1.1. INTRODUÇÃO
O aumento da rentabilidade do sistema de produção consiste em um dos principais objetivos da suinocultura moderna, sendo as principais áreas de mudanças o melhoramento genético, a nutrição e o manejo. Neste contexto, o desmame representa um importante manejo, que em condições naturais ocorre de forma gradual no período entre 14 e 17 semanas de idade dos leitões (JENSEN, 1986). Porém, na suinocultura industrial, com foco no aumento da produtividade das porcas, o desmame dos leitões é realizado geralmente entre os 21 e 28 dias de idade.
Notadamente, o desmame precoce é prática muito estressante aos leitões, que são expostos a bruscas alterações nutricionais (mudança do alimento, da forma líquida para a sólida), sociais (perda do contato com a porca e mistura com animais de outras leitegadas) e ambientais (após serem alojados em estruturas diferentes daquelas nas quais permaneciam em contato com a mãe) (DONG e PLUSKE, 2007).
Desse modo, o período pós-desmame é caracterizado como sendo de queda de desempenho zootécnico dos leitões e, dependendo das restrições impostas no período pré e pós-desmame, pode-se verificar comprometimento do desempenho nas fases subsequentes. Uma série de fatores e suas interações estão potencialmente relacionadas com o desempenho dos animais neste período; são exemplos a idade e o peso ao desmame, a composição da dieta, o consumo de ração, a maturidade digestiva, o nível de estresse do manejo, as condições do ambiente e o status sanitário dos animais (MAHAN e LEPINE, 1991).
Sendo assim, o objetivo da revisão foi relacionar as características dos leitões com o consumo alimentar nos períodos pré e pós-desmame.
1.2. ASPECTOS FISIOLÓGICOS DE LEITÕES JOVENS RELACIONADAS A NUTRIÇÃO
O trato gastrointestinal (TGI) dos leitões jovens é um ambiente extremamente complexo. Nas primeiras semanas de vida, o intestino apresenta alta taxa de crescimento, com elevado turnover celular, sofrendo mudanças tanto na microbiota como em suas funções digestivas (PLUSKE et al., 1997), sendo que até a quinta semana de idade o sistema digestório está melhor adaptado para digerir componentes do leite, como lactose, caseína e gordura (KIDDER e MANNERS, 1978).
Nos leitões, a atividade das enzimas pancreáticas responsáveis pela digestão de alimentos de origem vegetal é baixa ao nascimento e aumenta ao longo do período de aleitamento (LINDEMANN et al., 1986). Segundo os mesmos autores, ao desmamar os leitões precocemente ocorre redução abrupta na atividade dessas enzimas, sendo que, nas semanas seguintes ocorre novamente um aumento gradual. Em adição, MAHAN e LEPINE (1991) citam que a secreção de enzimas digestivas e os tipos de enzimas secretadas pelos leitões jovens estão condicionados à idade e a exposição aos substratos específicos.
LEIBBRANDT et al. (1975) observaram em leitões desmamados com duas, três e quatro semanas de idade, com acesso a dieta à base de milho e farelo de soja (durante o aleitamento) no comedouro seletivo (creep feeding), que o consumo de ração e o ganho de peso aumentou mais rapidamente após o desmame à medida que a idade de desmame aumentou. Com isso, os autores concluíram que existe efeito da idade sobre a capacidade de adaptação às dietas no pós-desmame e que, possivelmente, esse efeito tem relação com os diferentes níveis de atividade enzimática em cada uma das idades, bem como, com os diferentes graus de adaptação enzimática ao substrato proporcionado pelo alimento no creep feeding.
Além disso, DAVIS et al. (2006) observaram que leitões desmamados mais tardiamente apresentam menor estresse, com consequente aumento no consumo de ração. Porém, uma importante constatação foi feita por LEIBBRANDT et al. (1975) é que independente da idade de desmame dos leitões (duas, três e quatro semanas de idade), houve retardo de uma semana, aproximadamente, no crescimento após o desmame.
Assim como a produção de enzimas não é satisfatória para um desmame precoce, a secreção de ácido clorídrico no estômago também é baixa em leitões jovens, quando tem o leite como principal alimento. Neste caso, a principal fonte de acidez é a fermentação bacteriana da lactose do leite em ácido láctico, o qual inibe a secreção ácida estomacal (CRANWELL et al., 1976), sendo que esta condição ácida durante o período de aleitamento auxilia no processo de digestão e evita o crescimento de bactérias patogênicas.
Porém, ao realizar o desmame de forma precoce e com troca abrupta de dieta (tanto em sua composição como na forma de apresentação), não existem condições adequadas de atividade enzimática e manutenção do pH estomacal. Consequentemente, a digestibilidade dos alimentos de origem vegetal não é adequada (KIDDER e MANNERS, 1978).
