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Reprodutivo Bexiga Fêmeas Suínas Descartadas

Avaliação Patológica do Aparelho Reprodutivo e Bexiga de Fêmeas Suínas Descartadas

Publicado: 27 de junho de 2012
Por: Nelson Morés; Giseli Aparecida Ritterbusch; Camila Sá Rocha; Armando Lopes do Amaral; Arlei Coldebella; Janice Reis Ciacci-Zanella
Introdução
Nos atuais sistemas intensivos de criação de suínos, a taxa de reposição de matrizes varia entre 35% a 55% ao ano, dependendo do rebanho. Considerando aspectos econômicos, produtivos e de imunidade de rebanho, essa taxa deveria ficar entre 30% a 40%. As principais causas de substituição dessas porcas do plantel são: baixa produtividade, repetição de cio, idade avançada, problemas locomotores e mortes (D´ALLAIRE; DROLET, 2006). Infecções do aparelho gênito-urinário (endometrites e cistite) são consideradas causas importantes de descarte em fêmeas suínas por terem consequências reprodutivas, elevando a taxa de reposição (DROLET; DEE, 2006; SOBESTIANSKY, 2007; ZANELLA, et. al., 2007). Ademais, as infecções gênito-urinárias estão diretamente ligadas aos casos de morte súbita na gestação e lactação, aumentando os prejuízos (SOBESTIANSKY, 2007; SILVEIRA et. al., 2006). Também, parece existir estreita relação entre essas duas patologias, muitas vezes ocorrendo de forma conjunta (SILVEIRA et. al., 2006; WENTZ, I et. al., 1986). Por questões estratégicas, é importante determinar as causas principais de descarte de porcas em determinada região produtora. O presente estudo objetivou avaliar o aparelho reprodutivo e a bexiga de fêmeas suínas descartadas, provenientes das regiões Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina, sem considerar o motivo do descarte.
 
Trabalho realizado
Entre os meses de setembro e dezembro de 2008 foram avaliadas 79 porcas de descarte, oriundas de 20 granjas (três a cinco porcas/granja), abatidas em quatro frigoríficos da região Oeste e Meio-Oeste de SC (cinco proprietários/frigorífico). As porcas avaliadas foram amostradas de forma aleatória na linha de abate, sem considerar a granja, histórico da fêmea e a causa do descarte. De cada porca foram colhidos ovário, útero e bexiga, os quais foram examinados macroscopicamente, além de um fragmento de cada corno uterino (região média), um ovário (aquele que representava o ciclo estral e/ou alguma patologia na avaliação macroscópica) e um fragmento de bexiga. Todos foram fixados em formol 10% tamponado para exame histopatológico. De acordo com a gravidade das lesões histológicas, as bexigas foram classificadas como: normal (sem alterações), cistite leve (discreta infiltração mononuclear ou mista na mucosa e submucosa), moderada (lesões inflamatórias mais acentuadas que a anterior e discreta hiperplasia do epitélio) e severa (acentuada infiltração inflamatória, edema e hiperemia/hemorragia na mucosa e submucosa, com hiperplasia epitelial). Os tecidos uterinos foram classificados de acordo com a gravidade e tipo de lesões encontradas, como: normal (sem alterações), endometrite catarral (discreta infiltração inflamatória mista ou com predomínio de mononucleares no endométrio e/ou no lúmen das glândulas/órgão), endometrite purulenta (acentuada infiltração e exsudação de neutrófilos no endométrio e/ou no lúmen das glândulas/órgão) e endometrite crônica (infiltração inflamatória mononuclear e fibroplasia ao redor de glândulas endometriais e/ou na lâmina própria/epitélio). Já os ovários, foram avaliados quanto ao período do ciclo estral das fêmeas, classificando-os em: ciclando, em anestro ou com ovário cístico. Para verificar a existência, ou não, de dependência entre cistite e endometrite foi utilizado um teste de x2.
 
