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Estratégias nutricionais para maximizar desempenho e lucratividade nas fases de creche e maternidade

Publicado: 5 de outubro de 2010
Por: Gustavo J. M. M. de Lima (Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves); Luís F. S. Rangel; Nelson Morés
Introdução
O suíno jovem é capaz de apresentar um rápido crescimento, mas, infelizmente, uma série de fatores faz com que ele tenha dificuldades de expressar todo o seu potencial genético para que isto ocorra. Whittemore e Green (2001) sugeriram que leitões em fase de creche criados em condições comerciais com ambiente favorável (nutrição, sanidade, manejo e temperatura) podem ganhar 100, 200 e 400 g/dia na primeira, segunda e terceira semana após o desmame, respectivamente. Os ganhos de peso esperados com o uso dos genótipos comerciais atuais são, provavelmente, maiores do que os citados nestes artigos. Contudo, pode-se admitir que não é fácil superarmos estes índices em condições comercias devido à diversidade de desafios que os leitões enfrentam. O sucesso de um programa nutricional e de manejo de suínos após o desmame depende da sua capacidade de se adaptar à idade e peso de desmame, à disponibilidade e preço dos ingredientes, ao sistema de produção (ciclo completo, unidade produtora de leitões, multi-fases, desmame-abate), às restrições ao uso de antimicrobianos, à forma física das dietas, entre outros fatores. O objetivo deste artigo é apresentar alguns pontos importantes para melhorar o desenvolvimento dos leitões em fase de recria através do manejo e da nutrição, especialmente relacionados com problemas atualmente vividos pelos produtores de leitões.
Cuidados no manejo dos animais
O desmame é um grande desafio para os leitões, pois eles são separados do convívio da mãe, transferidos para um novo local/ambiente e muitas vezes reagrupados com animais de outras leitegadas, além de receber uma nova dieta, em muitos casos. A transição da alimentação à base de leite materno para dieta sólida deve ser iniciada o mais cedo possível na maternidade de maneira que, ao desmame, os leitões sejam encorajados a consumir dieta sólida tão logo quanto possível.
Usualmente, este consumo pode ser à vontade, desde que os leitões estejam adequadamente treinados, após serem expostos à dieta pré-inicial durante o período de aleitamento. Contudo, os cuidados com os leitões, principalmente nos primeiros dias após o desmame são imprescindíveis para evitar diarréia e outras enfermidades, queda no desempenho e mortes. Sugestões de metas e os índices zootécnicos críticos na fase de creche são apresentados na Tabela 1. É sempre bom lembrar que:
  • O alojamento dos animais deve acontecer em salas limpas, desinfetadas onde ocorreu um vazio sanitário de no mínimo cinco dias após a desinfecção, seguindo o sistema "todos dentro, todos fora";
  • Cuidados especiais devem ser tomados para evitar correntes de ar e manter a temperatura dentro da sala ao redor de 26°C nas duas primeiras semanas após o desmame;
  • Os leitões devem ser agrupados nas baias de acordo com a idade, sexo e peso. O desejável é que os leitões da mesma leitegada de origem sejam mantidos juntos, sem separar a família;
  • A lotação deve ser em função do tipo de baia, sendo de 3 leitões/m2 em baias
suspensas e 2,5 leitão/m2 nas demais baias. Em baias de piso de alvenaria, compacto, torna-se interessante o uso de cama de serragem/maravalha nos primeiros dias;
  • Fornecer ração à vontade aos leitões, cuidando-se para que ela esteja sempre nova nos cochos sem haver desperdício e evitando ração úmida, velha ou estragada nos comedouros;
  • Quando ocorrer surtos de diarréia pós-desmama ou doença do edema, restringir o fornecimento de ração, acompanhado de tratamento veterinário, até controlar o problema;
  • Os bebedouros devem estar sempre limpos e providos de água potável fresca. Eles devem ser regulados quanto à altura, vazão e pressão;
  • Dispor de uma caixa d'água por sala para suplementação dos leitões com
polivitamínico e eletrólitos, além de possibilitar o tratamento dos animais via água, quando houver necessidade;
  • Inspecionar cada sala de creche pelo menos três vezes pela manhã e três vezes à tarde, para observar as condições dos leitões, dos bebedouros, dos comedouros, da ração e da temperatura ambiente;
  • Nas creches com piso compacto limpar as baias e corredores das salas com pá e vassoura diariamente;
  • Lavar as salas da creche com baias suspensas, esguichando água, com lava-jato de alta pressão e de baixa vazão, no mínimo a cada três dias no inverno e a cada dois dias nas demais estações do ano;
  • Programar ações corretivas imediatamente, quando for constatada qualquer
irregularidade, especialmente problemas sanitários, e caso necessário, transferir os leitões doentes para a sala hospital;
  • Sempre manter as cortinas ou janelões com alguma abertura na parte superior, para manter uma ventilação de higiene na sala.
