Introdução.
A qualidade de um profissional está baseada na sua ética e nas informações que detém e aplica, sejam estas relacionadas à sua área de trabalho, seja ao conhecimento ampliado de outros segmentos que podem ou não interagir com a sua competência ou especialidade. A palavra ética vem do grego ethos, e significa modo de ser ou representa o caráter da pessoa. Embora haja uma percepção de que a ética é condição nata do indivíduo, ela não é verdadeiramente uma característica adquirida geneticamente. É uma realidade humana constituída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem, por isso ela é constantemente repensada e mudada (PINHEIRO MACHADO FILHO et al., 2007). Por esta razão, na convivencia universitária, o professor também pode ser um elemento modulador desta característica.
Quanto ao provimento do conhecimento técnico, a transformação de um aluno em um profissional identificado, comprometido ou com potencial para atender os anseios do mercado, é um caminho menos difícil neste processo de formação. Naturalmente, há indivíduos que pelos atributos que carregam em suas bases púricas e pirimídicas demandam menos esforços para serem estimulados, explorados e postos em evidência. Porém, não há batalha perdida, mesmo quando este trabalho de lapidação de uma jóia seja iniciado a partir de uma pedra bruta.
Nas universidades, os “centros de excelência”, o espaço todo “poderoso da transformação”, o cumprimento exitoso destas mudanças será mais ou menos atingido se nesta linha de montagem, os atores envolvidos vierem a agir de forma idônea, sendo exemplos e comprometidos com a função de um educador e de técnico (“Um mestre influencia a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influencia termina”, Henry Brooks Adams).
A forma como estamos formando os médicos veterinários para a suinocultura do futuro depende muito de nós professores, mas também de toda a sociedade. Segundo Cláudio de Moura Castro, “a educação é um assunto de todos”.
A preocupação com este assunto não é nova no Brasil, identifica-se com as mudanças que definitivamente marcaram a virada da suinocultura nacional rumo à eficiência e à tecnificação. Este tema foi discutido inicialmente na primeira edição deste congresso, em 1984, com uma abordagem realizada pelo renomado amigo e exemplo de profissional e homem, Prof. Dr. Jurij Sobestiansky. Em 1999, novamente o assunto voltou a ser tratado pelo Dr. Jurij e pelo Dr. Luiz Sesti no livro “A função da Medicina Veterinária na suinocultura moderna”. De maneira muito sutil, as recomendações propostas há 16 anos pelos autores não sofreram grandes mudanças, apesar do setor ter passado por muitas alterações.
Retornar à discussão deste tema é extremamente oportuno, pois várias foram as transformações no segmento, nos recursos e nas idéias. O jovem mudou, as perspectivas mudaram, e temos muita coisa a melhorar e a construir.
Paralelamente, considerando o ensino superior no Brasil como um todo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei 9.394), publicada em 1996, trouxe profundas mudanças para a educação superior no país, afetando naturalmente, também, o ensino da Medicina Veterinária. Nela foram descritas as finalidades da educação, das quais são enfatizadas algumas expressões importantes, como desenvolvimento da sociedade brasileira, espírito científico e pensamento reflexivo. Nesta proposta os objetivos são estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, formar diplomados aptos para serem inseridos em setores profissionais voltados para o desenvolvimento da sociedade brasileira; incentivar o trabalho de pesquisa, visando o desenvolvimento da ciência e a difusão da cultura e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar sua correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos; estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais; prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; promover a extensão aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica; e, finalmente, promover a divulgação de conhecimentos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação. “Não se cogita mais o profissional apenas „preparado?, mas o profissional apto às mudanças e, portanto, adaptável” (CFMV, 2012).
