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As diarréias ou doenças entéricas em suinos

Prevalência dos principais agentes infecciosos entéricos em rebanhos suínos avaliados nos Estados do RS, SC, PR, MS e GO.

Publicado: 14 de março de 2009
Por: Evandro Poleze, MSc. Méd. Vet. Laboratórios Pfizer Ltda., Divisão de Saúde Animal, São Paulo-SP, Brasil
INTRODUÇÃO

As diarréias ou doenças entéricas podem ocorrer em todas as fases de vida do animal e é um problema em nível mundial. A ocorrência destas doenças afeta diretamente a rentabilidade das explorações de suínos devido aos prejuízos econômicos que causam por comprometer o ganho de peso diário e a conversão alimentar e por aumentar a desuniformidade dos lotes, o percentual de refugos e a mortalidade (3). Estes prejuízos podem ainda ser agravados pela dificuldade de diagnóstico clínico, demora na obtenção dos resultados e programa terapêutico inadequado. Alterações bruscas no manejo e o desequilíbrio imu nológico em rebanhos suínos também podem contribuir para o desencadeamento das doenças. Os principais agentes entéricos envolvidos em casos de diarréia em diferentes idades do animal são Escherichia coli, Brachyspira pilosicoli, Brachyspira hyodydenteriae e Lawsonia intracellularis. Alguns estudos consideram a Brachyspira pilosicoli e a Lawsonia intracellularis como os dois principais agentes identificados como causadores de diarréia em animais de crescimento e terminação (5). Levantamentos têm demonstrado que muitos casos de diarréia são causados por 2 ou mais agentes entéricos e que as doenças podem ocorrer de forma subclínica ou clínica e na forma aguda ou crônica (1, 2, 4). Os objetivos deste estudo foram identificar os principais agentes entéricos envolvidos em casos de diarréia em rebanhos suínos dos estados do RS, SC, PR, GO e MG e confirmar que os problemas entéricos observados em nível de campo são causados por 2 ou mais agentes infecciosos.

MATERIAL E MÉTODOS

Ao longo do ano de 2005 foram acompanhadas 90 propriedades distribuídas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Minas Gerais, nas quais foram coletados 1662 suabes diretamente do reto de suínos com idade entre 6 e 21 semanas. Os suabes foram mantidos sob refrigeração e enviados ao Laboratório de Sanidade Suína, Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP) em até 48 horas pós-coleta para exame pela técnica da reação em cadeia pela polimerase (PCR) para diagnóstico de Escherichia coli (amostras positivas para E. coli foram submetidas à identificação dos fatores de virulência) B. pilosicoli, B. hyodysenteriae e L. intracellularis.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aproximadamente 20% de todas as amostras enviadas para diagnóstico foram positivas para pelo menos um dos agentes avaliados, os quais estão descritos na Tabela 1. A Lawsonia intracellularis apresentou a maior prevalência (39,3%), seguida pela Escherichia coli (cepas patogênicas e fimbrias identificadas) com 36,4%, e em 15,6% dos exames positivos observou-se a associação destes agentes. Em 22,4% dos casos, observou-se a presença de 2 ou mais patógenos entéricos, confirmando de que frequentemente ocorre à associação de agentes infecciosos causadores de diarréias. Os resultados deste estudo são semelhantes aos observados no Reino Unido, onde foram investigadas 85 unidades de produção de suínos e o “mix” ou associação de agentes entéricos ocorreu em 27% das granjas avaliadas (5). Outros estudos atribuem 54% dos casos de diarréia a um único agente, 39% a infecções mistas e outros 7% causadas por patógenos inespecíficos ou não isolados (1). Tais resultados obtidos indicaram que a presença de B. pilosicoli e L. intracellularis está comumente envolvida com a ocorrência de doenças entéricas e que o problema é de ordem mista e complexa. Uma revisão de exames entéricos realizados no período de 12 meses verificou que 23,4% das amostras continham a presença de múltiplos patógenos na mesma origem fecal ou “pool” de amostras e que Salmonella spp foi o agente individualmente mais isolado, com uma prevalência de 44% (4). O risco de desenvolvimento de doença clínica pode aumentar em casos de infecção concomitante, pois na presença dos dois ou mais agentes, os danos ao intestino provavelmente serão maiores. O teste, exame ou avaliação de apenas alguns agentes pode resultar em achados incompletos e estratégias ineficazes de prevenção e tratamento. Nesta avaliação foi observada a presença de 2 ou mais agentes causadores de diarréia em todas as idades dos suínos positivos avaliados (Gráfico 1). Estes dados corroboram com os observados em estudo realizado com granjas da Suécia, nas quais a diarréia entre suínos em crescimento (8 a 13 semanas de idade) é um problema significativo. Em estudo realizado em 4 rebanhos daquele país, um dos achados foi à infecção concomitante com outros patógenos. Estes resultados, quando associados à dificuldade de diagnóstico clínico, a demora nos resultados laboratoriais, aos desafios sanitários cada vez maiores e interação de agentes infecciosos, indicam a necessidade de tomada rápida de decisão e utilização de um produto de amplo espectro que atua contra todos estes agentes isoladamente ou em associação (2).

CONCLUSÕES

Neste estudo a Lawsonia intracellularis e a Escherichia coli foram os dois principais agentes entéricos identificados nas amostras de fezes, com prevalência de 39% e 36%, respectivamente, além de ter sido observada a associação de ambos em 16% dos exames realizados. Confirmou-se de que na maioria dos casos de diarréia ocorre a associação de 2 ou mais agentes infecciosos entéricos. Infecções mistas prolongam o tempo para recuperação natural dos animais e apresentam maiores efeitos deletérios no desempenho zootécnico. Todas as medidas de controle, prevenção e tratamento de doenças entéricas devem ser integradas, nas quais se avaliam os aspectos gerais de rebanho, dinâmica e inter-relação dos agentes infecciosos, pressão de infecção e nível de imunidade, condições de manejo, programas de antimicrobianos e vacinais, além dos fatores de risco e predisponentes. A escolha do medicamento baseada neste contexto, seu espectro, eficácia e segurança é outro item que faz a grande diferença, entre o fracasso (prejuízos) e o sucesso (recuperação dos animais e da rentabilidade) no tratamento.

1. Burch, D.G.S. (2000). Controlling ileitis in the colitis complex. The Pig Journal, 45, p. 131-149.
2. Jacobson, M.; Hard af Segerstad, C.; Gunnarsson, A.; Fellstrom, C.; Verdier Klingenberg, K.; Wallgren, P.; Jensen-Waern, M. (2003). Diarrhea in the growing pig - a comparison of clinical, morphological and microbial findings between animals from good and poor performance herds. Research in Veterinary Science, 74, p. 163-169.
3. Jacobson, M.; Gerth, L. M.; Holmgren, N.; Lundeheim, N.;Fellstro, C. (2005). The prevalences of Brachyspiras spp. e Lawsonia intracellularis in Swedish piglet producing herds and wild boar population. J. Vet. Med., 52, p. 386-391.
4. Stevenson, G. (2001). Diarrheal diseases in the post-weaning pig: Salmonellosis and viral enteritis. 31st American Association of Swine Veterinarians Annual Meeting, Nashville. Proceedings, p. 527-531.
5. Thomson, J.R; Smith, W.J.; Murray, B.P. (1998). Investigations into field cases of porcine colitis with particular reference to infection with Serpulina pilosicoli. Veterinary Record, v. 142, n. 10, p. 235-239.

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