A transição das dietas fornecidas aos leitões, inicialmente à base de leite e na sequência formada basicamente por ingredientes de origem vegetal, foi dividida por BURRIN e STOLL (2003) em duas fases: a primeira caracteriza-se como fase aguda, que corresponde ao período necessário para o leitão aprender a comer e retomar o nível de consumo de matéria seca compatível com a fase pré-desmame, ou seja, de cinco a sete dias pós-desmame; em seguida vem a fase de adaptação. Sendo que, na fase aguda, devido ao baixo consumo de ração, o requerimento de energia para a manutenção geralmente não é atingindo (LE DIVIDICH e HERPIN, 1994).
A transição da dieta entre os períodos pré e pós-desmame, associada à redução do consumo de matéria seca e a presença de fatores alergênicos na dieta, causa ainda alterações na morfologia intestinal, que incluem atrofia das vilosidades intestinais, com alteração na forma cônica para achatada e hiperplasia das células na cripta. A consequência dessa alteração é redução expressiva na atividade das enzimas da borda em escova e na absorção no epitélio intestinal (DONG e PLUSKE, 2007).
Segundo BEERS-SCHREURS et al. (1998), o grau de atrofia das vilosidades está mais estreitamente associado com o nível de alimentação, sendo mais severa nos grupos com menor consumo de matéria seca, do que com a composição da dieta (dieta sólida em relação ao leite da porca). Nesse sentido, considerando o fato de que a integridade da mucosa intestinal está mais relacionada com a manutenção do consumo do que com a composição da dieta, a manutenção do consumo alimentar pelo leitão torna-se fundamental (BEERS-SCHREURS et al., 1998).
1.3. RELAÇÃO ENTRE PESO AO DESMAME E DESEMPENHO DOS ANIMAIS
Atualmente o sistema de manejo mais utilizado na suinocultura para transferência dos animais é o “todos dentro, todos fora” (all in all out). Esse sistema no desmame geralmente resulta em maior variação de peso e idade dos leitões e, como consequência, os leitões podem apresentar faixa de idade entre 16 a 26 dias e de peso entre 3,5 a 9,0 kg em programas semanais de desmame com média de 21 dias de idade (MAHAN e LEPINE, 1991). Informações semelhantes foram obtidas por MAHAN (1995) que, ao analisar um grupo de 6000 leitões desmamados aos 21 dias de idade, encontrou 25% de animais com peso inferior a 5,1 kg e outros 25% com peso acima de 6,9 kg.
O peso dos leitões ao desmame, associado ao peso ao nascimento e ao consumo de leite durante o aleitamento, tem relação positiva com o crescimento subsequente (WOLTER et al., 2002). ISLEY et al. (2001) mostraram que o melhor preditor do peso ao abate seria o ganho de peso pós-desmame, seguido do peso ao desmame e por último o peso ao nascer.
GRAHAM et al. (1981) demonstraram que o ganho de peso dos leitões no pós-desmame é influenciado pelo peso ao desmame, sugerindo que os leitões mais pesados podem se adaptar mais rapidamente a uma dieta à base de grãos de cereais do que os leitões mais leves. Além disso, DE PASSILE et al. (1989) demonstraram que leitões pesados possuem maior nível e atividade de amilase e quimiotripsina aos 21 dias de idade.
De maneira semelhante, MAHAN et al. (1998) demonstraram que leitões mais leves ao desmame, devido à combinação de baixo peso ao nascimento e à baixa quantidade de leite consumido durante o aleitamento, apresentam menores taxas de crescimento pós-desmame e necessitaram de mais dias para atingir o peso de abate em comparação a leitões pesados ao desmame. Segundo os mesmos autores, leitões pesados tem maior consumo de ração e ganho de peso durante o período imediatamente pós-desmame que leitões menores.
WOLTER e ELLIS (2001) observaram que uma diferença de 0,3 kg ao nascimento (1,4 kg vs. 1,7 kg) corresponde a diferença de cerca de 1,5 kg ao desmame e 2,1 kg na saída da creche (56 dias de idade), além de representar uma necessidade de nove dias a mais para atingir o peso de abate (110 kg).
