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Utilização de probióticos para leitões desmamados

Publicado: 26 de maio de 2022
Por: Eliseu Carlos Cristofori, Jansller Luiz Genova, Davi Elias de Sá e Castro, Aparecida da Costa Oliveira, Matheus Leonardi Damasceno
INTRODUÇÃO
O desmame é um período crítico no desenvolvimento do leitão, pelos fatores de estresse nutricional, social e ambiental. Uma vez que, os animais recebiam uma dieta de altamente digestível, passam a receber uma dieta mais complexa e menos digestível, através da ração sólida, com isso causando transtornos no trato gastrointestinal do animal. Ocorre uma perda de peso passageira, como geralmente é observado logo após o desmame, levando a uma disfunção no intestino, predispondo o animal a infecções entéricas e concomitantes casos de diarreia.
Estudos têm demonstrado que a função da barreira intestinal fica comprometida, resultando no aumento da secreção de eletrólitos e água, além de aumentar a permeabilidade para substâncias potencialmente tóxicas (LALLE’s et al., 2004). Com esses agravantes, os antibióticos são utilizados como promotores de crescimento para prevenir essas perdas econômicas geradas pelo estresse ao desmame e por microrganismos patogênicos no trato gastrointestinal dos animais, que ocasionam as disfunções a nível metabólico.
Contudo, os efeitos secundários dos antibióticos alertam os consumidores e os nutricionistas de animais a buscarem alternativas na alimentação animal (KABIR, 2009). Uma alternativa encontrada para substituição aos antibióticos é o probiótico (GRIGGS & JACOB, 2005), que em definição são microrganismos vivos que quando administrados de forma correta atuam em beneficio na microbiota intestinal, e assim promovem melhores índices zootécnicos (FULLER, 1989).
Várias classes de microrganismos são utilizadas como probióticas e assim diversos trabalhos são encontrados na literatura avaliando a eficiência e ação dos mesmos. As principais classes consideradas como probióticas são: os Bacillus, as leveduras e bactérias produtoras de ácido lático, tais como Lactobacillus, Bifidobacterium e Enterococus (STEIN & KIL, 2006).
O objetivo desta revisão de literatura é discutir informações sobre a utilização de probióticos na nutrição de leitões, bem como, sua finalidade metabólica, atuação e alterações no sistema digestivo, apresentando resultados experimentais obtidos com a inclusão deste aditivo.
REVISÃO DE LITERATURA
Diversas pesquisas são encontradas no meio científico, em que pesquisadores estudam a microbiota intestinal, composta por diversos microrganismos, e que cada vez procuram-se estudar os efeitos destes. Estudos feitos por Kotzampassi & Giamarellos-Bourboulis (2012) e Power et al. (2014) estudando a microbiota intestinal, descobriram que ela possui influência direta com a saúde do hospedeiro, como alterações metabólicas, fisiológicas, nutricionais e processos imunológicos.
Assim, com a finalidade de melhorar o desempenho zootécnico dos animais, surgem os probióticos, definidos como microrganismos vivos e quando administrados em quantidades adequadas, melhoram a microbiota intestinal conferindo um benefício à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2001).
Estudos realizados por Wang et al. (2012) utilizando Lactobacillus acidophilus e Pediococcus acidilactici, como probióticos para leitões desmamados encontraram melhores resultados de desempenho. Lojanica et al. (2010) utilizando Enterococcus faecium encontraram melhores valores para conversão alimentar (C.A), ganho de peso diário (GPD) e menor mortalidade para leitões desmamados. Datt et al. (2011) utilizaram a levedura Saccharomyces cerevisiae + Lactobacillus, em suínos na fase de crescimento, encontraram melhores valores de digestibilidade e melhor taxa de crescimento. Em um experimento utilizando apenas a levedura Saccharomyces cerevisiae como probiótico, Shen et al. (2009) encontrou resultado positivo para o desempenho em leitões na fase de creche.
Na literatura também são encontrados alguns trabalhos em que os efeitos não foram positivos. Utiyama et al. (2006), em um experimento utilizando Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis verificaram efeito negativo sobre o desempenho de leitões e efeito semelhante sobre a ocorrência de diarreia na fase de creche em comparação aos antibióticos. Fedalto et al. (2002) encontraram efeito negativo sobre o desempenho de leitões utilizando Bacillus toyoy.
Bontempo et al. (2006) utilizou a levedura Saccharomyces cerevisiae, com suínos na fase de desmame e verificou maior GP. Shen et al. (2009) avaliou a Saccharomyces cerevisiae em leitões na fase de creche e encontrou menores contagens de Escherichia coli na microbiota intestinal, seja pelo modo de ação dos probióticos em excluir microrganismos nocivos. Van Heugten et al. (2003) encontrou menores contagens de bactérias totais nas fezes de leitões utilizando a levedura Sacharomyces cerevisiae. Cupere et al. (1993), não encontrou influência na mortalidade, sintomas clínicos e contagem de Escherichia coli nas fezes de leitões utilizando Bacillus cereus, Lactobacillus spp e Streptococcus.
