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Boas práticas na fabricação de ração animal: importância e aspectos

Publicado: 28 de outubro de 2024
Por: Amanda Cogo Dominguez1, Larissa Alves Medeiros 1, Kátia Maria Cardinal1. Zootecnista1, Graduanda em Zootecnia2, Professora e Doutora em Produção Animal.
Sumário

O presente trabalho traz como proposta analisar a importância das boas práticas de fabricação na indústria de ração animal, especialmente através da implementação do sistema de Boas Práticas de Fabricação (BPF), com base na Instrução Normativa 04/2007 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Através de revisão bibliográfica e de uma análise criteriosa de textos, normativas e artigos, buscou-se uma visão abrangente e atualizada sobre a importância do controle de qualidade e boas práticas na fabricação de ração para animais. Neste contexto, concluiu-se que as ferramentas utilizadas, quando implementadas de forma adequada à realidade do estabelecimento, além de garantir qualidade, proporcionam a redução de erros durante o processo de produção, diminuindo o desperdício e, por consequência, reduzindo o custo do produto. Assim, além de serem obrigatórias, as BPF trazem padronização aos procedimentos dos estabelecimentos, garantindo o fornecimento de um alimento seguro aos animais.

Palavras-chave: Controle de Qualidade, Boas Práticas de Fabricação, Ração Animal.

1 INTRODUÇÃO

A ração é um elemento essencial no sistema de produção animal e, quando utilizada de forma intensiva, pode representar de 60 a 80% dos custos de produção. Devido a esse impacto financeiro, a alimentação se torna uma das maiores preocupações dos produtores (BELLAVER, 2004). Conforme apontado por Belucio et al. (2000), a qualidade da alimentação dos animais afeta diretamente seu desempenho e bem-estar, evidenciando a importância de controlar a qualidade dos ingredientes utilizados na produção de rações.
Segundo Mainardes (2024), em 2023 o Brasil apresentou um aumento de aproximadamente 2% na produção de ração, atingindo 83,3 milhões de toneladas. Esse volume mantém o país na terceira posição no ranking mundial de produção de ração animal, ficando atrás apenas da China (262,7 milhões de toneladas) e dos EUA (238 milhões de toneladas). Diante dessa crescente produção, a competitividade na indústria de rações se intensifica, levando as empresas a revisarem seus processos e a investirem em qualidade como forma de se destacarem no mercado (CAPIOTTO; LOURENZANI, 2010). Para assegurar a credibilidade da qualidade dos produtos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) exige que os estabelecimentos fabricantes de produtos destinados à alimentação animal possuam um manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF), assim como os Procedimentos Operacionais Padrões (POP), atendendo aos critérios da Instrução Normativa 04 de 23 de fevereiro de 2007 (MAPA, 2020).
Frente à competitividade do mercado e às exigências regulatórias, a implementação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) se destaca como uma estratégia essencial para a indústria de rações. A adoção desse sistema, conforme a Instrução Normativa 04/2007 do MAPA, assegura a qualidade e a segurança dos produtos, gerando benefícios não apenas para as empresas, mas também para os animais e os consumidores. Diante disso, este trabalho tem como objetivo elucidar a importância da implementação das Boas Práticas de Fabricação na indústria de ração animal.
A relevância deste estudo está diretamente relacionada à função central da indústria de ração animal, que fornece nutrição para animais de produção, impactando, consequentemente, a cadeia alimentar humana. O controle de qualidade surge como um pilar essencial para garantir a segurança e a eficácia dos produtos desde a seleção de matérias-primas até a distribuição final.
A correta aplicação dos controles de qualidade assegura que as fábricas de ração cumpram rigorosamente as normas e legislações vigentes, tanto em âmbito nacional quanto internacional, evitando sanções, protegendo o meio ambiente e resguardando a saúde pública. A adoção de boas práticas, como as revisadas na literatura, fortalece a confiança dos consumidores nos produtos, impulsionando a competitividade da indústria. Empresas que demonstram comprometimento com a qualidade e segurança se destacam no mercado, conquistando a fidelidade de seus clientes e atraindo novos consumidores.
A realização de uma revisão de literatura sobre controle de qualidade nas fábricas de ração é, portanto, essencial. Ela proporciona uma atualização constante e um aprofundamento do conhecimento técnico sobre as práticas mais recentes e eficazes na produção de ração, fundamentadas em pesquisas científicas e avanços tecnológicos. Essa constante atualização é crucial para garantir que as fábricas ofereçam produtos seguros e de alta qualidade.
Portanto, a revisão de literatura sobre controle de qualidade nas fábricas de ração serve como um instrumento estratégico para aprimorar as práticas do setor, melhorando a qualidade e segurança dos produtos, fortalecendo a competitividade da indústria e promovendo a sustentabilidade da produção. Através da implementação de Boas Práticas de Fabricação, a indústria de ração animal contribui para uma nutrição segura, eficiente e sustentável, apoiando a segurança alimentar global.

