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ESTIMATIVA DO VOLUME DE ÁGUA PLUVIAL QUE PODE SER REUTILIZADA NA SUINOCULTURA – UM ESTUDO DE CASO

Publicado: 17 de outubro de 2012
Por: Fernanda Rubio; Affonso Celso Gonçalves Junior; João Ricardo Pompermaier Ramella; Ricardo Zenatti; Andressa Carla Agostini
Sumário

Resumo

A suinocultura apresenta-se como uma atividade de grande crescimento e importância no Oeste do Paraná. Em conseqüência desta atividade, tem-se observado grande uso dos recursos naturais e impactos ao meio ambiente, principalmente devido à alta demanda por água, a qual é utilizada tanto para consumo, quanto para a limpeza das baias. Frente ao exposto, este trabalho teve como objetivo estimar o volume de água de precipitação pluviométrica que pode ser reaproveitada na limpeza das instalações. O estudo foi desenvolvido em uma granja coberta de 1.200 m2, localizada no distrito de Iguiporã no município de Marechal Cândido Rondon – PR. Foi estimado o volume de água por meio de dados de precipitação pluvial média, área de cobertura da granja e cálculos do dimensionamento do volume da cisterna necessária para a implantação na propriedade segundo NBR 15527 da ABNT. Os resultados evidenciaram que com a implantação do sistema seria possível uma economia de aproximadamente 77,65 % da água consumida para limpeza. Demonstrando que a coleta de águas pluviais diminui o impacto sobre o uso de água tratada e contribui para a preservação desse importante recurso natural.

Palavras chave: estimativa, precipitação pluviométrica, suinocultura.

