Projeto financiado pela FAPEMIG.
Resumo:
Foram utilizados dados de 110 leitões mestiços, machos castrados, sendo que 60 foram mantidos em conforto térmico e 50 em estresse de calor, dos 15 aos 30 kg, para avaliar o efeito do ambiente térmico sobre parâmetros fisiológicos e hormonais. A taxa respiratória, as temperaturas de superfície da nuca, pernil dianteiro e traseiro foram, respectivamente, 66,7, 8,6, 9,3, 10,5% maiores nos animais mantidos em ambiente de calor, enquanto a temperatura retal não foi influenciada. O nível sérico da triiodotironina livre, foi 18,1% menor para os animais em alta temperatura, não sendo observado efeito sobre a concentração de tiroxina livre.
Introduçâo
O animal porta-se como um sistema termodinâmico, que continuamente troca energia com o ambiente. Neste processo, os fatores externos do ambiente tendem a produzir variações internas no animal, influindo na quantidade de energia trocada entre ambos, havendo, então, necessidade de ajustes fisiológicos para a ocorrência do balanço de calor (BAÊTA e SOUZA, 1997).
De acordo com PERDOMO (1994) a reação do suíno ao estresse por calor, pode ser constatada do ponto de vista fisiológico, pelas alterações na temperatura corporal, movimentos respiratórios e cardíacos. Mudanças no metabolismo animal também podem ser observadas quando os animais são expostos a temperaturas adversas, vários autores, segundo o NATIONAL RESEARCH COUNCIL-NRC (1981), sugerem que o ambiente quente diminui a atividade da tireóide e que as temperaturas frias aumentam sua atividade em várias espécies, resultando em modificação da taxa metabólica dos animais e, consequentemente, da produção de calor interna.
Este trabalho foi proposto com o objetivo de avaliar o efeito da temperatura ambiente calor e conforto sobre os parâmetros fisiológicos e hormonais de suínos machos castrados, dos 15 aos 30 kg.
Material e Métodos
Foram utilizados dados de 110 leitões mestiços machos castrados sendo que 60 foram mantidos em ambiente de conforto e 50 em ambiente de estresse por calor.
Os animais em grupos de dois foram alojados em gaiolas metálicas, suspensas, com piso ripado e laterais telados, providas de comedouro semi-automático e bebedouro, tipo chupeta, mantidos em sala de alvenaria com piso de creche, com controle de temperatura. As temperaturas de 23 e 33° C foram escolhidas para representar os ambientes de conforto e de alta temperatura para suínos na fase de creche
As condições ambientais no interior das salas foram monitoradas durante todo o período experimental três vezes ao dia, por meio de termômetros de bulbo seco e bulbo úmido, de máxima e mínima, e de globo negro, mantidos no centro da sala, a meia altura do corpo do animal, por melhor representar o ambiente animal. As leituras dos termômetros foram convertidas em um único valor (Índice de Temperatura de Globo e Umidade - ITGU) para caracterizar o ambiente térmico a que os animais estão submetidos.
As rações experimentais isoenergéticas foram formuladas a base de milho, farelo de soja e devidamente suplementadas com minerais e vitaminas, conforme recomendação da ROSTAGNO et al. (1992). Os níveis de proteína bruta (17, 18, 19, 20 e 21%), foram obtidos por meio através de variação proporcional na quantidade de milho, farelo de soja e glúten de milho.
A cada 5 dias foram realizadas medidas da temperatura retal dos animais, com termômetro clínico introduzido no reto por um minuto, e determinada a frequência respiratória, por meio da contagem dos movimentos do flanco do animal durante 15 segundos, sendo este resultado multiplicado por quatro, para se ter o numero de movimentos respiratórios por minuto. Também foram medidas as temperaturas de superfície da nuca, pernil dianteiro e traseiro, por meio de termômetro de laser sem contato direcionado transversalmente ao local, após a devida depilação
Ao final do período experimental, quando os animais atingiram peso médio de 30 kg, foi coletado sangue para determinação das concentrações séricas dos hormônios da tireóide (triiodotironina-T3 e tiroxina-T4), por meio de "Kits" de determinação imunoenzimática.