2 MÉTODOS

2.1 Definição dos termos de busca:

Foram utilizados termos específicos e abrangentes, como “controle de qualidade em fábricas de ração”, "boas práticas de fabricação e ração animal", "normativas para produção de ração", "boas práticas de fabricação”.

2.2 Fontes de informação:

A busca foi realizada em diversas fontes confiáveis e atualizadas, como bases de dados científicas (Scopus e Google Scholar), organismos internacionais (FAO e OMS), e sites de órgãos governamentais (MAPA e ANVISA).

2.3 Escolha do material a ser utilizado na revisão:

Foram priorizados materiais que abordam questões sobre controle de qualidade de fabricação de ração animal, que sejam relevantes para o tema da revisão, possuam boa qualidade metodológica, estão atualizados e são acessíveis.
A busca e análise criteriosa de textos, normativas e artigos permitiu obter uma visão abrangente e atualizada sobre o controle de qualidade na fabricação de ração, embasando a revisão de literatura.

3 DISCUSSÕES:

Com a crescente demanda por rações para animais, ocorre a expansão das fábricas de rações existentes e a construção de novas unidades em todo o país. Nesse contexto, é preciso aprimorar processos e entregar produtos de qualidade para atender as exigências do mercado. Para estar alinhado com estas exigências, o MAPA exerce a legislação vigente para aplicação das boas práticas de fabricação nos locais de produção de ração animal. 
Existem cuidados e medidas que devem ser levados em consideração na fabricação dos produtos, além de ser necessária a verificação e aprovação pelo órgão que regulamenta a produção de ração animal. Sendo assim, apresentam-se, a seguir, os fatores influenciadores para obter o reconhecimento de qualidade e segurança de seus produtos.

