INTRODUÇÃO
Os grãos ardidos são o reflexo das podridões de espigas, causadas principalmente pelos fungos presentes no campo: Stenocarpella maydis (= Diplodia maydis), Fusarium verticillioides (= Fusarium moniliforme), Gibberella zeae, Penicillium spp. e Aspergillus spp. (Silva & Menten, 1997) e constituem-se, atualmente, num dos principais problemas de qualidade do milho, devido à possibilidade da presença de micotoxinas, tais como aflatoxinas, zearalenona, vomitoxinas e outras (Kinoshita, 1998). As perdas qualitativas por grãos ardidos são motivos de desvalorização do produto e uma ameaça à saúde dos rebanhos ou mesmo humana (Caldasso et al., 1998). Como padrão de qualidade têm-se, em algumas agroindústrias, a tolerância máxima de 6% para grãos ardidos em lotes comerciais de milho (Menegazzo, 1998). Lotes de milho com 5% ou mais de grãos infectados por Fusarium foram suficientes para causar problemas alimentares em suínos (Lazzari, 1995). Por outro lado, há trabalhos mostrando diferença significativa entre cultivares de milho em relação à produção de grãos ardidos (Pinto, 2000; 2001; 2003).
O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de cultivares de milho em relação à produção de grãos ardidos, isto é, atacados por fungos na fase de pré-colheita.
MATERIAL E MÉTODOS
Vinte e oito (28) cultivares de milho, semeadas em novembro de 2004, em área experimental da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, foram avaliadas em relação a incidência de grãos ardidos, empregando-se o delineamento de blocos casualizados, com quatro repetições. Nos três meses subseqüentes à polinização, as médias das temperaturas máxima e mínima foram de 29,1 °C e 18,1 °C, respectivamente. Neste período, a precipitação pluviométrica total foi de 458,9 mm. Os grãos foram colhidos aos 163 dias após a semeadura, com umidade média de 13,6%, em base úmida. As produções de grãos das parcelas foram homogeneizadas mecanicamente e fracionadas em amostras de trabalho de 1,0 kg, sendo analisadas visualmente para a quantificação de grãos ardidos, tendo-se como base de cálculo o número total de grãos e de grãos ardidos. Visando identificar os fungos associados aos grãos ardidos, esses foram submetidos à análise de sanidade, empregando-se o método do papel de filtro com congelamento. Findo o período de 7 dias de incubação, os grãos foram avaliados sob microscópio estereoscópico (até 100 aumentos) para a determinação qualitativa e quantitativa dos fungos a eles associados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na condição edafoclimática deste experimento, os resultados obtidos estão contidos na Tabela 1, onde pode-se observar que: 1- As cultivares avaliadas tiveram o percentual de grãos ardidos entre 1,1 a 8,8%, sendo que algumas cultivares superaram o limite máximo de tolerância adotado por agroindústrias, que é de 6,0%; 2- As cultivares BR 206 e BRS 2020 apresentaram significativamente menos grãos ardidos do que as cultivares BRS 3003, BRS 3060, BRS 4157, Assum Preto, BR 451, BRS 1010, BRS 1030, Sertanejo, BRS 3150 e Ângela, as quais excederam o limite máximo de tolerância; 3- A cultivar BR 206 também apresentou significativamente menos grãos ardidos do que as cultivares BR 201, Asa Branca, BRS 4154, Planalto e BR 473, as quais tiveram seus percentuais de grãos ardidos abaixo do limite máximo de tolerância; e 4 – Fusarium verticillioides, fungo produtor de micotoxinas, foi o principal causador de grãos ardidos em milho, cuja detecção variou de 84,7 a 100,0%. Estes resultados estão de conformidade com aqueles obtidos por Pinto (2000; 2001; 2003).
CONCLUSÕES
1- Há diferenças significativas entre as cultivares de milho com relação à produção de grãos ardidos;
2– Fusarium verticillioides foi o principal fungo causador de grãos ardidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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KINOSHITA, K. Qualidade do milho na moagem úmida. In: ENCONTRO NACIONAL DE MICOTOXINAS, 9.; SIMPÓSIO EM ARMAZENAGEM QUALITATIVA DE GRÃOS DO MERCOSUL, 1998, Florianópolis. Livro de resumos. Florianópolis: UFSC, 1998. p.52. Editado por V. M. Scussel.
LAZZARI, F.A. A importância das micotoxinas na qualidade de grãos de milho para alimentação. In : SEMINÁRIO SOBRE A CULTURA DO MILHO SAFRINHA, 3. Assis, Resumos, IAC, 1995. p.1-8.
MENEGAZZO, R. Micotoxinas em milho para rações na região sul do Brasil (1992-1997). In: ENCONTRO NACIONAL DE MICOTOXINAS, 9.; SIMPÓSIO EM ARMAZENAGEM QUALITATIVA DE GRÃOS DO MERCOSUL, 1998, Florianópolis. Livro de resumos. Florianópolis: UFSC, 1998. p.22. Editado por V. M. Scussel.
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PINTO, N.F.J.A. Incidência de grãos ardidos em cultivares de milho precoce. Summa Phytopathologica, v.27, n.4, p.433-436, 2001.
PINTO, N.F.J.A. Incidência de grãos ardidos em diferentes tipos de milho. Summa Phytopathologica, v.29, n.1, p.67, 2003.
SILVA, H.P. & MENTEN, J.O.M. Manejo integrado de doenças na cultura do milho. In: FANCELLI, A. L.; DOURADO-NETO, D. eds. Tecnologia da produção de milho. Piracicaba : ESALQ, 1997. p.40-59.
Tabela 1 - Porcentagens de grãos ardidos em cultivares de milho sob infecção natural e dos fungos associados aos grãos ardidos. Safra 2004/2005. Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, 2005.