Probióticos de modo geral
A primeira definição para probióticos foi feita por Lilly & Stillwell (1965), em que descreveram como substâncias produzidas por protozoários que estimulavam o crescimento de outros microrganismos. Posteriormente, várias pesquisas foram realizadas objetivando verificar esse modo de ação dos probióticos. Parker (1974) definiu como microrganismo ou substância que contribui para o equilíbrio microbiano intestinal. Weichselbaum (2009) definiu os probióticos como suplementos alimentares a base de microrganismos vivos, que afetam beneficamente o hospedeiro, quando administrado em níveis adequados.
Várias definições são encontradas na literatura e atualmente a mais aceita internacionalmente é que os probióticos são microrganismos vivos e, quando administrados de forma adequada, conferem benefícios a saúde do hospedeiro.
Para um microrganismo ser considerado probiótico ele deve atender algumas características como: fazer parte da flora intestinal normal do hospedeiro, sobreviver e colonizar rapidamente o intestino do hospedeiro, ser capaz de aderir ao epitélio intestinal do hospedeiro, sobreviver à ação de enzimas digestivas, ter ação antagonista aos microrganismos patogênicos (ALMEIDA, 2012), não ser tóxico ou patogênico, ser cultivável em escala industrial, ser estável e viável na preparação comercial, além de estimular a imunidade (FULLER et al., 1989).
Várias espécies de bactérias podem ser caracterizadas como probióticas, porém apenas as cepas ácido láticas são consideradas importantes para a nutrição e a alimentação (HOLZAPFEL et al., 2001). Assim, para compor esse grupo, as bactérias devem ser Gram-positivas, não esporulantes, cocos ou bastonetes “não respirantes”, e que durante a fermentação de carboidratos, produzem o ácido lático como principal produto final (AXELSSON, 2005).
Huyghebaert et al. (2011) classificaram como espécies colonizadoras, os Lactobacillus e Enterococcus spp., e não colonizadoras, de transito intestinal livre os Bacillus spp. e Saccharomyces cerevisiae.
Modo de ação dos probióticos
Em um aspecto geral, os probióticos adicionados na alimentação de monogástricos agem melhorando os índices econômicos, conferindo maior produtividade pelo aumento e melhoria dos parâmetros de desempenho. O aumento do índice de desempenho zootécnico pode estar associado devido os probióticos reduzirem a contaminação por agentes patogênicos, principalmente Salmonella spp., no trato gastrointestinal do animal (VILÀ et al., 2009) e à melhora da imunidade (KHAKSEFIDI & GHOORCHI, 2006).
O trato gastrointestinal possui várias toxinas que são produzidas por inúmeros microrganismos patogênicos. Quando é utilizado probióticos, a quantidade desses microrganismos patogênicos é reduzida e o seu metabolismo bacteriano é afetado, consequentemente a produção de toxinas é reduzida (MURALI et al., 2010; HOOPER & MACPHERSON, 2010). Segundo Vila et al. (2010), os Lactobacillus acidophilus produzem metabolitos como acidophilin, lactocidin e acidolin, e os Lactobacillus plantarum produzem lactolin. As leveduras, como a Saccharomyces cerevisiae atuam reduzindo a quantidade disponível de toxinas secretadas pelos patógenos através da concorrência pelo local de adesão.
Geralmente as toxinas ligam-se a receptores específicos nas células do epitélio intestinal e induzem a alterações resultantes na perda de água e eletrólitos, causando um desbalanceamento nutricional. Certas estirpes de Saccharomyces cerevisiae podem excretar uma serina-protease que hidrolisa as toxinas produzidas por Clostridium difficile, que é resistente a tripsina e inibe a ligação da toxina ao seu receptor glicoproteico na borda em escova (CASTAGLIULO et al., 1996).
Os probióticos também podem inibir os agentes patogênicos pelo aumento na função da barreira intestinal através da modulação do citoesqueleto e forte junção das proteínas (SHERMAN et al., 2005).
Competição por locais de adesão
A exclusão competitiva é a habilidade da microflora de se proteger dos efeitos nocivos estabelecidos pelos agentes patogênicos (CHO et al., 2011). A competição de espaço para as bactérias exógenas se aderirem entre o espaço das bactérias endógenas no lúmen intestinal resultam na chamada exclusão competitiva de patógenos exógenos (BROWN, 2011). O conceito da exclusão competitiva indica que, as culturas de microrganismos benéficos selecionados adicionados a alimentação, competem com as bactérias nocivas com relação nos locais de adesão e no substrato, principalmente fontes de carbono e energia.
