Introdução
A diminuição do número de leitegada ao segundo parto é algo que afeta negativamente o desempenho reprodutivo das fêmeas, também gerando prejuízos econômicos dentro do sistema de criação (SCHENKEL, 2007).
A meta a ser alcançada tem como intuito de que no segundo parto, as fêmeas consigam atingir um número maior de leitões nascidos, entretanto, quando não conseguem aumentar a produção, acaba acarretando em maiores prejuízos. É considerado como a “Síndrome do segundo parto”, quando no segundo parto das fêmeas reprodutoras, ocorre um número menor de leitões nascidos, ou ainda quando esse número de leitões continua sendo igual ao do primeiro parto (SCHENKEL, 2007).
As reprodutoras acometidas pela síndrome são descartadas para que não haja mais perdas nos partos subsequentes. Normalmente é percebido a redução de um leitão entre os nascidos, o que se enquadra ainda dentro da média do primeiro e segundo parto. Quando há redução na gestação de leitões, deve-se analisar com cautela, uma vez que nem sempre é necessário fazer o descarte das fêmeas, mesmo que a redução no número de leitões nascidos tenha ocorrido, pois é possível que ainda seja uma média aceitável e satisfatória para o segundo parto (SCHENKEL, 2007).
O presente artigo tem como objetivo abordar a síndrome do segundo parto, com ênfase na definição da síndrome e suas consequências, apontando fatores que a geram e implicações financeiras.
Revisão Bibliográfica
Devido ao desenvolvimento benéfico relacionado aos níveis de produção, tendo em vista as novas linhagens genéticas, teve-se como resultado fêmeas hiperprolíficas, as quais vêm contribuindo grandemente para um considerável aumento na produção de suínos. O tamanho da leitegada aumenta do primeiro ao quinto parto, sendo assim, o que se espera é que haja um maior número de ovulações e de capacidade uterina (MELLAGI et al., 2022).
Contudo, nem sempre este desenvolvimento traz somente benefícios, um dos problemas observados refere-se a questão reprodutiva de algumas fêmeas no segundo parto, chamado de “síndrome do segundo parto”, a qual consiste em ter um desempenho inferior, com um número de leitões nascidos igual ou relativamente menor no segundo parto quando comparada com o primeiro. Alguns fatores ainda podem acabar comprometendo o segundo ciclo, como o primeiro intervalo desmame estro e a taxa de parto (MELLAGI et al., 2022).
A redução significativa durante o segundo parto, também reflete em perdas na produtividade do plantel, relacionado ao período de lactação prévio, a falha de manejo reprodutivo, na detecção do estro e inseminação errônea, falha nutricional e estresse (BORTOLI et al., 2018; RODOIGUES et al., 2013).
Existem algumas recomendações quanto ao manejo de condição corporal a serem seguidas para a realização da primeira inseminação, sendo de suma importância para assegurar o desempenho reprodutivo e a longevidade, onde preconiza-se que a leitoa esteja com peso entre 130 a 150 kg e que seu crescimento corporal durante a primeira gestação tenha um ganho de peso de 35 a 40 kg, para assim conseguir chegar ao primeiro parto com reservas corporais suficientes e estar apta a desenvolver sua primeira lactação (MELLAGI et al., 2022). Para que as leitoas primíparas tenham uma boa produtividade, é imprescindível que possuam uma condição corporal ideal, ou seja, bom nível de reservas corporais, para que assim a produção de leite e manutenção da gestação não sejam impactadas negativamente (CARVALHO, 2013).
O baixo desempenho reprodutivo no segundo ciclo pode estar associado a carência nutricional durante a primeira lactação, sendo que pode não ter suprido de forma adequada as demandas energéticas da fêmea, contribuindo assim de forma negativa para sua mantença durante a fase de lactação, acarretando na mobilização das suas próprias reservas corporais e resultando em excessiva perda de peso (MELLAGI et al., 2022; RODOIGUES et al., 2013).
Outro ponto a se destacar, se refere ao período de IDE, o qual necessita ser suficiente para que exista a recuperação da matriz no quesito de involução uterina principalmente, a fim de que não venha a afetar o desenvolvimento folicular e oocitário, tendo em vista que tal deficiência pode comprometer a sobrevivência embrionária, ocasionando a redução da taxa de partos e no número de leitões nascidos vivos na segunda parição (MELLAGI et al., 2022).
O IDE abrange o dia do desmame até nova manifestação de sinais de estro, o período é considerado como dias não produtivos, ou seja, o período em que a fêmea está vazia. As fêmeas primíparas apresentam IDE mais prolongado devido a maior exigência quanto a necessidade nutricional, pois ainda não atingiram o peso adulto e com isso apresentam suas reservas de proteína e gordura corporais limitadas (AMARAL FILHA et al., 2007; BORTOLI et al., 2018).