O CFMV, nesta linha, desenvolveu um estudo denominado Estratégias de Ensino-aprendizagem para Desenvolvimento das Competências Humanísticas Propostas para Formar Médicos Veterinários para um Mundo Melhor. A proposta é valorizar estas competências, o que na prática não reflete no conteúdo das disciplinas e, portanto, não precisa ser ministrado ou alterado. O que se sugere são novas estratégias, isto é, diferentes formas de apresentar esse conteúdo para os alunos, de maneira que, ao mesmo tempo em que o conteúdo é apresentado, as competências humanísticas sejam desenvolvidas (CFMV, 2012). Em termos práticos, algumas escolas de veterinária já incorporaram esta conduta, cujos resultados, pelo pouco tempo de implantação e pela forma como poderão ser medidos no futuro, ainda são desconhecidos, embora haja uma expectativa positiva quanto às mudanças que deverão ocorrer
Neste documento, com base nas experiências vivenciadas e apoiado nos conceitos de educadores e na visão de professores e profissionais da área, objetiva-se conhecer as características de nossos centros de formação, as faculdades de Medicina Veterinária do país, dos protagonistas destas transformações, os mestres, e identificar o que estes profissionais desenvolvem e devem apresentar para melhor formarem os médicos veterinários para a suinocultura do futuro.
Desenvolvimento.
Objetivando o tratamento do tema, possivelmente com dois questionamentos podemos criar uma inquietação nesta discussão:
- Estão os demandadores de profissionais médicos veterinários sendo bem atendidos?
- O que é a suinocultura do futuro?
Considerando a clássica regra da relação oferta e procura, pensando no número de profissionais que chegam ao mercado todo o ano, poderíamos crer que a primeira pergunta pode ser respondida com certa facilidade. O Brasil detém em torno de 200 faculdades de veterinária, um terço das escolas do mundo. Na França são cinco, na Espanha seis. A relação entre o número de médicos veterinários no país e a população brasileira é superior a 10 vezes ao dos países citados. Formamos atualmente milhares de médicos veterinários. Mas, em termos qualitativos, possivelmente, não estamos atendendo esta demanda!
Quanto à suinocultura do futuro, já nos deparamos com uma maior automação de nossas granjas, com a nutrição de precisão, o uso da modelagem para nortear as curvas de desenvolvimento, consumo de alimento e das exigências nutricionais dos animais; novas técnicas laboratoriais de diagnósticos; transferências e sexagem de embriões; a valorização e racionalização dos recursos ambientais e energéticos que interagem com a atividade; a otimização e o aprimoramento dos recursos humanos; e a intensificação dos cuidados com a segurança alimentar e com o bem-estar animal! Então...o futuro jáchegou!
Devemos todos nos atentar sobre como estamos preparando o profissional do futuro, pois para que as funções do Médico Veterinário na suinocultura sejam colocadas de maneira clara é importante destacar aquelas vinculadas à indústria, os quais são os maiores empregadores deste profissional. Existe um largo espectro de oportunidades para o Médico Veterinário que deseja trabalhar com a espécie suína, porém, há uma demanda de comprometimento destes com áreas nas quais, à primeira vista, parece não ter relação com o curso. O mercado pede que o profissional não deva somente se instruir em uma grande variedade de áreas de conhecimento, mas, principalmente, demonstrar um nível de informação para atender os consumidores, objetivo final desta grande cadeia (SESTI; SOBESTIANSKY, 1999).
É importante que o futuro profissional desta área comece a enxergar a percepção da amplitude da cadeia e a sua força no agronegócio mundial, em especial o papel econômico e político que, dentro e fora do país, norteiam efetivamente os rumos da suinocultura. Na prática, devemos nos manter em contínuo contato com as diferentes mídias e com os atores da cadeia, as empresas e seus profissionais.
A linguagem prática neste meio requer este vocabulário. A atividade é primariamente econômica e é nesta vertente que ela está apoiada. A palavra Universidade tem origem latina, universitate, e significa universalidade, totalidade, associação. Isto nos remete a conceber que o principal papel de uma instituição dessa natureza é abrir os horizontes do aluno, é fazer com que este venha a enxergar as coisas de uma outra maneira. Formar na graduação um profissional completo, pronto, é uma utopia, mas um profissional que saiba procurar e perceber novos caminhos é uma meta exeguível! A graduação, teoricamente, habilita o formado a trabalhar em qualquer área (MOURA CASTRO, 2012), e isto é uma virtude, pois sinaliza para a abertura de horizontes.
