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Rotavirose Suína Surto

Rotavirose suína: descrição de um surto.

Publicado: 15 de outubro de 2012
Por: Nelson Mores; Jurij Sobestiansky; Ingon Wentz; Cheryl Ann Rowe; Jose Luiz L. Marque

Introdução

Nos últimos anos, a rotavírus tem sido incriminado como importante agente causaador de diarréias em crianças e animais jovens. No suíno, ele pode causar diarréia em leitões, nos períodos de amamentação e pós-desmame (creche), cuja severidade varia em função dos níveis de contaminação ambiental, da imunidade das porcas e das condições de manejo e meio ambiente em que os leitões são mantidos.
 

Características gerais

A diarréia em leitões, provocada pelo rotavírus, ocorre preferencialmente entre duas a seis semanas de idade, podendo aparecer concomitantemente febre, redução do apetite, apatia e vômitos ocasionais, tendo como consequência desidratação e morte que pode atingir a 20% dos leitões afetados. Nos sobreviventes esta diarréia regride em 4-6 dias podendo, às vezes, demorar até duas semanas para os animais voltarem ao normal, ocasionando desuniformidade da leitegada, com muitos refugos.
Em um rebanho infectado o vírus permanece sob forma enzoótica e a doença pode ocorrer ocasionalmente, caso houver redução da imunidade do rebanho, ou quando as condições de ambiente e manejo sofrerem mudanças que propiciem desconforto aos animais, o que favorece a propagação desta virose.
A contaminação ocorre pela ingestão de fezes ou alimentos contendo o rotavírus, que tanto é eliminado pelas fezes das porcas sadias, como dos leitões afetados. O vírus sobrevive bem fora do hospedeiro, principalmente nas fezes e em outros resíduos, além de ser resistente a muitos desinfetantes.
 

Como fazer o diagnóstico

De maneira geral, o diagnóstico etiológico dos problemas de diarréia em leitões em amamentação é difícil de ser estabelecido na granja apenas com o histórico e sintomas clínicos. Para se chegar a um diagnóstico conclusivo, deve-se levar em consideração fundamentalmente os resultados dos exames laboratoriais. Estes incluem exames bacteriológicos, parasitológicos, virológicos e histopatológicos. Para a realização destes exames é aconselhável enviar ao laboratório amostras de fezes diarréicas e, no mínimo, dois leitões afetados que se encontram na fase inicial da diarréia.
 

Características de um surto de rotavirose acompanhado em uma criação de suínos

Um surto de diarréia em leitões em amamentação ocorreu em uma granja produtora de matrizes cruzadas (F1), que foi repovoada somente com leitões em diferentes períodos de gestação, após um vazio sanitário de quatro dias. Durante um período de 40 dias após o repovoamento não se observou problemas de diarréias nas leitegadas nascidas. Após, durante um mês, todas as leitegadas nascidas apresentaram graves problemas de diarréia na primeira semana, com maior incidência entre o segundo e quarto dia de idade. O quadro clínico iniciava com depressão, febre (40 – 42oC), inapetência, vômitos e severa diarréia aquosa. As fezes diarréicas, de coloração verde-amarelada, e fétidas, geralmente continham grumos de leite não digerido. Seguia-se rapidamente para a desidratação e em alguns casos morte. Os tratamentos com quimioterápicos não surtiram efeito e a recuperação dos sobreviventes era lenta, levando mais de uma semana que as fezes se tornassem normais.
Entre os leitões nascidos no período do surto, a taxa de morbilidade atingiu 90% e a de mortalidade 22%.
Para ?ns de diagnóstico foram encaminhados ao Laboratório de Sanidade da EMBRAPA– CNPSA, em Concórdia-SC, cinco leitões doentes, que foram sacri?cados para exames laboratoriais. Estes exames foram negativos para gastroenterite transmissível (TGE), estrongiloidose, coccidiose e colibacilose. A microscopia eletrônica do conteúdo intestinal dos leitões necropsiados, revelou a presença de muitas partículas com morfologia de rotavírus. Além disso, no exame histológico de vários segmentos do intestino delgado, veri?cou-se encurtamento das vilosidades no jejuno, presença de células cúbicas baixas e imaturas recobrindo as vilosidades e reação in?amatória na mucosa; no estômago observou-se gastrite com pequenas áreas de erosão da mucosa.
O tratamento utilizado baseou-se no fornecimento de uma solução hidratante à vontade para leitões, aplicação de antibiótico para controle de infecções bacterianas secundárias, melhoria das condições de higiene da maternidade, através de limpeza das celas duas vezes ao dia, desinfecção semanal e colocação de espessa camada de maravalha para proteger os leitões da umidade e do frio. Com a adoção destas medidas a situação foi se normalizando gradativamente.
 

Conclusão e recomendações

Fundamentando-se nos resultados laboratoriais concluiu-se que o surto de diarréia estava sendo provocado por um rotavírus. Geralmente, a rotavirose numa criação de suínos ocorre de forma endêmica, causando diarréias com baixa mortalidade, principalmente em leitões a partir dos dez dias de idade. O fato de, neste surto, ter ocorrido em leitões na primeira semana de vida, pode ser basicamente devido ao baixo nível de imunidade do rebanho, uma vez que este era constituído exclusivamente de leitoas; além disso, a pouca cama existente para os leitões e o excesso de umidade na maternidade, poderiam ter in?uenciado a severidade do surto.
Como não há tratamento especí?co contra a rotavírus, em caso de surto recomenda-se fornecer solução hidratante, em substituição à água de beber e, às vezes, sob orientação veterinária, aplicação de antibióticos para combater infecções bacterianas secundárias. Porém, acima de tudo deve-se fornecer um ambiente adequado para os leitões, sugerindo-se para isto o escamoteador, com cama seca e uma fonte de aquecimento suplementar, principalmente nas épocas frias, propiciando um microambiente adequado, com temperatura em torno de 30 – 32oC, na primeira semana de vida.
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Autores:
Nelson Morés
Embrapa Suínos e Aves
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