Por:Dr Luiz Eduardo Ristow, Technical Director at TECSA Labs. Brasil
align="left">O gerente da granja chama o veterinário, pois há dois dias estão aparecendo leitões mortos na creche. A granja é de exploração comercial e ciclo completo, possui 900 matrizes e faz parte de um grupo comercial que viu na suinocultura uma boa oportunidade de obter lucro. O desenvolvimento da granja foi rápido, trabalhando-se com uma grande densidade de animais ( em todas as fases inclusive na creche ), não permitindo um vazio sanitário adequado, e sempre necessitando de novas construções ou adaptações.
A granja já conviveu com problemas respiratórios de Rinite Atrófica e Mycoplasma, sendo hoje o problema aparentemente controlado com vacinação. A localização da granja é estratégica cercada de eucaliptos e longe de outras granjas. A entrada é restrita a funcionários, que trocam de roupa e tomam banho para entrarem na granja. Os veículos para entrarem na granja passam por chuveiro de aspersão com solução desinfetante. Utiliza-se desmama de 21 dias, sendo os leitões constantemente uniformizados tanto na maternidade quanto na creche. Há um mês, as paredes da creche que antes eram fechada, foram abertas com a implantação do uso de cortinas. As creches são suspensas com piso ripado.
Aparecimento do caso
O gerente da granja em sua inspeção pela manhã, observa na creche 03 leitões mortos, aparentemente sadios e com boa condição corporal. Ele continua a inspeção em outra sala e observa mais 5 leitões mortos com as mesmas características. O gerente procura saber alguma informação dos funcionários e constata que não houve nenhuma mudança de manejo. Os leitões mortos estavam entre os mais pesados da baia.
Um funcionário que trabalhava na recria e hoje na creche menciona que viu coisa parecida na recria a 2 meses. Três animais sadios e pesados ( 76 dias) morreram , mas esses apresentavam “convulsões”. Não aplicou nada e as mortes cessaram.
O gerente recomenda extrema atenção com os animais na creche e verifica que não houve nenhum problema no fornecimento de água e ração, sendo essa a mesma fornecida anteriormente.
No outro dia pela manhã em nova inspeção o gerente observa um total de 15 animais mortos com as mesma características. Resolve então necropsiar alguns, e não observa nenhuma lesão característica, apenas um animal com um pouco de líquido espumoso no pulmão.
O gerente resolve chamar o veterinário.
1a Visita a Granja
Ao chegar na granja, o veterinário observando os índices zootécnicos nota uma queda no ganho de peso diário significante, na fase de creche. Essa queda vem ocorrendo lentamente a 3 meses, com o peso dos leitões caindo consideravelmente.
Acompanhado do gerente ele entra na creche, repara a alta densidade de animais e observa 02 animais de boa condição corporal apáticos no canto da baia. Pede para separar esses animais e deixá-los em observação. Em outra sala nota 03 animais com dispnéia. Resolve então fazer necropsia de 01 animal.
Além do edema pulmonar, observa aumento de líquido claro na cavidade peritoneal. Nota também o estômago cheio de alimento e o mesentério do intestino grosso edemaciado. Os rins apresentam congestão medular. O encéfalo apresenta uma discreta congestão dos vasos.
Pela tarde um dos animais apáticos separados começa apresentar tremores e cai com movimentos de pedalagem.
Medidas
O veterinário resolve então enviar dois animais com dispnéia para exames laboratoriais.
Indica-se tratamento via ração com enrofloxacina para os leitões da creche por 07 dias consecutivos. Em caso de animais com sintomas dispnéia, apatia, pedalando, com tremores ou outros sintomas nervosos, aplicar enrofloxacina parenteral.
Ele alerta para uma maior atenção quanto a desinfeção e limpeza da baia, que dever ser mais intensa. Procurar fazer um manejo de cortinas adequado evitando o frio, correntes de ar e excesso de umidade.
2a Visita
A visita ocorre uma semana depois. Observa-se que o uso da medicação cessou a mortalidade, porém no dia da visita apareceram 02 leitões de 72 dias (recria) mortos. Esses leitões apresentaram tremores e convulsões no dia anterior. Aplicou-se enrofloxacina nesses leitões no início dos sintomas.