Na visão de universalidade devemos oportunizar ao aluno condições para que este venha experimentar ao máximo todas as bases técnicas que sustentam a suinocultura. Quanto maior for esta vivência nas diferentes vertentes da área melhores serão os resultados de sua formação. Assim como é tratado para o mestrado, a graduação não é um processo puramente informativo, é formativo, é ampliado, excedendo o conhecimento técnico. Então, coisas como ética, integridade, perseverança, resiliência, caráter, responsabilidade e atitude construtiva fazem parte do negócio (MOURA CASTRO, 2012). Não se cogita mais o profissional apenas preparado, mas aquele apto às mudanças e, portanto, adaptável.
O aluno que simplesmente participa das aulas ainda faz pouco. Até mesmo porque no sentido estrito de tempo, a carga horária das disciplinas relativas à área é baixa. Consultando 12 universidades públicas e 12 universidades privadas brasileiras, a carga das disciplinas de suinocultura variou entre 36 a 60 horas, e somente metade das públicas e um terço das privadas tinham a disciplina de sanidade suína em sua grade, dispensando a esta entre 30 a 60 horas. Atribui-se que as instituições que não têm esta última grade em seus currículos devam abordar o tema em disciplinas que contemplem a sanidade de várias espécies animais conjuntamente. Isto pode remeter à falta de especialidade do professor para a espécie suína, gerando uma condução mais teórica, tornando a abordagem comumente menos atrativa e envolvente para o aluno.
Uma outra preocupação quanto à grade curricular das escolas de Medicina Veterinária no país é o preterimento da área de produção em relação à sanidade e às clínicas. A relação de horas dispensadas às disciplinas bases da produção, alimentos e alimentação, nutrição, melhoramento genético e forragicultura, entre outras, tem sido cada vez menor. A desvalorização da produção animal parece ser maior nas escolas sediadas nos grandes centros urbanos, com quadros onde a disciplina de suinocultura chega a ser ofertada na modalidade não presencial, caracterizando uma clara demonstração da sua pouca importância em relação a outras disciplinas.
Numa atividade tão dinâmica, tão extrinsecamente ligada à agroindústria, tão globalizada, onde as novas tecnologias e produtos são postos nos mercados mundiais simultaneamente, o professor, e não outra pessoa, tem que estar muito determinado a acompanhar este processo evolutivo. Quantos novos aditivos, procedimentos, técnicas, vacinas, doenças, modelos de instalação e equipamentos, automação, mudanças de postura (retirada dos promotores antimicrobianos, normas de bem-estar, tratamento de dejetos...) se incorporaram à cadeia suinícola? Quantas mudanças verificamos e vivemos nestes últimos anos?
Para desenvolver uma abordagem segura e atualizada dos temas o professor deve participar ativamente destas mudanças. A interação do professor com o mundo, fora dos muros das universidades, é inevitável para atender estas premissas, e as consequências, quando se estabelece esta relação de forma efetiva, são positivas para todos. Quando os assuntos são tratados dentro de um contexto real, prático, sob um ponto de vista compartilhado por profissionais de dentro e de fora da academia, a visão crítica de todos aumenta, os alunos percebem este quadro e seu interesse cresce. (“Mestre não é aquele que sempre ensina, mas quem, de repente, aprende!” Guimarães Rosa). Ao escolher esta estratégia, lembre-se de que, segundo estudos do psiquiatra norte americano William Glasser, aprendemos 10% quando lemos, 20% quando ouvimos, 30% quando vemos, 50% quando vemos e ouvimos, 70% quando discutimos/debatemos, 80% quando vivenciamos e 95% quando ensinamos.