1 Introdução
O Brasil é o 4º maior produtor mundial de carne suína no mundo, sendo aproximadamente 3 milhões de toneladas em 2010 (Tabela 1). Isto o coloca como um dos países promissores no crescimento da produção agropecuária, acrescido à sua grande extensão de terras, recursos hídricos, meios de transporte e suficiência no abastecimento de grãos (milho e soja) (SUINOCULTURA INDUSTRIAL, 2003).
Tabela 1 – Produção Mundial de Carne Suína
Fonte: USDA / Abipecs *Mil t - em equivalente-carcaça
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O estado do Paraná tem se destacado como importante pólo agroindustrial brasileiro, principalmente no setor de suinocultura, ocupando o terceiro lugar no ranking de produção de suínos no país, representando, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2006), cerca de 13% da produção nacional, havendo aproximadamente 4.500.000 cabeças de suíno no Estado.
No entanto, segundo órgãos de controle ambiental, a suinocultura é considerada uma atividade causadora de degradação ambiental, sendo vista como poluidor em potencial (OLIVEIRA, 2004), principalmente pela geração de grande volume de dejetos e o elevado desperdício de água na limpeza das granjas (FEPAM, 2010).
Outro fato negativo na prática da suinocultura refere-se muitas vezes na falta de construções adequadas para o manejo dos dejetos, que acabam sendo lançados em rios, cursos d'água e solos, contaminando esses recursos naturais (CHEIDA, 2004).
O grande consumo de água em regiões de produção agropecuária intensiva vem reduzindo sua qualidade e disponibilidade, principalmente as fontes superficiais e cabe complementar que o acesso a água limpa é essencial à vida de qualquer organismo e constitui a base para o desenvolvimento econômico-social de qualquer nação (ALADENOLA e ADEBOYE, 2009).
Enquanto continuar o modo de exploração máxima desse recurso, mais drástica será a redução das reservas de água em um curto espaço de tempo (LANA, 2009).
Segundo indicadores da resolução 031/98 do Instituto Ambiental do Paraná, um suíno em terminação exige 9 L de água por dia para seu consumo e manutenção, sendo este valor considerado alto para o mantimento de uma granja de suínos.
No cotidiano, os suínos bebem mais água do que realmente necessitam, chegando ao exagero quando a escassez do alimento é evidente. Quando isentos de estresse, a ingestão diária varia entre 5 e 6% do peso corporal, sendo assim, entre 2 e 5 kg de água por kg de matéria seca ingerida. Animais jovens possuem uma maior demanda quando comparada aos adultos, devido à maior perda pelos pulmões, superfície corporal e pela menor capacidade em concentrar a urina (OLIVEIRA, 2004).
O gerenciamento do uso da água e a procura por novas alternativas de abastecimento como o aproveitamento da precipitação pluviométrica, esta inserido no contexto do desenvolvimento sustentável, o qual propõe o uso dos recursos naturais de maneira equilibrada e sem prejuízos para as futuras gerações (AGENDA 21, 2001).
Muito se discute e interroga sobre o que é o desenvolvimento sustentável. No entanto, o que se concorda é que esse deve buscar a sustentabilidade do meio, pois por mais que a agricultura tenha avançado em técnicas que transcendam os limites naturais, a mesma continua a depender de processos e de recursos naturais (FONSECA e BURSZTYN, 2007; GOMES, 2004; MAROUELLI, 2003).
O aproveitamento das águas pluviais é possível e considerado muito viável, sendo integrado ao abastecimento de água potável, substituindo-a sempre que necessário. Porém, para que se tenha água de qualidade é necessário o seu armazenamento e tratamento, para que se garanta a propriedades compatíveis com o seu determinado uso (OLIVEIRA, 2006).
Assim, a configuração de um sistema básico de aproveitamento de águas pluviais é realizada por meio da área de captação (laje, telhado e piso), sistemas de condução das águas (condutores verticais, horizontais e calhas), sistema de tratamento (filtros, desinfecção e reservatório de autolimpeza) e reservatório da água (cisternas) (SANTOS, 2002). (Figura 1)
As tecnologias necessárias para a instalação e operação desse sistema são de simples utilização. Qualquer empreendedor, ou até mesmo indivíduos da população em geral tem a possibilidade de implementar essa tecnologia. Os recursos materiais necessários estão disponíveis no mercado e os custos são acessíveis (CENTRO DE PESQUISA GLOBAL DE DESENVOLVIMENTO, 2010).
As instalações de um sistema de coleta de água pluvial devem ter um cuidado especial para serem bem executadas, pois caso haja o acesso direto de águas pluviais nas canaletas, sem um controle, ocasionará na diluição dos dejetos, aumentando o seu volume e causando maior prejuízo ao produtor e ambiente (DAGA et al., 2007).
Figura 1: Estrutura de um sistema básico de aproveitamento de águas pluviais
Fonte: Gisele Cichinelli - http://www.deco.ind.br/sistema2_2.html
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Mas a água da chuva não deve ser utilizada para o consumo do animal, já que a qualidade desta está relacionada com a atmosfera a qual sua formação está diretamente ligada, e ultimamente, grande parte da atmosfera encontra-se poluída com compostos que fazem da água uma substância com um pH baixo, menor que 6.0, classificando essa água como ácida.
Tordo (2004) coloca que devido a presença de grande quantidade de gás carbônico (CO2) na atmosfera, em reação com a molécula de água (H2O), forma o ácido carbônico (H2CO3), considerado fraco, mas a água pluvial também pode se apresentar de forma mais ácida tendo em sua composição ácidos nítricos, sulfúricos, clorídricos ou ácidos orgânicos tornando a água imprópria para o consumo.
A captação de água pluvial é indicado para a utilização e substituição da água potável em certas atividades, como a limpeza das instalações, onde não se necessita dessa qualidade de água para a sua realização.
Além disso, o alcance de uma melhor qualidade de vida para o pequeno e médio produtor e alternativas que buscam a sustentabilidade nos processos produtivos, possibilitando dinâmica de produção capaz de comportar toda a família, resultará na queda do êxodo rural, diminuindo a busca de sucesso em outras formas de trabalho fora da propriedade (GONÇALVES Jr et al., 2008; GOMES, 2004).
Desta forma, tendo em vista a necessidade da preservação dos recursos hídricos, este estudo teve por objetivo ressaltar a importância do aproveitamento das águas pluviais através de uma estimativa sobre o volume de águas que podem ser coletadas através da construção de cisternas, como forma de reduzir o consumo de água tratada e propor sua aplicabilidade nas edificações de suinocultura, almejando assim o desenvolvimento sustentável.
 