O conflito custo X praticidade X qualidade
A formulação de dietas para leitões requer o uso de ingredientes palatáveis com alta disponibilidade de nutrientes. Além disto, as dietas necessitam atender as exigências nutricionais dos suínos.
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Devido a problemas como falta de disponibilidade de ingredientes adequados, custos elevados e problemas com logística, é comum observarem-se produtos para leitões que recomendam nos seus rótulos o uso de fórmulas simples que necessitam ser misturadas apenas com milho e farelo de soja. Existem diferenças entre as escolas norte-americana (dietas mais baratas) e européia (dietas mais complexas e que estimulam a resposta imunológica) quanto aos padrões de nutrição dos leitões.
Exemplos das duas escolas podem ser observados também no Brasil. Na Tabela 2 é apresentado um exemplo prático com informações referentes ao uso de um núcleo comercial de 5% de inclusão na dieta.
Como pode ser observado nesta tabela, a simplicidade deste tipo de formulação busca atender à condição de falta de insumos nas propriedades rurais, como, por exemplo o óleo de soja ou de aminoácidos industriais, constituindo-se em um núcleo de baixo preço e que pode ser mais atrativo do ponto de vista comercial. Entretanto, os resultados de desempenho esperados não podem ser maximizados devido à deficiência de energia (Dieta 1). A partir do mesmo núcleo foram elaboradas quatro fórmulas alternativas de dietas que variaram em complexidade e em composição química. Assim, conseguiu-se formular dietas com menor percentual de farelo de soja e menor teor de proteína bruta que, embora possam ser consideradas dietas simples em comparação a outros exemplos, permitem a redução da ocorrência de diarréias e outros problemas nos leitões. Além disso, estas dietas possibilitam uma melhor relação entre os aminoácidos e uma transição mais amena para dietas contendo apenas farelo de soja como fonte protéica principal.
Síndrome multisistêmica do definhamento
Um dos maiores desafios da produção de leitões, desde a maternidade até o
abate, era a Síndrome Multisistêmica do Definhamento (circovirose) que se constitui em doença multifatorial de difícil controle porque o vírus é muito resistente. Esta enfermidade é controlada através do uso de vacinas comerciais que estão disponíveis no mercado. Entretanto, até o aparecimento dessas vacinas os melhores resultados de controle da mortalidade e perdas por refugagem eram obtidos com mudanças de manejo. A doença foi controlada mas todo o setor produtivo aprendeu que era necessário melhorar o manejo. As modificações propostas eram baseadas em um plano de correção de fatores de risco e de redução de fatores de estresse estabelecido por pesquisadores de outros países, denominado como "20 Pontos de Madec", os quais auxiliam no controle da circovirose, e de outras doenças, certamente, em um plantel de suínos e que podem ser resumidos em 4 regras básicas, listadas abaixo:
1. Reduzir o estresse - especialmente variações de temperatura, correntes de ar e excesso de gases.
2. Limitar contato suíno - suíno, evitando-se enxertias e misturas de lotes, especialmente de diferentes idades e origens, diminuir a densidade.
3. Proporcionar boa higiene, através da adoção rigorosa do sistema "todos dentro todos fora", uso de desinfetantes eficazes para PCV2, exercer medidas de biossegurança.
4. Garantir uma boa nutrição que garanta o bom funcionamento do sistema imune.
Como o circovírus é muito resistente a desinfetantes de uma maneira geral, principalmente por ficarem protegidos na matéria orgânica, é importante uma limpeza geral com uso de detergentes antes do uso de desinfetante efetivos contra o vírus.
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1 As simulações foram calculadas a partir das informações apresentadas no rótulo de um produto comercial.
2 A Dieta 1 apresenta as quantidades de milho, farelo de soja e núcleo recomendados pelo fabricante. As Dietas 2, 3, 4 e 5 foram calculadas para atender as exigências dos leitões a partir da composição do produto comercial.