3.1 Boas Práticas de Fabricação:

Para efeito da Instrução Normativa nº 04/2007, é definido:
Boas Práticas de Fabricação ­(BPF): procedimentos higiênicos, sanitários e operacionais aplicados em todo o fluxo de produção, desde a obtenção dos ingredientes e matérias-primas até a distribuição do produto final, com o objetivo de garantir a qualidade, conformidade e segurança dos produtos destinados à alimentação animal. (MAPA, 2007).
Na referida Instrução Normativa é estabelecido regulamento técnico a respeito das condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de fabricação para indústrias de produtos destinados à alimentação animal. No documento consta a forma correta para a construção e montagem dos equipamentos e instalações, além da limpeza e higienização dos mesmos, atividades de fabricação, procedimentos operacionais padrão (POP’s), registros, documentos e manual de procedimentos de boas práticas de fabricação (MAPA, 2007). 
As boas práticas de fabricação se empregam desde o recebimento da matéria prima passando pelo processo e até o armazenamento e expedição do produto acabado. Por isso, os procedimentos devem ser observados nas respectivas áreas onde ocorrem estas operações de processamento (MACHADO , 2015).
Cada estabelecimento deverá possuir um manual de procedimentos próprio e específico para o estabelecimento, que tenha base científica e que atenda às exigências da legislação. Todo e qualquer procedimento deve ser realizado de acordo com o manual de BPF, que deve ser claro e preciso o bastante para que todas as operações sejam executadas conforme o descrito e que o objetivo esperado seja atingido (IN 04/2007.)
De acordo com Silva (2007), as BPF são um conjunto de princípios e regras para que haja uma correta fabricação e manuseio dos produtos que estão sendo feitos, isso tudo para que, de maneira preventiva haja garantia de segurança e integridade do consumidor. Eles abrangem basicamente os aspectos de nível sanitário que são desde normas de construção até a parte da higiene das instalações, estocagem e transporte, cuidado com o cadastro dos fornecedores de matéria prima, recebimento, manuseio, elaboração, transporte e distribuição dos produtos.
Para que haja uma produção de ração padronizada de elevado nível de qualidade, que possuam baixos índices de perdas e com menores custos é essencial que a fábrica passe por uma avaliação em relação aos aspectos de qualidade das matérias-primas, edificações e instalações, equipamentos e utensílios, higienização da fábrica, higiene pessoal, fabricação, identificação, armazenamento e distribuição, controle de pragas e garantia da rastreabilidade. (CORADI, 2016).  Para que isto ocorra, deverão ser realizadas amostragens em todas as etapas durante a produção, armazenamento de matérias-primas e industrialização da ração, para que haja determinação de análises físico-químicos e microbiológicos que irão caracterizar a qualidade desses produtos, bem como os índices de perdas durante esse processo todo.
Em relação às matérias-primas, não se permite que os ingredientes que são destinados a fabricação de produtos para alimentação animal possuam a presença de substâncias que sejam nocivas e provoquem a contaminação desses produtos e seus derivados. Para um melhor controle é de suma importância listar todas as matérias-primas que serão utilizadas durante a fabricação das rações (ROHR, 2019). Já em relação ao controle e tratamento de pragas devem ser usadas medidas que tratem essas pragas, podendo utilizar de agentes químicos, biológicos ou físicos, porém sua aplicação só deve ser feita por pessoas tecnicamente competentes que saibam intervir nos potenciais perigos que estas substâncias representam a saúde dos animais.
Os recipientes e equipamentos que serão utilizados no manuseio dos ingredientes devem ser de materiais de fácil limpeza e desinfecção total. Aqueles que foram utilizados com algum material tóxico não podem ser utilizados posteriormente sem que antes haja uma desinfecção completa. As matérias-primas que são consideradas inadequadas para o consumo animal e por extensão ao consumo humano, devem ser devidamente separadas durante o processo produtivo, de maneira que não haja nenhum tipo de contaminação.
Os ingredientes precisam ser armazenados em condições que fiquem protegidos contra a contaminação e reduzam ao máximo a perda da qualidade nutricional. Os meios de transportar esses ingredientes dos locais de produção ou armazenamento deverão ser adequados e construídos de materiais que permitam o controle da conservação desses produtos, da limpeza e desinfecção completa (ROHR, 2019). Os veículos que fazem esse transporte até a fábrica de rações sempre estarão limpos e livres de contaminação. As cargas desses produtos deverão ser avaliadas quanto às suas condições de limpeza e contaminação, qual sua origem, seu peso, data e horário da sua entrega e todas essas informações devem ser registradas.
As fábricas de rações precisam estar situadas em zonas que não tenham odores indesejáveis, sejam eles, fumaça, poeira e outros contaminantes e também que não estejam expostas a inundações.
No processo de estocagem deverão seguir rigorosamente o projeto. As áreas onde estão guardados os produtos descartáveis devem ser devidamente isoladas e exclusivas. Caso exista algum material tóxico, explosivos ou inflamáveis, deverá constar em áreas exclusivas, separadas da área de fabricação e também dos produtos acabados.
Nas áreas onde são manipulados os produtos os pisos precisam ser de materiais resistentes ao trânsito, impermeáveis, laváveis, de preferência antiderrapantes, sem frestas e de fácil limpeza.
As paredes, tetos, forros precisam ser construídos de modo que impeça a acumulação de sujeira ou mofo, parapeitos internos precisam ser evitados. As janelas e outras aberturas ao serem construídas precisam também evitar o acúmulo de sujeiras e possuir proteção anti pragas. As portas deverão possuir superfícies lisas e não absorventes. As escadas e elevadores de serviço deverão ser construídos de forma a não causar contaminação (MENEZES, 2018).
Todas as fábricas de rações deverão dispor de vestiários, sanitários e banheiros adequados, deverão estar bem iluminados e ventilados de acordo com a legislação e não poderão nunca ter comunicação direta com as áreas onde os produtos são manipulados (SENAR, 2019.)
O estabelecimento deve possuir uma ventilação adequada, suficiente para que o calor excessivo não prejudique os funcionários e também possam eliminar o ar contaminado, lembrando sempre que a corrente de ar nunca deve fluir de uma zona suja para a zona limpa, pois pode acabar havendo contaminação.
Os equipamentos devem estar em ótimo estado de conservação e funcionando normalmente, a empresa deve possuir um plano de manutenção preventiva e corretiva de todos os equipamentos, esses procedimentos devem ser sempre documentados e as atividades registradas (MACHADO , 2015). 
Os recipientes para descarte de lixo devem ser convenientemente distribuídos, limpos, identificados e com sacos plásticos dentro, seu esvaziamento deve ser feito com intervalos regulares e o lixo levado ao local correto de coleta.
Todo funcionário que estiver em serviço dentro de uma área de manipulação de produtos deverá se manter higienizada em todas as etapas de trabalho, com uniforme, protegido, calçado adequadamente e com os cabelos cobertos. Também dentro dessas áreas de manipulação é proibido comer, mascar chicletes, fumar a fim de evitar contaminações.
E por fim, em relação aos produtos acabados, estes precisam conter em sua embalagem algumas informações claras como:
- O respectivo número de lote de fabricação
- Os ingredientes e aditivos utilizados em sua fabricação em ordem decrescente de quantidade na composição.
Toda movimentação de material que acabe envolvendo saída de produtos, materiais e/ou ingredientes desse estabelecimento, deverá obrigatoriamente gerar um registro identificando o tipo e número de documento fiscal que foi utilizado na transação, a descrição e o código dos mesmos, o número do lote e também as quantidades (CORADI, 2016).
Diante disso pode-se dizer que as BPF tornaram-se requisitos básicos para atender às exigências do mercado consumidor e da legislação brasileira, bem como a garantia da qualidade na produção e fornecimento de alimentos mais seguros (ZAMBONI, 2008). De acordo com o mesmo autor, a implementação das BPF reduz perdas e prejuízos na produção, elevando a qualidade dos produtos.

