A importância de se avaliar o impacto da qualidade do ar na saúde animal e as perdas econômicas decorrentes
Assim como em outras atividades agrícolas, na produção intensiva de suínos, os riscos de enfermidades por agentes físicos, químicos e biológicos estão sempre presentes. O processo produtivo gera resíduos que podem trazer danos ao meio-ambiente, aos próprios animais e ao homem, como os dejetos, os quais possuem alta capacidade de poluição, seja na forma sólida, líquida ou gasosa, e contribui para esta poluição outros constituintes que fazem parte do sistema produtivo. Na forma gasosa, prevalecem os gases, principalmente amônia e sulfeto de hidrogênio. Na forma sólida tem-se a poeira.
As perdas econômicas decorrentes das enfermidades não são desprezíveis e recaem primeiramente sobre os produtores devido aos gastos com medicamentos, redução no desenvolvimento e mortalidade dos animais e, mais adiante da cadeia produtiva, sobre a indústria, pela condenação de carcaças.
Fica evidenciada a importância de se avaliar o impacto da qualidade do ar na saúde animal e humana, por influenciar nos sistemas respiratório, ocular e cutâneo. Embora haja indicações de limites aos poluentes aéreos para a saúde dos animais, os atuais limites de exposição foram estabelecidos tendo como base o bem-estar do homem (Kristensen & Wathes, 2001). Um exemplo é a amônia, importante poluente das instalações para animais, e que no Reino Unido, o limite de exposição atualmente recomendado de 25 partes por milhão (ppm) é definido pelo Health and Safety Executive (órgão que regulamenta questões sobre saúde e segurança no Reino Unido) com base na segurança do ser humano.
Vários países, como os da Comunidade Européia, possuem sérios problemas com os poluentes originários da criação intensiva de animais, o que os levaram a emitir regulamentações específicas para tais poluentes. No Brasil, estudos nesta direção são mais recentes, porém, em algumas regiões do país com criação intensiva de animais, já são tomadas medidas para que ocorra a diminuição da emissão de poluentes no ambiente principalmente na forma sólida e líquida, entretanto tem aumentado a preocupação para a forma gasosa.
Confira algumas definições e conceitos importantes que permitirão o melhor entendimento do texto:
Amônia - identificada na química pela fórmula NH3, é um gás incolor, de odor acre (normalmente detectada pelo homem em concentração ao redor de 20 ppm), tóxico e mais leve que o ar. É um poluente resultante da decomposição microbiana de compostos nitrogenados excretados, no caso de suínos, a uréia existente na urina destes animais é a principal fonte, e emitida na sua forma volátil para o ar, possui alta solubilidade em água, por isso quando chove se diz que houve lavagem do ar ambiente. Este gás está ligado a enfermidades respiratórias e redução no desenvolvimento dos animais a partir de 20 ppm.
Gás sulfídrico - identificado na química pela fórmula H2S, também denominado sulfeto de hidrogênio ou ainda ácido sulfídrico, é um gás incolor de odor forte, tóxico, mais denso que o ar e tem como principal fonte a decomposição anaeróbica dos excrementos por bactérias. Pode causar sérios danos à saúde humana e dos animais, estando relacionado á redução de desenvolvimento dos animais. Este gás possui baixa solubilidade em água, sua concentração nas edificações para animais é muito menor do que o NH3 e está mais presente nas edificações que fazem armazenamento do dejeto sob o piso.
Poeira - são partículas sólidas capazes de se manter suspensas no ar com diâmetro aerodinâmico maior que 0,5
Em granjas comerciais, admite-se/recomenda-se 20 ppm de amônia e 0,5 ppm de gás sulfídrico direcionado ao bem-estar dos animais (CIGR, 1994), 20 ppm de amônia e 8 ppm de gás sulfídrico direcionado ao bem-estar do trabalhador, 10 mg.m-3 de poeira total e 3 mg.m-3 de poeira respirável direcionada ao bem-estar do trabalhador, sem dados direcionados aos animais (ACGIH, 2001). Embora haja outras indicações até mais conservadoras, no texto utilizaremos estes limites, que são baseados em informações disponíveis provenientes de experiências extensivas em indústrias, em humanos ou estudos em animais, ou uma combinação destas três.
