Atualmente, a imunidade parece ser o ‘calcanhar de Aquiles’ da
produção mundial de suínos. Tudo o que pudermos fazer
para melhorar o estado imunitário natural de nossos animais deve ser
uma prioridade para a próxima década. Portanto... imunidade,
imunidade, imunidade!
Na minha época de jovem produtor, a imunidade era conhecida como ‘resistência
natural’. Sabíamos que muitas das instalações apresentavam
condições desfavoráveis de limpeza, no entanto era comum
observarmos animais em ambientes ‘extremamente limpos’ apresentando
súbitas epidemias de doenças que, apesar de curtas, não
poderiam ter ocorrido em instalações tão meticulosamente
limpas. Mas elas ocorriam. E nós buscávamos a razão para
isso. Os especialistas daquela época afirmavam que os animais não
haviam sido suficientemente ‘desafiados’ para adquirir um nível
de imunidade adequado.
Atualmente, os especialistas têm um maior conhecimento sobre a aquisição
de imunidade natural em suínos. Podemos até mesmo saber quão ‘limpas’ estão
as instalações (Tabela 1).
Tabela 1. Análises com swab, típicas para avaliações
microbiológicas.
Fonte: Waddilove (1999)
No entanto, estamos começando a reconhecer os efeitos negativos da
necessidade de um bom estado imunitário sobre o desempenho de leitões
de alto ganho de alto potencial genético na fase de crescimento (Tabela
2).
Tabela 2. Leitões geneticamente melhorados sob condições
de alto e baixo desafio
de doença.
Fonte: Adaptado de Stahly et al. (1995)
A Tabela 2 mostra que os leitões submetidos a condições
de alto desafio de doença consomem menor quantidade de ração,
apresentam crescimento mais lento e pior qualidade de carcaça.
Sabemos que, ao contrário dos leitões na fase de crescimento – onde
se mantém o estado imunitário em um nível baixo, porém
suficiente para maximizar os benefícios de conversão alimentar – o
rebanho de matrizes é exposto a desafios de doença por períodos
5 a 7 vezes mais longos do que os animais nas fases de crescimento e terminação.
Portanto, as matrizes necessitam o quanto antes de uma sólida barreira
imunitária e por longos períodos.
Os aditivos podem ajudar na imunidade?
O estresse nutricional é um fator comumente observado na produção
animal. Isto ocorre porque as dietas são sub-especificadas, o que é raro
atualmente, ou porque os animais simplesmente não estão consumindo
quantidades suficientes de ração. O estresse – nesse caso
ansiedade ou frustração – compromete a imunidade. Realmente,
estresse e imunidade não parecem ser compatíveis.
Zinco
Há muito tempo, a suplementação de zinco tem sido recomendada
por médicos, particularmente para sustentar as defesas imunitárias
de pacientes idosos. Nos animais, sabe-se que o zinco desempenha um papel crítico
na reprodução e no sistema imune, porém infelizmente não
existem direcionamentos claros quanto às exigências para o fator
imunitário. Os níveis parecem ser consideravelmente mais altos,
em comparação às exigências para a fase de crescimento.
Considerando a imunidade dos animais, o zinco apresenta tanto um efeito positivo
sobre a resposta imune aos patógenos quanto sobre a prevenção
de doenças, por manter o tecido epitelial saudável.
Portanto, se as exigências de zinco são maiores na atuação
sobre o sistema imunitário – quanto maiores? Ainda não
temos esta resposta. O que poderia ser um importante avanço é a
maneira como os microminerais orgânicos são melhor utilizados
pelos animais.
O conceito de minerais orgânicos
No caso do zinco, o mineral é ligado a um aminoácido, neste
caso a metionina, que o ‘carrega’ até o ponto de absorção
(para a metionina) no intestino, onde o zinco é absorvido. Como resultado,
mais zinco é absorvido de uma mesma taxa de inclusão. Além
disso, uma menor quantidade é excretada pelos animais e, conseqüentemente,
a contaminação de pastagens e poluição das águas
são reduzidas substancialmente.
O zinco é melhor utilizado tanto para a produção quanto
para o estado imunitário? Parece que sim, embora tenhamos mais evidências
voltadas para a produtividade do que para a imunidade – onde os efeitos
são muito mais difíceis de se medir.