1.4. CREEP FEEDING E COMPOSIÇÃO DE DIETAS PRÉ-INICIAIS
O fornecimento de creep feeding para leitões durante o aleitamento é justificado devido a duas condições: a primeira se deve a disponibilidade de nutrientes pela porca durante o aleitamento ser considerada importante fator limitante no crescimento pós-natal dos leitões. HARRELL et al. (1993) observaram desempenho superior de suínos de alto potencial genético alimentados artificialmente com dieta líquida dos três aos 23 dias de idade em relação a leitões que permaneceram com a porca (oito leitões por porca), demonstrando que a produção de leite da porca pode limitar o crescimento dos leitões já na primeira semana de idade. A segunda condição deve-se ao fato de a produção das enzimas endógenas ser induzida pelo substrato. Sendo assim, segundo DE PASSILLE et al. (1989), o consumo de ração durante o aleitamento antecipa e promove o desenvolvimento intestinal e enzimático, o qual pode auxiliar o leitão no consumo e aproveitamento da dieta, quando esta for o principal alimento após o desmame.
No entanto, as evidências científicas dos efeitos benéficos do creep feeding são inconsistentes. Deve-se, porém, considerar que o consumo do alimento no creep feeding é influenciado por vários fatores como a composição e forma física da dieta, produção de leite da porca, idade do leitão, ambiente, estado sanitário, vigor dos leitões e disponibilidade de água (SULABO, 2009). Ainda, segundo BRUININX et al. (2002), estudos sobre o benefício do creep feeding usam geralmente o valor de consumo de toda a leitegada, mas dentro de uma leitegada existem leitões consumidores e não consumidores. Os referidos autores usaram óxido crômico como indicador de consumo de ração pré-desmame e observaram que leitões consumidores de ração durante o período de aleitamento (desmame 28 dias) obtiveram maior consumo inicial de ração e desempenho pós-desmame em relação aos que não consumiram ração no creep feeding.
É importante ressaltar que a estratégia nutricional, tanto no pré como no pós-desmame, não deve considerar somente o estímulo ao consumo de matéria seca, mas também as limitações e o progresso no desenvolvimento do sistema digestório do leitão. Por isso são necessários ingredientes que além de altamente palatáveis, sejam altamente digestíveis (AHERNE et al., 1992). Derivados lácteos, farelo de bolacha, farinha de peixe, plasma sanguíneo spraydried e grãos processados são exemplos de ingredientes amplamente utilizados nessas dietas pré-iniciais denominadas “complexas” (DEROUCHEY et al., 2007). LI et al. (1990) citam a importância dos cuidados que devem existir com a inclusão de farelo de soja, pois altas quantidades podem causar reações alérgicas e hipersensibilidade transitória no intestino de leitões jovens.
SULABO (2009) comparando dietas simples, à base de sorgo e farelo de soja, com dietas complexas, ambos em creep feeding, observaram que leitegadas que receberam dieta complexa consumiram duas vezes mais ração (1,24 vs. 0,62 kg) que leitegadas com dieta simples. De acordo com SULABO (2009) não houve apenas um aumento do consumo de ração, mas também observou aumento do número de animais consumidores dentro da leitegada (28% vs. 68%) e da uniformidade da mesma.
Ou seja, segundo o mesmo autor, qualquer ação que aumente o número de animais consumidores é vantajosa, pois estes estarão mais adaptados, o que melhora o desempenho pós-desmame. A complexidade da dieta pré-inicial pode trazer benefícios no desempenho dos leitões, principalmente no período imediatamente após o desmame.
WHITTEMORE (1993) observou que o consumo voluntário da ração no desmame é limitado pela digestibilidade da dieta. DRITZ et al. (1996), ao fornecer uma dieta simples, à base de milho e farelo de soja, verificaram redução do ganho de peso dos leitões em relação aos animais alimentados com dietas complexas, a qual atribuíram ao baixo consumo de ração e digestibilidade da dieta.
WOLTER et al. (2003) observaram que durante as duas primeiras semanas após o desmame, leitões alimentados com dietas simples apresentaram menor ganho de peso (19,2%), consumo de ração (14,2%) e eficiência alimentar (6,0%) do que os alimentados com dietas complexas. Porém, esse aumento no desempenho, associado ao aumento da complexidade da dieta, foi mais pronunciado no período imediato após o desmame.
O desempenho resultante da utilização de um ingrediente especial depende de vários fatores, como por exemplo idade dos animais, dos níveis nutricionais da dieta e dos demais ingredientes utilizados. É importante ressaltar que o uso de ingredientes especiais, com base no conceito de dietas complexas, representa um maior custo da dieta, portanto, um programa nutricional de creche eficaz deve proporcionar transição a partir de dietas complexas para dietas mais simples, à base de milho e farelo de soja, o mais breve possível, sem causar prejuízo no crescimento dos animais (DEROUCHEY et al., 2007).
1.5. FORMA FÍSICA DA DIETA PARA LEITÕES
O processamento da dieta também é uma opção para melhorar a digestibilidade dos ingredientes (HANCOCK e BEHNKE, 2001). O principal tipo de ração para suínos utilizado por produtores independentes no Brasil é na forma farelada e seca, à base de cereais que foram moídos e misturados com outros ingredientes para compor o alimento completo.
