Introdução
O avanço genético e as técnicas associadas à produção dos últimos anos proporcionaram à suinocultura industrial um aumento significativo no tamanho das leitegadas (BAXTER et al., 2013). Porém, em decorrência disso, o peso individual dos leitões ao nascimento diminuiu. O peso ao nascimento é considerado um crítico indicador de desempenho, pois leitões que nascem com baixo peso podem continuar com baixo peso ao longo de sua vida (DOUGLAS et al., 2013) e podem levar mais tempo para atingir o peso de abate (BEAULIEU et al., 2010). Ao nascimento, o leitão possui uma quantidade limitada de reservas energéticas no organismo, além de não ter recebido nenhum tipo de imunidade materna durante a gestação devido à característica estrutural da placenta suína (SALMON et al., 2009). O colostro é responsável por fornecer energia e imunoglobulinas aos leitões, o que torna sua ingestão de suma importância para assegurar a sobrevivência e o estado imunológico do neonato. Nas primeiras 24 horas de vida, os leitões devem ingerir 160-170 g de colostro/kg de peso ao nascimento para garantir a sua sobrevivência (LE DIVIDICH et al., 2005). Deste modo, o objetivo do experimento foi avaliar a relação entre o ganho de peso nas primeiras 24 horas de vida com a mortalidade e o desempenho na maternidade de leitões de peso entre 800 a 1.300 g ao nascimento.
Material e Métodos
O presente trabalho foi realizado em uma granja tecnificada de suínos, que possui plantel ativo de aproximadamente 4.300 matrizes de linhagem genética Camborough25 (Large White x Duroc x Landrace; Genética Agroceres PIC), situada na região do centro-oeste catarinense durante o período de janeiro a maio de 2015. Foram selecionados 294 animais que apresentavam, a nascimento, peso entre 800-1.300 g oriundos de fêmeas de ordem de parição superior a um. Durante o acompanhamento dos partos, realizavam-se cuidados com os neonatos, como corte e assepsia do cordão umbilical e secagem dos leitões. Logo após, foi realizada a pesagem (H0) individual em balança com precisão de 1 g. Após as primeiras 24 horas (H24), os leitões foram pesados novamente e uniformizados em mães adotivas, respeitando a faixa de peso e uma quantidade de 12 leitões por leitegada, permanecendo até o desmame. Aos 20 dias de idade (D20), realizou-se pesagem individual dos leitões com balança de precisão de 5 g. – Para análise e comparação dos dados, foram geradas duas classes de peso ao nascimento, PESO1 (800 - 1.099 g) e PESO2 (1.100 - 1.300 g) e duas clases de ganho de peso nas primeiras 24 horas de vida, GP1 (≤20 g, incluindo leitões que perderam peso) e GP2 (>20 g). Os dados de peso foram analisados como medidas repetidas com o procedimento MIXED do SAS (Statistical Analysis System, SAS 9.3). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey-Kramer (P≤0,05). A mortalidade foi analisada por regressão logística pelo procedimento GLIMMIX, sendo as médias comparadas pelo teste de qui-quadrado (P≤0,05).
Resultados e Discussão
As médias de peso, ganho de peso diário (GPD) e mortalidade, de acordó com cada classe de PESO e GP, estão apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 - Médias de peso ao nascimento (H0), ao 20° dia (D20), ganho de peso diário (GPD) e taxa de mortalidade de acordo com a classe de peso ao nascimento e do ganho de peso nas primeiras 24 horas de vida (H24).
P = Peso ao nascimento
GP = ganho de peso nas primeiras 24 horas
a, b na linha dentro da classe de peso P ≤ 0,05
Leitões da classe GP1 apresentaram perda de peso nas primeiras 24 horas de vida, independente da classe PESO. Vale salientar que o peso médio ao nascimento não diferenciou entre as classes de GP dentro de cada classe de PESO. A perda de peso destes leitões pode estar relacionada ao consumo insuficiente de colostro, vitalidade do leitão ou até mesmo características inerentes à fêmea. Ao comparar o desempenho ao D20, observa-se diferença de peso médio de 605,9 g entre as classes de GP1 e GP2 para a classe de peso PESO1 e 510 g para a classe de peso PESO2. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Devillers et al. (2011), que mostraram que os leitões que ingeriram maior quantidade de colostro tiveram maior peso entre a terceira e a sexta semana de idade.
No D20, tanto o peso quanto o GPD foram influenciados pelo peso ao nascimento e pelo ganho de peso nas primeiras 24 horas. Os animais enquadrados na classe de PESO1, de modo geral, chegaram ao final do período de lactação com peso inferior ao da classe PESO2. Além disso, os animais da classe GP1 foram ainda mais penalizados, tendo tanto o GPD D20 quanto o peso D20 inferiores.
A sobrevivência até o desmame é influenciada pelo consumo de colostro por quilograma de peso ao nascimento (DECALUWÉ et al., 2014; DEVILLERS et al., 2011). Neste trabalho foi encontrado um efeito do ganho de peso nas primeiras 24 horas de vida para a mortalidade até o desmame. Leitões da classe GP1, independente do peso ao nascer, possuem 4,09 vezes mais chance de morte (P<0,01), o que aponta a importância do consumo de colostro pelos leitões nos primeiros momentos de vida. No entanto, quando avaliou-se a classe de peso ao nascimento, não foram observadas diferenças. Assim, o desempenho nas primeiras 24 horas de vida é importante para garantir a sobrevivência dos leitões, independente do peso ao nascimento.
Conclusões
Os resultados encontrados neste trabalho apontam que, independente da classe de peso, os leitões que perderam peso ou ganharam até 20 g nas primeiras 24 horas de vida apresentam maior razão de chance de mortalidade e apresentam menores GPD e peso ao final do período de lactação. Por isso é fundamental garantir consumo de colostro para maior desempenho no primeiro dia de vida dos leitões.
Referências Bibliográficas
1. BAXTER, E. M.; RUTHERFORD, K. M. D.; D?EATH, R. B. et al.; 2013. The welfare implications of large litter size in the domestic pig II: management factors. Animal Welfare. (22): 219-238.
2. BEAULIEU, A. D.; AALHUS, J. L.; WILLIAMS, N. H.; et al.; 2010. Impact of piglet birth weight, birth order, and litter size on subsequent growth performance, carcass quality, muscle composition, and eating quality of pork. Journal of Animal Science. (88): 2767–2778.
3. DECALUWÉ, R.; MAES, D.; WUYTS, B.; et al.; 2014. Piglets' colostrum intake associates with daily weight gain and survival until weaning. Livestock Science. (162): 185-192.
4. DEVILLERS, N.; LE DIVIDICH, J.; PRUNIER, A.; 2011. Influence of colostrum intake on piglet survival and immunity. Animal. (5): 1605-1612.
5. DOUGLAS S. L.; EDWARDS S. A.; SUTCLIFFE E.; et al.; 2013. Identification of risk factors associated with poor lifetime growth performance in pigs. Journal of Animal Science. (91): 4123– 4132.
6. LE DIVIDICH, J.; ROOKE, J.A.; HERPIN, P.; 2005 Nutritional and immunological importance of colostrum for the new-born pig. Journal of Agricultural Science. (143): 469-485.
7. SALMON, H.; BERRI, M.; GERDTS, V.; et al.; 2009. Humoral and cellular factors of maternal immunity in swine. Developmental and Comparative Immunology. (33): 384-393.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.