3.2 Controle de qualidade

A definição do termo “qualidade” sofreu diversas alterações ao longo do tempo, desde simples conjunto de ações operacionais em pequenas melhorias do processo de produção até a ser vista como um dos elementos fundamentais do gerenciamento das organizações, tornando-se fator crítico para a sobrevivência não só das empresas, mas, também, de produtos, processos e pessoas (CARVALHO et al, 2005).
De acordo com decreto nº 6296/2007 é definido como:
IV - controle da qualidade: conjunto de procedimentos que envolvem programação, coordenação e execução com o objetivo de verificar e assegurar a conformidade da matéria-prima, do ingrediente, do rótulo e da embalagem, do produto intermediário e do produto acabado com as especificações estabelecidas; (MAPA, 2007).
Este controle permite a redução de erros, aumento de rendimento e desempenho da produção, além de garantir a conformidade com as características para as quais foram criados.
Em uma fábrica de rações, o controle de qualidade inicia no projeto da fábrica, na seleção de fornecedores de insumos, padrões de qualidade da matéria-prima, formulação correta baseadas nas exigências nutricionais da espécie e categoria, processamento, armazenamento, transporte de ingredientes e produtos acabados. Além de procedimentos de manutenção e limpeza de equipamentos e instalações, medidas de prevenção de contaminação cruzada, treinamento e capacitação de funcionários e garantia de rastreabilidade (BEUS, 2017).
Este controle visa estabelecer uma sistemática para garantir a segurança do produto final, com o propósito de assegurar a saúde do consumidor e a conformidade com a legislação sanitária vigente.

3.3. Legislação

O órgão responsável pela determinação das normas e leis de fabricação e também de comercialização de rações é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Ele também é responsável pela regulamentação e fiscalização dos estabelecimentos que atuam na área de alimentação animal, sendo os Fiscais Federais Agropecuários os responsáveis por manter essas adequações (MAPA, 2018).
Os estabelecimentos que fabricam produtos com destinação à alimentação animal precisam cumprir o que determina a IN n° 04 de 23 de fevereiro de 2007 no que diz respeito a Boas Práticas de Fabricação e condições higiênico-sanitárias (MAPA, 2019).

