Introdução
A intensificação da suinocultura associada a grandes avanços tecnológicos trouxe inúmeros benefícios, principalmente referentes a ganhos produtivos, porém, acarretou problemas ao sistema locomotor dos animais. As lesões no aparelho locomotor impactam significativamente em perdas econômicas devido aos gastos com medicamentos, assistência veterinária, descartes precoces e reduzida produtividade (ALBERTON et al., 2012). Problemas estes que se iniciam já nas fases iniciais acarretando no aparecimento de locais dolorosos com consequente claudicação, afetando, principalmente, os cascos, músculos, articulações e osso (DONE et al, 2012).
Visto a grande importância das lesões no aparelho locomotor, o diagnóstico correto torna-se imprescindível, pois segundo THOMPSON (2008) boa parte da causas das lesões articulares e periarticulares incluem fatores ambientais e geralmente são estéreis, como a miosite verdadeira, que ocorre somente quando as células inflamatórias são diretamente responsáveis pelo inicio e manutenção da lesão da miofibrila, e quando a inflamação está dirigida às fibras e não ao estroma (MC DONALD et al., 2013). No entanto, esta inflamação muitas vezes é confundida com bursite e artrites causada por Mycoplasma hyosynoviae, Mycoplasma hyorhinis, Streptococcus sp., Haemophilus parasuis e Erisipelothrix rhusiopathiae (ALBERTON et al., 2012).
O objetivo deste relato foi abordar um caso de miosite necrosante de músculo quadrado plantar (M. flexor accessorius) em leitões.
Material e Métodos
Foi realizado exame clínico em 3 rebanhos afetados por um surto caracterizado pelo aumento de volume nos membros pélvicos, na região dos ossos társicos e metatársicos. Os animais afetados apresentavam idade de 2 a 6 meses. Nos animais afetados, não foi notado nenhum sinal clínico geral, como febre, prostração, redução de ingestão de ração ou claudicação. Durante as visitas, 10 animais foram contidos manualmente e submetidos à avaliação por palpação da área afetada. Destes, foram selecionados três para eutanásia, necropsia e coleta de material. Fragmentos de tecidos da área lesionada foram colhidos, acondicionados em formol 10% e processados de acordó com as técnicas de rotina para exame histopatológico.
Resultados e discussão
No exame clínico, constatou-se à palpação das áreas afetadas: aumento de volume (Figura 1), com flutuação, temperatura normal e ausência de dor. Por vezes esse aumento de volume era notado na face lateral e outras na face medial do membro pélvico. A pele que recobria a tumoração estava íntegra, sem nenhum sinal de escoriação, perfuração ou úlcera. Os animais afetados apresentavam-se com escore corporal normal, sem claudicação ou qualquer outro sinal de doença. Nos animais mais jovens, em fase de creche, a lesão era mais saliente, já nos animais em fase de recria e terminação a lesão era menor e de consistência mais dura. À necropsia observou-se área de tumoração de aproximadamente 5 cm, localizada no tecido subcutâneo, envolvendo músculo quadrado plantar e tecidos adjacentes. Não foi observado nenhum envolvimento das articulações. No exame histopatológico notou-se músculo estriado esquelético com substituição difusa acentuada do tecido muscular por marcada proliferação de fibroblastos, com acentuada deposição de matriz extracelular eosinofílica fibrilar e inúmeros vasos sanguíneos de pequeno calibre (tecido de granulação maduro).
Em meio à este tecido nota-se áreas multifocais de infiltrado inflamatório misto, caracterizado por acentuados neutrófilos, histiócitos, moderados linfócitos e raros plasmócitos. Este infiltrado circundava as fibras musculares esqueléticas que apresentavam aspecto flocular acentuadamente eosinofilico (degeneração hialina - Figura 2). Havia fragmentação dos miocitos e moderado infiltrado macrofágico associado (necrose). Próximo aos focos de necrose muscular notava-se grande quantidade de tecido de granulação imaturo.
Figura 1 – Tumoração em membro pélvico de leitão de 60 dias de idade.
No exame histopatológico não foi evidenciada a presença de agentes infecciosos intrelesionais, de modo que diante das evidências, o processo de necrose muscular foi asséptico. O músculo quadrado plantar é responsável pelo movimento de extensão das unhas acessórias, fato que justifica a ausência de claudicação nestes animais. Não foi possível determinar o que desencadeou a necrose. Se o caso fosse isolado, poder-se-ia aventar a possibilidade de ter sido causado por trauma provocados pelas instalações ou manejo. Entretanto, os animais afetados sempre apresentavam o mesmo tipo de lesão com alternância de face acometida e não apresentavam lesão na pele que recobria a tumoração. Nos casos traumáticos, geralmente a pele dos animais também se apresenta lesionada e inflamada. Como os animais eram mantidos em pisos parcialmente ripados e, tendo em vista que na fase de creche a parte ripada era de composta por barras cilíndrica de ferro, é possível que a necrose muscular tenha sido causada por estiramento excessivo do músculo quadrado plantar. Isto pode ocorrer quando os leitões apoiam os cascos sobre o ferro do piso, separando as unhas e sobre unhas. Este apoio gera hiper-extensão das sobre-unhas, o que pode tracionar excessivamente o músculo quadrado plantar, gerando rompimento de fibras e, consequentemente, necrose muscular.
Figura 2 - Em A observa-se área focal de necrose muscular. Em B observa-se proliferação de fibroblastos em meio a infiltrado inflamatório de neutrófilos, histiócitos e plasmóctios (tecido de granulação imaturo). A seta indica formação de novos vasos (angiogênse). Em C observa-se proliferação de fibroblastos formando tecido conjuntivo denso. Coloração HE. Aumento 10x
Conclusões.
Os animais apresentavam necrose asséptica do músculo quadrado plantar.
Referências Bibliográficas
1. ALBERTON, G. C.; SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D.; MORÉS, N.; DONIN, D. G.; OLIVEIRA, J. S, 2012. Doenças do Aparelho Locomotor. In: SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D. Doenças dos suínos. Goiânia: Cânone Editorial, 2° ed., p 509-546.
2. DONE, S.; WILLIAMSON, S.M.; STRUGNELL, B. W., 2012. Nervous and locomotor systems. In. ZIMMERMAN, J. J.; KARRIKER,L. A.; RAMIREZ, A.; SCHWARTZ, K. J.; STEVENSOBN, G. W. Diseases of swine, 10 ed., Ames : Blackwell Publishing. P.294-328.
3. Mc DONALD; Mc GAVIN; ZACHARY J. F. 2013. Bases da Patologia em Veterinária. 2ed. Rio de Janeiro, Elsevier,.715p.
4. THOMPSON K. 2008. Bones and joints. In: MAXIE M., JUBB K.V.F., KENNEDY P.C. & PALMER N.C. (Eds), Patology of Domestic Animals. Vol.1. 15th ed. Saunders Elsevier,Toronto. p.1-184.
***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.