O veterinário de posse dos resultados dos exames laboratoriais (em anexo) explica o caso ao gerente.
ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE CÉREBRO DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM 54 DIAS
Pesquisa de: Streptococcus sp Haemophyllus parasuis
Resultado: Após semeados nos meios habituais de cultivo a amostra de cérebro coletada no laboratório não apresentou crescimento de microrganismos patogênicos.
ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE SISTEMA INTESTINAL DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM
Pesquisa de:
Clostridium sp
Salmonella sp
Escherichia coli
Resultado: Presença de Escherichia coli entero-hemorrágica nas amostras de intestino e linfonodo mesentérico coletadas no laboratório.
ANTIBIOGRAMA
Teste de Sensibilidade Antimicrobiano
Antibiótico
Escherichia coli
Intestino e linfonodo
Amoxicilina
(30mcg)
Resistente
0mm
Ampicilina + Colistina
( 45mcg )
Resistente
11mm
Ceftiofur
( 30mcg )
Sensível
25mm
Cotrimazina + Espiramicina
(100 + 25mcg)
Intermediário
13mm
Doxacilina
(30mcg)
Resistente
0mm
Enrofloxacina
(5 mcg)
Sensível
25mm
Espiramicina + Lincomicina
(100 + 9mcg )
Resistente
10mm
Espiramicina
(100mcg)
Resistente
0mm
Florfenicol
( 30mcg )
Sensível
21mm
Flumequina
(30mcg)
Sensível
25mm
Gentamicina
(10mcg)
Sensível
20mm
Josamicina
(150mcg)
Resistente
0mm
Josamicina + Trimetoprim
( 160mcg )
Resistente
0mm
Norfloxacina
(10 mcg)
Intermediário
13mm
Oxitetraciclina + Colistina
( 45mcg )
Intermediário
12mm
Tilmicosin
(15 mcg )
Resistente
0mm
Trimetoprim + Sulfa
(30mcg)
Sensível
16mm
Penicilina G
(2 UL )
Resistente
0mm
ANÁLISE MACROSCÓPICA (NECROPSIA) DE PULMÃO DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM 54 DIAS
Animal 01
Apical dir.
Cardíaco dir.
Diafrag. Dir.
Apical esq.
0,0
1,4
0,0
0,0
Cardíaco esq.
Diafrag. Esq.
Intermediário
Total %
0,0
0,0
0,0
1,4
Animal 02
Apical dir.
Cardíaco dir.
Diafrag. Dir.
Apical esq.
0,0
0,0
0,0
0,0
Cardíaco esq.
Diafrag. Esq.
Intermediário
Total %
0,0
0,0
0,0
0,0
ANÁLISE MACROSCÓPICA (NECROPSIA) DE FOCINHO DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM 54 DIAS
Classificação macroscópica dos graus de atrofia dos cornetos segundo EMBRAPA/CNPSA-CT 93-Jul.95.
ANIMAL
SCORE DE FOCINHO
01
2,0
02
2,0
Interpretação Score de Focinho Segundo EMBRAPA - CNPSA
Índice Médio do Rebanho
Classificação do Rebanho
0 a 0,30
Livres ou com Nível insignificante da Doença
0,31 a 0,45
Levemente Afetados
0,46 a 3,0
Moderada a severamente Afetados
ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE SISTEMA RESPIRATÓRIO DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM 54 DIAS
Pesquisa de:
Pasteurella multocida
Bordetella bronchisseptica
Haemophyllus parasuis
Actinobacillus pleuropneumoniae
Resultado: Presença de Bordetella bronchisseptica na amostra de focinho coletada no laboratório.