3.3.1. Instrução Normativo nº04/2007

A IN tem como principal objetivo esclarecer tecnicamente sobre as adequações higiênico-sanitárias e as Boas Práticas de Fabricação (BPF), abordando os procedimentos básicos higiênicos, sanitários e operacionais que são aplicados durante todo o fluxo de produção, desde a compra das matérias-primas até a distribuição dos produtos finais. Tudo isso visa garantir a qualidade e segurança dos produtos (MASCARENHAS, 2012).
A normativa abrange detalhadamente diversos itens específicos, desde a localização da sede do estabelecimento, que deve estar fora de riscos de contaminantes e de outras atividades industriais, até as instalações, os equipamentos e os utensílios, assim como os procedimentos operacionais padrões (MAPA, 2007).
Essa instrução normativa aborda detalhadamente os seguintes tópicos: 
1.3.1.1. Requisitos higiênico-sanitários das instalações
A localização onde se encontra o estabelecimento deve ser fora de área de risco de inundações e alojamentos de pragas, longe de atividades industriais que possam prejudicar a qualidade do alimento produzido. 
As instalações devem ter uma construção sólida e sanitariamente adequada, feita com materiais que não tenham potencial de contaminação. A planta do estabelecimento deve adotar a divisão correta dos espaços que são destinados para cada atividade, com isso, reduzindo ao máximo o risco de contaminação cruzada ou até mesmo algum acidente com materiais tóxicos ou inflamáveis (ROHR, 2019). Considerando espaço adequado para a produção, armazenamento de ingredientes, sacarias vazias e produtos acabados, seguindo sempre o fluxograma de produção para que haja separação adequada entre a área de produção e a de armazenamento de produto acabado (IN 04/2007). Esse fluxograma de produção possui sentido unidirecional, que inicia na chegada de matéria-prima e se estende até a expedição de produto final, como apresentado na Figura 01.
Figure 1 – Fluxograma de Produção em uma fábrica de ração.
Em relação aos equipamentos e utensílios utilizados na fábrica, que tenham contato direto ou indireto com o alimento produzido, devem ser confeccionados de material atóxico e resistente à corrosão, instalados e projetados para facilitar e suportar repetidas operações de limpeza e desinfecção. Os produtos utilizados para desinfecção e lubrificação devem ser registrados pelo órgão competente, ainda identificado e armazenado em local específico (IN 04/2007). Levando em consideração todo controle sanitário como um todo, além dos equipamentos utilizados, os pisos e revestimentos, tetos e demais instalações aéreas devem ser feitas com materiais que facilitem sua limpeza e também impeçam o acúmulo de sujidades, por isso, recomenda-se pisos de cimento polido (MENEZES, 2018). 1.3.1.2. Requisito higiênico-sanitários do pessoal De acordo com a Instrução Normativa 04/2007, a direção da fábrica deverá assegurar que todos os funcionários do local recebam treinamento relativo à higiene pessoal e aos aspectos higiênico-sanitários relacionados ao processamento dos produtos. Isso deve ser feito por meio de um plano de integração de novos funcionários e de treinamento contínuo. Nas áreas de manipulação de alimentos, é expressamente proibido qualquer ato que possa gerar contaminação dos produtos. A utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI
Em relação aos equipamentos e utensílios utilizados na fábrica, que tenham contato direto ou indireto com o alimento produzido, devem ser confeccionados de material atóxico e resistente à corrosão, instalados e projetados para facilitar e suportar repetidas operações de limpeza e desinfecção.  Os produtos utilizados para desinfecção e lubrificação devem ser registrados pelo órgão competente, ainda identificado e armazenado em local específico (IN 04/2007). 
Levando em consideração todo controle sanitário como um todo, além dos equipamentos utilizados, os pisos e revestimentos, tetos e demais instalações aéreas devem ser feitas com materiais que facilitem sua limpeza e também impeçam o acúmulo de sujidades, por isso, recomenda-se pisos de cimento polido (MENEZES, 2018).
1.3.1.2. Requisito higiênico-sanitários do pessoal
De acordo com a Instrução Normativa 04/2007, a direção da fábrica deverá assegurar que todos os funcionários do local recebam treinamento relativo à higiene pessoal e aos aspectos higiênico-sanitários relacionados ao processamento dos produtos. Isso deve ser feito por meio de um plano de integração de novos funcionários e de treinamento contínuo. Nas áreas de manipulação de alimentos, é expressamente proibido qualquer ato que possa gerar contaminação dos produtos. A utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI 's) na manipulação de alimentos, tais como luvas, máscaras, tampões, aventais e outros, deve obedecer às boas condições de higiene e limpeza. No caso das luvas, o seu uso não dispensa a lavagem cuidadosa das mãos. Em relação aos visitantes, estes devem cumprir todas as disposições referentes ao uso dos uniformes e à higiene pessoal que são estabelecidas para os funcionários (IN 04/2007).
1.3.1.3. Requisitos higiênico-sanitários da produção
Conforme a IN 04/2007, às exigências iniciam com a escolha dos ingredientes e matérias-primas utilizadas na produção, que devem estar devidamente registrados no órgão competente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A fábrica não deve aceitar nenhum tipo de matéria-prima que contenha parasitas, microrganismos, substâncias tóxicas ou estranhas que não possam ser reduzidos a níveis aceitáveis na industrialização.