Utilização da sala hospital
A sala hospital é um local separado das outras instalações, destinada a tratar os animais doentes da granja. Os suínos doentes da creche, ou de outras fases do ciclo produtivo, quando deixados na mesma baia, sofrem competição e são intimidados pelos companheiros. Nessas condições eles têm poucas chances de recuperação, mesmo que sejam medicados individualmente. Também suínos doentes potencialmente excretam mais agentes patogênicos, facilitando a disseminação da doença entre os companheiros de baia. A separação destes animais numa sala hospital, com menor densidade animal e ambiente mais confortável permite maior chance de recuperação e auxilia na prevenção e disseminação da doença no rebanho.
Segundo Morés e Bordin (2006), a sala hospital deve ser um local confortável, livre de correntes de ar e com uma temperatura adequada aos animais. Além disso, esta sala deve ter boa higiene, permitir limpeza adequada e desinfecção das baias e fácil acesso dos suínos à água e alimento.
É fundamental que esta sala disponha de caixa d'água exclusiva para facilitar a suplementação de nutrientes ou o tratamento via água dos animais. Além disso, cada baia deve dispor de um bebedouro e um comedouro de fácil acesso pelos suínos. Os comedouros devem permitir o fornecimento de pequenas quantidades de alimento, o qual deve ser fornecido duas vezes ao dia para não deixar sobras. Assim, os comedouros não devem ser, preferencialmente, automáticos ou semi-automáticos. Algumas questões de biossegurança devem ser atendidas nesta instalação como o uso exclusivo de materiais de limpeza (pás e vassouras), seringas e agulhas para medicações, cachimbo para conter os suínos e calçados para o operador. Recomenda-se a o uso de um sistema de nebulização que permita fazer desinfecções aéreas.
Plasma na nutrição de leitões em fase de creche
O plasma sanguíneo seco em sistema spray dry é composto por imunoglobulinas, peptídeos, fatores de crescimento e outros nutrientes que possuem funções biológicas e é utilizado tradicionalmente na nutrição de leitões. Araújo et al. (2002), em revisão sobre o assunto, concluiu que a utilização de proteína sangüínea na dieta de leitões desmamados tem melhorado o desempenho desses animais. A resposta é dependente da taxa de inclusão, idade e peso dos leitões, sanidade e condições do local de criação. A melhora observada com a utilização do plasma é devida, principalmente, à ação de globulinas no intestino e pela alta qualidade de sua proteína, constituindo-se em um ingrediente importante na alimentação de leitões após o desmame. Butolo et al. (1999) em avaliação do plasma spray-dried em leitões desmamados aos 21 dias de idade verificaram que inclusões de até 7,5% de plasma spray-dried proporcionaram aumento no consumo diário de ração de 0 a 14 dias pós-desmama. Este efeito foi mantido no período de 15 a 28 dias pós-demama quando os animais receberam associação de 2,5% de plasma spray-dried e 2,5% de hemácias produzidas por spray dry na dieta.
Stahly et al. (1994), verificaram que a taxa de crescimento e a eficiência da utilização dos alimentos em condições de maior exposição antigênica foram melhores para suínos que consumiram plasma do que para o grupo controle, sem plasma. Coffey & Cromwell (1995) encontraram resultados similares, comparando leitões com e sem plasma na dieta. Leitões consumindo plasma apresentaram melhor desempenho em granjas comerciais, com desafios convencionais de campo, do que em ambiente controlado.
Steidinger et al. (2002) verificaram que a suplementação com imunoglobulinas através da água de beber melhorou o desempenho de leitões precocemente desmamados, mesmo em dietas formuladas com elevada complexidade de ingredientes. Em condições de saúde normal, sem desafios aos leitões, Jiang et al. (2000) constataram uma melhor utilização da proteína da dieta daqueles que receberam plasma quando comparados aos animais alimentados com proteína de soja extrusada.
Leitões alimentados com plasma apresentaram 40% menos uréia circulante (P<0,05), bem como, melhoraram a eficiência na utilização da proteína da dieta para produção de carne magra. Bosi et al. (2004) investigaram o impacto do plasma spray-dried no desempenho e na saúde de leitões desafiados com Escherichia coli K88 enterotoxigênica. Verificaram que a utilização de 6% de SDAP na dieta proporcionou um melhor desempenho e protegeu contra infecção pela Escherichia coli K88 enterotoxigênica, através da manutenção da integridade da mucosa intestinal, do aumento da defesa por anticorpos específicos e da redução da expressão de mediadores inflamatórios no intestino (ex.TNF-α ) nas placas de Peyer. Além disso, os autores sugeriram que o uso do SDAP pode ser considerado uma boa alternativa aos antibióticos.