As análises estatísticas das taxa respiratória, temperaturas retal e de superfície e do nível sérico de T3 e T4 foram realizadas utilizando-se o programa ANOVAG, contido no pacote computacional SAEG (Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas), desenvolvido pela UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV (1982)
Resultados e discussões
A temperatura interna da sala manteve-se durante todo o período experimental em 23,1 ± 1,19 e 32,9 ± 0,92° C, 2,9° C, com umidade relativa de 80,6 ± 4,59 e 72,4 ± 5,10%, temperatura do globo negro de 22,7 ± 1,02 e 32,8 ± 0,68° C e Índice de Temperatura do Globo e Umidade de 69,8 ± 1,38 e 82,7 ± 0,87, respectivamente para as condições de conforto e alta temperatura.
Os resultados de taxa respiratória, temperatura retal e temperaturas de superfície da nuca, pernil dianteiro e traseiro dos leitões mantidos em ambiente de conforto (23° C) e alta temperatura (33° C), dos 15 aos 30 kg, estão apresentados no Quadro 1.
Os animais mantidos em ambiente de alta temperatura apresentaram taxa respiratória 66,7% superior àqueles mantidos no conforto, concordando com FIALHO (1994) que relatou que um dos principais mecanismos de perda de calor nos suínos é a evaporação, que ocorre, principalmente, pelas vias respiratórias, ocasionando aumento da taxa respiratória do animal e também com resultados obtidos por OLIVEIRA et al. (1997). A temperatura ambiente influenciou as temperaturas de superfície da nuca, pernil dianteiro e traseiro que foram 8,6, 9,3, 10,5% maiores nos animais mantidos em ambiente de alta temperatura. Estes resultados permitem inferir que os processos sensíveis de troca de calor (condução, convecção e radiação), passaram a ser menos eficientes, enquanto o processo latente passou a ser se extrema importância.
Os resultados das concentrações séricas dos hormônios da tireóide dos leitões mantidos em ambiente de conforto (23° C) e alta temperatura (33° C), dos 15 aos 30 kg estão apresentados no Quadro 2.
Os animais mantidos em ambiente de alta temperatura apresentaram diminuição de 18,1% dos níveis séricos de hormônio triiodotironina livre (T3), enquanto os níveis séricos do hormônio tiroxina livre (T4), não foram influenciados. Esses resultados obtidos corroboram o relato de HABBEB et al. (1992) que dentre os hormônios da tireóide, a triiodotironina está mais ligada à termogênese.
ConclusãoA temperatura ambiente influencia os parâmetros fisiológicos e hormonais dos suínos, os animais dispõem de ajustes físicos e químicos objetivando a manutenção da homeotermia quando submetidos a situação de alta temperatura.
Referência Bibliografica1- BAÊTA, F.C., SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa, MG: UFV, 1997. 246p.
2- NATIONAL RESEARCH COUNCIL-NRC. Effect of environmental on nutrient requeriments of domestic animals. Washington, DC: NRC, NAS, 1981. 52p.
3- FIALHO, E.T. Influência da temperatura ambiental sobre a utilização da proteína e energia em suínos em crescimento e terminação. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE NUTRIÇÃO DE SUÍNOS, 1994, São Paulo. Anais ... São Paulo: CBNA, 1994. p.63-83.
4- HABBEB, A.A.M., MARAI, F.M., KAMAL, T.H. Heat stress. In: PHILIPS, C., PIGGINS, D. Farm animals and environment. Wallingford: CAB. International, 1992. p.27-47.
5-OLIVEIRA, R.F.M., DONZELE, J.L., FREITAS, R.T.F., FONSECA, F.A. Níveis de energia digestível para leitões dos 15 aos 30 kg de peso mantidos em ambiente de conforto térmico. Revista brasileira de Zootecnia, v. 26, p.539-547, 1997.
6-PERDOMO, C.C. Conforto ambiental e produtividade de suínos. In: SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE NUTRIÇÃO DE SUÍNOS, 1994, São Paulo. Anais... São Paulo: CBNA, 1994. p.19-26.
7- ROSTAGNO, H.S., SILVA, D.J., COSTA, P.M.A., et al. Composição de alimentos e exigências nutricionais de aves e suínos: Tabelas Brasileiras. Viçosa, MG:UFV, 1992. 59p.
8-UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA-UFV. Manual de utilização do programa SAEG. Viçosa-MG, 1982. 59p.