Porém, há no mercado a opção de diferentes tipos de processamento, além da moagem, que determinarão a forma física, como peletização, extrusão, expansão e suas combinações, podendo o alimento ser ofertado aos animais na forma seca ou úmida. O custo e a melhora nos resultados é que determinarão a viabilidade da utilização de um ou outro processamento nas dietas pré-iniciais de leitões.
A moagem da matéria prima é uma etapa importante do processo de produção de ração, sendo que, independente da forma física final, os ingredientes e a dieta terão uma determinada granulometria. Para suínos, a redução do tamanho das partículas, medida pelo DGM (diâmetro médio geométrico), aumenta a superfície de contato e permite maior interação do alimento com as enzimas digestivas (HANCOCK e BEHNKE, 2001). No entanto, na medida em que se reduz o tamanho das partículas, aumenta-se o custo energético do processo, além de aumentar também a predisposição ao desenvolvimento de úlceras gástrica nos suínos (HEALY et al., 1994).
HEALY et al. (1994), ao avaliarem leitões desmamados aos 21 dias e alimentados com dietas complexas peletizadas contendo milho ou sorgo, com DGM variando de 300, 500, 700 e 900 µm, observaram que o DGM ideal dos cereais é de aproximadamente 500 µm, considerando o melhor desempenho zootécnicos de leitões na creche. No entanto, deve-se considerar que o DGM dos cereais não deve deixar a dieta muito pulverulenta, principalmente em dietas complexas na forma farelada, pois este fato pode afetar o consumo de ração dos animais.
MOREIRA et al. (2001), ao substituírem o milho comum por milho pré-gelatinizado em dietas complexas fareladas para leitões desmamado com 21 dias de idade, verificaram menor consumo de ração e atribuíram o resultado a textura fina do milho pré-gelatinizado (420 µm). KIM et al. (2002) compararam os valores nutricionais do milho com dois DGM (500 e 1000 µm), em dietas simples e complexas peletizadas para leitões desmamados aos 21 dias de idade, e observaram que a redução do DGM do milho pode causar aumento mais expressivo no ganho de peso dos leitões alimentados com dietas simples, em relação às complexas.
Os tipos de tratamentos térmico das dietas são diferenciados, basicamente, por fatores como; tempo de condicionamento, temperatura, pressão e umidade, os quais determinarão características como a densidade da dieta, grau de desnaturação das proteínas e principalmente de gelatinização do amido (Tabela 1). A gelatinização pode ser definida como a destruição irreversível da condição cristalina do grão de amido, a qual facilita a digestão enzimática. A temperatura de gelatinização do amido varia em função da fonte, sendo que no amido de milho esta temperatura varia de 62 a 72°C (GREENWOOD, 1970).
Tabela 1 - Variáveis do processamento térmico de dietas
A peletização é a forma mais comum de tratamento térmico encontrada na indústria de rações para suínos. Entretanto, em rações pré-iniciais complexas, contendo açúcares e produtos lácteos, a temperatura de condicionamento da peletização não deve ser superior a 60°C, isso para evitar a reação de Maillard, que consiste na ligação de aminoácidos e açúcares (MAVROMICHALIS e BAKER, 2000).
Os principais benefícios da utilização de dieta peletizada em relação à farelada na nutrição animal são: destruição de organismos patogênicos, redução da segregação de ingredientes, aumento na palatabilidade da dieta, facilidade de apreensão da dieta, diminuição do desperdício de ração, aumento da energia produtiva em função de menor tempo gasto para consumo e melhora na digestibilidade dos ingredientes (BEHNKE, 1994). Porém, existe pouco consenso sobre as causas e benefícios da peletização de dietas em termos de desempenho de suínos (HANCOCK e BEHNKE, 2001).
No creep feeding, a dieta pode variar desde peletizada a farelada, líquida a seca, porém, o alimento deve apresentar no comedouro aparência e odor característicos, ou seja, “fresco”. Durante o aleitamento, as dietas líquidas à base de leite proporcionam potencialmente maior ingestão de matéria seca e aumento da taxa de crescimento dos leitões (ODLE e HARRELL, 1998).
Entretanto, segundo SULABO (2009), o alto custo e a logística de fornecimento aos animais dificultam a utilização de dietas líquidas, ao passo que a dieta na forma seca, com inclusão de ingredientes de origem vegetal, ainda é um dos métodos mais utilizados. BRAUDE et al. (1960) relataram que a peletização da dieta do creep feeding aumenta o consumo de ração em relação às dietas fareladas; porém, há escassez de trabalhos científicos publicados comparando o processamento térmico das dietas do creep feeding.
