Introdução
Os sinais de deficiência de selênio no campopodem estar associados a diversas doenças e disfunções comomorte súbita, doença do músculo branco, necrose hepática,doença do coração de amora, edema intestinal e diarréiaem leitões desmamados. A crescente adoção de sistemas intensivosde confinamento para animais reprodutores resulta no aumento na ocorrênciade deficiência de alguns minerais como o selênio. A deficiênciade selênio em fêmeas é normalmente acompanhada por reduçãode fertilidade, aumento no número de natimortos, produçãode leite de menor qualidade durante os primeiros dias pós-parto, altaincidência de metrite-mastite-agalactia (MMA), leitões mais fracosapós o desmame e maior perda de porcas no rebanho. Embora outros fatorestambém possam contribuir para estes sinais clínicos, estudos recentestêm demonstrado a sua relação com a deficiência deselênio.
Deficiência de selênio em porcasSegundo Mahan et al. (1974), matrizes alimentadas com dietas contendo níveis insuficientes de vitamina E e selênio resultam em menor numero de leitões nascidos e menor número de partos por porca. Além disso, esta deficiência faz com que as porcas e leitões apresentem-se extremamente fracos durante o parto. Durante o estudo, nenhuma das porcas alimentadas com estas dietas alcançaram o segundo parto, sendo que três morreram durante a segunda gestação. Análises do aparelho reprodutivo demonstraram a presença de fetos normais e anormais, sugerindo a ocorrência de degradação oxidativa dos tecidos. Em outro estudo, Mahan et al. (1974) utilizaram dietas à base de milho e farelo de soja em matrizes suplementadas ou não com selênio. Observou-se que porcas alimentadas com dietas suplementadas apresentaram maior numero de leitões nascidos no segundo parto quando comparadas ao grupo não suplementado. Alguns estudos têm relatado uma maior eficácia na suplementação de selênio em porcas de mais idade, em comparação às mais jovens.
Efeitos no fetoQuando a dieta fornecida a matrizes apresenta níveis insuficientes de selênio, os níveis hepáticos de selênio do feto tendem a diminuir durante o período de gestação (Piatkowski et al., 1979). Pesquisas recentes realizadas por Hostetler e Kincaid (2004) demonstraram a ocorrência de degradação oxidativa dos tecidos hepáticos do feto e da porca quando esta foi alimentada com rações deficientes em selênio. Foram observadas elevadas concentrações de malondialdeído (MDA) e H2O2 no fígado dos fetos, porém a atividade da GSH-Px não foi afetada. A GSH-Px protege várias regiões do organismo contra os efeitos nocivos do estresse oxidativo. Os resultados também demonstraram que a atividade da glutationa peroxidase (GSH-Px) no fígado foi significantemente maior nas porcas adultas do que nos fetos. Quando se forneceu uma dieta deficiente em selênio, os produtos oxidativos finais foram acumulados no feto devido às baixas concentrações de GSH-Px encontradas no fígado. O feto é, portanto, incapaz de sintetizar maiores quantidades da enzima GSH-Px para prevenir o acúmulo dos produtos oxidativos como o MDA e H2O2. Sarada et.al., (2002) afirma que a suplementação de selênio tem se mostrado eficaz na redução da produção de MDA. Assim, a quantidade de selênio fornecida à porca é fundamental para a sobrevivência do feto por prevenir o acúmulo destes produtos oxidativos. Entretanto, a transferência do selênio da porca para o feto é dependente da quantidade de selênio presente na porca e também da fonte e níveis adicionados na dieta durante a gestação.
