Introdução
A ervilha forrageira é uma cultura de inverno destinada à cobertura vegetal do solo. Porém, o seu cultivo gera como resíduo o grão, o qual pode se constituir em um substituto parcial dos ingredientes convencionais utilizados para rações de suínos. A composição em nutrientes e os conteúdos de energia digestível e metabolizável do grão de ervilha dependem da variedade (Tomm & Lima, 2000; Lima et al., 2002). Entre as variedades cultivadas no Brasil, o teor médio de proteína é de aproximadamente 22%. Considerando-se os principais aminoácidos limitantes, sua proteína apresenta um conteúdo de lisina e treonina equivalente ou superior ao do milho e farelo de soja, mas o conteúdo de metionina e triptofano é inferior ao destes dois ingredientes. Por apresentar um conteúdo de proteína intermediário entre estes dois ingredientes, a inclusão do grão da ervilha na dieta de suínos substitui parcialmente ambos. O baixo conteúdo de fatores antinutricionais na ervilha favorece o seu uso nas rações animais sem a necessidade de processamento térmico.
Em função do cultivo da ervilha forrageira para cobertura do solo no inverno em algumas regiões produtoras de suínos do sul do Brasil, e do interesse dos produtores em utilizar seu grão como alimento para suínos, foi desenvolvido este estudo para avaliar o potencial de utilização do grão da ervilha forrageira na dieta de leitões na fase de creche.
Metodologia
Foi avaliada a inclusão do grão de ervilha forrageira na dieta de leitões nas fases pré-inicial e inicial, em níveis de 18 e 22%, respectivamente. Em cada fase foram comparadas duas dietas: dieta controle, baseada em milho e farelo de soja vs. dieta com ervilha substituindo parte do milho e do farelo de soja.
Foram utilizados 192 leitões, distribuídos em um delineamento de blocos casualizados, com quatro blocos no tempo. Os animais foram alojados em número de 24 por baia, sendo 4 baias (unidades experimentais) por tratamento. O experimento foi conduzido em uma granja comercial.
Nos dois primeiros blocos foram utilizadas rações formuladas inteiramente na Embrapa (Tabela 1), enquanto que nos blocos 3 e 4 foi utilizado um núcleo comercial (Tabela 2) para compor as rações pré-inicial e inicial. A ervilha utilizada neste estudo apresentava a seguinte composição nutricional: 84,62% de matéria seca, 18,89% de proteína bruta, 0,86% de extrato etéreo, 6,39% de fibra bruta, 2,40% de cinzas, 0,08% de cálcio e 0,25% de fósforo total. Assumiu-se um valor de 3250 kcal de energia metabolizável/kg. A atividade ureática (pH) era de 0,01 e o grau de solubilidade protéica 90,96%.
Os animais foram desmamados com média de idade de 23 a 32 dias, dependendo do bloco, mas com a idade distribuída de forma balanceada entre os tratamentos. A ração pré-inicial foi fornecida por 14 dias após o desmame em todos os blocos, sendo que a ração inicial foi fornecida por 24, 22, 17 e 18 dias, respectivamente, nos blocos 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Os dados foram submetidos à análise de variância de acordo com o modelo para blocos casualizados. O nível de significância foi considerado o de 10%, pelo teste de F. Também foi realizada a análise econômica da viabilidade de utilização da ervilha compondo dietas inicial e pré-inicial formuladas com núcleo comercial.
Resultados
Os resultados estão apresentados na Tabela 3. A inclusão de ervilha na dieta dos leitões nas fases préinicial e inicial não influenciou o ganho de peso e o consumo de ração dos leitões, mas piorou significativamente a conversão alimentar na fase préinicial. Na fase inicial a diferença na conversão alimentar causada pela ervilha foi reduzida, deixando de ser significativa. Considerando-se as fases préinicial e inicial isoladamente, os resultados indicam um maior potencial de uso da ervilha nas dietas iniciais do que nas pré-iniciais, em função da conversão alimentar. Porém, considerando-se que no período total de creche nenhuma das variáveis de desempenho foi significativamente afetada com a inclusão da ervilha e levando-se em consideração apenas este parâmetro, pode-se concluir que é tecnicamente viável a utilização da ervilha na alimentação de leitões em todo o período de creche. No entanto, em termos econômicos, a viabilidade da utilização da ervilha estará na dependência, principalmente, da relação de preços entre o milho, o farelo de soja, o núcleo (pré-inicial e inicial) e a ervilha. Desta forma, a utilização da ervilha será viável se o custo da ervilha consumida for menor que a redução de custo decorrente da mudança no consumo de milho, farelo de soja e núcleo.