Garriga et al. (2005) verificaram que o SDAP reduziu os efeitos de enterotoxinas B de Staphylococcus aureus no transporte de glicose no intestino de ratos. A absorção da glicose foi 8 a 9% maior nos animais com plasma comparados ao grupo controle. Isto implica que este pequeno, porém significativo, aumento na capacidade de absorção possa contribuir para o ganho de peso e desempenho observados em animais alimentados com SDAP. Os autores também demonstraram que os animais alimentados com plasma tiveram redução na quantidade de água das fezes.
Os anticorpos presentes no plasma podem prevenir a excessiva estimulação do sistema imune, seja por ligação ou interferência na ação do patógeno na mucosa intestinal (Deprez et al., 1996). Bosque, et al. (2006), verificaram que o SDAP evitou os efeitos da Enterotoxina B do Staphylococcus aureus na função da barreira intestinal de ratos recém desmamados. Neste trabalho foram utilizados ratos desmamados aos 21 dias de idade que receberam SDAP ou concentrado de imunoglobulinas (IC) até 34 a 35 dias de idade. O grupo controle não recebeu nenhum dos ingredientes anteriores neste período. Nos dias 30 e 33 os animais foram injetados, via intraperitoneal, com SEB.
Nos animais tratados com SDAP ou IC houve redução na permeabilidade intestinal quando comparados com os animais do grupo controle. Este fato pode prevenir a passagem de microorganismos e antígenos de alimentos para o espaço intersticial e, por conseguinte, bloquear o processo inflamatório local. Os autores concluíram que as dietas suplementadas como proteínas plasmáticas (SDAP ou IC) podem prevenir em parte alterações na estrutura do epitélio durante o processo inflamatório e melhorar a função de barreira da mucosa intestinal. Esta observação também contribui para explicar a melhora na performance de animais de produção quando alimentados com proteínas plasmáticas.
Plasma em Condições de Desafio
Segundo a avaliação epidemiológica de fatores de risco associados à Circovirose, Dewey et al. (2000) observaram que, em rebanhos onde se fornecia menos plasma para os leitões, quando estes eram transferidos para a segunda dieta (com plasma) e terceira dieta (sem plasma), em idades mais jovens, apresentaram mortalidade de 4,4% e refugagem de 3,7%. Por outro lado, os animais que consumiram mais plasma por um período mais longo da vida apresentaram mortalidade de 2,1% e refugagem de 1,6% (P<0,10).
Morés et al. (2005) conduziram dois experimentos na Embrapa Suínos e Aves para avaliar a utilização de plasma mais ácido orgânico diluídos na água de beber de leitões com sintomas de SMD. O Experimento 1 foi conduzido nas instalações de isolamento da Embrapa Suínos e Aves com leitões apresentando sintomas de circovirose, adquiridos em granjas de parcerias de integração do sul do país. Os leitões doentes foram selecionados 10 dias após o alojamento na parceria, e o experimento foi iniciado um dia após a chegada dos leitões no isolamento e finalizado 39 dias depois. O Experimento 2 foi realizado em integração no sul do país envolvendo 8 parcerias. Em cada parceria foram utilizados no mínimo 18 leitões que apresentavam início de
sintomas compatíveis com a SMD, associada ao circovirus tipo 2. Os experimentos só foram iniciados após a confirmação do diagnóstico laboratorial de circovirose, através da necropsia, histopalogia e PCR em pelo menos 1 leitão com sintomas da doença, de cada parceria envolvida nos testes. O teste foi iniciado entre 10 a 15 dias após o alojamento dos leitões nas parcerias. Foi observada tendência dos leitões no tratamento com plasma apresentarem melhor condição corporal (menor definhamento), menor freqüência de hipotrofia de timo e menos úlceras. Além disso, foi observada melhor conversão alimentar aos 15 a 29 dias de experimento (experimento 2), com diferença estatística, onde o grupo que recebeu a solução com AP 920 + ácido foi melhor que o testemunha. No Experimento 2, com adição do plasma AP 920 + ácido, 
embora sem diferença significativa, houve melhora clínica dos leitões tanto no estado corporal como na palidez e icterícia da pele nas avaliações realizadas aos 14 dias de experimento. Nos leitões que morreram havia menos animais com lesões da SMD e de úlcera gástrica do que nos animais do grupo controle. Os resultados obtidos nos dois experimentos levaram a sugerir que o SDAP poderá ter maior efeito sobre os leitões no desenvolvimento da SMD se utilizado antes de adoecerem, como, por exemplo, nas dietas de creche. Esta hipótese foi testada em experimento conduzido pela Embrapa durante o inverno de 2006, em uma granja com cerca de 2500 fêmeas na Região Sul, mas os resultados ainda não estão disponíveis.