Relacionado à contaminação cruzada, deve-se adotar medidas que evitem contaminações diretas e indiretas em todas as etapas do processo produtivo, isto inclui instalações, equipamentos, pessoal, utensílios e embalagens. Essas medidas devem ter uma sequência fixa e seguir procedimentos pré-estabelecidos de limpeza para garantir a inocuidade do produto, além de serem validados e verificados periodicamente (IN 04/2007).
Conforme Queno et al. (2019), a umidade, quando bem administrada na produção, é vantajosa, pois está envolvida no processo de peletização da ração. Porém, quando mal administrada, é extremamente prejudicial, pois favorece o crescimento de microrganismos produtores de micotoxinas. Portanto, é essencial a utilização de água potável para a produção do vapor utilizado na produção.
Para que estas exigências sejam cumpridas de forma adequada, a empresa deve dispor de treinamento e capacitação em Boas Práticas de Fabricação (BPF) para todos os seus colaboradores que trabalham e supervisionam as etapas do processo de fabricação.
Ainda segundo a IN 04/2007, a empresa deve elaborar, emitir e controlar registros de todas as etapas do processo, desde a chegada da matéria-prima até a expedição do produto acabado. Toda matéria-prima, ingrediente e produto acabado deve ser armazenado em condições adequadas e rotulado com as informações obrigatórias.
1.3.1.4 Procedimentos Operacionais Padrões (POP)
Os procedimentos operacionais padrão são considerados um conjunto de informações detalhadas de instruções técnicas e operações de rotina que devem ser cumpridas pelas empresas que fabricam produtos destinados à alimentação animal. O objetivo é garantir a preservação da qualidade dos produtos (OLIVEIRA, 2014).
De acordo com a IN 04/2007, todos os POPs devem ser apresentados junto ao manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF) e serem aprovados e assinados pela direção da empresa e pelo responsável pelo controle de qualidade. Eles devem descrever os materiais e equipamentos necessários para realizar os procedimentos, assim como a metodologia, frequência, monitoramento, verificação, registro e os responsáveis pela execução.
Para que possa ser estabelecido um programa de procedimento básico são necessários, no mínimo, os seguintes itens:
  • Qualificação de fornecedores e controle de matérias-primas e de embalagens (IN 04/2007): Onde se especifica os critérios e procedimentos utilizados para a qualificação dos fornecedores e o controle de matéria-prima e embalagens. 
  • Limpeza/Higienização de instalações, equipamentos e utensílios (IN 04/2007): Onde deve constar as informações sobre os métodos de higienização, os produtos que utilizados (com sua devida concentração, princípio ativo e tempo de ação), temperatura da água e enxague.
  • Higiene e saúde do pessoal (IN 04/2007): Onde deve constar os procedimentos relacionados aos hábitos higiênicos pessoais e dos uniformes, antes e durante as operações.
  • Potabilidade da água e higienização de reservatório (IN 04/2007): Consta o padrão de potabilidade microbiológico e físico-químico, incluir as etapas e frequência de controle de potabilidade da água, sendo captação, tratamento, armazenamento, distribuição, pontos de colheita de amostras, colheita de amostras, análises, monitoramento, ações corretivas, verificação e registros.
  • Prevenção de contaminação cruzada (IN 04/2007): Deve identificar os potenciais riscos e contaminações sejam elas físicas (madeira, plásticos, metal, osso), químicas (promotores, aditivos, micotoxinas, óleos lubrificantes, detergentes) e biológicas (farelos oleaginosos, farinhas de carne).
  • Manutenção e calibração de equipamentos e instrumentos (IN 04/2007): Detalhar os processos de manutenção e calibração de cada um dos equipamentos que estão incluídos no processo de produção e também o responsável pela execução, monitoramento e verificação.
  • Controle integrado de pragas (IN 04/2007): Seguir as medidas preventivas e de controle. Se for adotar controle químico dentro dos procedimentos operacionais, devem ser especificados os grupos químicos dos produtos utilizados, nome, princípio ativo, concentração, local e forma de aplicação de produto, frequência de sua utilização e também o responsável pela execução da tarefa.
  • Controle de resíduos e efluentes (IN 04/2007): Distinguir o responsável pelo destino dos resíduos, identificar quais são os tipos de resíduos que são gerados, como é feita a separação, segregação e recolhimento e também da frequência desse recolhimento.
  • Programa de rastreabilidade e recolhimento de produtos (Recall) (IN 04/2007): É preciso estabelecer como será feita a rastreabilidade, seja por meio de cada lote ou partida produzida, desde a origem da matéria-prima utilizada até o destino final do produto.
1.3.1.5.  Documentos e Registros 
Ainda de acordo com a IN 04/2007, o estabelecimento deve manter todos os registros, desde reclamações, sugestões e elogios dos funcionários. Em relação aos registros feitos durante a produção, são utilizados formulários específicos para cada situação, preenchidos com data e assinatura, sem rasuras. Os registros devem ser armazenados em ordem cronológica e disponíveis para consulta.