2 Metodologia
A estimativa para construção de uma cisterna para utilização da precipitação pluviométrica foi mensurada e avaliada em uma granja para criação de suínos localizada no distrito de Iguiporã, no município de Marechal Cândido Rondon-PR, com área de 1.200 m2, piso em alvenaria, estrutura em madeira, cobertura em telha colonial e capacidade de alojamento para 800 animais em terminação (Figura 2).
Figura 2 – Granja de suínos estudada no município de Marechal
Cândido Rondon/PR
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Marechal Cândido Rondon possui como coordenadas geográficas 24o 33' 40''S, 54o 04' 12''W e altitude de 420 m. O clima local, classificado segundo Koppen, é do tipo Cfa, subtropical com chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes. As temperaturas médias do trimestre mais frio variam entre 17 e 18 °C, do trimestre mais quente entre 28 e 29 °C e a anual entre 22 e 23 °C. Os totais anuais médios normais de precipitação pluvial para a região é de 1700 mm, com trimestre mais chuvoso apresentando totais variando entre 400 a 500 mm (CAVIGLIONE et al, 2000).
A estimativa sobre o volume de uma cisterna necessária para a coleta de águas pluviais no referido local, foi baseada pelo Método Azevedo Neto também chamado de Prático Brasileiro, que trata-se de um método empírico apresentado na NBR 15527 (ABNT, 2007), em que o dimensionamento do volume da cisterna é calculado por meio da Equação 1:
V = 0.042 x P x A x T (Equação 1)
Onde:
V = volume de água aproveitável ou volume de água do reservatório (L);
P = precipitação pluvial média anual (mm); A = área de coleta (m2);
T = número de meses de pouca precipitação pluvial ou seca.
O método foi escolhido por ser menos complexo e de fácil aplicação e o mais indicado em pequenos estabelecimentos (AMORIM e PEREIRA, 2008). Este Método prático Brasileiro NBR 15527 sugere o aproveitamento máximo de 50% da precipitação pluvial anual, em função do escoamento superficial, assim como de perdas inerentes ao sistema.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2003) para proporcionar o bemestar animal, as instalações das baias devem possuir uma área de entre 1,60 à 1,80 m2 por animal em terminação, em média 1,70 m2 animal-1. Assim, estima-se o tamanho da área em que pode ser realizada a reutilização da água pluvial por meio da equação 2:
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Onde:
AR = área de reutilização (m2); V = volume captado (L dia-1);
c = consumo (L animal-1 dia-1); A = área animal-1 (m2).
 