Probióticos podem excluir as bactérias patogênicas de duas maneiras: inicialmente competem por nutrientes e sítios de absorção com os microrganismos patógenos e assim impedem a sua proliferação maléfica no intestino (BROWN, 2011; MALAGO & KONINKX, 2011). 
Após o estabelecimento no intestino, produzem substâncias como lisozima, peróxido de hidrogênio e outros ácidos orgânicos e ácidos graxos voláteis, com propriedades bactericidas ou bacteriostáticas, onde acidificam o meio, causando uma redução do pH intestinal, prejudicando a sobrevivência das bactérias patogênicas, como a Escherichia coli e Salmonella (BROWN, 2011).
A adesão das bactérias nas células epiteliais é a fase inicial da infecção bacteriana nas mucosas. As bactérias possuem uma ligação molecular na sua superfície que são capazes de interagir especificamente com a membrana da célula hospedeira. Evidência estabelecida que determinadas estirpes de Escherichia coli ou Salmonella possuem uma adesina fimbrial que se liga a resíduos de manose em membranas das células epiteliais (OFEK et al., 1977). Tais bactérias ou suas fimbrias isoladas também aglutinam levedura contendo manose na camada exterior da sua parede celular (KORHONEN, 1979). Esta aglutinação é inibida por soluções de D-manose. Gedek (1989) relatou que a ligação de agentes patogênicos de parede celular de levedura induz um efeito protetor. A concorrência entre levedura e patógenos para a ligação das células intestinais poderia ajudar a explicar a ação benéfica da levedura, uma vez que esta adesão é crucial para a expressão do efeito citopatogênico.
Probióticos e imunidade
A distinção entre as bactérias benéficas e maléficas não são bem esclarecidas. De fato, uma grande variedade de microrganismos intestinais, que normalmente são comensais, pode em algum momento tornar-se ameaça ao hospedeiro. A consequência das bactérias patogênicas no lúmen intestinal é que precisam ser interrompidas por uma resposta imune agressiva (BISWAS & KOBAYASHI, 2013).
O desafio para o sistema imunitário do intestino é proteger os tecidos do hospedeiro a partir da invasão microbiana, enquanto, ao mesmo tempo, mantém a presença da simbiose microbiana (HOOPER et al., 2012).
A tolerância em relação à microbiota no lúmen intestinal é conseguida através de células que apresentam amostragem continuamente de antígenos no lúmen intestinal e apresentam essas amostras para as células do sistema imunológico no córtex do GALT em mamíferos (baço em aves). Foi estabelecido recentemente que Clostridiaceae, pertencentes ao filo Firmicutes, desempenham um papel essencial no estabelecimento da tolerância de resposta pela indução de regulação dos linfócitos T (NAGANO et al., 2012).
Segundo Fleige et al. (2009), os probióticos atuam tanto modulando a resposta imune inata como a adquirida, favorecendo o combate aos microrganismos patogênicos. Os probióticos fornecidos na alimentação animal modulam a resposta humoral e celular para aumentar a proteção pelo sistema imunológico (LEE et al., 2010) e estimulam a produção de anticorpos e ativação dos linfócitos (NG et al., 2009).
A ação da parede celular das leveduras tem sido conhecida há muito tempo (PILLEMER et al., 1954). Estas propriedades são devidas a presença de glucanos na parte interna da parede celular que são constituídas principalmente por moléculas de ligação 1,3 D-glicose. Essas moléculas estimulam o sistema imunológico de mamíferos através de resposta inflamatória no sistema reticulo endotelial. A resposta imunológica intestinal é modulada por meio da secreção de citoquinas pelas células epiteliais provocadas pelos Lactobacillus.
Estudo realizado por Pieper et al. (2010) investigaram a administração de probiótico (Lactobacillus plantarum) em várias administrações por semana. Eles descobriram que a administração de 5x109 UFC de Lactobacillus plantarum uma vez na desmama de leitões aumentou a concentração de ácido lático e bactérias produtoras de butirato no colón em comparação com suínos administrados três dias antes da desmama.
Conclusões
A maioria das pesquisas utilizando probióticos em dietas para leitões demonstram exercer influência positiva no sistema imune, modulação da microbiota benéfica e no desenvolvimento do trato gastrointestinal. Observam-se algumas controversas sobre sua influência nos parâmetros de desempenho. Desta forma, tornase necessário a realização de mais estudos com a inclusão de probióticos em dietas para leitões, pois são vários os desafios para a nutrição atual, em virtude da redução dos quimioterápicos, além de alguns resultados serem discrepantes.
Esse artigo foi originalmente publicado em Nutritime Revista Eletrônica, on-line, Viçosa, v.13, n.4, p.4757-4763, julho/agosto, 2016. ISSN: 1983-9006 | https://www.nutritime.com.br/arquivos_internos/artigos/Artigo4.pdf. Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.

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