Crenshaw et al. (2003), avaliando o uso de proteínas plasmáticas em suínos com úlceras, observaram que, no terceiro dia de tratamento, as áreas das úlceras foram de 13,5 cm3 em 5 de 6 suínos já apresentando início de cicatrização, enquanto os animais do grupo controle apresentavam área das úlceras de 22,5 cm3, sendo que todos os 6 suínos apresentavam úlceras ativas. Os animais deste experimento apresentavam úlcera gástrica, lesões pulmonares severas, baço aumentado e fígado pálido. Os autores relataram que nos pulmões foi possível isolar, PRRSV, PCV2, Pasteurella multocida, Streptococcus suis tipo 8. Zanella et al. (2005), avaliaram o efeito do plasma + ácido na água de leitões com SMD sobre o perfil antioxidante do sangue dos leitões. Os resultados de quantificação da peroxidação lipídica indicaram não haver diferença significativa entre os tratamentos T1 e T2, sem e com plasma, respectivamente. No entanto, a análise estatística da glutationa reduzida, mensurada através dos grupamentos tióis nãon protéicos, apresentou aumento significativo nos tratamentos T2 quando comparado ao tratamento T1 (p<0,01). O aumento do status redox intra eritrocitário no tratamento T2 pode estar associado à atividade antioxidante do plasma e à atividade antimicrobiana do ácido orgânico testado, responsável por inibir o consumo de antioxidantes plasmáticos pelos microrganismos. Esse fato demonstra um efeito benéfico representado pelo aumento dos grupamentos tióis não protéicos no tratamento T2. Os leitões que receberam plasma + ácido orgânico apresentaram aumento na capacidade antioxidante nos eritrócitos e melhor conversão alimentar nos 14 e 28 dias de experimento. Concluiu-se que animais tratados com plasma + ácido orgânico apresentaram uma melhora do sistema antioxidante de defesa representado pelo aumento dos grupamentos tióis não protéicos e demonstraram uma melhor conversão alimentar no 14o e 28o dias de experimento. Morés et al. (2007) avaliaram o efeito do fornecimento de plasma spray-dried para suínos de creche e crescimento sobre a gravidade da PCVAD. O experimento foi conduzido em uma granja brasileira com histórico de sintomas clínicos de PCVAD em suínos em crescimento (5 a 10 semanas de idade). O plasma spray-dried for utilizado em dietas fornecidas a partir do desmame (25 dias de idade) até duas semanas depois da transferência para o crescimento (66 dias de idade). Foram usados níveis dietéticos de plasma spray-dried suíno de 6, 3, 1,5 e 1%, nas fases de alimentação desde o desmame até duas semanas depois da transferência para o crescimento, respectivamente. Os animais alimentados com plasma spray-dried tiveram maior ganho de peso durante as fases de creche e pesaram 2 kg a mais do que os do grupo controle, alimentados com farinha de peixe em substituição ao plasma. Além disso, os suínos que receberam plasma spray-dried tiveram menos sintomas clínicos de PCVAD. Os autores concluíram que os animais alimentados com plasma spray-dried foram menos afetados pela PCVAD.
Messier et al. (2007) também avaliaram o impacto do fornecimento de plasma spray-dried para suínos em crescimento-terminação em uma granja comercial, no Canadá, com histórico de circovirose associada ao vírus da síndrome respiratória e reprodutiva suína (PRRS). A mortalidade média dos quatro grupos anteriores de suínos terminados nesta granja de terminação era 7%, com um intervalo de 4 a 10%.
Historicamente, o pico de mortalidade ocorria de 3 a 8 semanas após o alojamento no galpão de crescimento-terminação. No referido experimento, os suínos foram colocados na terminação às 12 semanas de idade e alimentados com 1% de proteínas de plasma suíno durante as primeiras quatro semanas e 2,5% nas semanas 5 e 6, quando os sintomas da doença e a mortalidade aguda eram mais prevalentes. Na 6ª semana depois do alojamento na terminação, a mortalidade do grupo controle foi de 8% em comparação a 2,2% nos animais alimentados com proteínas do plasma. Depois de 6 semanas de alojamento, todos os animais foram alimentados com a dieta controle. A mortalidade total dos animais até o abate foi de 11,9% para o grupo controle contra 6% nos animais que receberam proteínas do plasma nas 6 primeiras semanas da terminação. Além disso, os custos com medicação foram reduzidos em cinco vezes para os suínos alimentados com proteínas do plasma spray-dried.
