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Suínos em fase de terminação mantidos em ambiente enriquecido

Publicado: 8 de setembro de 2021
Por: Daniela Paulino Parreira, Jean Kaique Valentim, Adriano Geraldo, Sandra Regina Faria, Silvana Lúcia dos Santos Medeiros, Janaína Palermo Mendes, Ariadne Freitas Silva, Rita Therezinha Rolim Pietramale
Introdução
A suinocultura tem avançado como atividade econômica e se encaixado em modelos produtivos de alto faturamento, além de estar gerando empregos e fonte de renda à muitas famílias (Campos et al., 2010). Desta forma, com a expressividade de sua importância econômica, a produção de suínos tem sido alvo de investimentos em tecnologias de manejo e sistemas produtivos para atender a demanda mercadológica e se adequar a aspectos de sustentabilidade, como é o caso do bem-estar animal (Pietramale et al., 2020). Ao buscar atender a demanda tecnológica e se adequar a aspectos exigidos pelo mercado consumidor, a produção de suínos obteve como resultado mudanças dentro da atividade, procedendo em mudanças pontuais como o melhoramento genético, que acentuou a produtividade dos animais dentro de períodos mais curtos, o que ocasionou na concentração de produção diminuindo o espaço e o tipo de instalação para facilitar os manejos necessários (Silva et al., 2021).
O mercado consumidor tem estado cada dia mais presente nas reivindicações sobre os processos produtivos dos alimentos que estes consomem, posicionando-se cada dia mais sobre questões de sanidade, meio ambiente e bem-estar animal (Alcântara Araújo et al., 2020). As questões sanitárias envolvem-se com as questões nutricionais, em primeiro ponto e, em segundo ponto, com as questões comportamentais dos animais (Barros et al., 2019). Sobre o comportamento dos animais, ressalta-se que este se encaixa na temática do bem-estar animal, e que tem gerado discussões e questionamentos sobre o atual sistema suinícola brasileiro. A suinocultura no Brasil, têm investido em produzir carne suína sanitariamente e ambientalmente segura, socialmente e economicamente justa, atendendo aos princípios éticos de produção de alimentos com qualidade (Miranda-de La Lama et al., 2017).
Grunert, Sonntag, Glanz-Chanos & Forum (2018) definem o bem-estar animal como um conjunto de comportamentos que o animal possui para expressar seus sentimentos e emoções. Ao demonstrarem seus hábitos naturais, os animais também expõem suas condições de sanidade fisiológica, que muitas vezes refletem a harmonia, ou não, do ambiente ao qual eles foram alojados. Por serem seres sensitivos, o bem-estar não pode ser relacionado apenas com a condição física do animal, mas também com o seu suposto estado emocional, expressado por suas ações e/ou comportamentos diários (Cecchin et al., 2020).
Um exemplo de mecanismo de medida de bem- -estar é o estresse e a partir dele, surgiu o programa de enriquecimento ambiental, que é designado a identificar os sinais de estresse e comportamentos anormais e buscar soluções práticas e econômicas, inserindo objetos dentro das instalações, que vai ao encontro das necessidades atuais deixando o ambiente mais interessante para os animais (Clark et al., 2017). Uma das medidas de redução do estresse dos animais é a utilização de objetos que possam distrair os suínos, colocando-os em situação de diversão e interação com o meio (Bezerra et al., 2019). O uso de enriquecimento ambiental objetiva favorecer a expressão comportamental das espécies, evitando que as alterações das mesmas possam prejudicar o bem-estar físico, psíquico e a produtividade dos animais (De Andrade et al., 2019). Este tipo de manejo consiste na colocação de objetos e “brinquedos” similares para quebrar a monotonia do ambiente físico (Ferreira et al., 2014).
Os suínos posicionam-se como um dos animais de produção de maior expressão cognitiva, segundo Dawkins (2017), pois os mesmos apresentam-se bastante curiosos, com alta alta aptidão de aprendizagem e memorização, além de ser dotado de um complexo repertório comportamental. Em estudos com leitões em creche, Bezerra et al., (2019) relataram que o enriquecimento ambiental com objetos facilmente adquiridos, como garrafas pet e correntes, proporcionou bons resultados comportamentais, principalmente quanto a redução de caudofagia, ociosidade, além de aumentar a interação entre leitões na fase de crescimento, o que justifica a demanda por mais estudos que exponham como os suínos se comportam com a presença de enriquecimento ambiental.
