Introdução
As micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por diversas cepas de fungos e ocasionam perdas para a produção de suínos. Os fungos crescem e se proliferam bem em matériasprimas como milho, soja, trigo e arroz, que por sua vez são ingredientes de rações, nos quais encontram substrato altamente nutritivo para o seu desenvolvimento, alterando a qualidade e propriedade dos grãos. Uma vez ingeridas, causam diversos efeitos deletérios à saúde, induzindo diferentes sinais clínicos e lesões. As manifestações estão intimamente relacionadas ao tipo de micotoxina, dose, tempo de consumo e susceptibilidade da espécie animal envolvida. Os principais problemas ocasionados pela presença destas substâncias em rações destinadas à suinocultura é a imunossupressão, redução do ganho de peso, aumento no número de leitões mumificados, natimortos e queda nos índices produtivos e reprodutivos. Observa-se também edema pulmonar, problemas hepáticos e renais. Com a abertura do mercado para importação de carne suína, com um controle de qualidade mais rígido pelas indústrias com a matéria-prima utilizada, pesquisas avaliando a contaminação fúngica e a produção de micotoxinas em grãos e alimentos são importantes para que sejam tomadas medidas para prevenção desta contaminação, evitando riscos alimentares (BENTO, 2012). Assim, o objetivo do presente trabalho foi detectar níveis de contaminação por aflatoxinas, zearalenona, ocratoxina A, desoxinivalenol e fumonisinas em matérias-primas e rações destinadas à alimentação de suínos.
Material e Métodos
Foram coletadas 34 amostras de matérias primas e 13 amostras de rações provenientes de diferentes localidades do estado de Minas Gerais, no período de janeiro a junho de 2015. As matérias primas selecionadas foram milho, grão úmido, quirera de milho, fubá de milho, farelo de trigo, gelatiza, farelo de soja, casca de soja e farinha de carne e ossos. As rações analisadas incluem as categorias inicial, recria, terminação, reposição, flushing, gestação e lactação. As amostras foram preparadas e analisadas no laboratório de Micologia e Micotoxinas da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo quantificadas através de kits comerciais de ELISA.
Resultados e Discussão
Os resultados foram tabulados pela positividade das amostras e pela quantificação de cada micotoxina (Tabelas 1 e 2). Os resultados das análises de matérias primas e rações destinadas à suínos mostraram maior percentual de contaminação por fumonisinas e deoxinivalenol. Muitas das amostras analisadas têm grande potencial de contaminação por Fusarium spp. e suas micotoxinas. A contaminação por fungos e micotoxinas no milho pode ocorrer antes mesmo da colheita, resultando em grandes perdas econômicas. Fusarium spp. é o principal contaminante do milho no campo, e muitas espécies deste gênero são responsáveis pela produção de fumonisinas (HERMANNS, 2006). Os efeitos *adversos desta micotoxina envolvem hiperplasia nodular do fígado, lesões esofágicas, úlceras gástricas, edema pulmonar, redução do ganho de peso e predisposição a doenças (D'MELLO, 1999).
Tabela 1 – Positividade e quantificação das matérias-primas analisadas no período de janeiro/2015 a junho/2015, de acordo com o tipo de micotoxina.
(*) Limite de detecção da técnica.
Tabela 2 – Positividade e quantificação das rações analisadas no período de janeiro/2015 a junho/2015, de acordo com o tipo de micotoxina.
(*) Limite de detecção da técnica.
Os níveis de contaminação medianos para fumonisinas (FBs) e deoxinivalenol (DON) em matérias primas foram de 2980 ppb e 340 ppb, respectivamente. Os níveis ficaram abaixo do recomendado pela legislação da União Europeia (EU, 2006) sobre a presença de deoxinivalenol, zearalenona, ocratoxina A e fumonisinas em produtos destinados à alimentação animal. No Brasil não existe legislação específica para estas micotoxinas. A União Europeia estabelece um limite máximo tolerado de 8000 ppb e 12000 ppb de deoxinivalenol para cereais e produtos à base de cereais e subprodutos do milho, respectivamente. O máximo encontrado neste estudo foi de 1840 ppb. Em relação às fumonisinas, é permitida contaminação de até 60.000 ppb em subprodutos do milho. A concentração máxima encontrada neste estudo foi de 27.480 ppb. Nas amostras de rações, a mediana para deoxinivalenol foi de 490 ppb e concentração máxima de 990 ppb. A legislação (EU, 2006) permite um limite máximo de 900 ppb em alimentos complementares e completos para suínos. Entre as micotoxinas produzidas por Fusarium spp., destaca-se também o deoxinivalenol, também conhecida por vomitoxina, por causar em animais a recusa de alimento e vômitos, principalmente em suínos (MALLMAN & DILKIN, 2011). A concentração de fumonisinas teve mediana de 2.910 ppb e máxima de 4.670 ppb. A recomendação máxima permitida pela União Europeia é de 5.000 ppb. Com a abertura de novos mercados para exportação e produção de alimentos, a preocupação com riscos alimentares oferecidos pelas micotoxinas e com o desenvolvimento de enfermidades, a qualidade sanitária da matéria-prima produzida, torna-se necessária.
Conclusão
Os resultados obtidos demonstram a presença de micotoxinas nas rações destinadas a alimentação de suínos, visto que houve positividade e detecção desses metabólitos secundários.
Referências Bibliográficas
1. BENTO, L. F.; CANEPPELE, M. A. B.; ALBULQUERQUE, M. C. F.; et al., 2012. Ocorrência de fungos e aflatoxinas em grãos de milho. Revista Instituto Adolfo Lutz, (71): 44-49.
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3. D´MELLO, J. P. F.; PLACINTA, C. M.; MACDONALD, A. M. C.; 1999. Fusarium mycotoxins: a review of global implications for animal health, welfare and productivity. Animal Feed Science and Technology, (80): 183-205.
4. EUROPEAN UNION (EU). Commission Regulation (EC) n° 100 of 31 October 2003. Official Journal of the European Union. L. 285, p. 33-37, 31 October 2003.
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7. MALLMANN, C. A.; SANTURIO, J. M.; ALMEIDA. C. A. A.; et al., 2001. Fumonisin B1 levels in cereals and feeds from southern Brazil. Arquivos do Instituto Biológico, (68): 41-45.
8. MAZIERO, M. T.; BERSOT, L. S.; 2010. Micotoxinas em alimentos produzidos no Brasil. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, (12): 89-99.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.