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AVALIAÇÃO DO ENVOLVIMENTO DE CAMUNDONGOS (Mus musculus) NA EPIDEMIOLOGIA DA ENTEROPATIA PROLIFERATIVA SUÍNA

Publicado: 21 de julho de 2016
Por: MICHELLE P. GABARDO, CARLOS E.R. PEREIRA, AMANDA G.S. DANIEL, JOSE P. SATO, MARIANA R. ANDRADE, TALITA P. REZENDE, LOURENÇA A. ALVARENGA, LUISA V.A. OTONI, LUCAS A. REZENDE, ROBERTO M. C. GUEDES1 1Escola de Veterinária, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil.
Sumário

Objetivou-se avaliar a presença da L. intracellularis em roedores oriundos de granjas com casos clínicos confirmados de enteropatia proliferativa suína (EPS), e demonstrar a transmissão fecaloral da L. intracellularis entre suínos e camundongos. Na fase a campo, armadilhas foram armadas em 2 granjas com casos de EPS. Dos 62 roedores coletados, cinco possuíam DNA do agente nas fezes. Na etapa 1 da fase experimental, foram fornecidas fezes frescas de suínos inoculados com a bactéria a 34 camundongos Swiss (C1) e fezes negativas a doze camundongos (C2). Amostras de fezes dos camundongos foram coletadas aos 0, 7, 14, 21 e 28 dias pós-exposição (dpe) às fezes dos suínos e testadas pela nested PCR. Os animais foram eutanasiados aos 28 dpe. Na fase 2, 12 suínos foram expostos a fezes de camundongos experimentalmente inoculados com L. intracellularis (S1), e dois a fezes negativas (S2), por 4 dias consecutivos. Os animais foram avaliados diariamente quanto aos sinais clínicos de diarreia e eutanasiados aos 30 dpe para avaliação de anatomopatológicas. Amostras de fezes e soros dos suínos foram coletadas aos 0, 7, 14, 21 e 30 dpe. Na primeira etapa, pelo menos uma das caixas dos camundongos C1 foi positiva para a L. intracellularis na nested PCR aos 7, 14 e 21 dpe. Na imuno-histoquímica (IHQ) apenas 3 animais apresentaram marcação positiva. Na segunda etapa, 11 suínos S1 apresentaram infecção pela L. intracellularis, pois foram positivos na PCR e/ou na IHQ. Os primeiros animais foram positivos na PCR aos 7 dpe, e 11 soroconverteram a partir de 21 dpe. Na IHQ, 50% dos animais foram positivos, confirmando a infecção. Nosso estudo demonstra que camundongos são capazes de se infectar e eliminar o agente nas fezes e serem, portanto, hospedeiros e fontes de infecção de L. intracellularis para suínos susceptíveis.

 
Introdução
Enteropatia Proliferativa Suína (EPS) é uma das doenças entéricas mais prevalentes em granjas de suínos em todo o mundo e tem como agente etiológico a bactéria Lawsonia intracellularis. A maior fonte de contaminação e disseminação do agente em granjas suínas são os indivíduos que apresentam a forma subclínica da doença (PARADIS et al., 2012). Contudo, uma vez que há relato de surtos de EPS em granjas recém-povoadas por suínos provindos de granjas negativas para o agente, considera-se a existência de vetores biológicos ou mecânicos que poderiam ser carreadores do agente (Guedes, 2002a). Roedores são pragas comuns em criações de suínos devido à fartura de alimento, presença de água e oferta de abrigo, o que favorece a multiplicação dos mesmos. São animais que, além causar prejuízos econômicos pelo consumo e contaminação de ração, são possíveis carreadores de diversos patógenos que afetam outras espécies animais e humanos (BACKHANS e FELLSTRÖM, 2012). O DNA da L. intracellularis já foi detectado em roedores capturados em granjas de suínos (COLLINS et al., 2011; BACKHANS, et al, 2013) e em haras positivos para L. intracellularis (PUSTERLA et al., 2012). Como ratos chegam a eliminar em média 103–105 L. intracellularis por grama de fezes (COLLINS et al., 2011), dose suficiente para infectar suínos susceptíveis, sugere-se que roedores possam se infectar com cepas suínas de L. intracellularis e servirem como vetores biológicos. Entretanto, esta hipótese nunca foi testada experimentalmente. Com isso, o objetivo do estudo foi avaliar a presença da L. intracellularis em roedores oriundos de granjas com casos clínicos confirmados de EPS e avaliar a transmissão fecal-oral da L. intracellularis entre camundongos e suínos.
 