No período pós-desmame, a dieta na forma líquida também pode ser utilizada e, segundo PARTRIDGE e GILL (1993), esta forma de apresentação estimula o consumo de ração, uma vez que os leitões não estão acostumados a consumir água e alimento de forma separada. HAN et al. (2006) observaram maior consumo de ração e ganho de peso em leitões alimentados com dieta líquida em relação à peletizada/triturada nos dez primeiros dias pós-desmame. Porém, apesar de todas as vantagens, o alto custo de sistemas automáticos e a exigência de mão de obra no sistema manual em muitos casos inviabilizam a implantação desta forma de alimentação (DONG e PLUSKE, 2007).
Em relação a peletização é reconhecido o fato de que o processamento de dietas para leitões traz mais benefícios em termos de redução de desperdício do que em melhoria do desempenho zootécnico (HANCOCK e BEHNKE, 2001) pois, as respostas em desempenho são muito dependentes das características particulares da dieta e do processamento. A qualidade do pelete é resultado dessas características, sendo definida como a capacidade do pelete em suportar manuseio repetido sem quebra excessiva (finos).
Vários fatores podem afetar a qualidade do pelete. São eles a formulação da dieta (40%), a moagem e o consequente tamanho das partículas (20%), o condicionamento (20%), especificações gerais do anel de prensa (15%), além dos processos de resfriamento e secagem (5%) (REIMER, 1992). STARK et al. (1993), ao realizarem um estudo para verificar a ação da qualidade do pelete, utilizando dieta farelada, peletizada e peletizada com 25% de finos, verificaram pior resultado no que diz respeito ao ganho de peso e conversão alimentar de leitões recém desmamados que receberam dieta com finos em relação à peletizada sem finos. É importante ressaltar que 60% da qualidade do pelete é determinada antes da dieta entrar na peletizadora (formulação e moagem).
Em relação ao condicionamento, STEIDINGER et al. (2000), trabalharam com diferentes temperaturas 60, 68, 77, 85 e 93°C em dietas complexas, observaram efeito quadrático sobre o ganho de peso, com ponto de máxima aos 77°C e efeito linear sobre consumo de ração. Ou seja, o aumento da temperatura de condicionamento reduziu o consumo de ração. Então, no caso de dietas complexas, o processo de peletização em altas temperaturas pode resultar em reação de Maillard e peletes rígidos, os quais não são bem aceitos pelos leitões jovens, causando redução do consumo de ração (MAKKINK et al., 1994).
No que diz respeito ao desempenho zootécnico, TRAYLOR et al. (1996) verificaram que, com o uso de dietas complexas, a peletização da dieta melhorou em 25% o ganho de peso e 36% a conversão alimentar nos cinco primeiros dias de creche, em relação a dieta farelada. Considerando o período total, do desmame até os 50 dias de idade, novamente a peletização proporcionou melhora na conversão alimentar, correspondente a 4%. Não houve diferença em relação ao consumo de ração no período total; porém, nos primeiros 15 dias houve menor consumo da dieta peletizada.
Por outro lado, MEDEL et al. (2004) não observaram efeito da peletização da dieta sobre o ganho de peso de leitões do desmame (22 dias) aos 42 dias de idade. Porém, estes mesmos autores constataram que a peletização reduziu em 18,2% o consumo de ração e, consequentemente melhorou em 20% a conversão alimentar. A digestibilidade da energia bruta da dieta aumenta em 3,6% quando ofertada na forma peletizada (77,8% para 80,6%), mas, segundo o autor, somente esta contribuição não justifica todo o impacto observado na conversão alimentar. Portanto estes autores atribuíram o resultado também ao desperdício, o qual não foi medido, mas estimado em experimento posterior com delineamento semelhante, os quais encontraram desperdício de 2,3% em dietas peletizadas e 8,9% para rações fareladas nos dez primeiros dias pós-desmame.
Em relação ao tamanho dos peletes, LAVOREL et al. (1984) avaliaram dietas peletizadas com 2,5, 3,0 e 5,0 mm de diâmetro de pelete e observaram que durante as duas semanas pós-desmame os leitões que receberam peletes de 2,5 mm obtiveram melhor taxa de crescimento em relação à de 5,0 mm. Porém, nas duas semanas seguintes (35 a 48 dias de idade) não houve diferença. PATRIDGE (1989) também observou benefícios de peletes menores (2,4 mm de diâmetro) sobre o consumo de ração e o ganho de peso de leitões desmamados, em relação à peletes maiores (3,2 mm de diâmetro) e ração peletizada/triturada. Entretanto, TRAYLOR et al. (1996) e EDGE et al. (2005) não observaram efeito do tamanho de pelete sobre desempenho.
