O que preocupa com o sistema de cria em cama sobreposta é se o manejo da granja terá controle sobre as doenças transmitidas pelo uso da cama, do tipo respiratórias, entéricas e principalmente a Linfadenite.
Se não houver um planejamento dos estoques da cobertura tipo: procedência, armazenagem, destino, maquinário e mão de obra para locomoção. O destino da áqua também é preocupante. O clima da região deve ser analisado antes da implantação, para não afetar a qualidade da cama. O bem estar animal no caso do conforto de problemas com o casco ou queda é bem aceitável.
Penso que devemos avaliar o custo benefício de uma instalação para o mesmo plantel, considerando o uso de biodigestor e uso da água tratada para irrigação.
At,.
Fernandes
TA - IFPA-PA
Acredito que o grande motivo pelo qual o sistema de cama sobreposta ainda não tem grande utilização é justamente a disponibiladade de material para a cama. Aqui na minha região há grande disponiblidade de maravalha , porém mesmo assim ainda não conheço nenhuma produção comercial neste sistema .
Acredito que seja necessário se estudar outros produtos para a cama , a palha de arroz acredito que seja a que substitua a serragem , porém o bagaço de cana seja um potencial substituto. Quanto a palhada do milho , não tenho conhecimento mas acredito que possa a vir a trazer problemas principais relacionadas a fungos e outros microorganismos que possam vir a causar algum problema nos animais.
Nossa equipe no passado recente fez alguns trabalhos de cama. O que ficou claro que o sistema de cama profunda é um fator de risco para a linfadenite, pois o agente permanece e se multiplica na cama e, devido ao hábito do suíno ingerir certa quantidade de cama, acaba se contaminando e desenvolvendo as lesões da doença. No passado, pelo menos na região sul do Brasil, o que limitou o uso do sistema de cama profunda foi exatamente a ocorrência de linfadenite. Todavia, caso o sistema for bem utilizado, respitando área por animal, higiene, origem procedência dos leitões de fontem onde essa infecção é controlada, etc, a ocorrência da doença pode ser bastante reduzida. Nos nossos estudos, quanto a ocrrência de linfadenite, a cama de serragem é pior que a de maravalha e estas duas são piores que a casca de arros.Outro cuidado sanitário importante no sistema de cama profunda é a ocorrência de endoparasitos.
Nelson Morés,
Pesquiador da Embrapa
Isto lembra-me a historia do indivíduo que tinha uma dor de cabeça, deu uma forte martelada num dedo, como esta dor era mais forte ele esqueceu a dor de cabeça.
Aqui no Canada, onde as condições climatéricas seriam mais convidativas ao uso de cama, alguns anos atrás o assunto foi investigado e chegou-se à conclusão do procedimento não ser recomendado.
As camas, seja lá qual for o material usado palha de milho, feno, serradura, papel, excedente de cana, etc., proporcionam um ambiente ideal para o desenvolvimento e proliferação de uma multitude de microorganismos, alguns patogénicos, de entre os quais se poderá destacar os causadores de leptospirosis, coccidioses, linfadenites, endoparasitarios, etc. Além dos muito importantes aspectos sanitários, o uso de cama vem sobrecarregar a força laboral pois que se torna necessário o seu transporte e colocação, e em breve tempo, a sua remoção e tratamento (nem que seja sómente compostagem). Tem também custos envolvidos, desde o seu próprio até ao do seu manejo. Para o bem estar do animal, e para o seu melhor desempenho, nada como um piso seco, com temperatura, ventilação e humidade adequadas. Porque não tratar os dejetos que se acumulam no tanque de recepção? Seria mais fácil, talvez até mais económico e, definitivamente, ecológicamente mais eficiente. Inúmeros processos existem para o fazer. Porquê dar a martelada no dedo ? Trate-se, isso sim, a tal dor de cabeça.
