa 65 ºC por 24 horas. Em seguida, triturados em moinho de bola e acondicionados em vidros identificados, para posteriores análises.
As análises dos teores ósseos de cálcio e fósforo foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de acordo com o método descrito por Silva & Queiroz (2002). Os dados das características de desempenho (ganho de peso, consumo de ração e conversão alimentar) e de carcaça (profundidade de lombo, espessura de toucinho, porcentagem e quantidade de carne magra, peso e rendimento de carcaça) e dos parâmetros sanguíneos e ósseos foram submetidos à análise de variância.
Os dados dos parâmetros histopatológicos foram submetidos à análise de dados não-paramétricos de Kruss-Kall Walys. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o SAEG (Sistemas de Análises Estatísticas e Genéticas, versão 8.0).
Resultados e Discussão
Durante o período experimental, as temperaturas mínima e máxima médias do ar registradas no galpão foram, respectivamente, 21,5±2,2 ºC e 29,8±2,1 ºC. Considerando que a temperatura crítica máxima para esta categoria é de 27 ºC, conforme descrito por Sampaio et al. (2004), pode-se inferir com base nos desvios térmicos que os animais foram submetidos a períodos de altas temperaturas ambientais durante a execução da pesquisa.
Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de zeólita das dietas sobre o ganho de peso diário dos animais (Tabela 2). Resultados similares foram obtidos por Shurson et al. (1984), que, testando a inclusão de zeólita em dietas para suínos, não verificaram efeitos de níveis de 0,3 e 0,5% na fase de crescimento e 1,0 e 5,0% na fase de terminação sobre o desempenho dos suínos em relação ao grupo alimentado com a dieta sem zeólita. Da mesma forma, Ward et al. (1991) não constataram efeito da inclusão de 0,5% de zeólita em dietas para suínos nas fases iniciais e de crescimento.
Por outro lado, Vrzgula & Bartko (1984) e Leung (2004) constataram efeito positivo da inclusão de, respectivamente, 3,0 e 4,0% de zeólita na dieta sobre o ganho de peso de suínos em fase de crescimento e terminação em comparação ao grupo controle. De forma similar, Defang & Nikishov (2009), avaliando níveis de inclusão de zeólita na dieta de suínos em fase de crescimento e terminação, obtiveram os melhores resultados de crescimento dos animais com a inclusão de 4,0% de zeólita a dieta.
Os níveis de zeólita não influenciaram (P>0,05) o consumo diário de ração dos suínos (Tabela 2), resultado que está coerente com os obtidos por Shurson et al. (1984), Leung (2004) e Defang & Nikishov (2009), que também não observaram variações na ingestão voluntária de alimentos pelos animais atribuível à inclusão de zeólita na dieta.
Não foi observado efeito (P>0,05) dos níveis de zeólita sobre a conversão alimentar dos animais (Tabela 2). Esses resultados estão consistentes com os obtidos por Shurson et al. (1984) e Defang & Nikishov (2009), que também não verificaram efeito da inclusão de zeólita sobre a conversão alimentar dos animais. Por outro lado, Vrzgula & Bartko (1984) e Leung (2004) constataram variação significativa na eficiência de utilização de alimento para ganho de peso dos suínos em crescimento e terminação em razão da inclusão de zeólita na dieta.
Considerando que os animais do tratamento sem adsorvente apresentaram bom índice de desempenho de acordo com preconizado por Rostagno et al. (2005) para essas categorias animal e que, segundo Dersjant-Li et al. (2003), as micotoxinas podem modificar o metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídios, o que resulta em redução do despenho dos animais (Agag, 2004), pode-se deduzir que as dietas continham baixo grau de contaminação por micotoxinas. Essa hipótese é confirmada pelos estudos de Dersjant-Li et al. (2003) e Chen et al. (2008), que relataram a necessidade de uma concentração mínima de micotoxina na dieta para que ocorra redução do crescimento dos suínos.
Os níveis de zeólita nas dietas não influenciaram (P>0,05) as características quantitativas de carcaça avaliadas (Tabela 3). Os resultados estão coerentes com os obtidos por Ward et al. (1991), que, testando inclusão de 0,5% de zeólita na dieta de suínos em fases de crescimento e terminação, não verificaram efeito do adsorvente sobre o peso de carcaça, a área de olho-de-lombo, o rendimento de carcaça, a espessura de toucinho e a porcentagem de carne magra. Da mesma forma, Pearson et al. (1985), avaliando níveis de 4,0 e 8,0%, e Leung (2004), testando níveis de 2,0 a 6,0%, não observaram efeito da inclusão de zeólita na dieta de suínos em fase de crescimento e terminação sobre as características de carcaça quando comparados ao tratamento controle.