1.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O programa nutricional de creche deve levar em consideração as características particulares do sistema de produção e do perfil dos animais desmamados.
Vários fatores influenciam o desempenho de leitões na creche, sendo que o peso ao desmame é um fator importante. Porém, deve-se considerar as causas da variação de peso e o nível de variação ao desmame, pois estes irão determinar a expressão da influência do peso ao desmame sobre o desempenho zootécnico.
Em adição, o consumo de ração também é um fator limitante no desempenho dos leitões no período imediatamente pós-desmame. Neste aspecto, a peletização de dietas pré-iniciais num programa nutricional de creche é uma opção de processamento visando o aumento de consumo.
Porém, a qualidade do pelete deve ser considerada, pois esta influencia o consumo de ração. São vários os fatores que interferem na qualidade, como: formulação da dieta, moagem, condicionamento, especificações do anel de prensa, resfriamento e secagem.
No caso das dietas para leitões recém desmamados que apresentam alta inclusão de ingredientes especiais, como: soro de leite, açúcar e etc, atenção especial deve ser dada a temperatura do processamento, pois estes ingredientes são susceptíveis a reação de Maillard, podendo produzir peletes rígidos ou com alta porcentagem de finos.
Então, deve-se avaliar não somente a durabilidade do pelete como característica de qualidade, mas também a dureza, para que seja possível uma comparação mais efetiva entre formas físicas, tanto na indústria quanto na pesquisa.
REFERÊNCIAS
AHERNE, F.; HOGBERG, M.G.; KORNEGAY, E.T.; SHURSON, G.C.; BROCKSMITH, M.; BROCKSMITH, S.; HOLLIS, G.R.; PETTIGREW, J.E. Managment and nutrition of the newly weaned pig. PIH 111. National Pork Producers Handbook. 1992.
BEERS-SCHREURS, H.M.G.; NABUURS, M.J.A.; VELLENGA, L.; KALSBEEK VAN DER VALK, H.J.; WENSING, T.; BREUKINK, H.J. Weaning and the weanling diet influence the villus height and crypt depth in the small intestine of pigs and alter the concentrations of short-chain fatty acids in the large intestine and blood. Journal Nutrition. v.128, n.6, p.947-953, 1998.
BEHNKE, K. Factors affecting pellet quality. In: Proceedings Maryland Nutrition Conference, College of Agriculture, University of Maryland. p.44-54, 1994.
BRAUDE, R.; TOWNSEND, M.J.; ROWELL, J.C. A comparison of meal and pelleted forms of creep feed for suckling pigs. Journal of Agriculture Science. v.54, p.274, 1960 (ABSTRACT).
BRUININX, E.M.A.M.; BINNENDIJK, G.P.; VAN DER PEET-SCHWERING, C.M.C.; SCHRAMA, J.W.; DEN HARTOG, L.A.; EVERTS, H.; BEYNEN, A.C. Effect of creep feed consumption on individual feed intake characteristics and performance of group-housed weanling pigs. Journal of Animal Science. v.80, p.1413-1418, 2002.
BURRIN, D.G; STOLL, B. Intestinal nutrient requirements in weanling pigs. In: PLUSKE, J.R.; VERSTEGEN, M.W.A.; Le DIVIDICH, J. (Editors). The Weaner Pig: Concepts and Consequences. Wageningen Academic Publishers, The Netherlands, p.301-335, 2003.
CRANWELL, P.D.; NOAKES, D.E; HILL, K.J. Gastric secretion and fermentation in the suckling pig. British Journal of Nutrition. v.36, p.71-86, 1976.
DAVIS, M.E.; SEARS, S.C.; APPLE, J.K.; MAXWELL, C.V.; JOHNSON, Z.B. Effect of weaning age and commingling after the nursery phase of pigs in a wean-to-finish facility on growth, humoral and behavioral indicators of well-being. Journal of Animal Science. v.84, p.743-756, 2006.
DE PASSILLE, A.M.B.; PELLETIER, G.; MQLARD, J.; MORISSET, J. Relationships of weight gain and behavior to digestive organ weight and enzyme activities in piglets. Journal of Animal Science. v.67, p.2921, 1989.
DEROUCHEY, J.M.; DRITZ, S.S.; GOODBAND, R.D.; NELSSEN, J.L.; TOKACH, M.D. Starter Pig Recommendations. Swine Nutrition Guide. Kansas State University. 2007.
DONG, G.Z.; PLUSKE, J.R. The low feed intake in newly-weaned pigs: problems and possible solutions. Asian-Australasian Journal of Animal Sciences. v.20, n.3, p440-453, 2007.
