Descrição da granja
A granja, com capacidade para 500 matrizes, tem apenas 9 meses de expansão e possui sistema de produção de ciclo completo. O esquema de vacinação utilizado abrange doenças reprodutivas (Leptospira, parvovírus e erisipela), Rinite atrófica e Encefalite Estreptocócica. Com objetivo de crescimento rápido, começou- se a não respeitar o esquema de vazio sanitário na granja.
O gerente da granja começou a se preocupar com o elevado gasto de medicamentos injetáveis na granja (frascaria) que se destinava a medicar um considerável número de leitões de maternidade com diarréia de coloração amarelada. Querendo gerar economia e resolver o mais rápido possível o problema, resolveu observar e analisar o tratamento com antibióticos e quimioterápicos. Após quatro dias de observação, notou que o tratamento com antibióticos não estava sendo eficaz para resolver o problema, pois independente do seu uso havia melhora ou cura da diarréia, mas enfraquecimento dos leitões. Ao perceber que a situação estava piorando, o gerente comunicou ao proprietário, que chamou o veterinário para uma consulta na granja.
Primeira visita
Em visita à granja, o veterinário analisou os índices zootécnicos e percebeu que, apesar dos índices gerais satisfatórios, porém na maternidade os animais apresentavam um crescimento lento e refugagem considerável.
Durante a inspeção das baias, o veterinário verificou que mais ou menos 50% dos leitões na maternidade, com menos de 20 dias, apresentavam diarréia. Segundo o gerente, os primeiros sintomas apareciam entre 7 e 15 dias de idade e caracterizavam-se por diarréia amarelada e fétida, seguida de desidratação. A mortalidade era baixa, em torno de 1,5% nos animais acometidos de diarréia.
Medidas
O veterinário resolve coletar as fezes dos leitões do 6º ao 21º dia de vida, fazendo um pool de fezes (não diarreicas) por leitegada para Exame Parasitológico. Também foram coletadas 15 amostras de fezes dos leitões que apresentaram diarréia, por meio de swab via retal. Todas as amostras foram enviadas ao laboratório, sob refrigeração. As amostras diarreicas foram submetidas à Cultura e Pesquisa Microbiológica com o objetivo de se detectar agentes envolvidos na diarréia do plantel estudado. Os agentes pesquisados nas fezes diarreicas dos leitões foram Escherichia coli, Clostridium perfringens e Salmonella sp.
Conduta do Veterinário
Por se tratar de um surto característico de doença entérica e pela tentativa sem sucesso de tratamento antibiótico/quimioterápico, o veterinário achou prudente esperar os resultados laboratoriais, para indicar novas condutas terapêuticas, porém adotou medidas sanitárias preventivas. Revisou a limpeza e desinfecção, reforçou a utilização de detergentes como forma de retirar resíduos de gordura presentes no leite e fezes dos leitões, reforçou a necessidade de isolar baias com problemas assim como os equipamentos de limpeza das baias com problemas, proibiu o acesso de cães e gatos nas instalações para limitar a disseminação mecânica dos agentes patógenos, assim como foi reforçado o controle de moscas. O consumo das porcas e sua boa produção de leite foi verificada e não foram observadas anormalidades.
Resultados dos Exames
Segunda visita
A visita ocorreu uma semana depois. O veterinário, com os resultados dos exames laboratoriais, explica o caso ao proprietário e ao gerente. As diarréias são comuns em leitões e podem ser desencadeadas pelos mais diversos microrganismos (Salmonella sp., Clostridium sp., E. coli, coccídios, rotavírus, etc), e/ou condições ambientais e de manejo sanitário (limpeza e desinfecção) deficientes, o que pode Ter desencadeado o problema. Os resultados demonstraram que a diarréia, possivelmente iniciada com a coccidiose, apresenta-se associada a outros agentes como Escherichia coli e Clostridium sp que, presentes na granja, contribuem para um desafio contínuo. Na granja, a presença de coccidiose determinou a ocorrência de enterite (Clostridium sp) e colibacilose (Escherichia coli).
Comentários
A coccidiose suína é causada pelo Isospora suis. Ocorre mais freqüentemente em leitões de 5 a 14 dias de vida e é o principal agente de diarréia em leitões. Coccidiose ocorre quando o hospedeiro ingere os oocistos esporulados, presentes nas instalações da maternidade. Esses oocistos são encontrados nas fezes e nas superfícies das instalações, geralmente deixados pelas leitegadas anteriores ou pela porca. Depois de ingeridos pelo leitão, os oocistos começam um estágio de maturação, enquanto se movem em direção ao intestino. No intestino delgado, esses coccídios penetram na mucosa intestinal, passando por vários estágios do seu ciclo de vida. Após 5 a 7 dias de instalada, as células se rompem levando a um quadro de diarréia, desidratação, refugagem ou baixo peso e, em menor porcentagem, morte.
Tratamento e Controle
A prevenção é a melhor forma de controlar a doença. O tratamento da coccidiose normalmente traz poucos benefícios, exceto para tratar infecções bacterianas secundárias, pois quando surgem os sintomas clínicos, já ocorreu destruição da mucosa intestinal de forma irreversível . Para prevenir e controlar a doença, devemos atuar de modo a quebrar o ciclo de vida dos coccídios, o máximo possível, para que haja uma redução radical do número de oocistos no meio ambiente. Isso pode ser alcançado por meio de boas medidas sanitárias e constante higiene na maternidade aliadas à administração de drogas coccidicidas de eficácia comprovada, preventivamente aos leitões já na primeira semana de vida. Tratar a porca com drogas anticoccidianas na ração tem valor limitado uma vez que as porcas não são a principal fonte de infecção para os leitões recém-nascidos. O tratamento das infecções por Escherichia coli e Clostridium sp foi feito de acordo com o resultado do antibiograma, indicando, assim, a droga mais eficiente e sensível que obtivesse melhor resultado para os dois patógenos. Dentro de um programa de prevenção foi instituída a Vacinação das Porcas durante a gestação para quebrar o ciclo da doença na granja.
Recomendações
O tratamento preventivo de leitões antes da idade propícia ao aparecimento dos sintomas reduz significativamente a eliminação de oocistos no ambiente, impossibilitando a reinfestação de novos leitões. A coccidiose pode ser evitada com limpeza rigorosa, dada a alta resistência no ambiente do coccídio, medidas sanitárias e o fluxo de produção todos dentro/todos fora.