No caso da ração pré-inicial, em decorrência do pior desempenho proporcionado pela ração que contém ervilha, a mesma eficiência produtiva ocorrerá quando as quantidades consumidas de ração forem suficientes para produzir a mesma quantidade de peso vivo. Desta forma, devido à diferença de conversão alimentar observada entre a ração controle e a ração contendo ervilha tem-se que: 100 kg de ração pré-inicial controle tem o mesmo efeito, em termos de produção de peso vivo, de 113,16 kg de ração com ervilha.
100,00*[43,97PM+31,03PFS+25,00PN]³113,82*
[28,65PM+28,35PFS+18,00PEr+25,00PN]
onde:
PM - preço do milho
PFS - preço do farelo de soja
PN - preço do núcleo
PEr - preço da ervilha.
Todos os preços estão expressos em R$/kg.
Efetuando-se manipulações algébricas tem-se que:
Preço da Ervilha £ 11,36PM - 1,24PFS - 3,46PN 20,49
Para a ração inicial os resultados mostram que não existe diferença de desempenho com a utilização da ervilha. Desta forma, tem-se que:
100 kg de ração controle tem o mesmo efeito, em termos de produção de peso vivo, de 100 kg de ração com ervilha.
100,00*[59,42PM+35,58PFS+5,00PN]³100,00* [44,16PM+28,84PFS+22,00PEr+5,00PN]
Novamente, efetuando-se manipulações algébricas tem-se que:
Preço da Ervilha £ 15,26PM + 6,74PFS 22,00
Desta forma, para um preço por Kg, do milho de R$ 0,329, do farelo de soja de R$ 0,575, do núcleo pré inicial de R$ 4,229 e do núcleo inicial de R$ 3,329, o preço máximo do kg da ervilha que viabilizaria o seu uso na ração pré inicial e inicial seria, respectivamente, R$ -0,56 e R$ 0,40. Nesta situação, portanto, em decorrência do maior consumo de milho, farelo de soja e núcleo pré-inicial, para o mesmo ganho de peso, o uso da ervilha na ração pré inicial é inviável em termos econômicos.
Para a ração inicial a sua viabilidade dependerá do custo de acesso à ervilha pelo produtor, devendo utilizar-se as fórmulas acima para analisar a viabilidade econômica em cada situação específica que envolva diferentes combinações de preços entre os ingredientes.
Para o produtor, as possibilidades de acesso à ervilha são: compra, produção de ervilha de mesa e produção de ervilha forrageira. A compra ou produção da ervilha de mesa inviabiliza o seu uso na ração devido ao seu alto preço. Por outro lado, a utilização de ervilha forrageira como resíduo da cobertura do solo, ou a utilização do refugo da comercialização da ervilha de mesa pelo seu baixo preço de mercado poderá tornar viável o seu uso. No caso da utilização da ervilha como resíduo da cobertura do solo, o custo computado no grão seria somente o custo de colheita.
Conclusões e Recomendações
Para os níveis de inclusão do grão de ervilha avaliados neste estudo, e considerando-se somente a viabilidade técnica da sua utilização em rações de suínos na fase de creche, pode-se recomendar sua utilização nas fases pré-inicial e inicial. Porém, do ponto de vista econômico, é necessário avaliar a viabilidade de sua utilização em cada situação de combinações de preços entre os ingredientes que compõe a ração. A utilização da ervilha será viável se o custo da ervilha consumida for menor do que a redução de custo decorrente da mudança no consumo de milho, farelo de soja e núcleo.
Referências Bibliográficas
LIMA, G.J.M.M.; TOMM, G.O. ; BELLAVER, C. Ervilha: uma nova opção de alimento para suínos. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2002. 3p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado Técnico, 318). Disponível em: <http://www.cnpsa.embrapa. br/sgc/sgc_publicacoes/cot318.pdf>. Acesso em: 20 maio 2007.
TOMM, G.O. ; LIMA, G.J.M.M. Desenvolvimento da cultura de ervilha para alimentação animal no Sul do Brasil. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2000. 11p. (Embrapa Trigo. Comunicado Técnico, 54). Disponível em: <http://www.cnpt.embrapa.br/ biblio/p_co54.htm>. Acesso em: 30 Ago. 2007.