A menor mortalidade e o melhor desempenho de suínos afetados com PCVAD, observados em animais alimentados com proteínas do plasma, estão de acordo com outros estudos (Tabela 3) que avaliaram os efeitos do plasma spray-dried sobre a mortalidade e a morbidade de animais desafiados com diferentes patógenos. Estes dados demonstram que as proteínas do plasma spray-dried podem ser usadas como ferramenta de manejo para minimizar a mortalidade e a morbidade associadas à prolongada ativação do sistema imune induzida por diferentes antígenos, independente do estágio do ciclo de vida dos animais.
Estratégias nutricionais para maximizar desempenho e lucratividade nas fases de creche e maternidade - Image 3
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As recomendações atuais para o uso de plasma spray-dried em dietas de leitões em rebanhos suínos com diferentes níveis de desafío sanitário estão listadas na Tabela 4 (Rangel et al., 2008).
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1 Adaptado de Rangel et al., 2008.
2 Percentagens de plasma nas dietas devem ser aumentadas se a gravidade dos sintomas clínicos aumentar e vice versa.
3 Ração fornecida enquanto os leitões estão sendo amamentados pela matriz e em transição para a creche.
4 Pressupõe animais com sintomas clínicos que são alojados em baias-hospital para cuidados e tratamentos especiais.
O papel do cálcio e o zinco na ocorrência de diarréia em leitões
O zinco (Zn), quando adicionado na forma de óxido e em doses farmacológicas, por duas a três semanas, aumenta o ganho de peso e reduz a incidência de diarréia de leitões após o desmame (Botelho et al., 1995; Holm, 1988; Lima et al., 1993; Lima et al., 1994; Lima et al., 1996). Embora ainda não se conheça o mecanismo do Zn em altas doses sobre os microrganismos do intestino, sabe-se que a maior parte do Zn suplementado é eliminado nas fezes (Cristani et al., 1997).
A absorção de Zn ocorre principalmente no intestino delgado dos suínos, após
esse mineral se combinar especificamente com a prostaglandina E2 ou um de seus metabólitos no lúmen (Miller et al., 1979). Vários componentes dietéticos podem afetar a absorção desse mineral tais como níveis altos de cálcio (Ca), fósforo, cobre, cádmio e cromo além de fitato e fibra (Miller et al., 1979).
Há dez anos atrás, foi publicado um estudo realizado em 65 propriedades dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, verificou-se que 78,50% apresentaram níveis analisados de Ca nas dietas de leitões após o desmame superiores a 0,70%, exigência indicada pelo NRC (1988) para leitões dos 10 aos 20 kg  de peso (LIMA et al., 1997). Dessas granjas, 29,30% utilizavam dietas com teores de Ca acima de 0,90%. Nos dias de hoje, é comum observar-se que as dietas para leitões ainda contem estes níveis de cálcio. Isto ocorre devido ao uso de calcário como enchimento/veículo em fórmulas de dietas, núcleos e até premixes, especialmente quando o seu preço é inferior ao caulim ou outro veículo.
Um estudo foi realizado para avaliar se o efeito de altos níveis de Zn suplementar na dieta sofre influência do nível dietético de Ca (Lima et al., 1997). Foram testados os efeitos de níveis de Zn (0 e 2400 ppm), na forma de óxido, em dietas contendo 0,80% (adequado) ou 1,20% de Ca. As dietas experimentais foram fornecidas aos animais durante duas semanas, sendo que nos 14 dias restantes do experimento todos os animais foram alimentados com uma única dieta contendo 150 ppm de Zn e 0,80% de Ca. Seis animais morreram por enterite, sendo que todos receberam dietas sem Zn suplementar: dois do grupo alimentado com a dieta com 0,80% Ca e os demais com 1,20% Ca. A adição de Zn promoveu uma redução significativa na freqüência de animais com diarréia. Observou-se que dietas contendo maior nível de Ca ocasionaram maior incidência de diarréia nos leitões. Considerando-se o período total de experimento, o consumo diário de ração foi maior nos animais que receberam dietas contendo maior nível de Zn e nível adequado de Ca. A suplementação das dietas com 2400 ppm de Zn promoveu um aumento no ganho diário de peso dos leitões no período de suplementação e no período subsequente. Ao contrário, o maior nível de Ca na dieta reduziu o ganho diário de peso dos leitões nos primeiros 14 dias de experimento, talvez devido à redução da digestibilidade dos nutrientes resultante da elevação do pH e à formação de quelatos com outros nutrientes a nível intestinal. Verificou-se interação entre níveis de Zn e Ca para o ganho diário de peso no período total de experimento, sendo que os animais que não receberam Zn suplementar na dieta apresentaram respostas similares, independente do nível de Ca dietético. Em contrapartida, os leitões que consumiram dietas com 2400 ppm de Zn apresentaram menor ganho diário de peso quando o nível de Ca foi de 1,20%. Isto demonstra que a ação do Zn é maior quando o nível de Ca na dieta é adequado. Considerando-se o período total de experimentação, o uso de altos níveis de Zn na dieta acarretou uma melhor conversão alimentar, ao passo que esta variável não foi afetada pelo nível de Ca na dieta.
