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INFECÇÃO POR ROTAVÍRUS TIPO “B” EM LEITÕES NO ESTADO DE GOIÁS: RELATO DE CASO

Publicado: 5 de outubro de 2016
Por: LÍVIA M. PASCOAL¹*, RAFAEL. A. B. VALE1, VINICIUS. L. A. FERNANDES1, CARMOS. P. TRIACCA, JURIJ SOBESTIANSKY1. ¹Escola de Veterinária e Zootecnia -EVZ/UFG - Goiânia-GO ; ²-Infoporc. Brasil;
Sumário

O presente trabalho tem como objetivo relatar um surto de diarreia causado por rotavirus tipo ?B? em leitões recém-nascidos no estado de Goiás, uma vez que este é menos frequente e não há descrições na literatura consultada envolvendo este tipo viral. A granja acometida é uma Unidade de Produção de Leitões (UPL) com 1.200 matrizes, independente, localizada na região sudoeste do Estado de Goiás. O surto teve duração aproximada de 30 dias, morbidade entre 20 a 25% dos leitões emortalidade de 18 a 20%. Quanto aos sobreviventes, embora apresentassem leve retardo no desenvolvimento não se tornavam refugos. O diagnóstico foi confirmado através de exame laboratorial de Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) positivo para Rotavírus do tipo ?B?, com isolamento de cepas de Escherichia coli alfa hemolítica. Os leitões foram medicados com vários antibióticos na tentativa de controle e recuperação, porém não houve sucesso. Considerando o histórico, os sinais clínicos e o resultado do exame de PCR, confirmou-se o quadro de Rotavirose causado pelo Rotavírus tipo ?B? em leitões recém-nascidos.

 

Palavras-chave: diarreia; rotavirose, suíno.

 
Introdução
O Rotavírus tem sido reconhecido como um dos principais agentes causadores de diarreias em humanos e animais neonatos. Em suínos, grande parte dos surtos de rotavirose estão associados ao Rotavírus tipo ?A?, e mais raramente, aos tipos ?B? e ?C? (ALFIERI et al., 2015). A rotavirose acomete animais neonatos e jovens, principalmente entre a segunda e a quarta semana de idade. A maioria das infecções por rotavírus em suínos é subclínica, e é considerada enzoótica em rebanhos suinícolas de todo o mundo, independente da tecnificação existente ou do manejo adotado no sistema de criação (LINARES et al., 2009). A transmissão ocorre principalmente por via oral-fecal, por meio da ingestão de partículas virais presentes em água e/ou alimentos. O período de incubação varia de 18 a 96 horas. Os sinais clínicos iniciam-se frequentemente 24 horas após a infecção, e são caracterizados por diarreia pastosa a líquida de curta duração (três a quatro dias), desidratação, depressão, anorexia, vômito, pelos eriçados e sinais de acidose metabólica. As mortes dos leitões acometidos ocorrem principalmente em decorrência da desidratação ou de infecções bacterianas secundárias, no entanto a grande maioria se recupera dentro três a cinco dias (CHANG et al., 2012 & ALFIERI et al., 2010). A rotavirose possui alta morbidade, principalmente nos primo-infectados, chegando a 80%. As perdas econômicas devido a rotavirose são consideráveis, e estão diretamente relacionadas à morte dos leitões, que varia de 3 a 20%, podendo atingir 50%. Outros fatores como, atraso no crescimento, custo com medicamentos, predisposições a outras enfermidades, contribuem para o aumento das perdas econômicas (MORÉS et al.,2012). O objetivo deste trabalho é relatar um surto de diarreia causado por rotavírus tipo ?B? em leitões recém-nascidos no estado de Goiás, uma vez que este é menos frequente e há poucos relatos envolvendo este tipo viral.
 
Histórico e descrição
Em setembro de 2014, foi realizada visita técnica à uma Unidade de Produção de Leitões (UPL) com 1.200 matrizes, independente, localizada na região sudoeste do Estado de Goiás. A granja possui dois galpões de gestação e dois galpões de maternidade com 24 matrizes em cada sala. A estrutura geral do prédio de maternidade era de boa qualidade e com alto grau de tecnificação, piso plástico para os leitões, escamoteador com aquecimento por lâmpada infravermelha. A divisão entre as gaiolas da maternidade era vazada, o que permitia o contato direto entre leitões. O protocolo de vacinação das matrizes era composto por vacinas autógenas contra colibacilose e clostridioses, vacina comercial contra Rinite Atrófica Progressiva. Nos leitões eram aplicadas vacinas contra micoplasmose e circovirose. Durante a visita observou-se leitões apresentando diarreia aquosa e amarelada a partir do primeiro dia de vida, vômito, caquexia, inanição e morte, sendo que esta ocorria por volta do terceiro ao sétimo dia após o início dos sinais clínicos. A morbidade era de 20 a 25% dos leitões da maternidade e a mortalidade de 18 a 20%. Os leitões que sobreviviam à infecção se recuperavam e, embora apresentassem retardo no desenvolvimento (0,5kg a 0,7kg a menos que leitões não acometidos ao desmame), não se tornavam refugos. Ao exame necroscópico, observou-se apenas conteúdo intestinal pastoso e amarelado e edema de cólon. No início do surto, que teve duração de aproximadamente 30 dias, foram utilizados vários antibióticos injetáveis na tentativa de controle e recuperação dos leitões, como lincomicina associada a espectinomicina, ceftiofur, florfenicol e enrofloxacina, porém os animais não respondiam ao tratamento. Diante do histórico, dos sinais clínicos e achados macroscópicos, suspeitou-se de Rotavirose. Foram colhidas amostras de fezes que foram refrigeradas e encaminhadas à Universidade Estadual de Londrina onde se realizou PCR para Rotavírus A, B e C e cultivo bacteriano para Escherichia coli e Clostridium perfringens.
 
