Referencial Teórico.
A suinocultura é uma importante atividade no agronegócio brasileiro (VIANCELLI et al., 2013). No mercado de carnes, ela é responsável pela geração de empregos, funcionando como um fator de estabilização de renda de milhares de famílias, principalmente da região Sul (FERNANDES et. al., 2014). O Brasil é o quinto maior consumidor de carne suína do mundo e o quarto maior exportador deste produto. O consumo mundial de carne suína está em expansão, o que leva a um aumento na demanda de produção deste tipo de proteína (CARVALHO et. al., 2015). Como consequência deste processo, a suinocultura incorporou inovações tecnológicas em seus sistemas de produção que permitiram a criação de rebanhos na forma intensiva em áreas cada vez menores (URBINATI et. al., 2013).
Entretanto, este cenário levou a um aumento na geração de dejetos e resíduos de suínos que possuem importante potencial poluidor, podendo causar desequilíbrios ambientais, sanitários e sociais se manejados de forma inadequada (MENG et. al., 2013). Um suíno produz em média 2,35 kg de efluente sólido por dia, e quando se considera o dejeto sólido associado à urina, esse total se eleva para 5,80 kg, fazendo de sistemas com alta densidade de animais por metro quadrado, uma atividade altamente poluidora (BELI et al., 2010). A maior parte do impacto ambiental produzido pela suinocultura provém da falta do manejo adequado dos resíduos sólidos e líquidos gerados pela atividade, como a produção de efluentes com alta carga orgânica que é lançada em corpos d'água e que podem chegar aos lençóis freáticos, o que causa a poluição dos recursos hídricos da região em torno da granja; a poluição do ar e a destruição da camada de ozônio majoritariamente ocasionada pela emissão de gás metano e óxido nitroso (BARBOSA, LANGER, 2011), além da geração de maus odores.
A intensificação da atividade suinícola criou a necessidade da implantação de sistema de gestão ambiental, que é uma estrutura desenvolvida para que uma organização possa consistentemente controlar seus impactos significativos sobre o meio ambiente e melhorar continuamente as operações e negócios. Particularmente, Sistema de Gestão Ambiental em Suinocultura (SGAS) pode ser definido como um conjunto de atividades econômicas e sociais que utilizam os recursos naturais de forma racional com o uso de tecnologias que proporcionem a produção de suínos de forma sustentável com a minimização dos impactos ambientais gerados principalmente pela elevada produção de efluentes e de gases do efeito estufa (HONEYMAN, 1996). Neste contexto, o crescimento da suinocultura demandará maior investimento, principalmente, em SGAS, requisito fundamental para a conquista de mercados internacionais.
O histórico do SGAS no Brasil pode ser definido em quatro períodos, respectivamente: a) de 1970 a 1990; b) de 1991 a 2000; c) de 2001 até 2010; e d) de 2011 até os dias atuais. O período compreendido entre 1970 a 1990 foi caracterizado pela substituição das raças de suínos nacionais por raças europeias puras e inicio da tecnificação da atividade, principalmente na região Sul, entretanto, com ausência ou baixa preocupação em SGAS, e elevada contaminação do solo, lençois freáticos, da atmosfera e lançamento in natura de efluentes em corpos receptores, com pouca valorização agronômica deste resíduo (KUNZ et al., 2008).
Entre 1991 a 2000, pode-se inferir a crescente melhoria nos resultados zootécnicos dos planteis, a substituição das raças puras europeias por animais híbridos oriundos de empresas especializadas em genética e a expansão da suinocultura, principalmente na região Centro Oeste. Em relação ao SGAS, este período foi caracterizado pela criação das primeiras leis ambientais relacionadas a atividade, fiscalização, principalmente pelo Ministério Publico, e inicio de tratamento dos efluentes e dejetos com o uso de esterqueiras e lagoas de estabilização, com o objetivo principal de atender a legislação ambiental (AMARAL et al., 2006). Algumas granjas começavam a utilizar o efluente na fertiiirigação, principalmente nas lavouras de milho e em pastagens.