DRITZ, S.S.; OWEN, K.Q.; NELSSEN, J.L.; GOODBAND, R.D.; TOKACH, M.D. Influence of weaning age and nursery diet complexity on growth performance and carcass characteristics and composition of high-health status pigs from weaning to 109 kilograms. Journal of Animal Science. v.74, p.2975-2984, 1996.
EDGE, H.L.; DALBY, J.A.; ROWLINSON, P.; VARLEY, M.A. The effect of pellet diameter on the performance of young pigs. Livestock Production Science. v.97, p.203-209, 2005.
GRAHAM, P.L.; MAHAN, D.C.; SHIELDS Jr, R.G. Effect of starter diet and length of feeding regime on performance and digestive activity of 2-week-old weaned pigs. Journal of Animal Science. v.53, p.299-307, 1981.
GREENWOOD, C.T. Organization of starch granules. In: The Carbohydrates, Chemistry and Technology (Ed. PIGMAN, W.; HORTON, D.). 2. ed. Academic Press, London, UK, p.471, 1970.
HAN, Y.; THACKER, P.A.; YANG, J. Effects of the Duration of Liquid Feeding on Performance and Nutrient Digestibility in Weaned Pigs. Asian-Australian Journal of Animal Science. v.19, p.396-401, 2006.
HANCOCK, J.D. Extrusion cooking of dietary ingredients for animal feeding. Contribution No. 92-316A. Kansas Agriculture Expansion Station. Published in Proceeding of Distillers Feed Conference. Cincinnati. Ohio. v.47, p.33, 1992.
HANCOCK, J.D.; BEHNKE, K.C. Use of ingredient and diet processing technologies to produce quality feeds for pigs. In: Swine Nutrition (Eds. LEWIS, A.J.; SOUTHER, L.L.). 2. ed. CRS Press, Boca Raton, FL, USA, p.469-492, 2001.
HARRELL, R.J.; THOMAS, M.J.; BOYD, R.D. Limitations of sow milk yield on baby pig growth. Proceedings of the Cornell Nutrition Conference for Feed Manufacturers, Oct 19-21, Department of Animal Science, Cornell University. Ithaca, New York, p.156-164, 1993.
HEALY, B.J.; HANCOCK, J.D.; KENNEDY, G.A.; BRAMEL-COX, P.J.; BEHNKE, K.C.; HINES, R.H. Optimum particle size of corn and hard and soft sorghum for nursery pigs. Journal of Animal Science. v.72, p.2227-2236, 1994.
ISLEY, S.E.; BROOM, L.J.; MILLER, H.M. Birth weight and weaning weight as predictors of pig weight at slaughter. In. Manipulating pig production VIII, Australian Pig Science Association, Werribee, Victoria 3030, Australia. 2001.
JENSEN, P. Observations on the maternal behaviour of free-ranging domestic pigs. Applied Animal Behaviour Science. v.16, p131-142, 1986.
KIDDER, D.E.; MANNERS, M.J. Digestion in the pig. London:Science Bristol. p201, 1978.
KIM, I.H.; HANCOCK, J.D.; HONG, J.W.; CABRERA, M.R.; HINES, R.H.; BEHNKE, K.C. Corn particle size affects nutritional value of simple and complex diets for nursery pigs and broilers chicks. Asian-Australian Journal of Animal Science. v.15, n.6, p.872-877, 2002.
LAVOREL, O.; FEKETE, J.; LEUILLET, M. A comparative study concerning the utilization of pellets of different diameters by the weaned piglet. 14th French Swine Research Day. Institut National de la Recherche Agronomique. P.36, 1984.
LE DIVIDICH, J.; HERPIN, P. Effects of climatic conditions on the performance, metabolism and health status of weaned piglets: a review. Livestock Production Scienc. v.38, p.79-90, 1994.
LEIBBRANDT, V.C.; EWAN, R.C.; SPEER, V.C.; ZIMMERMAN, D.R. Effect of weaning and age at weaning on baby pig performance. Journal of Animal Science. v.40, n.6, p.1077-1080, 1975.
LI, F.D.; NELSSEN, J.L.; REDDY, P.G. Transient hypersensitivity to soybean meal in the early-weaned pig. Journal of Animal Science. v.68, n.6, p.1790-1799, 1990.
LINDEMANN, M.D.; CORNELIUS, S.G.; EL KLANDELGY, S.M.; MOSER, R.L.; PETTIGREW, J.E. Effect of age, weaning and diet on digestive enzyme levels in the piglet. Journal of Animal Science. v.62, p.1298-1307, 1986.
MAHAN, D.C.; LEPINE, A.J. Effect of pig weaning weight and associated feeding programs on subsequent performance to 105 kilograms body weight. Journal of Animal Science. v.69, p.1370-1378, 1991.
MAHAN, D.C. Feeding for maximum lean growth. Illinois Pork Industry Conference. p.108-123, 1995.