Pensando no seu desempenho reprodutivo subsequente, buscam-se estratégias nutricionais, visando a ingestão de grande quantidade de ração altamente energética, balanceada e palatável, fornecida várias vezes ao dia com o intuito de estimular a ingestão de água que se torna indispensável nesta fase (AMARAL FILHA et al., 2007; BORTOLI et al., 2018).
Um ponto de extrema importância refere-se à ambiência, precisando ser adequado para as diferentes fases. Os neonatos necessitam do escamoteador para seu aquecimento e as matrizes um ambiente climatizado, com ventilação, ar condicionado, resfriamento evaporativo e/ou aspersores, que tendem a ser de grande valia para prevenir o estresse calórico e assim garantir o conforto térmico para o animal (RICCI et al., 2018).
O estresse térmico predispõe a situações que geram pontos negativos, afetando no consumo alimentar, pois ocorre redução da ingestão de ração. A restrição alimentar na lactação ocasiona perda excessiva de peso, aumento de IDE, deficiência na manifestação de estro, prejudica o desenvolvimento folicular, gera falha na taxa de ovulação e sobrevivência embrionária. O catabolismo é decorrente de um balanço energético negativo, por conta da diferença entre a sua ingestão de nutrientes e das exigências nutricionais para sua mantença (necessidade de mantença depende do peso corporal e temperatura ambiente) e para a produção de leite. O balanço energético negativo ocorre pela mobilização das reservas corporais, devido à alta demanda nutricional na lactação, pois as necessidades energéticas aumentam nas primeiras semanas, influenciadas pelo tamanho da leitegada (RICCI et al., 2018).
Parto e ordem de parição
É de suma importância registrar de forma criteriosa o histórico completo dos animais de forma individual, com anotações das principais informações, como data, tipo de parto, horário do início do parto, intervalo entre os nascimentos, assim como hora do final do parto, número de leitões nascidos vivos, natimortos, peso e sexo dos leitões, dentre outras informações importantes tanto da mãe como da leitegada. Estas informações tornam-se relevantes pensando em melhor qualidade, viabilidade e em reduzir as perdas de leitões, sendo necessário o acompanhamento prévio do parto (BORTOLI et al., 2018; OELKE et al., 2021).
A ordem de parto indica o número de gestações e nascimentos atingidos pela matriz, resulta da duração das gestações, lactações e dias de retorno ao cio. Torna-se importante o conhecimento em relação a ordem de parto para poder aplicar os manejos específicos de acordo com as diferentes ordens e a avaliação dos índices reprodutivos (OELKE et al., 2021).
A ordem de parto interfere na produtividade das porcas, o pico de produção de nascidos vivos que varia do terceiro ao quinto parto, tendencia a diminuição da leitegada conforme a senilidade da fêmea. Quando passam para a segunda gestação pode ocorrer a síndrome reprodutiva, apresentando queda no número da leitegada, mesmo que o intuito esteja relacionado a uma maior produção. Destaca-se a associação do desenvolvimento corporal, a alta exigência nutricional durante a lactação anterior, além do alto catabolismo com excessiva perda de peso (OELKE et al., 2021).
É preciso se atentar a leitões recém-nascidos que estão com o peso corporal mais reduzido, ou seja, abaixo do que se espera em uma leitegada. Normalmente, quando se tem essa redução de peso e não tem-se cuidados com esses recém-nascidos, possivelmente pode acabar gerando problemas, como a redução da temperatura corporal, o que é um grande problema, principalmente nas primeiras 35h após o parto (FERREIRA, 2011).
A temperatura corporal dos neonatos está totalmente associada com o peso ao nascer, tendo em vista que animais mais encorpados possuem uma tolerância maior ao frio. Portanto, ressalta-se a importância dos cuidados com os recém-nascidos, pois os mesmos possuem uma baixa capacidade de reter calor corporal em razão do menor isolamento térmico tecidual, pelos finos e bem dispersos, além de uma ampla área de superfície corporal em relação ao peso, o que acaba contribuindo na dissipação do calor corpóreo para o ambiente, fazendo com que esses leitões se tornem menos tolerantes às condições climáticas de ambientes frio e acabem sofrendo com as variações térmicas. Para que não ocorra prejuízos de redução e perda da leitegada nesses sistemas, é preciso condicionar os recém-nascidos em ambientes favoráveis e quentes para que consigam manter sua temperatura corporal em torno de 39 °C (FERREIRA, 2011).
Período de lactação
Próximo ao décimo oitavo dia ocorre a mínima recuperação uterina, a leitoa demanda de certo controle quanto a condição corporal, pois este é o período de maior preocupação em decorrência ao catabolismo lactacional, o desmame não deve ser realizado antes dos 18 dias e lactações com 28 dias precisam de manejos nutricionais adequados para suprir a exigência. Em casos de ocorrer o catabolismo, o desmame deve ser realizado com 24 dias de lactação (SILVA et al., 2021).