Já entre 2001 a 2010, observa-se um crescimento acentuado nas exportações de carne suína e elevação no padrão sanitário dos planteis, principalmente na região Sul e Sudeste. No SGAS, começam a surgir as primeiras iniciativas do uso da tecnologia de biodigestores associados com lagoas de estabilização, a compostagem de carcaças e de dejetos sólidos e a valorização agronômica destes resíduos quando adequadamente tratados (VANOTTI et al., 2008). Carvalho et al., (2015), em um estudo que diagnosticaram SGAS no Estado de São Paulo no ano de 2014, detectou que aproximadamente 50% e 35% das granjas investigadas já utilizavam a tecnologia da biodigestão anaeróbica e da compostagem respectivamente.
Entre 2010 até os dias atuais, podemos definir a suinocultura brasileira como uma atividade altamente competitiva, com resultados zootécnicos similares ou superiores ao de países da Europa e da América do Norte. No SGAS, percebe-se o inicio da utilização de tecnologias com o objetivo de mitigar impactos ambientais e gerar ao mesmo tempo, produtos de valor agregado, como a transformação do biogás produzido nos biodigestores em energia térmica e ou elétrica, produção de adubo orgânico de alta qualidade agronômica por sistema de compostagem e ou vermicompostagem, biodiesel a partir do efluente e de resíduos sólidos, fósforo orgânico e água de reuso que pode ser utilizada na: higienização das instalações, aquoponia, produção de hortaliças e biomassa constituída por algas de elevada porcentagem de proteínas (FERRAREZ et al., 2010). Há também investigações com o uso de micro-organismos produtores de hidrogênio (SCHAFFER et al., 2015) a partir do efluente.
A cada dia, os dejetos e os resíduos dos suínos, ganham valor econômico, o que tem motivado os produtores a implantarem em suas granjas, usinas de bioenergia e biofertilizante, que são empreendimentos contemplados em um SGAS, com a finalidade de atender de forma satisfatória a legislação pertinente, promover a imagem da granja junto aos clientes, órgãos governamentais e fornecedores e principalmente gerar receita adicional a atividade. Um trabalho conduzido por Sousa et al. (2015), em 37 granjas do Estado de São Paulo, dados ainda não publicados, analisou o retorno de investimentos de diferentes sistemas de tratamentos de efluentes de suínos (STES). Para análise de viabilidade econômica dos STES utilizou-se a técnica de orçamento de capital (PAYBACK). As granjas foram divididas em quatro categorias: GEEBC- Geração de energia elétrica, biofertilizante e créditos de carbono; GEEBI- Geração de energia elétrica e biofertilizante; GEEEL- Geração de energia elétrica; SGPVA- Sem geração de produtos de valor agregado. O melhor resultado económico foi observado na categoria GEEBC com tempo médio de retorno financeiro de nove meses. Observouse que 73% dos pesquisados não exploravam o valor econômico dos efluentes tratados, mantendo seus investimentos com intuito de contemplar a legislação ambiental vigente.
Vislumbra-se também a necessidade que um SGAS deve prover uma politica de redução de consumo e de desperdício de água, com a constante modernização das instalações e manutenção preventiva. Ademais, deve ser implantada a compra ecoeficiente de insumos e o tratamento dos resíduos de serviço de saúde animal (CARVALHO et. al., 2015). Um SGAS não pode ficar limitado somente a tratar os efluentes e os resíduos dos suínos.
Conclusão.
Percebe-se que a mesma preocupação e empenho que foi dado pelos produtores no sentido de melhorar os resultados zootécnicos e a sanidade dos planteis de suínos nestas últimas duas décadas, deve a partir de agora ser empreendido junto à implantação de SGAS, que possibilite a produção de produtos de valor agregado a partir do efluente e os resíduos dos suínos. Isto proporcionará uma atividade suinícola ética e sustentável, com uma percepção positiva da sociedade.
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