Sesti e Sobestiansky (1999) tratam que o médico veterinário deve solidificar uma posição competitiva na área, investindo na própria educação, por meio da participação permanente em cursos, reciclagens técnicas de produção e comerciais; conhecer in loco e/ou ler assiduamente sobre as realidades da produção de suínos em outras regiões e países, de modo a aprender e entender; e criar mais vínculos com outras instituições. Estas recomendações valem primeiro para o professor médico veterinário, que as seguindo, poderá passar com mais precisão este comportamento e este conhecimento para seus alunos.
Nesta ótica, Moura Castro (2013) faz a seguinte consideração: ”Portanto, cada disciplina requer professores com o perfil talhado para ela. Do professor de cálculo, nada melhor do que exigir um doutorado. Mas o professor que ensina a construir prédios deveria ser alguém que acumulou anos no canteiro de obras. Se houvesse doutores com essa experiência, tanto melhor. Mas não há, pois doutorados preparam para a pesquisa e para a universidade. Se o MEC melhora as notas de quem substitui verdadeiros profissionais por jovens doutores que nada sabem de construir prédios, o resultado desse equívoco é grotesco. Premia quem ensina uma profissão que não tem, apenas leu libros e escreveu papers. Os professores com mais experiência, tinham escritório de engenharia respeitado e prestavam consultaria, e, obviamente, ensinavam em tempo parcial, pois não poderiam abandonar sua empresa. Para os alunos, isso é ótimo, assegura que o professor ensina a engenharia que se pratica de verdade”.
A carreira docente na Medicina Veterinária, diferente de algumas profissões de caráter também fortemente prático, tem uma boa representatividade de profissionais com mestrado e doutorado, o que é positivo, mas não obrigatoriamente sinônimo de referencia e qualidade.
Os professores que atuam na cadeia suinícola devem fazer um forte investimento em si mesmo e ultrapassar as poucas cobranças que a academia faz de sua conduta e performance. Os professores que participam da formação deste profissional devem definir no ano alguns bons congressos e participar ativamente destes, devem estreitar relações com as empresas, a indústria, produtores e outros pesquisadores e professores (SESTI; SOBESTIANSKY, 1999). Somando estes esforços, concomitantemente, devem dinamizar sua área através de grupos de estudo, com programas de iniciação científica e desenvolvimento de atividades de pesquisa e extensão. Se um programa de pósgraduação puder ser implantado, há uma grande oportunidade de uma integração forte dos discentes de graduação com mestrandos e doutorandos, o que amplia as discussões e o conhecimento. Segundo Cláudio Dariva “houve uma época em que se imaginava que quem buscasse a iniciação científica, o mestrado ou o doutorado era porque seria professor. Hoje em dia essa equação se inverteu. O bom profissional é aquele que consegue passar por várias áreas, que tem criatividade para solucionar problemas. A pesquisa fornece essa habilidade. Por isso, fazer pesquisa é a garantia de uma formação diferenciada, amplificada e de valorização, inclusive, para quem vai ser contratado pelo mercado. Não é a toa que a maioria dos programas pedagógicos dos cursos envolve atividades de pesquisa. Isso é muito bem avaliado pelo Ministério da Educação”.
Pode-se atribuir que na condução de um trabalho de pesquisa a hipótese originalmente esperada pode ser muitas vezes atingida. No entanto, para pôr em uso os resultados obtidos, há uma maior limitação. Por meio da pesquisa é efetivamente possível melhorar o senso crítico, abrir horizontes e promover a inquietação do grupo. O graduando que se insere num projeto de pesquisa e participa da pirâmide da pós-graduação, na qual ele é a base, torna-se menos passivo e mais questionador, atributos extremamente desejados no profissional moderno.
Na sala de aula, o respeito pelo professor e a motivação do aluno são conquistadas pela percepção da segurança com que os assuntos relativos são tratados pelo mestre. O desenvolvimento de projetos de pesquisa colabora fomentando esta segurança. Quanto maior o conhecimento efetivo da causa melhor será a formação do aluno.