ANTIBIOGRAMA
Teste de Sensibilidade Antimicrobiano
Antibiótico
Escherichia coli
Intestino e linfonodo
Amoxicilina
(30mcg)
Resistente
10mm
Ampicilina + Colistina
( 45mcg )
Resistente
11mm
Ceftiofur
( 30mcg )
Sensível
20mm
Cotrimazina + Espiramicina
(100 + 25mcg)
Resistente
10mm
Doxacilina
(30mcg)
Intermediário
15mm
Enrofloxacina
(5 mcg)
Sensível
25mm
Espiramicina + Lincomicina
(100 + 50mcg )
Resistente
0mm
Espiramicina
(100mcg)
Resistente
0mm
Florfenicol
( 30mcg )
Resistente
11mm
Flumequina
(30mcg)
Sensível
25mm
Gentamicina
(10mcg)
Sensível
20mm
Josamicina
(150mcg)
Resistente
0mm
Josamicina + Trimetoprim
(160mcg )
Resistente
0mm
Norfloxacina
(10 mcg)
Intermediário
12mm
Oxitetraciclina + Colistina
(45mcg )
Resistente
0mm
Tilmicosin
(15 mcg )
Resistente
0mm
Trimetoprim + Sulfa
(25mcg)
Resistente
0mm
Penicilina G
(2 UI )
Resistente
0mm
ISTOPATOLOGIA DO CÉREBRO DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM 54 DIAS
MACROSCOPIA:
Porção de cérebro medindo 5,0 x 3,0 x 2,5 cm.
MICROSCOPIA:
Cortes de cérebro apresentando congestão meníngea e edema.
Ausência de sinais de meningite ou encefalite.
CONCLUSÃO:
Ausência de sinais de meningite ou encefalite.
NECRÓPSIA DE DOIS LEITÕES (CRECHE) COM 54 DIAS
1 - INSPEÇÃO EXTERNA:
Animal em bom estado corporal.
2 - CAVIDADE TORÁCICA:
Pulmão – Presença de edema pulmonar.
Coração – Presença de líquido na cavidade pericárdica, aproximadamente 10 ml (hidropericárdio).
Demais órgãos – Aumento de líquido claro na cavidade torácica, aproximadamente 80ml (hidrotoráx).
3 - CAVIDADE ABDOMINAL:
Fígado – Aparentemente sem nenhuma alteração macroscópica.
Sistema Intestinal – Presença de edema gelatinoso na submucosa do estômago, ao longo da curvatura maior.
Baço – Aparentemente sem nenhuma alteração macroscópica.
Rins – Aparentemente sem nenhuma alteração macroscópica.
Demais órgãos – Aumento de líquido claro na cavidade abominal, aproximadamente 100ml.
4 - CABEÇA:
Edema cerebral discreto.
CONCLUSÃO:
Ficou comprovado através dos resultados laboratoriais, dos achados epidemiológicos e clínicos que o problema na granja estava relacionado com a presença de Escherichia coli enterohemorrágica.
A doença do Edema é uma enfermidade que acomete leitões de várias faixas etárias. Apresenta sinais clínicos que vão desde o aparecimento de problemas entéricos até neurológicos, devido a produção de toxinas, podendo ser muitas vezes confundida com Encefalite por Streptococcus suis.
Foi sugerido uma melhoria na limpeza e desinfeção das baias, implantação do vazio sanitário e continuar o uso do medicamento indicado no caso de recidivas.
Muito interessante o caso. o que percebemos que muitos casos como esse acabam sendo devido a falta de higiene nas granjas e até mesmo com os animais. acredito que uma medida que evitaria muitos problemas desse genero seria a adicao de cloro na agua dos bebedouros, claro que em doses recomendadas. uma dica de grande valor. obrigado
att
Raphael Nunes/ Médico Veterinário crmv 6540/PR e 3547/SC
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Manuel Fonseca
12 de febrero de 2008
Atenção porque não é suficiente fazer antibioterapia. Esta é uma das patologias que se resolve com a alteração do manejo. Passei por situação semelhante há uns anos e a melhor resposta que obtive, foi quando passei a obrigar os animais a uma restrição alimentar todos os dias por um periodo de 3 a 4 horas. Ao que parece, não é por acaso que são normalmente os leitoes mais desenvolvidos os mais afectados. É necessário, para que a doença surja de forma exuberante, que para além da presença do agente patogénico haja em simultâneo, grandes níveis de ingestão de penso e isso acontece sobretudo com os animais mais desenvolvidos do grupo. Assim, a simples medida de redução do transito intesrinal, resulta normalmente na solução do problema, dispensando o oneroso recurso aos antibioticos. Note-se que este é um princípio de manejo alimentar a utilizar em continuidade e não só quando se declara um surto da doença do edema. Esta prática garante-lhe uma boa profilaxia para o problema, e, se a cumprir com rigor, não mais voltará a ter que se preocupar com esta questão.
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