Material e Métodos
Na fase a campo, armadilhas foram distribuídas em 2 granjas com casos de EPS, com objetivo de detectar roedores positivos para L. intracellularis. As armadilhas foram dispostas na parte externa e interna dos galpões, em corredores, vigas e salas de ração e em salas vazias. As armadilhas foram armadas com iscas atrativas e checadas diariamente, sendo realizada a troca das iscas caso fosse necessário. Os roedores foram eutanasiados e amostras de fezes coletadas. O DNA destas amostras foi extraído e submetido à nested PCR (JONES et al., 2003). A primeira etapa da fase experimental teve como objetivo demonstrar se camundongos podem se infectar pela ingestão de fezes de suínos infectados com L. intracellularis. Para isso foram fornecidos a 34 camundongos Swiss, distribuídos em 4 caixas, 20g/caixa de fezes frescas de suínos experimentalmente inoculados e PCR positivos para L. intracellularis (C1). Doze animais receberam fezes negativas (C2). Amostras de fezes dos camundongos foram coletadas aos 0, 7, 14, 21 e 28 dias pós-exposição às fezes dos suínos (dpe). Os camundongos foram eutanasiados aos 28 dpe, e amostras de intestinos coletadas para a realização de imuno-histoquímica (IHQ), utilizando anticorpo polyclonal anti-L. intracellularis (GUEDES e GEBHART, 2003). A segunda etapa teve objetivo de induzir a contaminação por via oral de suínos com as fezes de camundongos infectados com cepa suína de L. intracellularis. Para isso, 12 suínos foram expostos a fezes de camundongos experimentalmente inoculados com (S1) e dois a fezes negativas (S2), por 4 dias consecutivos. Os camundongos foram inoculados com cultura pura com 9.35x107 L. intracellularis /ml. Amostras de fezes e soro foram coletadas dos suínos aos 0, 7, 14, 21 e 30 dpe. O soro foi submetido à técnica de imunoperoxidase em monocamada de célula (IPMC), conforme descrito por Guedes et al. (2002), e as fezes extraídas e submetidas a PCR (JONES et al., 2003). Os suínos foram eutanasiados aos 30 dpe e fragmentos de intestino coletados para a realização de IHQ.
 
Resultados e Discussão
Na granja A foram capturados 11 camundongos (Mus musculus) e 20 ratos (Rattus rattus) e na granja B cinco camundongos e 26 ratos. Dos 31 roedores coletados em cada granja, quatro (12,9 %) e um (3,3 %) foram positivos na nested PCR nas granjas A e B, respectivamente. Na fase experimental, todos os suínos e camundongos utilizados foram negativos para L. intracellularis no início do trabalho. Todos os animais dos grupos controles (C1 e S1) permaneceram negativos ao final do experimento. Na primeira etapa, pelo menos uma caixa de camundongos do grupo M1 foi positiva para L. intracellularis aos 7, 14 e 21 dpe. Na IHQ apenas 3 animais apresentaram lesão microscópica e marcação positiva, demonstrando que os animais se infectaram. Na segunda etapa, 10 suínos (S1) foram infectados pela L. intracellularis, baseado nos resultados positivos na PCR e/ou IHQ. Animais PCR positivos foram primeiramente detectados aos 7 dpe, e soroconverteram aos 21 dpe. Na técnica de IHQ, 50 % dos animais foram positivos. Apesar da especificidade de hospedeiro da L. intracellularis, detectada por alguns autores (SAMPIERI et al., 2013), potros expostos a fezes de coelhos positivos para L. intracellularis se infectaram e eliminaram a bactéria nas fezes (PUSTERLA et al., 2013).
 
Conclusões
A detecção de ratos e camundongos positivos para L. intracellularis em granjas e os achados experimentais indicam que camundongos são capazes de se infectar e eliminar o agente nas fezes e serem, portanto, hospedeiros e fontes de infecção de L. intracellularis para suínos susceptíveis.
 
Agradecimentos
À FAPEMIG pelo suporte financeiro; ao Médico Veterinário José Eustáquio pela ajuda nas coletas dos roedores.
 
Referências Bibliográficas
1. BACKHANS A e FELLSTRÖM C.; 2012. Rodents on pig and chicken farms – a potential threat to human and animal health. Infection Ecology & Epidemiology, 2(10):3402.
2. BACKHANS, A.; JACOBSON, M.; HANSSON, I.; et al. Occurrence of pathogens in wild rodents caught on Swedish pig and chicken farms. Epidemiol Infect, v.141, n.9, 1885-1891, 2013.
3. COLLINS, A.M.; FELL, S.; PEARSON, H.; et al. Colonisation and shedding of Lawsonia intracellularis in experimentally inoculated rodents and in wild rodents on pig farms. Vet Microbiol, v.150, p.384–388, 2011.
4. GUEDES, R.M.C.; GEBHART, C.J.; 2003. Preparation and characterization of polyclonal and monoclonal antibodies against Lawsonia intracellularis. J. Vet. Diagn. Invest. 15:438–446.
5. GUEDES, R.M.C.; GEBHART, C.J.; DEEN, J.; et al.; 2002.Validation of an immunoperoxidase monolayer assay as a serologic test for porcine proliferative enteropathy. J. Vet. Diagn. Invest. 14:528–530.
6. JONES, G.F., WARD, G.E., MURTAUGH, M.P., et al. 1993. Enhanced detection of intracellular organism of swine proliferative enteritis, Ileal symbiont intracellularis, in faeces by polymerase chain reaction. Journal of Clinical Microbiology. 31:2611-2615.
7. PARADIS M.A.; GEBHART C.J.; TOOLE D.; et al.; 2012. Subclinical ileitis: Diagnostic and performance parameters in a multi-dose mucosal homogenate challenge model. J Swine Health Prod, v.20, n.3, p.137-141.
8. PUSTERLA N, SANCHEZ-MIGALLON G.D, VANNUCCI F.A., et al.; 2013. Transmission of Lawsonia intracellularis to weanling foals using feces from experimentally infected rabbits. Vet J. 195(2):241-243.
9. PUSTERLA, N.; MAPES, S.; GEBHART, C.; 2012. Further investigation of exposure to Lawsonia intracellularis in wild and feral animals captured on horse properties with equine proliferative enteropathy. Vet J.,194(2):253-255.
10. SAMPIERI F., et al.; 2013. Species-specificity of equine and porcine Lawsonia intracellularis isolates in laboratory animals. Can J Vet Res. 77(4):261-72.

***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.
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Autores:
Roberto Maurício Carvalho Guedes
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
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