Em contrapartida, Defang & Nikishov (2009) constataram maior rendimento de carcaça para os suínos alimentados com dietas contendo 4,0% de zeólita, porém sem alterações as demais características de carcaça. Por sua vez, Pond et al. (1988) constataram aumento da área de olho-de-lombo com a inclusão de zeólita na dieta.
Conforme relato de Szkudelska et al. (2002), a zearalenona acima de uma concentração mínima de 1 mg/kg interfere com metabolismo dos lipídios, reduzindo a lipólise. Como neste estudo não foi observada variação significativa na espessura de toucinho dos animais entre os tratamentos, confirma-se a proposição inicial do baixo nível de contaminação por micotoxinas das dietas, entre elas, a zearalenona.
Os resultados observados para as características de carcaça deste estudo estão coerentes com as respostas de desempenho, em que não houve efeitos sobre a taxa de crescimento e conversão alimentar dos animais em função dos níveis de zeólita avaliados.
Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de zeólita na dieta sobre os parâmetros sanguíneos dos suínos (Tabela 4), que se mantiveram dentro da faixa de normalidade, independentemente dos tratamentos. Estes resultados estão semelhantes aos obtidos por Watts et al. (2003), que não constataram alteração significativa nos parâmetros sanguíneos de aves com a inclusão de 1,0% de zeólita na dieta em comparação às aves que receberam a dieta sem adsorvente.
De forma contrária, Harvey et al. (1989) observaram que a inclusão de 0,5 e 2,0% de adsorvente à dieta de suínos em fase de crescimento foi efetiva para manter normais os parâmetros sanguíneos estudados. De acordo com esses autores, o resultado comprovou que a adição de adsorvente à dieta foi efetiva para limitar a absorção de micotoxinas pelo trato gastrintestinal. Posteriormente, Lindemann et al. (1993), trabalhando com leitões nas fases iniciais de crescimento, constataram redução dos níveis sanguíneos de bilirrubina e aspartato aminotransferase e aumento da glicose, albumina e ureia circulante quando incluíram 0,5% de zeólita sintética a dietas contaminadas. Os autores concluíram que a alteração nos parâmetros sanguíneos observados seria resultante dos efeitos adversos das micotoxinas sobre o metabolismo proteico.
A divergência de resultados entre os trabalhos pode estar relacionada, entre outros fatores, à diferença no nível de contaminação das dietas. Em trabalho conduzido com leitões, Accensi et al. (2006) verificaram que baixos níveis de micotoxinas na dieta não são suficientes para causar efeitos negativos sobre o desempenho e os parâmetros sanguíneos e histológicos do parênquima hepático dos animais.
Os níveis de zeólita não influenciaram os parâmetros (P>0,05) histológicos do parênquima hepático avaliado (Tabela 5). Contudo, Harvey et al. (1994), trabalhando com suínos nas fases iniciais de crescimento, constataram redução das lesões hepáticas dos animais que receberam dietas contaminadas com micotoxinas contendo 0,5% de zeólita em comparação aos animais que receberam dietas contaminadas e não suplementadas. Do mesmo modo, Denli et al. (2009) notaram redução das lesões hepáticas em frangos de corte com a inclusão de adsorvente na dieta.
O fato de neste estudo não ter sido observada influência de zeólita sobre os parâmetros histológicos do parênquima hepático pode ser justificado pela normalidade dos valores desses parâmetros nos animais que receberam dieta sem zeólita.
Os conteúdos de cálcio e fósforo nos ossos dos animais não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de zeólita da dieta (Tabela 6). Esses resultados são semelhantes aos parâmetros ósseos obtidos por Ward et al. (1991) e corroboram os obtidos por Lindmann et al. (1993), Harvey et al. (1994) e Watts et al. (2003), que não constataram efeito da zeólita sobre as concentrações séricas de cálcio e fósforo. A partir desses resultados, é possível inferir que a zeólita não influencia a digestibilidade e absorção de cálcio e fósforo das dietas.
Conclusões
Os níveis de zeólita não influenciam o desempenho e as características de carcaça nem os parâmetros sanguíneos e histológicos do parênquima hepático de suínos em fase de crescimento e terminação quando alimentados com dietas de baixo nível de contaminação por micotoxinas.
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