Introdução
As hérnias umbilicais determinam perdas significativas à suinocultura mundial, por fatores como aumento de mortalidade, menor ganho de peso, piora na conversão alimentar e contaminação da carcaça no abate. Existem várias afecções que cursam com aumento de volume na região umbilical, o que dificulta o diagnóstico e pode levar a conclusões equivocadas. Na chegada ao frigorífico, todos os aumentos de volume no umbigo são denominados "hérnia umbilical". No entanto além deste quadro, existem alterações indistinguíveis como cistos, abscessos, fibrose subcutânea, diverticulite prepucial e úraco persistente entre outras causas para o aumento de volume (ANDERSEN et al., 2014). Entre as possíveis causas sobressaem componentes genéticos e infecciosos, por isso um diagnóstico diferencial adequado pode auxiliar o traçado de planos de ação para correção dos problemas e buscar diminuição de perdas. No presente trabalho foram definidas macroscopicamente as diferentes condições patológicas que acometem a região umbilical/umbigo e que devem ser consideradas para o diagnóstico diferencial das hérnias umbilicais em suínos destinados ao abate. E, através do exame histopatológico, descrever a composição tecidual presente nas diferentes categorías de lesões diagnosticadas.
Material e Métodos
A coleta de dados e materiais foi realizada entre agosto a outubro de 2014, em frigorífico localizado na região do Vale do Taquari, Rio Grande do Sul, Brasil. Os suínos que chegavam para o abate eram submetidos ao exame ante mortem e aqueles com hérnias umbilicais eram separados e encaminhados para a uma baia específica ("baia vermelha") para serem abatidos ao término do abate normal. No período de estudo, foram abatidos 96.599 suínos (total de animais dos turnos de abate acompanhados). Destes, 1189 (1,23%) foram enviados para a baia vermelha, sendo que 515 (43%) apresentavam aumento de volume na área umbilical. Entre estes, 235 (45,98%) foram analisados. Dos afetados, antes da abertura da carcaça, foram anotadas as características externas daslesões e sexo dos animais. Posteriormente, as carcaças com necessidade de inspeção adicional foram encaminhadas ao Departamento de Inspeção Final (DIF). A seguir a estrutura responsável pelo aumento de volume foi retirada para avaliação macroscópica e coleta de amostras para histopatologia. De acordo com a categorização da lesão ou estrutura encontrada, foram selecionados aleatoriamente 20 fragmentos de hérnias, 10 de flaps e 10 de cistos para a coleta de tecidos em formol 10%. As amostras foram encaminhadas ao Setor de Patologia Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (SPV- UFRGS) para análise histopatológica. As amostras foram adequadamente protocoladas, posteriormente foram seccionados fragmentos, os quais foram emblocados em parafina e realizados cortes histológicos de 3μ de espessura. As lâminas foram coradas pelo método de Hematoxilina-Eosina (HE) de rotina e analisadas em microscópio óptico.
Resultados e Discussão
A caracterização macroscópica de aumento de volume na região umbilical revelou grande diversidade de condições patológicas, com 19 diagnósticos diferentes, considerando ocorrência isolada e/ou associações. As hérnias, associadas ou não, representaram o diagnóstico mais frequente, 155 (Tabela 1). O segundo achado foram os "flaps? (projeções de tecido de dentro do saco herniário) presentes em 76 casos. Os cistos foram encontrados em 68 casos. Em menor frequência, fibrose com 20 casos, e os abscessos representando 8 casos (Tabela 1). As hérnias seguiram um padrão histológico, com o saco herniário apresentando proliferação de tecido conjuntivo denso, adjacente à área de tecido conjuntivo frouxo, revestida por mesotélio. Por vezes, observou-se ainda, áreas de necrose e mineralização, além de áreas de hemorragia. Ambos os tecidos apresentavam formações vasculares. A maioria das amostras de intestino delgado com lesões devido ao encarceramento apresentavam necrose de células epiteliais, hemorragia difusa moderada na mucosa, submucosa e muscular. Observou-se ainda trombose e dilatação de vasos linfáticos moderada na submucosa e muscular, além de espessamento da mucosa, com proliferação de tecido adiposo e conjuntivo, mesotélio reativo e hemorragia em meio ao tecido adiposo. Na histopatologia dos flaps visualizou-seproliferação de tecido conjuntivo frouxo com acentuada quantidade de formações vasculares e de aspecto cístico apresentando formações papilares se projetando para o lúmen. Havia ainda proliferação de tecido conjuntivo denso perifericamente. Histologicamente, os cistos apresentaram proliferação de tecido conjuntivo frouxo com acentuada quantidade de formações vasculares associado à acentuada quantidade de dilatações císticas contendo material amorfo eosinofílico no interior, revestido por mesotélio. Havia ainda, proliferação de tecido conjuntivo denso perifericamente, por vezes com área focal de infiltrado inflamatório composto por linfócitos.
Tabela 1 – Alterações presentes na análise de aumentos de volume na região umbilical em suínos de abate, através da observação macroscópica.
Existem poucos estudos na literatura que buscaram quantificar e definir essas condições patológicas. Os 19 diagnósticos encontrados foram semelhantes aos 22 descritos por Andersen et al. (2014). Diferiu apenas por não terem sido diagnosticadas a diverticulite prepucial, pois a retirada do aparelho reprodutor masculino no frigorífico era realizada antes do local onde era realizada a observação, e por não ter sido encontrado nenhum caso de úraco persistente. A presença de hérnias umbilicais aumenta o risco de contaminação da carcaça no momento da abertura da cavidade abdominal, por possíveis rupturas do intestino, gerando causa adicional de condenação de carcaças. Cistos nas carcaças geram dificuldade na escolha do critério durante o processo de inspeção, pois não há informações sobre a natureza do conteúdo, podendo ter aspecto repugnante. A falta de uniformidade de apresentação leva a necessidade de garantir a segurança do consumo através de tratamento térmico ou mesmo envio para graxaria.
Conclusões
Existem várias condições patológicas que acometem o umbigo e podem ser confundidas com hérnias umbilicais. 34,89% dos aumentos de volume encontrados na região umbilical não tinham como causa hérnias umbilicais. Isso indica a necessidade de uma maior precisão no diagnóstico diferencial do problema para apoio ao processo de inspeção.
Referências bibliográficas
1. ANDERSEN, E. M. O.; SPANGSBERG, R.; PEDERSEN, K. S.; BARINGTON, K. & JENSEN, H. E. In: Proceedings of the International Pig Veterinary Society Congress (IPVS), Mexico. p. 126, 2014.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.