MAHAN, D.C.; CROMWELL, G.L.; EWAN, R.C.; HAMILTON, C.R.; YEN, J.T. Evaluation of the feeding duration of a phase 1 nursery diet to three-week-old pigs of two weaning weights. Journal of Animal Science. v.76, p.578-583, 1998.
MAKKINK, C.; NEGULESCU, G.P.; GUIXIN, Q.; VERSTEGEN, M.W.A. Effect of dietary protein source on feed intake, growth, pancreatic enzyme activities and jejunal morphology in newly-weaned piglets. British Journal of Nutrition. v.72, p.353-368, 1994.
MAVROMICHALIS, I.; BAKER, D.H. Effects of pelleting and storage of a complex nursery pig diet on lysine bioavailability. Journal of Agriculture Science. v.78, p.341-347, 2000.
MEDEL, P; LATORRE, M.A.; DE BLAS, C.; LÁZARO, R.; MATEOS; G.G. Heat processing of cereals in mash or pellet diets for young pigs. Animal Feed Science and Technology. v.113, p.127-140, 2004.
MOREIRA, I.; OLIVEIRA, G. C.; FURLAN, A. C.; PATRICIO, V. M. I.; JUNIOR, M. M. Utilização da farinha pré-gelatinizada de milho na alimentação de leitões na fase de creche, digestibilidade e desempenho. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.2, p.440-448, 2001
ODLE, J.; HARRELL, R.J. Nutritional approaches for improving neonatal piglet performance: Is there a place for liquid diets in commercial production? Asian-Australian Journal of Animal Science. v.11, p.774-780, 1998.
PARTRIDGE, G.G.; GILL, B.P. New approaches with pig weaner diets. In: Recent advances in animal nutrition. (Eds. GARNSWORTHY, P.C.; COLE, D.J.A.) Nottingham: University Press. p.221-248, 1993.
PATRIDGE, I.G. Alternative feeding strategies for weaner pigs. In: Manipulation of Pig Production (Eds. BARNETT, J.L.; HENNESSY N.D.D.P.). Australian Pig Science Association. Vitoria, p.160-169, 1989.
PLUSKE, J.R.; HAMPSON, D.J.; WILLIANS, I.H. Factors influencing the structure and function of the small intestine in the weaned pig: a review. Livestock Production Science, v.51, p.215-236, 1997.
REIMER, L. Conditioning. Proceedings Northern Crops Institute Feed Mill Management and Feed Manufacturing Technol. Short Course. P.7. California Pellet Mill Co. Crawfordsville, IN.1992.
STARK, C.R.; BEHNKE, K.C.; HANCOCK, J.D.; HINES, R.H. Pellet quality affects growth performance of nursery and finishing pigs. Swine Day Report-91, Kansas St. University, Manhattan. p.56-62, 1993.
STEIDINGER, M.U.; GOODBAND, R.D.; TOKACH, M.D.; DRITZ, S.S.; NELSSEN, J.L.; McKINNEY, L.J.; BORG, B.S.; CAMPBELL, J.M. Effects of pelleting and pellet conditioning temperatures on weanling pig performance. Journal of Animal Science. v.78, p.3014-3018, 2000.
SULABO, R.C. Influence of creep feeding on individual consumption characteristics and growth performance of neonatal and weanling pigs. PhD dissertation, Kansas State University, Manhattan, Kansas. 2009.
TRAYLOR, S.L.; BEHNKE, K.C.; HANCOCK, J.D.; SORRELL, P.; HIPES, R.H. Effects of pellet size on growth performance in nursery and finishing pigs. Journal of Animal Science. v.74, p.67, 1996.
WHITTEMORE, C. The science and practice of pig production. 2. ed. London: Longman Scientific & Technical, 661p, 1993.
WOLTER, B.F.; ELLIS, M. The effects of weaning weight and rate of growth immediately after weaning on subsequent pig growth performance and carcass characteristics. Canadian Journal of Animal Science. v.81 p.363-369, 2001.
WOLTER, B.F.; ELLIS, M.; CORRIGAN, B.P; DEDECKER, J.M. The effect of birth weight and feeding of supplemental milk replacer to piglets during lactation on preweaning and postweaning growth performance and carcass characteristics. Journal of Animal Science. v.80, p.301-308, 2002.
WOLTER, B.F.; ELLIS, M.; CORRIGAN, B.P.; DEDECKER, J.M.; CURTIS, S.E.; PARR, E.N.; WEBEL, D.M. Impact of early postweaning growth rate as affected by diet complexity and space allocation on subsequent growth performance of pigs in a wean-to-finish production system. Journal of Animal Science. v.81, p.353-359, 2003.