Adicional ao meu anterior comentário, gostaria ainda de lembrar que o uso de cama na criação de suínos tem também sérias implicações na alimentação e daí, por extensão, no rendimento do animal. Numa das explorações que tive sob minha gerência, tentamos usar camas com palha de milho, para verificar se tal procedimento levaria a quaisquer melhores resultados de produção. Verificou-se que a grande maioria (talvez a totalidade das porcas) perdia peso e de forma geral se apresentavam com aspecto menos saudável o que logo se notou ser consequência de ingestão da palha de milho. (Hoje posso concluir que se fosse vinhaça ou palha de arroz ainda poderia ter sido mais grave). O suíno não tem, como todos sabemos, a vantagem dos ruminantes neste aspecto nutricional, e que o digam os nutricionistas (eu sou um deles), pela “ginástica” que temos que fazer para manter o equilíbrio nutricional na formulação de rações para suínos. Ao ingerir a palha, e como eles gostam dela!, resulta que o animal fica com a falsa noção de estar alimentarmente saciado, quando é justamente o oposto, pois que o fraco (relativamente) valor nutricional da palha vai reduzir a ingestão da ração, com o seu equilíbrio de todos os valores necessários ao animal. Mais recentemente foi científicamente observado que a disponibilidade e utilização de vários aminoácidos é reduzida, em especial nas dietas em que a treonina exerce o efeito limitador, quando o teor de fibra é aumentado sem ser “equilibrado” com os restantes components nutricionais da ração. Como não é possível determinar o valor de fibra que os animais ingerem, também não é possível compensar a ração, nem tal seria económicamente aconselhável.
Se os aspectos que se concluem relativo a criação de suinos em cama sobreposta no que diz repeito ao material usado na cama, o custo relativo ao transporte e alocação, a sua contaminação com o desenvolvimento e proliferação de uma série de microorganismos, alguns patogénicos, causadores de leptospirosis, coccidioses, linfadenites, endoparasitarios, o fator da conversão alimentar ser inadequada conforme apresentado pelo Sr. Duarte, e do Sr. Nélson, no meu entender como técnico não é viável economicamente e principalmente pelo aspecto de sanidade e meio ambiente. Nesse caso, solicito que seja considerado a não recomendação do uso de cama sobreposta na criação de suíno. Seja alertada para os problemas de sanidade animal e meio ambiente. Seria interessante que fosse considerado também a de sanidade animal, além do meio ambiente. Os trabalhos existentes sobre o assunto deverão ser revistos.
A análise do Dr. Duarte Santos é pertinente, pois muitas das considerações feitas por ele foram observadas em uma suinicultura aqui em Nova Friburgo-RJ. Principalmente com ocorrência de doenças endoparasitárias
Ref: CAMA SOBREPOSTA, concordo com tudo acima exposto, com uma ressalva pode funcionar muito bem, se BEM utilizada. Faço algumas observações fundamentais. Tenho um projeto PILOTO modular de 12 matrizes, (cama sobreposta) na gestação, maternidade e engorda instalado e funcionando à 5 anos, como modelo e primeira recomendação. Cama sobreposta é para quem tem a cama, fácil, disponível e de graça, e VOLUME. Gasto 240 Metros Cúbicos de cama para encher os 2 galpões 1 vez por ano. (casca de arroz). Uso na granja de 12 matrizes (como disse é piloto) para os próximos projetos, e com dois galpões: 372 metros quadrados, para um plantel medio de ciclo completo 120 / 130 animais, entre Matriz, reprodutor, leitões na maternidade e leitões na engorda, uso sistema de desmama tardia 38 a 42 dias, e tiro o leitão da maternidade direto para a terminação engorda (wean to finish) e ele só sai da engorda para o abate. 14 semanas depois. Galpões com cama profunda de casca de arroz com mais de 60 centímentros de profundidade, em todas as baias, com drenos no piso. Segredo é zero de água de bebedouros e de chuva na cama, paredes baixas e bem ventilado, galpões estreitos e com pe direito alto, e todos com lanternim, ventiladores, e cortinas. Manejo adequado para cama sobreposta. Fazemos monitoria sanitária, acompanhamento de abate, e não temos tido problemas. Obs: é uma granja pequena, sem moscas, sem cheiro, sem dejetos, sem canaletas, sem tanques de dejetos. Mas uma vez por ano promovemos uma troca gradativa de toda a cama dos galpões, este material orgânico vai para lavoura.
Caro Eduardo, vou falar como economista: temos que procurar um meio termo para a criação industrial de suínos. As leis ambientais no mundo todo estão ficando mais a mais rígidas, procurar alternativas para o que estamos discutindo, agregar diversos conhecimentos, ver todos os gargalos são de fundamental importância. Considero fundamental o que você está fazendo, testando, quando tiver notícias de uma granja de maior volume desta técnica, favor disponibilizar! Saudações.
A utilização de cama sobreposta está limitada não ao tamanho da granja, e sim ao projeto em si, específico, bem elaborado, e dimensionado, para tal, e principalmente com a disponibilidade de cama, "substrato" palha de arroz, feijão, café, bagaço de cana, milho, capim, casca de arroz, serragem, cepilho, etc., tudo isto muito seco, e de preferência dentro da propriedade em custo zero, senão já começa a inviabilizar o sistema. E fundamentalmente o manejo e lotação.