No que tange à influência ou à capacidade da academia em formar Médicos Veterinários com um perfil de empreendedor com foco nesta cadeia, os resultados são baixos. Para motivar o empreendedorismo o mestre tem que ter um espírito empreendedor. Este cenário, portanto, contradiz esta lógica. Comumente, professores são funcionários com carteira assinada que não carregam intrinsecamente este perfil. A própria escolha por esta área de trabalho pode caracterizar o espírito pouco empreendedor deste profissional. Poucos professores têm êxito na formação de um Médico Veterinário empreendedor. Em alguns casos estes professores têm uma dedicação parcial ao ensino e por conta de uma responsabilidade moral e ética, além da determinação, conseguem atingir este objetivo. Infelizmente, não temos num país com um horizonte com tudo por fazer e rico em oportunidades tantos empreendedores quanto precisamos.
Se as estruturas físicas de muitas universidades ainda são limitadas, sejamos hábeis para contornar estas adversidades. Os alunos que estão envolvidos e querem mais conhecimento na área deverão encontrar oportunidades também fora da instituição. Se esta participação externa se concretiza neste conjunto de ações haverá uma melhora do relacionamento, da responsabilidade e ocorrerá uma ampliação da visão do processo, aspectos muito cobrados atualmente.
Para a formação de um recurso humano com um perfil desejado e identificado com o mercado há a necessidade de muita determinação dos professores das áreas relacionadas. O professor tem que ser um apaixonado pelo seu trabalho e contagiar seus alunos. No Brasil, a suinocultura, por conta da origem dos imigrantes, da tradição familiar e do cultivo da soja e do milho em determinadas áreas, está concentrada em algumas regiões do país. Este cenário faz com que alguns cursos de Medicina Veterinária implantados nestes locais e também seus ingressos tenham um perfil mais voltado para a atividade. Portanto, a característica do discente de medicina veterinária é bem diferente entre as instituições, regiões e entre o interior e a capital. A correlação entre o interesse do aluno pela suinocultura é sensivelmente maior nas universidades onde a cadeia suinícola está inserida, comprovando e renovando a identificação destes alunos com sua história familiar, com sua origem e vocação, ou com o foco que detém os professores destas instituições para a área. Neste sentido, são marcantes os papéis de algumas escolas que têm a suinocultura como uma das maiores referências de seu curso na formação desta mão-de-obra. São efetivamente exemplos a serem seguidos.
No entanto, à parte deste quadro heterogêneo de distribuição dos centros mais identificados com a cadeia nas regiões onde a suinocultura é praticada, há muitos exemplos de alunos oriundos de faculdades distantes destes locais que têm tradição na criação de suínos, que se interessaram e hoje militam na área. Todos os alunos que se despertam para este segmento têm que ser acolhidos, motivados e tratados, independentemente de sua origem, pois o mercado é ávido por um bom profissional. Este aluno deve ter muito entusiasmo, gostar de ler e praticar este hábito (deve ler de tudo, não somente temas relacionados à suinocultura), ser hábil para ouvir e deter bom domínio de mais de uma língua.
Quanto à leitura, este exercício deve preceder a graduação. Deve-se começar a ler em casa. Os islandeses estão entre os leitores mais furiosos, comprando oito livros por pessoa/ano e os domicilios abrigando uma média de 338 livros. Na Austrália e na Nova Zelândia, acima da metade dos lares tem mais de 100 livros. Os resultados dos brasileiros para a leitura não são nada lisonjeiros. A média é de 1,8 livros lidos por habitante/ano. Nossos vizinhos colombianos lêem 2,4, os americanos cinco e os franceses sete (MOURA CASTRO, 2012).
Em todas as áreas, dominar a língua inglesa não é mais um diferencial, é essencial. O médico veterinário, como em muitas outras profissões, tem que no mínimo desenvolver na graduação uma boa leitura, interpretação e escrita do inglês e também avançar para o falar e o ouvir. O inglês é a atual língua oficial da ciência, como o latim foi por muito tempo (MOURA CASTRO, 2012).
