Introdução
O gênero Streptococcus é composto por bactérias de morfologia esférica que crescem em cadeias de comprimento variável. São cocos Gram-positivos, apresentam reação catalase negativa, são anaeróbios facultativos e imóveis. A espécie que apresenta maior importância para a industria suína é Streptococcus suis, (STAATS et al., 1997; GOYETTE-DESJARDINS et al., 2014). Os animais afetados são principalmente leitões entre 3 e 12 semanas de idade; estes animais apresentam quadros clínicos como meningite, pneumonia, artrite, endocardite, septicemia, abscessos e norte súbita (PERCH et al., 1983; GOTTSCHALK et al., 2007). Os métodos de identificação de laboratorio normalmente utilizados são: morfologia em ágar sangue, provas bioquímicas, identificação dos sorotipos e testes moleculares como a reação em cadeia da polimerase (PCR) ou sequenciamento parcial do gene 16S rRNA (PRIETO et al., 1994; STAATS et al., 1997; GOYETTE-DESJARDINS et al.,2014). Estes métodos muita vezes tem desvantagens como não especificidade de diferenciação entre as espécies por semelhanças morfológicas, maior tempo e custo no diagnóstico. Novas técnicas que foram adaptadas para o diagnostico microbiológico como a espectrometria de massa por ionização/dessorção a laser assistida por matriz em analisador por tempo de voo (Matrix Assisted Laser Desorption/Ionization Time of Flight) (MALDI-TOF MS), apresentam vantagens como: baixo custo e tempo na identificação dos agentes, além de conseguir diferenciar espécies de um mesmo gênero a parir do perfil proteico de cada agente (BIZZINI & GREUB, 2010). O objetivo do estudo é avaliar a utilização da técnica MALDI-TOF MS na identificação de diferentes espécies do gênero Streptococcus capazes de causar doença no suíno.
Material e Métodos
Foram analisadas 250 estirpes isoladas de suínos que apresentavam quadros clínicos de encefalite, artrite, pneumonia, metrite, infecção urinária ou septicemia, em diferentes estados brasileiros, entre os anos de 2001 a 2014. Estas estirpes mostraram características morfológicas sugestivas de Streptococcus s. As estirpes foram agrupadas de acordo com o sítio de isolamento - sistema respiratório, sistema nervoso central (SNC), sistema gênito-urinário, articulações, sangue, cavidade torácica, peritônio e coração - e reativadas a partir do estoque com 30% de glicerol mantido a -80°C. Cada cultura foi semeada em 4 ml de caldo BHI (brain heart infusion) enriquecido com 5% de soro fetal bovino e em ágar sangue de carneiro 5%, incubadas em aerobiose, durante 24 horas a 37°C. A partir deste cultivo foi separada uma alíquota para extração de proteína ribossomal; a alíquota foi centrifugada descartando o sobrenadante e mantendo o sedimento que foi suspenso em 300 μL de água ultrapura e adicionado 900 μL de etanol absoluto. A amostra foi centrifugada e o sobrenadante foi descartado e o sedimento foi seco em temperatura ambiente. Foi adicionado 30 μL de ácido fórmico 70% e 30 μL de acetonitrila 100% de forma a homogeneizar o sedimento por completo e o microtubo foi centrifugado por 2 minutos a 13.000 rpm. Por fim, foram transferidos 50 μL desobrenadante ao microtubo novo que foi armazenado a -20°C. Para a leitura dos espectros, 1 μL de suspensão proteica foi transferido para a placa de aço inox de 96 poços e, após secar em temperatura ambiente, se adicionou 1 uL de matriz (α-cyano-4-hydroxy-cinnamic acid). Cada cepa foi distribuída em três poços e para cada placa foram realizadas duas leituras. A partir dos espectros capturados, estes foram comparados com a biblioteca de espectros do fabricante pelo programa BioTyper 3.0 (Bruker Daltonik). Pela comparação de presença/ausência de picos específicos obtém-se um valor de escore (log (score) value); seguindo as recomendações do fabricante, os escores ≥ 2.0 foram aceitos para atribuição de espécie e escores ≥ 1.7 e < 2.0 foram utilizados para confirmação de gênero.
Resultados e Discussão
As estirpes foram agrupadas de acordo com os sítios de isolamento, sendo que 46,8% foram isoladas de SNC (117/250), 32,8% de sistema respiratório (82/250), 5,2% de sistema gênito urinário (13/250), 10% de articulação (25/250), 5,2% de outros sítios (13/250) (Tabela 1).
Tabela 1 – Frequência de estirpes avaliadas de acordo com o sitio de isolamento.
Todas as 250 estirpes foram avaliadas pelo MALDI–TOF MS, sendo que 86% (215/250) foram identificadas como Streptococcus suis com escore > 2.00 e (35/250) 14% foram identificadas como diferentes espécies do gênero Streptococcus. As espécies identificadas foram: S. hyovaginalis, S. oralis, S. hyointestinalis, S. sanguinis, S. henryi, S. alactolyticus, S. plurianimalium, S. dysgalactiae, S.gallinaceus, S. gordonii, S. gallolyticus e S. mitis (Tabela 2).
Tabela 2 – Distribuição das diferentes espécies de Streptococcus identificadas pelo MALDI-TOF MS de acordo com o sitio de isolamento.
Conclusões
Os resultados encontrados demonstram que a técnica MALDI-TOF MS, além de ser mais rápida que as demais técnicas, identifica outras espécies do gênero Streptococcus além de S. suis que podem também causar doença no suíno e que muitas vezes não são consideradas no momento do diagnóstico.
Referências Bibliográficas
1. BIZZINI, A.; GREUB, G., 2010. Matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry, a revolution in clinical microbial identification. Clinical Microbiology and Infection, (16):1614–1619.
2. GOTTSCHALK, M.; SEGURA, M.; XU, J., 2007. Streptococcus suis infections in humans: the Chinese experience and the situation in North America. Animal Health Research Reviews / Conference of Research Workers in Animal Diseases, (8): 29–45.
3. GOYETTE-DESJARDINS, G.; AUGER, J.-P.; XU, J.; SEGURA, M.; GOTTSCHALK, M., 2014. Streptococcus suis, an important pig pathogen and emerging zoonotic agent—an update on the worldwide distribution based on serotyping and sequence typing. Emerging Microbes & Infections, (3):45
4. PERCH, B.; PEDERSEN, K. B.; HENRICHSEN, J., 1983. Serology of capsulated streptococci pathogenic for pigs: Six new serotypes of Streptococcus suis. Journal of Clinical Microbiology,(17): 993–996.
5. PRIETO, C.; GARCÍA, F.J.; SUÁREZ, P.; IMÁZ, M.; CASTRO, J.M., 1994. Biochemical traits and antimicrobial susceptibility of Streptococcus suis isolated from slaughtered pigs. Zentralbl Veterinarmed B. Journal of Veterinary Medicine. Series B, (41): 608- 617.
6. STAATS, J. J.; FEDER, I.; OKWUMABUA, O.; CHENGAPPA, M. M., 1997. Streptococcus suis: Past and present. Veterinary Research Communications,(21):381–407.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.