As úlceras gástricas em suínos afetam principalmente a região denominada pars oesophagia (quadrilátero esofágico) a qual não possui glândulas secretórias e apresenta maior sensibilidade. As lesões no estômago são classificadas em: grau 1, quando ocorre paraqueratose, grau 2 paraqueratose e ulceração leve , grau 3 paraqueratose e ulceração até 66% e grau 4 quando há ulceração acima de 66% da região.
Os graus 3 e 4 são capazes de provocar morte súbita em suínos nas granjas, enquanto lesões mais leves (1 e 2) provocam perdas no ganho de peso e refugagem. As causas são multifatoriais, ligadas ao manejo, estresse e alimentação, não sendo até o momento atribuídas a infecções bacterianas. Através desta pesquisa procurou-se verificar os graus de lesão encontrados em suínos abatidos em frigorífico e detectar a presença de bactérias do gênero Arcobacter.
Estas bactérias foram isoladas de fetos suínos abortados (1), de carne de frangos e de suínos (2), no Brasil e foram detectadas apenas em uma pesquisa nos Estados Unidos, em estômagos de suínos (3), tendo sido comprovada a patogenicidade para seres humanos, como causa de enterite.
Material e MétodosFoi examinada a pars esophagea de estômagos de suínos abatidos em um frigorífico no Rio Grande do Sul, classificando lesões nos diferentes graus, desde zero (sem lesão) a 4 (paraqueratose e ulceração acima de 66%). Eram colhidos dois fragmentos de lesão de grau 1, dois de grau 2, dois de grau 3 e dois de grau 4, no total de 4 estômagos por dia, sendo um dos fragmentos guardado congelado e outro inoculado em meio de cultura líquido de EMJH em tubos, para cada amostra. Foram igualmente examinadas amostras colhidas de
estômagos sem lesões de úlcera gástrica.
No laboratório os tubos eram incubados a 25 Cº até 5 dias e as culturas eram examinadas em microscópio para que fossem observados microorganismos com a forma e motilidade de Arcobacter spp. Os cultivos em meio líquido eram então filtrados através de membrana de celulose acetato de 0,45 μm sobre a superfície de meio sólido de Agar Sangue. sendo então incubados a 25 - 30 Cº em aerobiose por 48 horas. Nos cultivos era então realizado teste de PCR.
ResultadosForam examinados macroscopicamente 20.792 estômagos de suínos, de 80 lotes, classificando-se as lesões de úlcera gástrica como 12.148 grau 1 (58,4%), 5.145 grau 2 (24,7%), .1.004 grau 3 (4,8%) e 368 grau 4 (1,8%), sendo 2.135 sem lesões (10,3%).
Portanto, 18.657 (89,7%) apresentaram algum grau de lesão. Entre 148 amostras de estômagos, foram obtidos isolamentos de Arcobacter de 124 materiais, perfazendo 83,72%.
Não houve diferença entre isolamento de Arcobacter spp de amostras com lesões em relação às amostras sem lesão. Os resultados encontram-se na Tabela 1.
DiscussãoNo presente trabalho, encontrou-se 89,7% de amostras de estômagos com diferentes graus de lesão na região esofágica e apenas 10,3% sem lesão. A quantidade de estômagos examinados foi acima do que consta em relatos de outros autores, tanto nacionais quanto estrangeiros, havendo predominância de lesões menos graves do tipo 1 e 2, respectivamente 12.148 (58,4%) e 5.145 (24,7%) como seria esperado, pois os animais
chegaram aparentemente sadios ao abate. Suínos com lesões de grau 4 apresentariam sintomas de úlcera gástrica nas granjas. Através desta pesquisa foi detectado Arcobacter spp nos diversos graus de lesão e também em estômagos sem lesão.
Estas constatações não são suficientes para deduzir sobre a importância das bactérias em casos de úlcera gástrica, mas constituem-se no primeiro relato em nosso país sobre a presença de Arcobacter spp em estômagos de suínos. Até o momento, apenas Suarez et al. (1997) (3) nos Estados Unidos haviam investigado sobre a presença das bactérias em estômagos de suínos. Estes autores detectaram por PCR o predomínio de A. butzleri em 77% dos materiais. No presente trabalho verificou-se maior porcentagem de A. cryaerophilus
(79,03%) em suínos abatidos no Brasil.
Tabela 1. Resultados dos exames bacteriológicos e moleculares realizados em amostras de estômagos de suínos
Conclusões
Foi observado em suínos de diferentes lotes com idade de abate, elevada porcentagem de estômagos com lesões, incluindo os quatro graus com formação de úlcera gástrica.
Através do presente trabalho conclui-se que Arcobacter spp estavam presentes em elevada porcentagem de estômagos de suínos abatidos em um frigorífico, com e sem lesões de úlcera gástrica. Houve maior porcentagem de Arcobacter cryaerophillus através de cultivo e identificação por PCR. Estas são as primeiras observações sobre a presença de Arcobacter spp em estômagos de suínos no Brasil.