3 Resultados e Discussão
De acordo com a Equação 1 foi realizado o cálculo para o dimensionamento do volume da cisterna necessária para a implantação na propriedade estudada :
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Portanto, pode-se verificar que com a construção da cisterna, seriam coletados 544.320 L de água pluvial por ano.
Sabendo que a instalação estudada possui 800 animais e cada qual, segundo Miranda (2009) consome perto de 2,4 L animal-1 dia-1, para limpeza das baias (alojamento), diariamente há o consumo de 1.920 L de água para a manutenção desta granja, o que é necessário 700.800 L ano-1.
Aplicando-se a Equação 2 pôde-se estimar que seria necessário uma área de 1.360 m2 para que houvesse o mantimento de 100% da granja na limpeza das baias com esse sistema de coleta de águas pluviais.
Com a implantação do sistema de captação de águas pluviais, na área de 1.200 m2 pertencente a propriedade estudada, ocorreria a utilização de 77,65% da água necessária para limpeza das baias.
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Esse ato representa uma ferramenta de ação sustentável, envolvendo a questão social (economia de água para as pessoas), econômica (economia de custos) e ambiental (economia no uso dos recursos hídricos) (DROPA e OLIVEIRA, 2010).
O sistema de reaproveitamento e armazenamento de águas pluviais possibilita reduzir o consumo de água de redes públicas, diminuindo a exploração de sistemas de abastecimento de água e auxilia no controle e prevenção de possíveis inundações ou alagamentos, armazenando parte da água de escoamento superficial (OLIVEIRA, 2006).
Além disso, em ambientes rurais, a implantação de cisternas para coleta de água pluvial é interessante por representar uma diminuição na captação de águas subterrâneas, técnica muito utilizada devido à inexistência de redes distribuidoras de água potável nestas localidades e que consequentemente devido a sua intensa exploração pode ocasionar a diminuição do nível do lençol freático, com sérias implicações para o meio ambiente, o que pode acarretar no desaparecimento de pequenos cursos de água ou vertentes.
Outro fato importante é que os meios naturais de transformação da água em um produto potável são lentos, frágeis e muito limitados. Sabe-se que água deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e moderação, não devendo ser desperdiçada, poluída, ou envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis (ZAMPIERON, 2005).
Muitos países têm tido experiências com o uso da água de chuva, obtendo resultados satisfatórios, como por exemplo os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão (MARTINI, 2009).
No Brasil alguns exemplos são descritos para o uso de água pluvial. Ilkiu (2009) estudou a implantação de cisternas em aviário com área de coleta de 1.300 m2 na região de São Jorge d'oeste no sudoeste do Paraná. Tomaz (2003), coloca que uma indústria de tingimento de tecido localizada na cidade de Guarulhos, estado de São Paulo, realiza a captação da água pluvial por meio de um telhado de 1.500 m² e armazenada em reservatório subterrâneo de 370 m³.
Ainda no Brasil, a instação de um sistema para coleta de água pluviométrica em um hotel no Estado de Santa Catarina, tendo área de telhado de 569 m² construiu uma cisterna com capacidade para 16 m3 de água, estimando-se uma economia de 684 m3 por ano(BELLA CALHA, 2007 apud MARTINI, 2009).
A aplicação do sistema estudado é dependente da precipitação pluvial da região, a dimensão da área de coleta e a demanda de água. Uma vez que, Marechal Cândido Rondon-PR é uma região de totais mensais de precipitação pluvial satisfatórios e a área para recolhimento e demanda de água estudada também são amplos, a estimativa sobre o sistema de coleta de água pluvial para a limpeza da instalação estudada, pode ser uma alternativa favorável, que permitirá diminuir o impacto sobre o uso de água tratada e contribuir para a diminuição da exploração de águas naturais.
Desta forma, incluindo a produtividade e competitividade econômica, todos os sistemas de produção devem dar prioridade à proteção ambiental, não somente pela obrigatoriedade das leis, mas também por gerar uma maior qualidade as formas de vida (OLIVEIRA, 2004).
Gonçalves Jr. et al. (2008) coloca que o Brasil, apesar de ser um país continental, utiliza inadequadamente seus recursos naturais por causa da falta de uma política efetiva que estimule o desenvolvimento sustentável. Sendo assim, as alternativas que possibilitem o desenvolvimento sustentável devem ser empregadas, principalmente nas atividades produtivas e potencialmente poluidoras como a suinocultura, pois para que a sustentabilidade seja alcançada, diversos critérios devem ser considerados, sendo o principal objetivo fazer com que ocorra harmonia entre os seres humanos e natureza que os circunda, fazendo-se necessário a utilização mais eficaz dos recursos naturais, para que desta forma estes não sejam degradados em médio e longo prazo, comprometendo assim as gerações futuras.
 
4 Conclusões
A implantação de cisternas para coleta de águas pluviais pode ser uma alternativa viável, pois fazendo a captação da água para limpeza do local, diminui a exploração de recursos naturais promovendo assim uma melhoria para o meio ambiente.
 
5 Referências Bibliográficas
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