4 CONCLUSÃO

O controle de qualidade, apresentado no presente estudo, garante a qualidade e padronização dos produtos finalizados. Ainda, quando implementado de forma adequada à realidade do estabelecimento, além de garantir a qualidade, possibilita a redução de erros no decorrer do processo de produção, diminuindo o desperdício e consequentemente reduzindo o custo do produto.
Além disso, as BPF’s, além de serem obrigatórias em todos os estabelecimentos que fabricam rações, é uma ferramenta de fundamental importância já que sua implementação correta garante a qualidade dos produtos acabados, proporcionando uma maior segurança e padronização na produção.
Cabe destacar que os procedimentos adotados pelas empresas precisam ser trabalhados e melhorados constantemente. As BPF’s proporcionam um alto padrão de qualidade nos produtos, otimizam os custos e se mantêm em conformidade com as normas estabelecidas pela legislação vigente e exigências do mercado.
Por fim, a utilização dessas ferramentas deve ser avaliada de forma criteriosa e sua implantação deve ser adequada à realidade de cada estabelecimento.


Inédito para ENGORMIX

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ZAMBONI, F.F de Castro. Market concepts have changed. Feed & Food on-line. Friday, May 30, 2008. Year 2008 - nº 16. Available at: http://www.feedfood.com.br/revista/artigos.php?busca=27.

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Para assegurar a credibilidade da qualidade dos produtos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) exige que os estabelecimentos fabricantes de produtos destinados à alimentação animal possuam um manual de Boas Práticas de Fabricação (BPF), assim como os Procedimentos Operacionais Padrões (POP).

Os ingredientes precisam ser armazenados em condições que fiquem protegidos contra a contaminação e reduzam ao máximo a perda da qualidade nutricional.

No processo de estocagem deverão seguir rigorosamente o projeto. As áreas onde estão guardados os produtos descartáveis devem ser devidamente isoladas e exclusivas.

As instalações devem ter uma construção sólida e sanitariamente adequada, feita com materiais que não tenham potencial de contaminação. Os equipamentos e utensílios utilizados na fábrica, que tenham contato direto ou indireto com o alimento produzido, devem ser confeccionados de material atóxico e resistente à corrosão, instalados e projetados para facilitar e suportar repetidas operações de limpeza e desinfecção.
Autores:
Kátia Cardinal
Larissa Alves Medeiros
Amanda Cogo Dominguez
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