Conclui-se que a suplementação de 2400 ppm de Zn nas dietas de leitões após o desmame foi eficiente no controle da diarréia e no aumento do consumo diário de ração e ganho diário de peso. Altos níveis de Ca deprimem o desenvolvimento dos leitões, aumentando a incidência de diarréia e reduzindo a ação benéfica de doses farmacológicas de Zn na dieta.
Manejo das porcas na lactação
Os objetivos durante a lactação são: produzir o maior número de leitões, que eles tenham um peso adequado ao desmame e que porca chegue ao final da lactação em condições de ser coberta o mais rápido possível, tendo uma nova gestação que se desenvolva normalmente. Em se tratando de número máximo de leitões com bom peso ao desmame, entenda-se que a porca deva apresentar uma boa produção de leite, a qual é ao redor de 3 L/dia ao início e 10-12 L/dia no pico de lactação, dependendo do número de leitões, da sua viabilidade e da disponibilidade de nutrientes para a síntese de leite, seja através da dieta ou de origem endógena. As fêmeas normalmente consomem pouco na primeira semana de lactação (3 a 4 kg/dia) por falta de adaptação e pela demanda menor de produção de leite, característica de início de lactação. Entretanto, as necessidades de consumo aumentam rapidamente, como reflexo do rápido crescimento da progênie. Assim, é importante cuidar para que o consumo de ração seja à vontade a partir da segunda semana de lactação, evitando que os nutrientes para a produção de leite tenham origem principal nas reservas corporais da fêmea. Existem várias formas de estimular o consumo de alimento pelas porcas, destacando-se quatro itens: (a) necessidade do fornecimento de dietas palatáveis, livres de micotoxinas; (b) fornecimento de várias refeições diárias; (c) garantia de fornecimento constante de água limpa, fresca e abundante; e (d) manutenção de um ambiente com temperatura confortável para as porcas.
Utilização de sucedâneos do leite
A utilização de sucedâneos lácteos na alimentação de leitegadas que apresentam crescimento limitado pode constituir-se em prática importante para aumentar o peso ao desmame e reduzir a mortalidade de leitões, especialmente para compensar a produção insuficiente de leite pelas porcas. Em alguns estudos tem sido demonstrado que leitegadas com acesso a suplementação com algum tipo de sucedâneo crescem 10 a 38% mais rápido do que aquelas que não tem acesso à suplementação (Azain et al., 1996; Dunshea et al., 1997; Lindberg et al., 1997).
Normalmente, essa prática não afeta negativamente a produção de leite das porcas até os 20 dias de lactação e apresenta um efeito positivo sobre o crescimento dos animais até, pelo menos, os 120 dias de idade (Dunshea et al., 1997). Alguns autores observaram que a condição corporal das porcas melhorou quando o desmame foi realizado aos 35 dias (Lindberg et al., 1997). Os efeitos benéficos dessa prática são mais evidentes em épocas quentes, quando o consumo de alimento é um problema para as porcas, dependendo das condições de produção. Atualmente, constituem-se dificuldades para a implementação desta técnica o custo do sucedâneo, a disponibilidade e o preço dos equipamentos necessários e o gasto com mão-de-obra.
Plasma na nutrição de porcas
As matrizes também sofrem vários tipos de estresse, associados ao parto, à lactação e à gestação. Os produtores frequentemente têm dificuldade em fazer com as matrizes em lactação consumam quantidades adequadas de ração para minimizar a perda de tecidos maternos e para sustentar as exigências para a produção de leite e de crescimento da leitegada, especialmente em períodos de estresse por calor. A suplementação de dietas de matrizes com proteínas do plasma, para reduzir os efeitos dos estressores associados ao parto, lactação, antígenos ou fatores ambientais, deve ser levada em consideração.
