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30 Leitões por porca/ano

Publicado: 18 de outubro de 2010
Por: Duarte M. de J. Santos (Médico Veterinário - University of Guelph, Ontario, Canadá)
INFORMATIVO TÉCNICO - 30 Leitões por porca/ano  

O conceito de produzir mais leitões por porca por ano nasceu da ambição dos produtores em seguida ao desenvolvimento da suinocultura em 3 locais. Apercebeu-se logo que muitos se dedicariam a receber os leitões à desmama (qualquer coisa entre 14 e 21 dias) e um peso variável entre os, por vezes menos de 4 kilos, e geralmente não mais de 5.5 kilos. Entrou-se então na fase, muito óbvia, dos problemas nas crèches; com mortalidade devida a debilidade e consequente incapacidade física de sobrevivência, variabilidade de crescimento,  doenças precipitadas pela imaturidade fisiológica, necessidades de espaço adequado; problemas estes que são depois transmitidos à fase de engorda e crescimento. Aqueles que vendiam (ou ainda vendem) tais animais julgam assim que produzir 30 leitões (ou mais !) por porca e por ano tem benefício económico. Mas terá mesmo ? No âmbito particular poderá ter mas, no campo global, a industria suina simplesmente fica prejudicada com tal procedimento.
A meta final em suinocultura não é produzir "X" número de leitões, mas sim "X" quantidade de kilos de carne de boa qualidade. Dentro desta premissa torna-se irrelevante produzir 30 leitões desmamados aos 21 dias com 5.5 kilos de peso = 165 kilos de carne, dado que o mesmo se consegue mais facilmente com 25 leitões desmamados aos 25 dias com 6.6 kilos. As explorações mais organizadas conseguem um crescimento diário, nesta fase (20 a 24 dias), de até 380 gramas por dia (usando suplementos específicos), o que poderia reduzir os dias ao desmame para 22/23. Com um ciclo de 152 dias (já por si necessitando de alto nível administrativo/gerencial) requere-se 12.5 leitões desmamados por parto e 2.4 parições por ano para se chegar aos 30 p/porca/ano. Também de considerar que as necessidades alimentares de uma porca com uma leitegada de 12 ou mais leitões são difíceis de alcançar e implicam custos mais elevados. As porcas com níveis de produção da ordem dos 30 leitões por ano têm, por regra, a sua vida activa reduzida em 1 ou mais parições.Mas onde está então a vantagem ?
O leitão desmamado com 6.6 kilos está fisiológicamente mais preparado (imunidade, robustez,), a leitegada tem um peso mais uniforme e os animais não estão tão sujeitos à estresse que irá favorecer o aparecimento de problemas de saúde com todas as implicações conhecidas. Por outro lado a maior velocidade de crescimento e os melhores níveis de conversão alimentar vão ajudar a uma transição mais eficaz da crèche ao crescimento-engorda, e isto somado a um melhor aproveitamento de espaço nas crèches e na engorda, reduz o tempo de estadia nestas fases logo uma rotação mais rápida de todo o processo. Psicológicamente nem o suinocultor nem os seus empregados gostam de ver animais débeis (a maioria ainda tentando amamentar-se entre eles), alta mortalidade e, inevitávelmente, o aumento de trabalho.
Alguns produtores dirão que podem sempre vender os 5 leitões menos viáveis (quasi sempre por preço irrisório) e acabar os restantes 25 aos 24 dias. Tal prática vai criar mais necessidade laboral, e de espaço, e vai também contrariar a regra de "todos-dentro-todos-fora". O desmame parcial já foi sobejamente analizado e considerado de pouca ou nenhuma utilidade prática. Difícil de determinar, mas não parece que o valor de venda obtido pelos 5 leitões debilitados possa compensar todas as restantes despezas e problemas inerentes.
Em materia das necessidades da exploração, seja em melhoramento de instalações ou aumento do efectivo laboral, os requerimentos são iguais ou, bem vistos, cancelam-se entre eles.
Outro pormenor é que para os mercados "niche", tais como "selenium-porc" ou "ALA - Omega porc", os animais com desmama aos 6.6 kilos têm vantagem de assimilação em relação aos de menor peso.