Resultados e comentário
Na Figura 1 são apresentadas fotos macroscópicas e microscópicas de bexiga e útero normais e com lesões inflamatórias. Os resultados dos exames histopatológicos das bexigas, úteros e ovários das 79 fêmeas são apresentados na Tabela 1.
Detectaram-se diferentes graduações de inflamação na bexiga e útero, em 32 (40,51%) e 24 (30,38%) porcas, respectivamente, totalizando 70,9% com inflamação no útero e/ou bexiga. Esta frequência é muito elevada, considerando que as porcas avaliadas eram de descarte de rotina dos rebanhos, sem levar em conta a causa.
Quanto aos ovários, verificou-se que 86,08% das fêmeas encontravam-se ciclando (presença de folículos em crescimento, corpos lúteos ou corpos hemorrágicos), 2,53% tinham cistos ovarianos e 11,39% encontrava-se em anestro, com ovários inativos. Todas as fêmeas que estavam em anestro apresentavam endometrite crônica ou purulenta, bem como algum grau de cistite, sugerindo associação entre essas duas patologias.
Considerando a associação entre cistite e endometrite, 13,2% das porcas apresentaram ambas patologias, todavia não houve dependência significativa (p>0,05) entre elas (Tabela 2), o que difere de outros relatos (WALLER et. al., 2002), em que as porcas com problemas urinários apresentavam 8,9 vezes mais risco de desenvolver problemas patológicos no trato genital.
Figura 1. Fotografias dos aspectos macroscópicos (A) e microscópicos (B) de bexiga normal (1), cistite purulenta severa (2), útero normal (3) e endometrite crônica (4)
Avaliação Patológica do Aparelho Reprodutivo e Bexiga de Fêmeas Suínas Descartadas - Image 1
 
Tabela 1. Resultados do exame histopatológico de bexiga, útero e ovário das 79 porcas descartadas (quatro abatedouros, cinco proprietários/abatedouro)
Avaliação Patológica do Aparelho Reprodutivo e Bexiga de Fêmeas Suínas Descartadas - Image 2
 
Tabela 2. Relação das lesões de bexiga e úteros das 79 porcas examinadas
Avaliação Patológica do Aparelho Reprodutivo e Bexiga de Fêmeas Suínas Descartadas - Image 3
Entre as causas de descarte de fêmeas em um rebanho suíno, variáveis que afetam a eficiência reprodutiva são as mais importantes (DARTORA, et. al. 1997). Um aumento na taxa de reposição, geralmente, está associado à manutenção de um rebanho de fêmeas mais jovens, as quais são menos produtivas e aumentam o número de dias não produtivos/porca (D´ALLAIRE; DROLET, 2006). Por outro lado, a manutenção de porcas velhas no plantel aumenta a possibilidade de cistite e/ou endometrite, pois tais infecções aumentam com a idade das porcas (DROLET; DEE, 2006; ZANELLA, et. al., 2007). Então, a manutenção de uma taxa de reposição adequada e com regularidade no tempo auxilia na prevenção dessas infecções e na manutenção de bons índices reprodutivos. Este estudo demonstrou que muitas das porcas que são normalmente descartadas do rebanho apresentavam inflamação no aparelho reprodutor e/ou bexiga, o que possivelmente comprometeu a eficiência reprodutiva, motivando seu descarte. Isso indica a necessidade de implementação de medidas preventivas para essas patologias. Sabe-se que bactérias são as principais causas de infecção do aparelho gênito-urinário, as maiorias inespecíficas, que na presença de fatores de risco ocasionam problemas patológicos no útero e/ou bexiga. Então, é importante realizar acompanhamentos periódicos em abatedouros das porcas descartadas, examinando o aparelho gênito-urinário para identificar as causas dos descartes. Isso dará subsídios para atuação preventiva na granja.
 
Conclusão
É alta a frequência de cistite e endometrite em porcas normalmente descartadas pelos produtores na região Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina. Existe forte associação entre endometrite e anestro, mas não entre cistite e endometrite.
 