Algumas perguntas surgem com relação à qualidade do ar em edificações para suínos nas condições brasileiras:
porque medir poluentes aéreos nas edificações brasileiras?
para que fazer estas medidas, já que a grande maioria das edificações é totalmente aberta com ampla ventilação natural?
como fazer estas medidas e aceitá-las, já que um grande número de fatores torna-se essas avaliações extremamente complexas?
Primeiramente, as transformações e exigências de mercado que vem ocorrendo no cenário mundial mostram uma outra configuração na produção animal, que deve estar baseada visando o bem-estar dos animais, a proteção ao meio ambiente e a legislação trabalhista; em segundo lugar, embora as instalações sejam abertas, a concentração de um gás envolve a sua emissão por alguma fonte, e neste aspecto, o vento que não é constante e em maior parte do tempo, pode ser nulo, não será suficiente para dispersar o gás que vai estar presente no ambiente dos animais; e por último, as medidas realizadas em quatro edificações, duas para creche e duas para terminação, fornecem uma discussão consistente e interessante sobre tal assunto.
Tais discussões já estão acontecendo em outros países, inclusive aqueles com clima quente. Chang et al. (2001) conduziram um experimento em Taiwan em instalações de creche e terminação de suínos, cujas instalações tinham características típicas de região tropical (abertas nas laterais com possibilidade de fechamentos através de janelas e/ou cortinas), verificaram que as concentrações de H2S foram inferiores a 1 ppm, as concentrações de NH3 e de CO2 foram mais altas na terminação do que na creche, constatando-se grande dispersão nas medidas, e no entorno só foi encontrado CO2. Concluíram que nas instalações de tipologia abertas, a presença de poluentes é minimizada pelas características construtivas, resultando em menores concentrações quando comparadas às instalações de tipologia fechadas.
Estes resultados indicam um importante valor agregado ao suíno produzido nestas condições.
Em situação climática bem diferente, Schmidt et al. (2002) conduziram um experimento em Minnesota/Estados Unidos da América, em unidades de confinamento de suínos na fase de terminação, nos períodos de verão e inverno e encontraram grandes variações nas medidas de inverno e verão, sendo que as concentrações de poeira, principalmente, foram superiores no período de inverno, fato atribuído às tipologias construtivas e condições climáticas da região do experimento e às condições de manejo. Durante o verão, a ventilação natural empregada, principalmente com objetivos térmicos, favoreceu a dispersão e a menor concentração dos agentes avaliados.
Nota-se, portanto, que a tipologia adotada em condições de alojamento para clima quente, ou seja instalações mais abertas, favorecem a dispersão de agentes nocivos à ambiência aérea e, para avaliar as condições brasileiras, foram realizadas medidas de poluentes aéreos em duas granjas comerciais de suínos localizadas na região de Campinas-SP. A pesquisa foi desenvolvida nas unidades de creche e terminação, em dois períodos (verão e inverno) e as medidas realizadas durante três dias em cada unidade. As amostragens de gases foram realizadas a 1,5 m do piso e na altura dos animais e as amostragens de poeira a 1,5 m do piso.
Nas Figuras 1a e 1b relacionadas à instalações para creche, fica evidenciada a tendência ao aumento da produção de amônia no decorrer do dia, em conseqüência do aumento da quantidade de dejetos, da ação de microorganismos e de condições climáticas mais favoráveis. Mostram também, que as concentrações são maiores no inverno, em função principalmente do manejo adotado com o fechamento das salas, visando principalmente o conforto térmico dos animais. No verão, a ventilação natural e as condições do clima favoreceram a dispersão destes agentes do ambiente. Figura 1a
Figura 1b