Devido ao exposto, este trabalho teve como objetivo principal observar como o enriquecimento ambiental implantado em instalações destinadas a suínos na fase de terminação afetam o comportamento dos animais ali alojados.
Material e Métodos
A realização do experimento ocorreu no Setor de Suinocultura do Instituto Federal de Minas Gerais/IFMG Campus Bambuí, localizado na zona rural do município de Bambuí - MG, na região Centro-Oeste de Minas Gerais. O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen (1931), é Cwa (temperado quente mesotérmico; chuvoso no verão e seco no inverno).
O experimento foi realizado durante um período de 30 dias, sendo utilizados 26 suínos da genética AgPic®, com idade média de 90 dias e cerca de 57 kg PV. O ensaio foi implantado em um delineamento inteiramente casualizado, com dois tratamentos, sendo T1 o tratamento controle sem enriquecimento ambiental, e T2 o tratamento com o ambiente enriquecido, com 13 repetições cada tratamento. Os objetos utilizados para enriquecer os ambientes do T2 foram pneus do modelo 175/70 R13 Sport, e estes ficavam suspensos por um fio de arame fixado na viga do telhado da instalação.
As baias eram coletivas, porém os animais eram observados individualmente de acordo com a metodologia por amostragem focal instantânea, citada por Gomes et al. (2018), três vezes ao dia, por um período de uma hora em cada observação, durante 30 dias consecutivos. A amostragem focal instantânea consiste na observação do animal de forma que não haja interferências externas, onde o observador fixa o olhar no animal, durante o tempo pré-determinado, não deixando de anotar nenhuma ação do indivíduo. Para que o uso da metodologia fosse possível foi necessário marcar os animais com suas respectivas identificações de acordo com o tratamento e o número da repetição.
As instalações das baias eram lado a lado e seguiam as seguintes metragens: 3,40 x 3,3m, com área total de 11,22 m², pé direito de 2,65 m, a área da lâmina d’água era de 90 cm de largura com 15 cm de profundidade. O muro de divisão entre as baias era de 1,00 m de altura, contendo uma porta de passagem medindo 0,8 m de largura x 1,00 m de altura, confeccionada em madeira, situada no meio do muro. A cobertura do prédio era de telha cerâmica, com a finalidade de reduzir o desconforto térmico causado pela incidencia solar conforme o clima da região.
Optou-se pelo pneu por ser um objeto feito de material maciço e que permite a mastigação, movimentação e, principalmente, não coloca em risco a saúde do animal. Durante três dias anteriores aos dias de experimento foram realizadas pré-observações com a finalidade de elaboração do etograma onde eram anotados as ações triviais dos animais de acordo com o quadro de comportamentos (Quadro 1). Para a elaboração do mesmo foram observados e anotados os comportamentos que eram realizados com maior frequência pelos suínos dos dois tratamentos.
Sui´nos em fase de terminac¸a~o mantidos em ambiente enriquecido - Image 1
Foram considerados os 30 dias de observação experimental com coleta de dados nos horários de 7h a 8h, 12h a 13h e 16h a 17h. Preocupou-se em manter a mesma pessoa como observador, evitando interferências externas sobre os comportamentos dos animais. As coletas eram realizadas de maneira que os animais não se assustassem com a presença do coletor dos dados, pois durante todos os dias, o observador chegava ao local e ficava um minuto parado no ponto de observação para que posteriormente fosse feita a anotação dos comportamentos visualizados.
Os dados foram verificados quanto à normalidade dos resíduos utilizando-se o teste de Shapiro-Wilk e homogeneidade das variâncias com uso do teste de Levene. Posteriormente, foi realizada uma estatística descritiva sobre os dados numéricos anotados e com as médias obtidas foram realizadas análises de variância e aplicado o teste Quiquadrado a 1 % de probabilidade utilizando o programa Sisvar (Ferreira, 2000).
Resultados e discussão
Conforme o observado na Tabela 1, o enriquecimento ambiental com o pneu alterou determinados comportamentos dos animais. Para os comportamentos “Brincando com o pneu” houve diferença significativa (P<0,01) entre tratamentos, mostrando assim que os suínos tiveram interesse neste objeto.
Sui´nos em fase de terminac¸a~o mantidos em ambiente enriquecido - Image 2
Carlstead e Shepherdson (2000), disseram que a redução do estresse, a diminuição de distúrbios comportamentais, a redução de intervenções clínicas, a diminuição da mortalidade e o aumento de taxas reprodutivas são alguns benefícios do enriquecimento ambiental.
