Introdução
De acordo com PRUNIER et al. (1993) a nutrição durante a lactação possui influencia sobre os níveis séricos dos marcadores metabólicos de matrizes suínas, pois mudanças associadas a hormônios como o fator de crescimento semelhante a insulina (IGF-1), insulina e leptina influenciam o eixo reprodutivo em fêmeas suínas. Segundo MELLAGI et al. (2010) as matrizes suínas no final da gestação e, de forma mais pronunciada na lactação, possuem a concentração de ácidos graxos não esterificados (AGNE) mais elevada devido a grande mobilização lipídica, principalmente nos animais com maior peso corporal. INNIS (1991) já demonstrava o potencial efeito do uso de ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) durante a gestação e lactação sobre o crescimento e desenvolvimento fetal. Fisiologicamente, os PUFA de cadeia longa mais importantes são o ácido araquidônico (C20:4n-6, ARA), ácido eicosapentaenoico (C20:5n-3, EPA) e o ácido docosahexaenoico (C22:6n-3, DHA) (KURLAK & STEPHENSON, 1999). Diversos trabalhos avaliaram os efeitos de ARA e EPA na suplementação de animais sobre a performance produtiva e reprodutiva (SMITS et al., 2011; GULLIVER et al., 2012;), porém os mecanismos envolvidos no efeito da suplementação com DHA não estão completamente compreendidos. O presente trabalho objetivou avaliar o efeito de dietas suplementadas com diferentes níveis de inclusão de DHA durante o terço final da gestação, lactação e desmame sobre os parâmetros sanguíneos de triglicerídeos, AGNE e IGF-1 em matrizes suínas.
Material e Métodos
Foi realizada a suplementação diária de 720 matrizes suínas da linhagem Camborough com DHA, o qual foi fornecido à dieta nos últimos 30 dias de gestação, durante a lactação (20 23 dias) e no intervalo desmame-estro (IDE; 4 a 7 dias), totalizando aproximadamente 60 dias de tratamento. A fonte de DHA fornecido era um produto farináceo derivado da Schizochytium sp., uma micro-alga marinha desenvolvida para fins comerciais (RATLEDGE et al., 2004). As fêmeas foram divididas em cinco tratamentos com 144 animais em cada grupo. Os tratamentos constituíam: Controle/TRAT1 (0,0 g DHA/dia); TRAT2 (3,5 g DHA/dia); TRAT3 (7,0 g DHA/dia); TRAT4 (14,0 g DHA/dia) e TRAT5 (28,0 g DHA/dia). A coleta de sangue foi realizada através de amostragem sendo coletadas oito fêmeas por grupo de tratamento, totalizando 40 fêmeas. O sangue foi obtido através de punção da veia jugular com tubos tipo vacuntainer®, nos seguintes momentos: no dia 85 de gestação (imediatamente antes do inicio da suplementação), no dia 10 de lactação (duração da lactação, 21 dias) e um dia antes do desmame. O sangue foi centrifugado e o soro aliquotado em criotubos para armazenamento em nitrogênio liquido a -196 °C. Foram analisados triglicerídeos, colesterol, AGNE e IGF-1 pelo método de ELISA. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística utilizando-se teste ANOVA e comparação de médias (Tukey) ao nível de 5% de probabilidade através do software Statistix® 10 (2013).
Resultados e Discussão
Considerando os níveis séricos de IGF-1 (Figura 1) não foi observado efeito do tratamento, apenas havendo efeito do período de suplementação, onde durante a gestação IGF-1 foi inferior aos demais períodos.
Figura 1: Efeito da suplementação com DHA nos níveis séricos de IGF-1 por tratamento em três períodos de suplementação
Os resultados obtidos para os níveis séricos de AGNE (Figura 2) não apresentaram diferença entre os diferentes níveis de suplementação, porém durante o período de gestação AGNE foi superior aos demais períodos.
Figura 2: Efeito da suplementação com DHA nos níveis séricos de AGNE por tratamento em três períodos de suplementação
Os níveis séricos de triglicerideos (Figura 3) sofreram efeito dos tratamentos, porém este efeito também foi influenciado pelo período de suplementação . Os tratamentos com 14 e 28 g de DHA foram relacionados aos menores níveis de triglicerideos, porém apenas durante a gestação. Nos demais períodos, não houve efeito dos tratamentos.
Figura 3: Efeito da suplementação com DHA nos níveis séricos de triglicerídeos por tratamento em três períodos de Suplementação ROVIRA et al. (2014) verificaram que fêmeas suínas suplementadas com uma dieta contendo alto teor de gordura saturada apresentaram altos níveis de triglicerídeos, o qual afetou as características embrionárias no primeiro terço da gestação por apresentar alterações na secreção de estradiol pelo próprio concepto durante este período. Desta forma nossos resultados para os níveis de TRAT 4 e TRAT5 de DHA são positivos, pois reduziram o valor de triglicerídeos durante a gestação, podendo ser utilizado em matrizes obesas a fim de evitar efeitos indesejados que altos níveis deste metabólito pode afetar sobre a performance reprodutiva.
Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que a suplementação com ômega- 3 para matrizes suínas não afetou os níveis séricos de IGF-1 e AGNE, porém reduziu os valores de triglicerídeos durante a gestação nos níveis de inclusão de 14 e 28 g de DHA.
Referências Bibliográficas
1. GULLIVER, C. E.; FRIEND, M. A.; KING, B. J.; et al., 2012. The role of Ômega-3 polyunsaturated fatty acids in reproduction of sheep and cattle. Animal Reproduction Science, (131): 9-22.
2. INNIS, S. M.; 1991. Essential fatty acids in growth and development. Progress in Lipid Research, (30): 39–103.
3. KURLAK, L. O.; STEPHENSON, T. J.; 1999. Plausible explanations for effects of long chain polyunsaturated fatty acids (LCPUFA) on neonates. Archives of Disease in Childhood. Fetal and Neonatal Edition, (80): 148–154.
4. MELLAGI, A. P. G.; ARGENTI, L. E.; FACCIN, J. E. G.; et al., 2010. Aspectos nutricionais de matrizes suínas durante a lactação e o impacto na fertilidade. Acta Scientiae Veterinariae, (38): 181- 209.
5. PRUNIER, A.; DOURMAD, J. Y.; ETIENNE, M.; 1993. Feeding level, metabolic parameters and reproductive performance of primiparous sows. Livestock Production Science, (37): 185-196.
6. RATLEDGE, C.; 2004. Fatty acid biosynthesis in microorganisms being used for single cell oil production. Biochimie, (86): 807–815.
7. ROVIRA, S. T.; ASTIZ, S.; AÑOVER, P. G.; et al., 2014. Intake of high saturated-fat diets disturbs steroidogenesis, lipid metabolism and development of obese-swine conceptuses from early-pregnancy stages. Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology, (139): 130-137.
8. SMITS, R. J.; LUXFORD, B. G.; MITCHELL, M.; et al., 2011. Sow litter size is increased in the subsequent parity when lactating sows are fed diets containing n-3 fatty acids from fish oil. Journal of Animal Science, (89): 2731-2738.
9. STATISTIX®. 2013. Statistix® 10 analytical software. Tallahassee, FL, EUA.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.