 
 
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Marcos Rostagno
Selko
16 de noviembre de 2011
Muito interessante e bem ponderado o artigo. Parabéns! Concordo com os comentários postados sobre a disponibilidade de tecnologias e de sistemas de produção atualmente trabalhando em níveis elevados de eficiência, apesar de ressaltar que essa observação não deve ser generalizada, pois se apresenta em casos individuais (i.e., há muita variação entre granjas, mesmo localizadas em uma mesma região). Assim sendo, podemos concluir que tecnologia não será um limitante para atingir níveis cada vez mais elevados de produtividade, mas devemos atentar para outros fatores que fojem ao nosso controle. O principal destes é a demanda crescente por parte dos consumidores e de grupos ativistas, que forçam legislações implementadas em países europeus (e que com certeza se disseminarão pelos demais paises produtores de suínos). Neste sentido, chamo a atenção para duas demandas atuais diretamente relacionadas ao tema deste forum: 1) alojamento de matrizes em grupos e fora das gaiolas de gestação, e 2) idade de desmame a partir de 28 dias (e com tendência a aumentar nos próximos anos). Deixo uma questão para instigar discussões: Qual será o impacto destas duas tendências sobre o futuro da eficiência produtiva das matrizes suínas? Saudações aos colegas.
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Rafael Grando
Cotrijui
16 de noviembre de 2011
Ola Marcos Sobre a idade de desmame, obviamente se reduz o DFA, mas quando a questão finaneciera, tenho minhas sérias dúvidas sobre desmames abaixo de 28 dias, avaliar o custo total do leitão até 23kg, desmamando com 21 e 28 dias, seria mais interssante. até onde consegui avaliar (de maneira pouco científica, diga-se) os desmames mais velhos são mais interssantes economicamente. Talvez uma forma mais justa de avaliar a eficiencia reprodutiva de um plantel seja por dias não produtivos/ano, e não por parto/fêmea/ano, pois o aumento do período de lactação diminui o PFA mas não altera os dias não produtivos. Afinal, a ultima semana de lactação é,ao meu ver, muito eficiente em geração de resultados finaceiros, mas acaba sendo tratada como um "problema" para índices zootécnicos.
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Rafael Grando
Cotrijui
16 de noviembre de 2011
Prezados Realmente, em suinocultura olhar somente um dado, como do DFA, é complicado e arriscado, o conceito de cadeia suinicola é o que melhor define pois uma fase depende de outra. O equilibrio entre quantidade e peso de leitões desmamados é um ponto a ser analizado com muito critério, o kg de leitão produzido com "leite de porca" possui um valor sensivelmente menor que o produzido com rações pré-iniciais, trabalhar com um peso mínimo de desmama, como por ex 6kg, tavez seja um parâmentro técnico/financeiro interessante, com isso se consegue pesos médios geralmente acima de 7,5kg, e conversões/GPD de creche muito interessantes e números de desmamados acima de 27 DFA. Provavelmente quando chegarmos a creches climatizadas com um controle de temperatura semalhante aos aviários (+-1C), este conceito mude.
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Luiz Souza
ADM Animal Nutrition
6 de septiembre de 2011
Caro Dr. Duarte, Interessante artigo, meus parabéns. E você tem toda a razão: é assustador quando se fala em 40 leitões/porca/ano. Nos faz olhar a matriz como uma verdadeira máquina, visão que vem sendo cada vez mais combatida pelos promotores do bem-estar animal (e concordo com eles, mas aí é outra discussão). Só gostaria de adicionar que, entre os fatores que pressionam para o aumento na produtividade está não somente a ambição de produtores. Conforme exposto em uma conferência da EMBRAPA sobre qualidade da carne suína em 2000, o José Adão Braun, na época presidente da ABCS, diz que um dos grandes fatores para o uso da produção intensiva é a pressão do mercado, o qual dita o preço final do produto (kg do suíno vivo), restando ao suinocultor somente aumentar a produtividade na tentativa de cobrir os custos de produção e auferir algum lucro. Novamente, ótimo artigo. Saudações.