Outra observação foi que, também houve diferença (P<0,01) para o comportamento “Dentro da lâmina d’água” e “Brincando entre eles”, sendo este maior nos suínos da baia sem enriquecimento, demonstrando que a forma que os suínos encontraram para diminuir o seu estresse seria aumentando o contato direto com os outros indivíduos e permanecendo por mais tempo dentro da lâmina d’água. Dos Santos et al., (2018), ao avaliar o uso de lâmina d’água como forma de enriquecimento ambiental em baias de piso de concreto na criação de animais na fase de creche, relataram que a presença da lâmina d’água proporcionou melhores condições de bem-estar, resultando em diferentes respostas comportamentais na lâmina d’água, sendo este mais expressivo no período da tarde, entretanto, não influenciou no ganho de peso dos animais, entretanto.
A introdução do pneu no ambiente teve como objetivo estimular os animais a explorarem mais o ambiente onde estão confinados, sendo que isso permitiu demonstrar que o estímulo surtiu o efeito esperado sob os animais. Os suínos tiveram maior interesse em brincar com o pneu adicionado na baia, demonstrando caráter mais exploratório (atributo inerente aos suínos), o que caracteriza maior bem-estar para os animais, o que também foi observado por Melotti et al., (2011).
Já Kiefer et al., (2009) trabalhando com suínos mantidos em diferentes temperaturas na fase de crescimento concluiu que os animais passaram, em média, apenas 10% do tempo avaliado em atividade (explorando o ambiente e buscando alimento). Apesar de não ter sido mensurado o tempo de permanência de cada comportamento, observou-se que os suínos da baia sem enriquecimento ambiental permaneceram em ócio por mais tempo, enquanto que os da baia com enriquecimento ficaram mais ativos e com uma maior movimentação na instalação. Bezerra et al., (2019) avaliando o enriquecimento ambiental de suínos na fase de creche, relataram que as fontes de enriquecimento estimularam comportamentos positivos nos leitões, tendo a corda se destacado como o mais atrativo.
Segundo Douglas et al., (2012) em seu trabalho com enriquecimento ambiental na fase de terminação discorrem que em ambientes enriquecidos o estado emocional dos animais se mostrou positivo, e isso trouxe melhorias ao seu bem-estar. Gomes et al., (2018), descrevem que animais em confinamento são restritos a expressar comportamentos compatíveis com aqueles que o ambiente lhes permite realizar, consequentemente, eles não conseguem realizar comportamentos característicos da espécie e começam a desenvolver comportamentos anormais, como estereotipias. O fato de os suínos em terminação permanecerem grande parte do dia dormindo ou deitados pode ser explicado pelo maior peso do animal e a dificuldade de se locomover na baia (Medeiros et al., 2014).
Jansen et al., (2009), investigando os efeitos do enriquecimento ambiental sobre as características cognitivas de suínos, relatam que os efeitos aparentes do enriquecimento ambiental sobre a aprendizagem e a memória em suínos podem refletir diferenças nos padrões exploratórios, e não nos processos cognitivos. Zwicker et al., (2013) em sua pesquisa avaliou oito tipos de dispositivos de enriquecimento, e concluíram que os materiais utilizados para enriquecimento ambiental com o tempo são considerados normais ou monótonos pelos suínos, e enfatizam a importância do tipo do enriquecimento para instigar o comportamento exploratório dos animais.
Ricci et al., (2018) avaliando o comportamento de machos suínos a partir da inserção de correntes e pneus como enriquecimento ambiental em confinamento, relataram que o pneu e melhor método de entretenimento quando comparado ao uso de correntes. Tal observação corrobora com os achados neste estudo, já que o enriquecimento com pneu transpareceu um efeito estatisticamente significativo sobre o interesse e comportamento dos animais.
Conclusões
O uso do pneu como forma de enriquecimento ambiental mostrou-se eficaz em transformar a baia em um espaço mais dinâmico e desafiador, dessa forma, aumentando o bem-estar de suínos em confinamento, favorecendo o comportamento padrão da espécie e contribuindo para a diminuição de incidências de possíveis estereotipias.
Devido aos achados literarios, o enriquecimento ambiental é uma alternativa viável para todas as fases de produção de suínos, visto ao ganho em bem-estar dos animais que pode ser refletido na produção dos mesmos.
Esse artigo foi originalmente publicado em Cad. Ciênc. Agrá., v. 13, p. 01–06, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.32720. 

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