Um dos maiores investimentos na formação do homem se dá por meio da conduta, do hábito, do gosto por viajar, um cenário cujas facilidades já foram maiores no Brasil. Comprometidos pela crise política e econômica, os programas federais de apoio aos estudos fora do país sofreram uma desaceleração, apesar de um grande número de alunos ainda terem usufruído destes benefícios. Até este ano, estima-se que 100.000 estudantes brasileiros (dos cursos de graduação ao pós-doutorado), patrocinados pelo governo (o projeto deve consumir 3,4 bilhões até 2015), terão vivido a experiencia de trabalhar lado a lado com os mais respeitados cientistas do mundo, nas melhores universidades estrangeiras. Esses jovens estão sendo selecionados entre os mais talentosos das universidades para fazer parte do Ciência sem Fronteiras, programa criado para preparar gente capaz de producir conhecimento e inovação à altura dos melhores centros de pesquisa do mundo – e assim contribuir para reduzir o histórico atraso do Brasil nesse campo..
Uma das formas de nos tornarmos mais críticos se dá pelo conhecimento, o que favorece desenvolver melhor as comparações. As viagens e a vivência fora do Brasil podem melhorar a avaliação dos aspectos bons e ruins que temos no nosso país, e, principalmente, fazer com que sejam mais efetivas as ações para minimizar nossos pontos críticos e promover nossas virtudes.
Conclusões.
Em síntese, o número de médicos veterinários para atender o mercado suinícola é pequeno. Contudo, há muitas ferramentas atualmente para que este futuro profissional venha a ser melhor do que em outras épocas. É possível que, com determinação e reconhecimento dos pontos importantes na formação do aluno, mais profissionais qualificados venham atender as demandas existentes, correspondendo a um médico veterinário em permanente processo de aprendizado, hábil no domínio e na transferência do conhecimento técnico, responsável pela disponibilização ao consumidor de um produto seguro, saudável e produzido sob métodos aceitáveis que respeitem o bem-estar dos animais e as práticas de higiene e produção de alimentos em toda a cadeia.
Preservadas algumas exceções, alunos que foram bem acolhidos, que tiveram professores que cumpriram seu papel e, com determinação, aproveitaram estas oportunidades, encontraram uma base singular e, provavelmente, um bom começo profissional. Reflitam sobre quantos jovens veterinários atuam na academia, nos centros de pesquisa, na indústria e no campo e já conquistaram respeito e estão em evidência em suas regiões, no Brasil e no mundo.
Recai, portanto, sobre nós professores grande parcela de responsabilidade no cumprimento da cartilha de formação do futuro médico veterinário da suinocultura do futuro (“A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”, Sêneca).
Referências bibliográficas.
1. CFMV. 2012. Estratégias de ensino aprendizagem para desenvolvimento das competências humanísticas. Disponível em:<http://portal.cfmv.gov.br/uploads/files/Estrategias de Ensinoaprendizagem para Desenvolvimento das Competencias Humanisticas_site.pdf>Acesso 23 jul.2015.
2. MOURA CASTRO, C. 2013. O muro de arrimo do doutorzeco. Disponível em:<http://blog.abmes.org.br/?p=5627> Acesso em 23 jul.2015.
3. MOURA CASTRO, C. 2012. Triste realidade brasileira: não há estantes de livros à venda. Disponível em:<https://www.google.com.br/search?.> Acesso em 23 jul.2015.
4. PINHEIRO MACHADO FILHO, L.C.; BRIDI, A.B.; HOTZEL, M.J. Ética na produção animal. In: BRIDI, A.M.; FONSECA, N. A.N., SILVA, C. A., PINHEIRO, J.W. A Zootecnia Frente a Novos Desafios. Londrina : ArtGraf Gráfica e Editôra, 2007, v.1. p.3-16.
5. SESTI, L., SOBESTIANSKY, J. A função da Medicina Veterinária na suinocultura moderna. 2º Ed., Goiânia, 1999, 24p.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.