Recomendações
Considerando a importância das infecções do aparelho gênito-urinário na vida reprodutiva das porcas e nos índices reprodutivos do plantel recomenda-se:
  1. Examinar o aparelho gênito-urinário no abatedouro de cerca de 10% das porcas descartadas por ano.
  2. Caso a ocorrência de cistite e/ou endometrite seja elevada nas porcas, avaliar e corrigir possíveis fatores de risco relacionados a essas infecções (DROLET; DEE, 2006; SOBESTIANSKY, 2007; ZANELLA, et. al., 2007), atentando para o seguinte:
    a) Manter boas condições higiênicas na lactação, gestação e, principalmente, na cobrição/ inseminação artificial (IA), em especial quando as porcas são alojadas em gaiolas com piso compacto, situação em que são obrigadas a deitar-se sobre as próprias fezes e/ou urina.
    b) Na monta natural, porcas e cachaços devem ter a região vulvar e do prepúcio, respectivamente, limpas.
    c) Na IA, as boas condições higiênicas das pipetas e nos procedimentos operacionais são fundamentais. d) Realizar no máximo três IA por porca/cio. A IA em porcas fora do período do cio é inconveniente.
    e) A interferência manual no parto não deve exceder 10% das porcas paridas; e, quando for necessário realizar esta operação, usar luvas, fazer higienização na região perivulvar e fazer medicação preventiva para porca.
    f) Disponibilizar água potável à vontade para as porcas, tanto na gestação como na maternidade. A restrição de água para as porcas em um rebanho pode ser causada pela canalização inadequada, tipo e/ou vazão de bebedouros ou poucos bebedouros por baia nos alojamento coletivos. A reduzida ingestão de água é o fator de risco mais importante associado à ocorrência de cistites.
    g) Estimular a ingestão de água e a micção pelas porcas alojadas em gaiolas na gestação/cobrição, fazendo-as se levantar pelo menos quatro vezes ao dia em horários pré-estabelecidos. A falta de exercícios, obesidade ou problemas locomotores fazem com que as porcas permaneçam a maior parte do tempo deitadas nas gaiolas, facilitando as infecções urinárias.
    h) Manter os pisos em boas condições para facilitar a limpeza das fezes e urina e não ocasionar problemas nos cascos das porcas.
    i) Manter as instalações em boas condições para evitar problemas locomotores nas porcas; e descartar aquelas que apresentam tais problemas.
  3. Caso necessário, implementar um programa terapêutico preventivo contra cistite/endometrite no plantel de reprodutores, três ou quatro vezes ao ano, sob orientação veterinária.
 
Referências bibliográficas
D´ALLAIRE, S.; DROLET, R. Longevity in breeding animals. In: STRAW, B. E.; ZIMMERMAN, J. J.; D´ALLAIRE, S.; TAYLOR, D. J. (Ed.). Disease of Swine. 9. ed. Ames: Blackwell, 2006. p. 1011-1025.
DARTORA, V.; MORES, N.; WOLOSZYN, N. Procedimentos básicos na produção de suínos. BIPERS, v. 6, p. 3-18, jun. 1997.
DROLET, R.; DEE S. A. Diseases of the urinary system. In: STRAW, B. E.; ZIMMERMAN, J. J.; D´ALLAIRE, S.; TAYLOR, D. J. (Ed.). Disease of Swine. 9. ed. Ames: Blackwell, 2006. p. 199-217.
SOBESTIANSKY, J. Infecção urinária em fêmeas em produção. In: SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D. E. S. N. Doenças dos suínos. Goiânia: Cânone Editorial, 2007. p. 127-141.
ZANELLA, E.; SILVEIRA, P. R.; SOBESTIANSKY, J. Falhas reprodutivas. In: SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D. E. S. N. Doenças dos suínos. Goiânia: Cânone Editorial, 2007. p. 539-775.
SILVEIRA, P. R.; BUZATO, A. M.; CABRAL, H. C.; AMARAL, A. L.; ZANELLA, E. Relação entre infecção urinária e problemas puerperais em porcas. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2006. 2 p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado técnico, 433).
WALLER, C. H.; BILKEI, G.; CAMERON, R. D. A. Effect of periparturiente diseases accompanied by excessive vulval discharge and weaning to mating interval in sow reproductive performance. Australian Veterinary Journal, v. 80, p. 545-549, 2002.
WENTZ, I.; SILVEIRA, P. R. S.; PIFFER, I. A.; PASQUAL, N.; SOBESTIANSKY, J. As infecções uterinas como causa de repetição de cobrição em porcas. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 1986. 3 p. (Embrapa Suínos e Aves. Comunicado técnico,112).
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Autores:
Nelson Morés
Embrapa Suínos e Aves
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