Introdução
Enteropatia Proliferativa Suína (EPS) é uma das doenças entéricas mais prevalentes em granjas de suínos em todo o mundo e tem como agente etiológico a bactéria Lawsonia intracellularis. A maior fonte de contaminação e disseminação do agente em granjas suínas são os indivíduos que apresentam a forma subclínica da doença (PARADIS et al., 2012). Contudo, uma vez que há relato de surtos de EPS em granjas recém-povoadas por suínos provindos de granjas negativas para o agente, considera-se a existência de vetores biológicos ou mecânicos que poderiam ser carreadores do agente (Guedes, 2002a). Roedores são pragas comuns em criações de suínos devido à fartura de alimento, presença de água e oferta de abrigo, o que favorece a multiplicação dos mesmos. São animais que, além causar prejuízos econômicos pelo consumo e contaminação de ração, são possíveis carreadores de diversos patógenos que afetam outras espécies animais e humanos (BACKHANS e FELLSTRÖM, 2012). O DNA da L. intracellularis já foi detectado em roedores capturados em granjas de suínos (COLLINS et al., 2011; BACKHANS, et al, 2013) e em haras positivos para L. intracellularis (PUSTERLA et al., 2012). Como ratos chegam a eliminar em média 103–105 L. intracellularis por grama de fezes (COLLINS et al., 2011), dose suficiente para infectar suínos susceptíveis, sugere-se que roedores possam se infectar com cepas suínas de L. intracellularis e servirem como vetores biológicos. Entretanto, esta hipótese nunca foi testada experimentalmente. Com isso, o objetivo do estudo foi avaliar a presença da L. intracellularis em roedores oriundos de granjas com casos clínicos confirmados de EPS e avaliar a transmissão fecal-oral da L. intracellularis entre camundongos e suínos.
Material e Métodos
Na fase a campo, armadilhas foram distribuídas em 2 granjas com casos de EPS, com objetivo de detectar roedores positivos para L. intracellularis. As armadilhas foram dispostas na parte externa e interna dos galpões, em corredores, vigas e salas de ração e em salas vazias. As armadilhas foram armadas com iscas atrativas e checadas diariamente, sendo realizada a troca das iscas caso fosse necessário. Os roedores foram eutanasiados e amostras de fezes coletadas. O DNA destas amostras foi extraído e submetido à nested PCR (JONES et al., 2003). A primeira etapa da fase experimental teve como objetivo demonstrar se camundongos podem se infectar pela ingestão de fezes de suínos infectados com L. intracellularis. Para isso foram fornecidos a 34 camundongos Swiss, distribuídos em 4 caixas, 20g/caixa de fezes frescas de suínos experimentalmente inoculados e PCR positivos para L. intracellularis (C1). Doze animais receberam fezes negativas (C2). Amostras de fezes dos camundongos foram coletadas aos 0, 7, 14, 21 e 28 dias pós-exposição às fezes dos suínos (dpe). Os camundongos foram eutanasiados aos 28 dpe, e amostras de intestinos coletadas para a realização de imuno-histoquímica (IHQ), utilizando anticorpo polyclonal anti-L. intracellularis (GUEDES e GEBHART, 2003). A segunda etapa teve objetivo de induzir a contaminação por via oral de suínos com as fezes de camundongos infectados com cepa suína de L. intracellularis. Para isso, 12 suínos foram expostos a fezes de camundongos experimentalmente inoculados com (S1) e dois a fezes negativas (S2), por 4 dias consecutivos. Os camundongos foram inoculados com cultura pura com 9.35x107 L. intracellularis /ml. Amostras de fezes e soro foram coletadas dos suínos aos 0, 7, 14, 21 e 30 dpe. O soro foi submetido à técnica de imunoperoxidase em monocamada de célula (IPMC), conforme descrito por Guedes et al. (2002), e as fezes extraídas e submetidas a PCR (JONES et al., 2003). Os suínos foram eutanasiados aos 30 dpe e fragmentos de intestino coletados para a realização de IHQ.
Resultados e Discussão
Na granja A foram capturados 11 camundongos (Mus musculus) e 20 ratos (Rattus rattus) e na granja B cinco camundongos e 26 ratos. Dos 31 roedores coletados em cada granja, quatro (12,9 %) e um (3,3 %) foram positivos na nested PCR nas granjas A e B, respectivamente. Na fase experimental, todos os suínos e camundongos utilizados foram negativos para L. intracellularis no início do trabalho. Todos os animais dos grupos controles (C1 e S1) permaneceram negativos ao final do experimento. Na primeira etapa, pelo menos uma caixa de camundongos do grupo M1 foi positiva para L. intracellularis aos 7, 14 e 21 dpe. Na IHQ apenas 3 animais apresentaram lesão microscópica e marcação positiva, demonstrando que os animais se infectaram. Na segunda etapa, 10 suínos (S1) foram infectados pela L. intracellularis, baseado nos resultados positivos na PCR e/ou IHQ. Animais PCR positivos foram primeiramente detectados aos 7 dpe, e soroconverteram aos 21 dpe. Na técnica de IHQ, 50 % dos animais foram positivos. Apesar da especificidade de hospedeiro da L. intracellularis, detectada por alguns autores (SAMPIERI et al., 2013), potros expostos a fezes de coelhos positivos para L. intracellularis se infectaram e eliminaram a bactéria nas fezes (PUSTERLA et al., 2013).
Conclusões
A detecção de ratos e camundongos positivos para L. intracellularis em granjas e os achados experimentais indicam que camundongos são capazes de se infectar e eliminar o agente nas fezes e serem, portanto, hospedeiros e fontes de infecção de L. intracellularis para suínos susceptíveis.
Agradecimentos
À FAPEMIG pelo suporte financeiro; ao Médico Veterinário José Eustáquio pela ajuda nas coletas dos roedores.
Referências Bibliográficas
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***O TRABALHO FOI ORIGINALMENTE APRESENTADO DURANTE O XVII CONGRESSO ABRAVES 2015- SUINOCULTURA EM TRANSFORMAÇÂO, ENTRE OS DIAS 20 e 23 DE OUTUBRO, EM CAMPINAS, SP.