Estamos certos de que uma maior quantidade de nutrientes é necessária
quando temos um desafio de doença. Em aves, por exemplo, aproximadamente
1% das exigências nutricionais são utilizadas na manutenção
de um status imune normal. Esta porcentagem aumenta para 7% quando ocorre uma
doença, que ativa as defesas da ave. Pesquisadores americanos afirmam
que isto pode ocorrer em proporções ainda maiores no caso dos suínos.
De qualquer modo, a utilização de uma forma orgânica de zinco
traz muitos benefícios.
Oligossacarídeos
Os oligossacarídeos são açúcares simples derivados
de subprodutos da produção de cerveja (frutoligossacarídeos
ou FOS) ou da fabricação de levedura (mananoligossacarídeos
fosforilados ou MOS).
Originalmente, estes compostos eram conhecidos principalmente pelo mecanismo
de exclusão competitiva de patógenos intestinais. Isto realmente
ocorre, porém, no caso dos mananoligossacarídeos fosforilados,
outros mecanismos complexos parecem ocorrer.
A literatura tem descrito efeitos surpreendentemente positivos dos mananoligossacarídeos
fosforilados sobre algumas doenças, afirmando que estes efeitos provavelmente
não são apenas devidos à sua ação sobre
as bactérias patogênicas, mantendo-as ‘presas’ até serem
removidas nas fezes. Eles melhoram a função imune de diversas
outras maneiras.
- Estudos da Oregon State University mostraram um aumento de 25% na concentração
de IgA quando se utilizou mananoligossacarídeos fosforilados na
dieta
- Pesquisas têm demonstrado que os mananoligossacarídeos
fosforilados melhoram a resposta dos macrófagos
- Outros pesquisadores
concluíram que os mananoligossacarídeos
fosforilados influenciam positivamente os sistemas imunitários celular
e humoral de suínos ‘germ-free’ , embora os níveis
medidos tenham sido muito diferentes.
Portanto, os mananoligossacarídeos fosforilados facilitam as complexas
interações de todos os compostos envolvidos na luta contra as
doenças. Este efeito é chamado de imunomodulação,
ou seja, o efeito sobre a resposta imune. Ainda há muito a ser descoberto,
no entanto diversas pesquisas demonstram que os mananoligossacarídeos
fosforilados resistem a infecções por E. coli, Campylobacter
e Salmonela. Portanto, os efeitos benéficos desta alternativa aos antibióticos
promotores de crescimento podem agora, após a comprovação
por diversos experimentos científicos, ser adicionados aos benefícios
originais de adsorção de patógenos.
Alguns termos imunológicos
Imunidade humoral - células B, linfócitos
Células
de memória que permanecem atrás após uma
infecção, reconhecem a reaparição do patógeno
e rapidamente ‘recruta’ as defesas novamente.
Imunidade
celular – células T
Mantêm a guarda contra o desafio de patógenos, sendo limitadas às
células corporais em vários tecidos suscetíveis à entrada
de patógenos.
Imunidade sistêmica ou da mucosa
Anticorpos humorais ou celulares presentes quando as superfícies do
corpo são expostas ao meio externo – nariz, garganta, intestino
e trato reprodutivo externo.
Imunidade ativa
Após a exposição à infecção, anticorpos
são formados e permanecem no organismo do animal.
Imunidade passiva
Os leitões recebem os anticorpos maternos pelo colostro. Como nenhuma
célula de memória é formada, a imunidade não é permanente.
Antígenos
Materiais estranhos que desencadeiam o mecanismo
de defesa do organismo – patógenos
ou vacinas.
Anticorpos
Estruturas protéicas (IgA, IgM, etc.) que ‘lutam’ contra
os antígenos, prevenindo a ocorrência de doenças.
Fagócitos
Células que ingerem e destroem os patógenos.
Macrófagos
Grandes células imóveis, geralmente originadas na medula óssea,
que se tornam móveis quando estimuladas por inflamações,
reatores imunes e produtos microbianos.
Citocinas
Proteínas mensageiras que controlam os macrófagos e linfócitos.
Adaptado de Gadd, J. the Pig Pen. 7 (1), 2001