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Duarte Santos
Duarte Santos
4 de enero de 2011
Caro Dr. Rogério Tovo, Agradecido pela tua mensagem. Creio bem que será únicamente uma questão de tempo até que a industria de suinos enverede nos níveis de produção mais altos, pois aqui já se começa a falar em 40 leitões/porca/ano. É assustador, e se bem que a realidade deste Mundo em crescimento desenfreado o possa justificar, sem dúvida é a ambição do ser humano que o motiva. Aqui já há um grande número de explorações a providenciar a alimentação com base no peso do animal, prática esta que eu venho recomendando há vários anos. Foi certamente um prazer trocar estas breves ideias contigo. Renovados votos de boas entradas. Duarte Santos.
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Duarte Santos
Duarte Santos
30 de diciembre de 2010
Caro Dr. Rogério Tovo, Meus agradecimentos pelo seu comentário. Concordo quando diz que existem situações, não só no Brasil como noutras partes do Mundo, em que é praticável a produção de 30 leitões/porca/ano na realidade temos aqui operações que já utrapassaram inclusivé esse número. Infelizmente essa é, neste momento, a grande minoria de suinucultores. Pelo facto de que a maioria ainda necessita de vencer “outros” obstáculos mais importantes, antes de se lançarem à procura de melhorar a produtividade procurando, neste caso, substituir um manejo dificiente por uma almejada melhoria de números. Foi e continua sendo meu intento chamar a atenção para uma possível melhoria através de melhor manejo do existente. Na minha opinião passar para 30 “ou mais” leitões/porca/ano, só deveria ter lugar quando o suinucultor estiver a produzir consistentemente (pelo menos 1 ano consecutivo) entre os 24 e os 26 leitões/porca/ano. Digo isto com base em conhecimento de alguns suinucultores que se lançaram a uma corrida desenfreada em que, nalguns casos, substituiram até o material genético de que dispunham, e já estava aclimatizado, para depois chegarem à conclusão de que não havia nada errado no que tinham, eles e que estavam errados no manejo que faziam. Noutros casos houve investimento em modernização de instalações para se chegar à mesma conclusão, ainda que a modernização possa sempre ser um benefício, dependendo de como é realizada e aproveitada. Aproveito a oportunidade para desejar-lhe, bem como aos utentes do “Forum”, tudo de melhor para o 2011, principalmente com saúde, Paz e Prosperidade. Duarte Santos.
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Rogério Paulo Tovo
29 de diciembre de 2010
Caras Senhoras e Senhores, Tenho certeza que, do ponto de vista técnico, temos todas as condições (nutrição, genética, instalações, manejo, etc) para conseguir com sucesso os 30 leitões por porca por ano. Várias empresas genéticas têm buscado o no. de 15 leitões por parto, e algumas inclusive já conseguiram aqui no Brasil. Há alguns locais do globo terrestre, que por questões sanitárias, têm que usar desta tecnologia para se quebrar o ciclo de doenças de difíceis controles (virais, etc). E concordo e corroboro com o colega Dr. Duarte, que para definirmos se iremos usar/buscar estes números com as necessidades que eles causam, precisamos ter muito claro o ponto de vista econômico (custo X benefício). O que me deixa muito tranqüilo, é que apesar da suinocultura mundial ter situações pontuais polêmicas, quando realizada com embasamento técnico e atendendo os anseios locais de produção, continua a dar resultado financeiro positivo, e trabalho para os técnicos e muita gente ! Abraços a todos. Att, Rogério Paulo Tovo - Médico Veterinário Especialista em Suínos - Paraná - Brasil
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Maíra Vasconcelos
18 de octubre de 2010
Olá, Comunidade Engormix. Convido aos usuários a ler e comentar o informativo técnico publicado acima, sobre a produção de leitões. Quais seriam as vantagens e/ou desvantagens para o suinocultor que aposta no objetivo de produção de 30 leitões, por ano? E como alcançar a meta de maior quantidade e qualidade da carne? Espero sua participação. Obrigada.
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