Resultados e Discussão
As amostras foram positivas para Rotavírus tipo ?B? e negativas para os tipos ?A? e ?C?. Também se isolou E. coli alfa hemolítica e Clostridium perfringens não tipificado. Na literatura consultada não foi encontrado relatos da ocorrência de Rotavírus B no estado de Goiás, sendo este, portanto, o primeiro relato da ocorrência deste agente no estado. Neste caso, o rotavirus acometeu animais a partir de um dia de vida, a ocorrência da infecção nessa idade é justificada pela baixa imunidade dos rebanhos ao Rotavírus da espécie B, por não existir vacinas para este sorotipo e pelo fato de não existir reação cruzada entre os diversos tipos (MORÉS et al.,2012). A baixa frequência da rotavirose em leitões com menos de uma semana de idade se deve, principalmente, à imunidade adquirida pelo colostro, com exceção de rebanhos não imunes (MORÉS et al.,2012). No presente caso, os animais não tinham imunidade frente ao rotavírus B, o que poderia justificar a ocorrência precoce. Os sinais clínicos relatados são compatíveis aos descritos por (ALFIERI et al., 2010; MORÉS et al.,2012). Os leitões que se recuperaram tiveram um desenvolvimento reduzido, o que já era esperado de acordo com (MORÉS et al.,2012). A grande quantidade de leitões afetados poderia ser devido ao tipo de separação entre as gaiolas parideiras que permitiam o contato direto entre diferentes leitegadas, o que poderia contribuir para o aumento da morbidade SOBESTIANSKY (2012). Assim como o uso dos mesmos utensílios em leitegadas diarreicas e saudáveis. A mortalidade registrada na granja foi de 18 a 20%, e pode ser justificada de acordo com (MORÉS et al.,2012) pelo fato de serem animais com baixa ou nenhuma imunidade frente ao rotavírus B, situação em que a mortalidade pode atingir até 50%. O isolamento de E. coli e C. perfringens reforça a descrição de (MORÉS et al.,2012), que afirma que a diarreia por Rotavírus é frequentemente complicada pela infecção por outros agentes entéricos como a E. coli, o que provoca uma maior gravidade dos sinais, ocasionando consequentemente uma maior mortalidade.
 
Conclusões
Considerando o histórico, os sinais clínicos e o resultado do exame de PCR, confirmouse o quadro de Rotavirose causado pelo Rotavírus tipo ?B? em leitões recém-nascidos.
 
Agradecimentos
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG), pelo auxílio financeiro recebido para a participação no evento.
 
Referências Bibliográficas
1. ALFIERI, A. A., ALFIERI, A. F.; BEUTTEMMÜLLER, E. A. (1999).Rotavirose suína: tópicos sobre a etiologia, infecção e controle. Semina: Ciências Agrárias,20(1), 90-97.
2. ALFIERI, A. A.; LEME, R. A.; ALFIERI, A. F. Rotavirose suína: o perfil contemporâneo de uma infecção entérica clássica.
3. CHANG, K.-O.; SAIF, L.J. & KIM, Y. Reoviruses (Rotaviruses and reoviruses). In: Diseases of swine. 10th ed. Ed. Zimmerman, J.J.; Karriker, L.A.; Ramirez A.; Schwartz K.J. & Stevenson, G.W. p.621-634.2012.
4. CUNHA, M. L. - "Diarréia em leitões da maternidade e creche em uma Unidade Produtora de Leitões (UPL) no Rio Grande do Sul, Brasil." Veterinária em Foco 4.2: 177-184.
5. LINARES, R.D.C.; BARRY, A.F.; ALFIERI, A.F.; MÉDICE, K.C.; FERONATO, C.; GRIEDER, W.& ALFIERI, A.A.; Frequency of group A rotavirus in piglet stool samples from nonvaccinated Brazilian pig herds. Brazilianarchivesofbiologyandtechnology. 52, 63-68. 2009.
6. MÉDICI, K.C. – Rotavírus grupos A, B e C em leitões lactentes: Frequência de diagnóstico e avaliação molecular de rotavírus atípicos. 2007. 116f. Tese (Doutorado em Ciência Animal, Área de Concentração: Sanidade Animal) – Universidade Estadual de Londrina. 2007.
7. MORES, N.; SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; ROW C. A.; MARQUES, J. L. L.. Rotavirose suína: descrição de um surto.
8. REIS, K.C.P.; HENRIQUES, M.R.; BOUILLET, L.E.M.; VANNUCCI, F.A.; GUIMARÃES, W.V.; SANTOS, L.F.; SANTOS, D.L.; SANTOS, J.L. Prevalência de rotavirus suino tipo a em rebanhos de suínos no BrasilROSA, C. E. - Dissertação de mestrado - Universidade de Caxias do Sul – 2009 -  Determinação de rotavírus em suínos em uma granja no Rio Grande do Sul – SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D. – Doenças dos suínos. Goiânia: Cânone Ed., 2012. p. 395- 400.
9. SUZUKI, T.; SOMA, J.; MIYAZAKI, A. & TSUNEMITSU, H. Phylogenetic analysis of nonetructural protein 5 (NSP5) geni sequences in porcine rotavirus B strains. Infection, Genectis and Evolution. 12,1661-1668. 2012.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Lívia Mendonça Pascoal
Universidade Federal de Goiás - UFG
Universidade Federal de Goiás - UFG
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