A leitegada que obterá sucesso por terem sido bem criadas nas fases de maternidade e creche, serão mais sadios, obtendo resultados de leitões com um maior crescimento, além de terem desenvolvimento mais acentuado, sendo os quais, dificilmente serão acometidos por problemas em fases subsequentes, justamente pelo fato de estarem mais estáveis as divergências climáticas do ambiente e do meio em que estarão vivendo (FERREIRA, 2011).
Bem-estar animal (BEA)
Os princípios do BEA surgiram em 1965, quando profissionais e pesquisadores do Reino Unido que estavam relacionados com pecuária e agricultura começaram a estudar o tema. Conceitos e definições foram criados, sendo chamado de Comitê Brambell. A primeira definição estabelecia o bem-estar animal como um termo amplo que abrange tanto o estado físico, como o mental dos animais, sendo assim a primeira vez mencionado os sentimentos dos animais (LUDTKE et al., 2010).
Quando se trata de bem-estar animal (BEA), salienta-se sobre o estado emocional, seu funcionamento biológico e sua capacidade de mostrar padrões normais de comportamento. Com isso busca-se certificação de origem, rastreabilidade produtiva e zootecnia de precisão para obtenção de melhorias do produto final, atendendo as exigências do mercado consumidor a respeito das legislações de bem-estar e garantia de saúde animal (SANTOS et al., 2019). O bem-estar pode ser evidenciado partindo da análise das 5 liberdades que consistem na liberdade de fome e sede, liberdade de desconforto, liberdade de dor, lesão e doença, liberdade de expressar comportamento normal e na liberdade de medo e diestresse (LUDTKE et al., 2010; SANTOS et al., 2019).
O estresse pode e normalmente é definido como um estímulo ambiental sobre os indivíduos. Sabe-se que quando algum indivíduo é afetado por fatores de estresse, consequentemente se sobrecarrega e acabam reduzindo os seus potenciais, sejam eles quais forem. O estresse está relacionado a uma carência de bem-estar, o que acaba levando a uma série de desafios e acarretando em alterações nos organismos desses animais, ou seja, quando começa a perceber-se que os mecanismos que mantinham a homeostase, começam a entrar em um desequilíbrio (DIAS et al., 2016).
Quando há desequilíbrio da homeostase, os indivíduos não conseguem mais manter como antes a temperatura corporal, havendo também um desequilíbrio hidroeletrolítico. A partir do momento em que os animais não conseguem mais manter a estabilidade da homeostase, é preciso recorrer a outros recursos para atender estes animais (DIAS et al., 2016).
Quanto ao sistema de criação nas maternidades, estes vêm sendo questionados, no que se refere ao alojamento das matrizes, por elas estarem em baias individuais para o momento do parto e aleitamento, onde ocorre certa limitação de seus movimentos, o qual pode acabar gerando distúrbios comportamentais (SANTOS et al., 2019). Sabe-se que para se alcançar um sistema de produção ideal durante os períodos de gestação, parição e lactação, é preciso que se consiga atender no mínimo a um triângulo de necessidades e proporcionar um bem-estar para as fêmeas e leitões, tendo como intuito que o produtor consiga alcançar os objetivos financeiros para o seu sistema de produção (DIAS et al., 2016).
Sugere-se a necessidade de estudos para estas fases, para que venham a contribuir para melhor desenvolvimento da matriz e da leitegada. Nos modelos tradicionais, as fêmeas gestantes permanecem em torno de 114 dias alojadas em baias individuais, após esse período são encaminhadas para as salas de maternidade, onde permanecem por 21 a 28 dias, sendo que nestas duas fases elas ficam restritas ao espaço da baia (SANTOS et al., 2019).
Portanto, as instalações devem seguir normas que atendem as necessidades das matrizes e leitões, onde o produtor pode escolher entre 6 modelos impostos pelas normativas do BEA, de acordo com a realidade da sua granja (SANTOS et al., 2019).
Considerações Finais
A síndrome do segundo parto é um acometimento que gera muitos prejuízos aos produtores, pois a redução da leitegada consequentemente vai gerar menores lucros para o sistema de produção. O objetivo da eficiência reprodutiva é o aumento do número de leitões nascidos vivos por parto. Deve-se atender sempre as necessidades nutricionais de cada fase dos suínos para que consigam expressar sua genética em sua totalidade, tendo sempre em vista, que deve-se seguir constantemente em aperfeiçoamento nas áreas de sanidade, manejo, nutrição, genética, bem-estar animal e reprodução. Para que se obtenha uma maternidade ideal, é necessário atender às necessidades da porca, sendo que no verão é necessário que o ambiente esteja bem ventilado, no entanto, o ambiente deve ser dotado de cortinas para que sejam protegidas de um excessivo período de frio. Intensificar as ações de manejo das primíparas é a estratégia mais assertiva para prevenir o problema e garantir a eficiência.
Publicado originalmente na Revista Inovação, Vol 2, 2023 – ISSN 2764-9199. Acesso disponível em: https://revistas.uceff.edu.br/inovacao/article/view/67