Resultados de experimentos com matrizes em lactação alimentadas com plasma spray-dried estão resumidos na Tabela 3 (Crenshaw et al., 2007). Os estudos incluíram matrizes de várias ordens de parto, suplementadas com níveis diferentes de plasma spray-dried (0 vs. 0,25% ou 0 vs. 0,50%). Quatro experimentos (Exp. 1, 3, 4 e 5) foram  conduzidos durantes os meses de verão, enquanto que no Exp. 2 foi conduzido no outono e no inverno. No Experimento 1 (experimento de verão), a inclusão de 0,25% de plasma spray-dried à ração de lactação resultou em aumento de consumo de ração e menor intervalo desmame-cio, enquanto que no Experimento 2 (experimento de outono e inverno), o plasma spray-dried a 0,25% não afetou o consumo nem o intervalo desmame-cio. No Experimento 3 (experimento de verão), o consumo de ração de matrizes de primeira e de segunda lactação, alimentadas com 0,5% de plasma spraydried, aumentou, enquanto que o de matrizes adultas (3 ou mais partos), diminuiu. A redução do consumo médio diário de ração das matrizes adultas que receberam plasma foi de aproximadamente 3 a 4% e diminuiu um pouco a cada dia da lactação.
Além disso, o intervalo desmame-cio diminuiu em primíparas alimentadas com plasma spray-dried a 0,5% e tendeu a diminuir nas adultas alimentadas com plasma spraydried. No Experimento 4 incluiu apenas matrizes adultas (3 ou mais partos) e, semelhante ao Experimento 3, o consumo de ração das matrizes adultas foi reduzido de 3 a 4%. No entanto, o peso da leitegada, o peso médio ao desmame e o número de leitões comercializáveis (peso corporal ao desmame maior que 3,6 kg) aumentaram quando as matrizes receberam 0,5% de plasma spray-dried na ração de lactação. No Experimento 5 (Crenshaw et al., 2008) utilizou multíparas que pariram no verão e que receberam 0,5% na ração de lactação. Dados de consumo de ração não foram registrados neste experimento, mas o peso da leitegada e o peso médio dos leitões ao desmame foram melhores para as matrizes alimentadas com proteínas do plasma. Estes dados indicam que níveis dietéticos relativamente baixos de plasma spray-dried (0,25 a 0,50%), fornecidos a primíparas que pariram no verão, aumentaram o consumo de ração de lactação e reduziram o intervalo desmame-cio. As matrizes adultas, alimentadas com plasma spray-dried durante o verão, consumiram menos ração de lactação, sem comprometer o intervalo desmame-cio, e produziram leitegadas de maior peso, maior peso corporal médio dos leitões e maior número de leitões comercializáveis ao desmame. Campbell et al. (2006) avaliaram os registros semanais de desempenho de um rebanho de matrizes (5.550 matrizes) com PRRS instável, utilizando análise de controle do processo estatístico (SPC) para identificar mudanças significativas nas medições de produção, antes e depois da adição de plasma spray-dried na ração de gestação e de lactação. O plasma spray-dried foi suplementado a 0,5% nas rações de gestação e de lactação fornecidas a todas as matrizes da granja. Depois da adição de proteínas do plasma às rações, ocorreram melhoras na taxa de partos (81 vs. 86%), nascidos vivos por mil matrizes cobertas (8.422 vs. 8.823) e desmamados por mil matrizes cobertas (7.444 vs. 7.841). Houve melhoras no sistema, apesar dos dados sorológicos do trimestre indicarem atividade contínua de títulos de anticorpos contra o vírus da PRRS, durante todo o período de avaliação.
Além disso, Vitagliano et al. 2009, verificou que o fornecimento de 20 g de plasma spray dried por porca por dia, do momento da cobertura até 35 dias após, melhorou a taxa de parição (de 81,1 para 90,8%) e também reduziu a taxa de retorno ao cio após a cobertura (de 11,6 para 5,2%). Recomenda-se que 0,5% de plasma spray-dried seja formulado e misturado a rações de lactação e que 1% seja adicionado nas rações de gestação. Os produtores devem consultar um nutricionista para garantir que suas rações sejam formuladas adequadamente.
Em resumo, as proteínas do plasma spray-dried reduzem a ativação prolongada da resposta imune induzida por estressores antigênicos e ambientais, preservando assim a utilização de nutrientes para sustentar a resposta imune e permitem que os nutrientes sejam utilizados para propósitos produtivos.
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Gustavo Lima
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