Efeitos no período pós-natalQuando a fêmea apresenta níveis inadequados de vitamina E e selênio, os leitões neonatos podem apresentar vários sinais de deficiência como toxicose por ferro, causando danos às membranas dos tecidos e levando muitas vezes à morte. Loudenslager et al. (1986) demonstram que animais nascidos de porcas alimentadas com dietas deficientes em vitamina E e selênio apresentavam menor poder antioxidante do que os nascidos de porcas alimentadas com níveis adequados destes nutrientes. O colostro apresenta uma maior concentração de vitamina E e selênio quando comparado ao leite, sendo a principal fonte destes nutrientes para os recém nascidos. O selênio é transferido através da placenta e do tecido mamário da porca. O teor de selênio nos tecidos de recém nascidos e sua transferência através do leite são menores quando se utilizam fontes inorgânicas (Mahan e Kim, 1996). Os mesmos autores observaram que a adição de selenito de sódio em dietas de matrizes não alterou os teores de selênio no leite da matriz e no sangue dos leitões. Por outro lado, a adição de selênio orgânico derivado da levedura Saccharomyces cerevisiae cepa 1026 (SODL) resultou em maiores níveis de selênio no leite. Segundo Mahan (1991, 1994), os níveis de selênio e vitamina E no leite são reduzidos com o avanço das parições, sugerindo que a progênie de porcas mais velhas é mais suscetível à deficiência do que leitões oriundos de porcas primíparas. Considerando que os leitões na fase de creche dependem do fornecimento de selênio e vitamina E através do leite, altas concentrações destes nutrientes nos fluidos mamários da porca em lactação tornam-se críticas na prevenção de deficiências em leitões.
Efeitos do selênio orgânico e inorgânico sobre a reprodução de porcasNem todas as formas de selênio são igualmente úteis ao organismo. Fontes inorgânicas, como o selenato e selenito de sódio, são normalmente adicionadas a alimentos para consumo humano e animal, entretanto grande parte do selênio consumido nesta forma é excretada ao invés de ser retida no organismo e aproveitada pelos animais. A seleniometionina encontrada na natureza é a forma ideal de selênio para a digestão e metabolismo no organismo, sendo predominante no SODL. Esta forma de selênio é retida pelo organismo, disponibilizando maior quantidade de selênio para funções essenciais, incluindo a proteção antioxidante. Em estudos realizados por Mahan e Kim (1996) e Mahan (2000), avaliando a diferença entre o fornecimento de diferentes dietas contendo SODL ou selenito de sódio, demonstrou-se um aumento nos níveis de selênio em matrizes e suas progênies com a utilização da fonte orgânica, além de maiores concentrações de selênio no colostro e leite. Segundo Mahan (1999) o SODL é transferido de forma muito mais eficiente para o leite, em comparação ao selênio inorgânico (Figura 1).
Figura 1. Efeito da fonte e nível de selênio sobre o teor do mineral no leite (média aos 7 e 14 dias). Matrizes suplementadas a partir de 109 dias de gestação e durante a lactação(Mahan, 1999).
Após a aprovação do uso do SODL em dietas de suínosem muitos países (FDA, 2002) os efeitos de sua suplementaçãoem dietas de porcas e suas progênies foram avaliados por Mahan (2004).Os seguintes tratamentos foram utilizados no estudo: T1) dieta basal sem adiçãode selênio; T2) dieta basal + SODL (0.15 e 0.30 ppm); T3) dieta basal +selênio inorgânico (0.15 e 0.30 ppm); T4) combinaçãode 0.15 ppm de SODL e 0.15 ppm de selênio inorgânico. Os resultadosdemonstraram uma redução no número de natimortos com a suplementaçãode 0.30 ppm de selênio orgânico (SODL) (Figura 2). Além disso,os leitões nascidos de porcas suplementadas com selênio inorgânicoapresentaram maior incidência de “splay leg” (Figura 3) aonascimento. A utilização de 0.15 ppm de selênio orgânicoou inorgânico parece otimizar a performance reprodutiva das matrizes, porémníveis mais elevados (0.30 ppm) de SODL propiciam maior transferênciado mineral para o feto e para o leite.
ConclusãoPesquisas demonstram que porcas alimentadas com dietas deficientes em alguns nutrientes podem apresentar diversas doenças e disfunções. Esta condição pode afetar o desempenho reprodutivo da porca e de sua progênie, sendo que porcas de alta produtividade e mais velhas estão mais propensas a apresentar deficiências. O selênio inorgânico na forma de selenito de sódio teve muita importância nas primeiras descobertas sobre a necessidade de suplementação de selênio em dietas de porcas. Entretanto, estudos recentes indicam uma menor absorção pelo organismo e menor eficácia na transferência de selênio para o feto e para o leite quando se utiliza fontes inorgânicas de selênio. Pode-se concluir que o uso de SODL torna-se mais indicado para a suplementação durante longos períodos reprodutivos, visto que este tem mostrado inúmeras vantagens sobre as fontes inorgânicas de selênio.
Don Mahan
Departamento de Zootecnia, Ohio State University, EUA